Luzia Lopes: «Acho necessários espaços que deixem de lado o ambiente 'manso' no qual estamos mergulhadas»

Luzia Lopes: «Acho necessários espaços que deixem de lado o ambiente 'manso' no qual estamos mergulhadas»

04-05-2007



Acabar com o sedentarismo das crianças e normalizar a vida das pessoas com discapacidade são dois dos objectivos de Luzia, a esmorgana entrevistada desta vez

A Esmorga Blogue.- Luzia Lopes é uma recém chegada à Esmorga, de facto ela tornou-se sócia após conhecer o novo Centro Social da rua Telheira, 9, aberto em Novembro de 2006. Natural de Oia, tem 25 anos e está a estudar Educação Especial no Cámpus de Ourense.

Embora recém chegada, Luzia envolveu-se de imediato no ambiente esmorgano, impulsionando a Comissão de Trabalho com Crianças e promovendo diversas actividades relacionadas com a Discapacidade que decorrerão neste mês de Maio. Estivemos com ela há uns dias para falar demoradamente disso e de muito mais.

Quem é Luzia Lopes?

Bom? no meu bilhete de identidade diz Lucía Flora López?

Bem, com independência de sob que epígrafe se delimitar, o meu nome circunscreve sempre uma cidadã do mundo convicta e consciente de sê-lo.

Esmorgana? desde quando e por quê?

Bom, a história do meu encontro e posterior afiliação à Esmorga é bastante curiosa. Aconteceu é que um dia (concretamente a finais do passado ano) chamaram a minha atenção as manchetes de um cartaz colado nas paredes da Sala de Estudo da Faculdade anunciando um evento.

O cartaz publicitava umas jornadas sob o título «O Consumo que nos Consome». Ávida de saber como, quando e que pessoas iam ministrar as conferências reparei em que o cartaz especificava também que os promotores da citada actividade eram, entre outros, o colectivo da AMI.

Reconheço que não concordo com algumas das posições defendidas por esse colectivo, mas li no programa que entre os conferencistas estava um rapaz da «Cova dos Ratos» de Vigo, ao qual eu conhecia pessoalmente e esse foi o motivo que fez com que assistisse a esse evento.

Após as jornadas, o debate e a tertúlia, o pessoal presente no acto achou bem ir tomar um copo à Esmorga. Com muita amabilidade fui convidada, acompanhei-os e... eis como começou o meu relacionamento com o local! Na verdade, foi amor à primeira vista!

Para ti o melhor da Esmorga é?

A quantidade e variedade de actos que tem. Acho muito necessário um espaço tal e qual este, que deixe a lado o ambiente «manso» no qual estamos mergulhadas, que te faça partícipe activa, autónoma e livre (mesmo que seja escuitando uma conferência isso dá para pensar, despertar o teu razoamento crítico, conheceres e tomares consciência de outras realidades e questões...)

Por outro lado e consequentemente, no Centro Social A Esmorga conflui gente muito diversa, interessante e transmissora de muitas experiências... Bom, embora as geralizações não sejam certas totalmente, acho que as esmorganas e os esmorganos têm a cabeça «bem dotada», muitas coisas para dizer e vontade de conhecer sem julgarem previamente.

E o «menos bom?»

Talvez, por vezes, exista uma politização excessiva. Penso que independente de sentir-se parte de uma ou outra ideologia, todas somos cidadãs, e isso é o primeiro, sem etiquetas.

És a impulsionadora da última comissão criada nesta associação, fala-nos do teu trabalho.

Em primeiro lugar dizer que eu sou mais uma peça de um colectivo de pessoas que estão a trabalhar também neste campo (da organização, passando pela logística, até a publicidade).

Dito disto, avançar que nesta comissão tentamos dar forma a uma ideia geral que pairava no ambiente: acabar com o sedentarismo das crianças através da organização e difusão de uma série de actividades alternativas totalmente gratuitas.

Tentamos, pois, acabar com um sedentarismo que é fruto das crianças não encontrarem caminho livre para o jogo (escasseza de alternativas de ócio se não for através do mercantilismo e do materialismo, nomedamente). As Jornadas «Crianças a Brincar», inauguradas em passado 20 de Abril, perseguem isso.

Unha criança galega tem hoje mais ou menos hipóteses de se desenvolver em todos os planos : família, escola, lazer? na língua galega?

Isso depende de muitos factores: da idade, da situação geográfica... No tocante à minha experiência pessoal penso que a medida aprovada pela Junta relativa a 50% mínimo das aulas em língua galega e a aparição das Galescolas integramente em galego para crianças de 1 a 3 anos vai facilitar a «continuidade» para falar em galego.

Mas cuidado, falo de «continuidade», pois se os pais não falarem galego às suas filhas vai ser difícil que na escola o façam. Por exemplo, no meu caso, lá pelo ano 87 (quando comecei o primário) a escola significou abandonar a língua mãe (galego) para passar ao castelhano.

Participas, além da comissão de crianças na de cinema promovendo o que será o ciclo de projecções acerca da Discapacidade para o vindouro mês. Qual é o objectivo dessa actividade?

