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Artábria e o compromisso com Carvalho Calero

13-03-2007

  18:09:56, por artabria   , 1824 palavras  
Categorias: Comissom de Língua, Documentos, Língua

Artábria e o compromisso com Carvalho Calero

Esse é o título de um trabalho escrito polo nosso companheiro Alexandre Peres, associado da Artábria desde 1992, que foi publicado no livro "Carvalho Calero: a nossa homenagem. 1990-2005", editado polo Movimento Defesa da Língua vai fazer dous anos.

Neste mês, em que se cumprem dezassete anos do falecimento do professor ferrolano, achamos interessante oferecer-vos este texto, em que se fala da estreita relaçom que sempre uniu a nossa entidade, já desde os primeiros anos da "Associaçom Reintegracionista Artábria", com Ricardo Carvalho Calero, naquela altura recém falecido.

[Imagem: O autor do artigo, Alexandre Fernandes, e o que foi primeiro presidente da Fundaçom Artábria, Maurício Castro, seguram um retrato de Carvalho Calero no interior do primeiro local social da nossa entidade, no bairro da Madalena. Ferrol, 1998.]

Introduçom

Do momento em que a Artábria nasce como movimento social e cultural há agora máis de quinze anos o seu relacionamento coa vida e obra de Ricardo Carvalho Calero é imediato e constante.

Artábria era máis um colectivo reintegracionista dos que xordem no país na década de 90, facto que acontece pouco despois da morte Carvalho, o que nom é simples acaso. Nom vou analisar nem falar desse tempo no que o movimento normalizador, que daquela se autodenominava e definia com a palavra e etiqueta reintegracionista, irrompe em diversas vilas e cidades do país. Refiro apenas, e estou convicto disto, que nesse parto múltiplo de colectivos normalizadores, o primeiro, ou o máis importante motor e motivo que propicia a sua posta em andamento é tomarmos o relevo que Carvalho deixa, para continuarmos na sua mesma caminhada em prol da normalizaçom da língua e da cultura da Galiza. Como se passa com os astros, a grande estrela de Carvalho nom desaparece senom que se transforma e recria numha constelaçom de novas estrelas.

Nessa caminhada, e nesse relevo, o papel protagonista e central da AGAL em relaçom ao seu papel normalizador (e ao seu presidente de honra), mais do que alargar-se tentacularmente, distribue-se nos grupos que nascem, numha mistura de estratégia que parte do seio (ou de pessoas) da AGAL em prol dum preciso trabalho cultural, e de auto-organizaçom em defesa da língua...

Artábria e Carvalho Calero

Carvalho Calero era logo um referente central dessa constelaçom de pessoas e grupos presentes daquel momento histórico, também em Narom e Fene, onde se cria a Artábria.

Se bem nom estivem nesse momento fundacional, senom um par de anos despois, lembro perfeitamente aquelas primeiras juntas. Na sala onde nos reuníamos havia os manuais indispensáveis do aprendiz: Da Fala e da Escrita; Do Galego e da Galiza; o Método de Martinho Monteiro, além do Estudo Crítico e o Prontuário da AGaL. Livros que, salvo o Estudo Crítico que me presenteara o Júlio Diegues quando fora seu aluno no liceu, Eu nom tivem até passado uns tempos. Falavamos tamém, e muito, de Castelao e do Sempre em Galiza (outra oferta doutro professor: Manuel Rei, junto dum monográfico e um vídeo de A Nosa Terra sobre Carvalho), do Martinho Monteiro (que Eu nom assimilava que fosse um cura), do Dicionário de Estravis (umha massa), de Rodrigues Lapa (do livro que partilhou com Carvalho) e de Portugal. Lembro multitude de jornais, revistas e folhetos portugueses que o Gonçalo Grandal trazia de Portugal, além da sua colecçom completa do Asterix (o Çalo tinha de tudo), e que liamos com fruiçom em casa num exercício normalizador tam simples como enriquecedor.

