«Locais Perigosos»

«Locais Perigosos»

19-06-2006

Concha Rousia Artigo de Concha Rousia em Vieiros em apoio dos Centros Sociais

A Esmorga Blogue.- Reproduzimos este excelente artigo que Concha Rousia vem de publicar em www.vieiros.com, e ante o que nom podemos mais que concordar e transmitir-lhe o nosso agradecimento.

Quanta verdade toda junta, e que bem expressada! Desfrutade com a leitura.

Locais perigosos
Un artigo de: Concha Rousia
[13/06/2006]

A caminho de Compostela, a uns dez quilómetros da cidade, há uma casa enorme no lado esquerdo da estrada que já polas cores da sua decoração exterior se pode adivinhar que é um "clube de alterne", ou como se lhe queira chamar...

Confesso que nunca dei lido o letreiro que conformam as suas letras verticais, que de noite se iluminam com várias luzes de néon; ora bem, a forma deste rótulo é um bom indicativo do tipo de negócios que dentro se levam a cabo. O rótulo tem forma de corpo humano, que apesar de estar mutilado se reconhece como um corpo humano feminino; falta-lhe dos joelhos para abaixo e dos ombreiros para acima. Assim de cru, assim de real, fazendo ressaltar o resto das formas. Enfim, o que quero dizer é que sem parar-se a guichar, e sem mesmo ler o letreiro, que de certo terá também um nome que daria muita ajuda para adivinhar o tipo de negócios que dentro se podem encerrar, já se pode imaginar a vida, por dizê-lo dalgum jeito, que dentro se respira.

Quando me detenho a botar gasolina, meio quilómetro mais abaixo seguindo pola mesma estrada, às vezes vejo algumas moças novas tratando de se comunicar com o caixeiro da tenda do pão, a água mineral, e os lambiscos. Não é difícil de imaginar as injustiças às que estas mulheres, que normalmente são se procedência centro-europeia ou africana, estarão sendo submetidas. A policia passa por diante deste tipo de locais como passo eu, que ademais sempre estão bem às vistas; e sabe o que dentro sucede, como o sei eu, mas parece não ter ordem de fechar estes lugares. Afinal aí vão os homens a desafogar-se, ou aliviar-se, e isso não pode ser tão mau, não pode ser de perigo para a sociedade. Nada importa que dentro haja pessoas retidas, sequestradas, exploradas e mesmo escravizadas. Mas algo que calma os instintos mais animais do ser humano (homem), nos momentos em que não se bota o partido de futebol pola TV não pode ser mau para o sitema.

O que sim parece algo mais perigoso, e pode transformar-nos de simples "monos de carne" em pessoas pensantes, são os Centros Socio-Culturais que se começam a espalhar polo nosso país. Nestes centros projectam-se filmes que denunciam as injustiças do mundo, fazem-se exposições de arte alternativa, apresentam-se livros, fomenta-se a leitura, o teatro, a criação literária, a arte de cultivar as nossas músicas e as nossas letras, etc. etc. Numa palavra, são lugares de resistência cultural, lugares que podem mesmo resultar atractivos para os jovens, a quem, aparte dos videojogos e o futebol de sempre, pouco mais se lhes oferece. Estes lugares que podem fazer que a gente nova, e a menos nova também, dou fé, pense, e isso já não parece tão inofensivo para o sistema estabelecido. O sistema quer gente mansa, que saiba ir ao rego, que cometa actos que estão à margem da lei mas que estão permitidos. Ora bem, pensar, organizar-se, resistir... não é permitido.

É por isso que detrás de cada Centro Socio-Cultural que se abre na Galiza há gente buscando o jeito de o fechar. Buscando a forma de lhe tapar a boca à juventude, e assim tapar os olhos à nossa sociedade. Mas isso, eu acho, já é impossível, estes centros, que se estão a espalhar pola Galiza, são o mais claro exemplo da vontade irredutível do nosso povo. Estes centros são autênticas células que, se não são eliminadas ao nascer, medrarão; o aparato de controlo do estado sabe isso e nós não devemos ignorar que vai fazer o que considere preciso para intentar eliminar estos lugares de resistência; sabem que esse é o frente a combater; também sabem que se não os erradicam agora, depois não poderão eliminar os seus efeitos na sociedade. Efeitos que certamente se notarão na dignificação da nossa maltratada identidade. O aparato do estado monolítico não escatimará esforços para apagar estas vozes, mentres os mais de nós dormimos corrente abaixo. Sabemos que vão usar qualquer escusa para botar o fecho; vão tentar também o desprestígio social de alguns dos seus membros fabricando operações castiñeira e o que seja preciso com tal de que isto não vá em aumento; é claro, com tanto trabalho não lhes resta tempo para averiguar que se passa nesses outros locais que mencionava eu ao começo deste artigo. Mas todos sabemos que nada poderão contra nós se não os deixamos dividir-nos, como aconteceu naquela malha em Covas, há mais de cem anos, na que eu já tenho falado... É já agora, dizer-vos que aqueles que tentaram abafar aquela malha são os mesmos que andam a tentar apagar as vozes da nossa juventude, e nós... quem caralho somos nós...?

Escrito ?s 12:12:03 nas castegorias: Velha Esmorga, Informaçons
por csesmorga   , 917 palavras, 500 visualizaçons     Chuza!

1 comentário

Comentário de: monica [Visitante]
monica

quanta verdade junta e que bem expressada…
os locais sociais são um direito cívico e um jeito de fazer mais democrática esta sociedade; de combater a burrice do futebol-prostituição-drogas-etc, que são os dessafogos que nos deixam, e nós caimos como moscas.
viva o trabalho em equipa
viva o convívio
viva o companheirismo nas duras e nas maduras
e uma morea de coisas que não colhem aqui e que não mudaria por nada do mundo

22-06-2006 @ 13:50
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