Bom acho que devemos tentar normalizar essa situação de discapacidade. Devemos tentar aceitar que cada indíviduo tem capacidades e limitações, a consciência disso é que ocasiona a discapacidade.

A discapacidade somentes é questão de graus? isto é, um indivíduo que padecer algum tipo de discapacidade sensorial/física/mental reconhecida apresenta uma restricção ou ausência de funções que imposibilitam o claro desempenho de um papel social.

Portanto, na realidade todas as pessoas apresentamos limitações, todas apresentamos discapacidade nalgumas coisas! Exemplificando e personalizando dizer que apresento clara discapacidade na orientação e condução, isso impediu-me o desempenho da profissão de taxista!!

Que achas em falta para favorecer a normalização da vida da pessoa com discapacidade na Galiza?

A normalização deste colectivo apenas virá determinada pela aceitação da «normalidade da discapacidade» por parte do colectivo maioritário «não discapacitado».

Portanto, partindo desse axioma, o único caminho que deveríamos seguir passaria por «trazer à tona os primeiros» mediante escolarização em escolas ordinárias (escola aberta à diversidade), filmes com actores discapacitados, tertúlias televisivas em que pessoas discapacitadas opinem sobre o tema do dia, assistência às aulas semanais de actividades extraescolares com os rapazes e as raparigas «normais»... tudo o que estamos e vamos tentar fazer e promover a partir da Esmorga.

E para já, aproveito a entrevista para divulgar que dia 19 de Maio actuará no Centro Social da Esmorga un grupo de rock chamado «Xerome-rock» do qual dos 7 integrantes 5 presentan discapacidade (4 cognitiva e 1 física)? Deveis assistir todos e todas pois só juntas poderemos conseguir a normalização!!

Por ir acabando, Luzia, como integrande da comunidade universitária de Ourense, como vês a capacidade de actuação social desse colectivo?

Na teoria, etimologicamente falando, o termo universidade implica «faça-se a luz» no teu ser, culturizando-te e descobrindo novas coisas mas? as coisas não são em absoluto dessa maneira!

Eu estudo no Edifício de Ferro e, portanto, são a menos indicada para queixar-me (as Faculdades aí sediadas em nada se parecem às Escolas de Direito, Turismo, Empresariais... pois apresentam um modelo «mais humanista da eduação»).

Ao principio definias-te coma cidadã do mundo e como cidadã de Ourense que pedirias à próxima equipa municipal que governe esta cidade?

Esta é uma resposta que poderia extrapolá-la a todos os municípios. Julgo que é dever do governo conseguir a igualdade de oportunidades no sistema social. Para isso têm de ser tomadas medidas legais, arquitectónicas, urbanísticas... que sejam garante para que alguém com discapacidade possa aceder aos mesmos locais e postos de trabalho que qualquer outra pessoa sem discapacidade.

Portanto, apenas peço que isso se cumpra independentemente da terminologia que delimitar o partido, as siglas... embora a adopção dessa metodologia estará vinculada directamente com uma tolerância e respeito à diversidade, na teoria mais esquerdista...

Escrito ?s 03:13:31 nas castegorias: Associaçom, Entrevistas
por csesmorga   , 1321 palavras, 2275 visualizaçons     Chuza!

4 comentários

Vítor Manuel Lourenço Peres

Amiga Luzia, após o grande e extraordinário dia de ontem hoje voltamos à actividade diária, não por isso menos interessante e necessária. É por isso pelo qual aproveito para fazer esta mensagem e reconhecer um erro meu à hora de agendar esta entrevista.

Na realidade foi colocada nas piores das datas, justo quando o pessoal todo, por que se vê, tinha a cabeça só é unicamente no festival da língua, para bem ou para mal.

É por isso que vejo com um bocadinho de mea culpa que talvez o pessoal não tenha reparado o suficiente na mesma, por enquanto.

Enfim, com as concordâncias e as discordâncias existentes entre tod@s nós (que também não fazem mal), fico contento pela tua generosidade e a tua vitalidade esmorgana.

A gente vê-se terça no cinema. Todo o mundo lá!

06-05-2007 @ 19:03
Comentário de: Carlos F. [Visitante]  
Carlos F.

Pois eu, já desde Compostela e com a ressaca etílica como única acompanhante depois do Festival na volta para a minha outra casa… achei a entrevista muito interessante.

Parabéns.

07-05-2007 @ 18:02
Comentário de: xavier castellanos [Visitante]  
xavier castellanos

Cara esmorgana Luzia, parabens pe
lo teu trabalho e ideias. Gost
o da tua mensagem.
Esta sociedade necessita pessoas
como tu. Beijos.

08-05-2007 @ 14:58
Comentário de: xavier castellanos [Visitante]
xavier castellanos

Cara esmorgana Luzia, parabens pe
lo teu trabalho e ideias. Gost
o da tua mensagem.
Esta sociedade necessita pessoas
como tu. Beijos.

08-05-2007 @ 14:59
    A Esmorga somos cada vez mais pessoas que apostamos pelo activismo social e cultural comprometido com a realidade em que vivemos.

    Trabalhamos para promover a língua e a cultura galegas, a sensibilidade para com o meio ambiente e a solidariedade entre as pessoas e os povos.

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