Neste senso, e centrando-me no encomendado, as leituras e releituras (quanto mudam e alargam estas) de livros como o de Conversas com Carvalho de Pilhado e Fernám Velho, ou do livro sobre Carvalho do Martinho Santalha fórom, como todas as máis, de grande proveito nesta autoformaçom como pessoas e grupo.

A figura de Carvalho era omnipresente no labor das pessoas que desempenhamos a vida activa e participativa do projecto inicial da Artábria. A nível interno, era um espelho no que nos queríamos e tínhamos de reflectir. Apesar desta auto-exigência, a formaçom e bagage cultural, a entrega (e a inteligência) das pessoas da Artábria nom eram nada homogéneas, polo menos quanto ao que me diz respeito, a bastante distáncia p.ex., do Maurício Castro, Çalito Grandal ou do João Paz − John.

De cara ao exterior, Carvalho Calero era o melhor produto co que vendermos a nossa actividade. Homologamos o trabalho feito como Artábria como umha continuaçom natural e muito próxima à feita por Carvalho. Tínhamos de aproveitar o que significou toda a sua vida e obra polo bem do Galego e da Galiza. Tínhamos de aproveitar (e nom por localismo paifoco) que o nosso ilustre vizinho de Ferrol Velho era «Filho Predilecto de Ferrol», e posteriormente «Filho Ilustre da Galiza». E figémo-lo. Dizer também, aquando a reformulaçom do projecto Artábria, quando passamos a ser Fundaçom com sede num Centro Social aberto a língua e cultura galegas, que houvo pessoas que quigemos mudar o nome da Artábria polo de Carvalho Calero, que nom calhou pois nom se via muito claro aquilo de dar o nome de Carvalho ao Bar da Artábria.

Apropriamo-nos dele, devidamente, é claro. Fomos os únicos que o tomamos e reivindicamos no seu todo. Porém, via-se-nos ou acusava-se-nos de tomá-lo só em parte (precisamente por parte de quem nom tomava nada ou pouco). Assim, o ferrolano Carvalho era apenas a sua obra reintegracionista, os seus textos filológicos e de sócio-lingüística, o que em certa maneira pode parecer assim. Acontece que fazíamos máis finca-pé, precisamente, nessa parte mal vista e tergiversada, nesse seu labor normalizador que se queria agachar, nessa sua faceta favorável ao reencontro da família lingüística e cultural. Reivindicávamos coa boca grande, e nom coa pequena, o que ao próprio Carvalho lhe custou a censura, a traiçom e um novo exílio interior, por parte do stablishment cultural vendido ao novo poder conservador posterior aquando a reforma política após a morte do ditador.

Se trabalhar polo galego era e é muito complicado (estamos numha comarca que gira arredor da cidade de Ferrol, o maior encrave de espanholizaçom do país) acresçamos isto acima dito. Contodo, temos de dizer que as portas da Artábria sempre estivérom abertas para todas aquelas pessoas que queriam restaurar a nossa personalidade lingüística e cultural. Nom descartamos ninguém, porque, por desgraça, nom estamos sobrados de pessoal disposto a trabalhar polo país. Nunca houvo desencontros por razons de filosofia normalizadora com sócia/o algum. Nunca tivemos problemas desse tipo com ninguém; ninguém deixou de trabalhar ou colaborar na Artábria por “qüestons normativas”, polo simples e penoso facto de que há muito poucas pessoas consciencializadas da nossa desnormalizaçom, e portanto, dispostas a tal remediar. Em troca, Artábria encontrou muitas portas fechadas de pessoas, grupos e instituiçons. Algumhas delas, por parte daqueles/as que, teoricamente, estávamos nas mesmas coordenadas de construçom nacional. Um profundo sectarismo ajudou a que muitas das nossas actividades nom fossem desenvolvidas, muitas delas em relaçom a Carvalho Calero, como podem ser a construçom dum monumento em sua honra; que a sua obra fosse repartida nos Centros de Ensino e Bibliotecas de Ferrol (e comarca); que se figesse umha Exposiçom Bio-Bibliográfica permanente e itinerante sobre Carvalho Calero, para levá-la a todos os centros de ensino, sociais, culturais, ... de todo o tipo da Galiza. Com certeza, o que menos pesou fórom razons normativas.

Outra iniciativa a salientar no que a Carvalho diz respeito foi a de pedirmos a dedicaçom do Dia das Letras Galegas a Carvalho Calero (de 2000 a 2005), dirigindo-nos a RAG, e contando em 2000 co apoio do Concelho de Ferrol, e outros como Fene e Narom. Esta petiçom figémo-la no simples convencimento de que ia servir para alargar o conhecimento da vida e obra de Carvalho Calero, o que achamos imprescindível. Aliás, todos os anos distribuímos centenas de folhetos sobre a vida e obra de Carvalho, figemos-lhe homenages, conferências,... coincidindo co seu cabodano. No Xº cabodano conseguimos editar um pequeno livro sobre a figura emblemática de Carvalho, numha tirage de máis de 5.000 exemplares, e distribuí-lo nos Centros de Ensino de alguns concelhos da comarca e no de Compostela, nos nossos filiados/as e nos da CIG comarcal. Um número que se notou insuficiente, logicamente, num labor que tinha de ser assumido e desempenhado por umha administraçom dita galega, e que a dia de hoje, mantém no esquecimento personalidades tam importantes da cultura galega como Ricardo Carvalho Calero.

Passado o tempo e ampliado o (meu) conhecimento nom só sobre a ricaz vida e polifacética obra de Ricardo Carvalho Calero, senom tamém da cultura galega em geral podo e quero afirmar no meu nome e no da Fundaçom Artábria que Carvalho é, juntamente com Daniel Castelao, a personalidade máis importante da cultura galega do século XX. Umha figura enorme em todos os campos nos que laborou.

Há quem considera, numha leitura ou visom mutilada e reducionista que só som dignos de louvor e consideraçom, aqueles que conta(ro)m com reconhecimento ou respaldo oficial e/ou institucional. Há quem considera, aliás, que pode entregar bençons e condenas, quem é que vai para o céu e para o inferno na cultura galega. Para esse selecto clube de mesquinhos/as, os “pais e mais da pátria” seriam poucos máis dos que descansam em Bonaval.

Resulta totalmente injusto e ingrato, quando nom umha desfachatez que roça a miserabilidade −pois a ignoráncia se desculpa, afirmar e proclamar que a cultura galega nom tivo umha personalidade destacada e revulsiva como pudo significar Pompeu Fabra na cultura catalá, quando se há alguém na Galiza com quem se pode traçar um paralelismo polo feito durante a sua vida, e plasmado na sua obra, é justa e unicamente Ricardo Carvalho Calero. E olhemos o reconhecimento e consideraçom que tenhem ambos...

Da Artábria achamos que já som horas de emendar o erro, de desculpar-se polo enorme dano cometido e repararmos o desagravo feito com Carvalho Calero. É umha obriga moral restaurarmos na sua plenitude a personalidade monumental do polígrafo ferrolano. Som horas de reconhecermos que Ricardo Carvalho Calero é pola sua magnífica, fecunda e avultada obra, amor e dedicaçom à língua e cultura da Galiza, um dos galegos máis ilustres de todos os tempos. Um dos grandes da Galiza.

Alexandre Fernandes é membro da Artábria desde 1992

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- Segundas a sextas 10.00h-13.30h // 17.30h-feche
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A Associaçom Reintegracionista Artábria, nascida em 1992 em Narom, transformou-se em abril de 1998 em Fundaçom, inaugurando em setembro desse mesmo ano o seu Centro Social.

A Fundaçom Artábria está declarada de Interesse Galego e classificada de interesse cultural, com o número de inscriçom 54 e CIF:G15645518.


Para saberes mais, lê a definiçom da Artábria na wikipédia + info

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