Diário Liberdade - Aproveitando umha das apresentaçons da obra audiovisual 'Entre Línguas', tivemos ocasiom de falar com o João Aveledo.
De Entrevista joao |
João Aveledo é integrante, junto a Eduardo Maragoto e à Vanessa Vila Verde, do colectivo GLU-GLU (Galego Língua Útil ? Galego Língua Universal). O colectivo estreou-se com um trabalho audiovisual que, pola primeira vez, olha para umha série de territórios raianos entre Portugal e Espanha caracterizados pola sua origem étnica e lingüística portuguesa, mas que ficárom há mais ou menos tempo sob domínio espanhol.
Em quase todos os casos, o fim das respectivas comunidades lingüísticas está próximo, com o fim da derradeira geraçom de falantes. Em quase todos os casos, quase ninguém tinha dado atençom a umhas realidades com tanto em comum com a Galiza... a começar pola língua.
Com umha já longa trajectória de entusiasta apoiante da causa reintegracionista, o João Aveledo nasceu na Corunha em 1964, filho de mestres e neto de labregos. Define-se como "Bichólogo e boticário (sem botica)", mas trabalha como professor de Processos de Diagnóstico Clínico, além do seu meritório labor como poeta e colaborador do periódico Novas da Galiza.
Com ele conversamos sobre Entre Línguas, que se encontra em plena fase de promoçom e apresentaçom, um pouco por toda a Galiza.
Diário Liberdade ? Achas que correspondeu o resultado do trabalho que figestes com a vossa tese de partida?
João Aveledo - Com efeito, nós partimos da tese de que os dialectos de origem galego-portuguesa ou, entom, portugueses, raianos por contacto com o espanhol, iam dar uns resultados, tanto do ponto de vista lingüístico, quanto sociolingüístico, que iriam ser muito semelhantes àquilo que nós estamos afeitos a ouvir na Galiza.
Achamos que sim, que essa tesse foi ratificada. Para nós foi umha enorme surpresa comprovarmos como falavam pessoas de Calabor, ou Ferreira de Alcántara... escuitar, por exemplo, gheadas, em praticamente todos estes territórios. Fenómenos lingüísticos que tínhamos por exclusivamente galegos ocorrem em províncias tam distantes como Cáceres, Salamanca, Badajoz...
DL - Isso nom coincide com a versom oficial...
Realmente, na Galiza só está a ser estudado um desses territórios: o de Xalma. É a variante falada nessa regiom que a versom oficial di ser ?galego? ou ?galego da Extremadura? [espanhola]. Quanto às restantes, preferem obviá-las, pois entrariam em demasiadas contradiçons, quando os próprios falantes de, por exemplo, Almedilha, afirmam que falam português. No Xalma, sendo um português de feiçom mais arcaica, que o aproxima do galego, e por nom haver nos falantes umha consciência lingüistica clara de que é o que falam, entom aí sim, pudo mesmo ser armada umha teoria para tentar explicar umha alegada ?origem galega?.
De Entrevista joao |
DL - Mas, entom, afinal, o que é que falam nesses territórios?
Falam basicamente português, com um maior ou menor grau de hibridaçom, em funçom da história particular de cada um desses lugares. Assim, é óbvio que o Casalinho, fundado no século XVIII por portugueses e que tinha muito contacto com Portugal (até há pouco que foi construída umha barragem), aí fala-se um português mais standar; ou noutras localidades raianas da área de Alcántara, fundadas por portugueses, algumhas no século XX, onde as pessoas ainda se consideram alentejanas.
Ora, noutros lugares, cuja separaçom de Portugal tem umha origem mais antiga, ou inclusive na própria Olivença, que há dous séculos que passou a ser ?espanhola?, mas onde o processo de castelhanizaçom foi brutal, ou Ferreira de Alcántara, Almedilha, Calabor... a proximidade fonética e lexical com as falas galegas é incrível.
DL - Além do parecido lingüístico, existem parecidos sociolingüísticos, quer nos comportamentos, quer na auto-estima?
Sem dúvida. Como aqui, lá existe o auto-ódio, ainda mais marcado, por carecerem de qualquer referência de tipo identitário-nacional. Na escola, simplesmente dixérom-lhes que falavam um ?chapurreado? e eles próprios o denominam assim em ocasions. Nom tenhem consciência lingüística: dim que falam um ?chapurrao?, um ?dialecto? que nom sabem o que é, e para o explicarem inventam-se por vezes as teorias mais estranhas...
Como aqui, nessas regions está a produzir-se um corte na transmissom da língua de pais a filhos. Deparamos com casos de numha mesma família onde uns irmaos sabiam falar português e outros, os mais novos, já só tinham aprendido o castelhano.
A escola, como na Galiza, é um factor determinante. Primeiro as pessoas fôrom educadas numha segunda língua, o castelhano, para depois essas mesmas pessoas já só transmitirem esse idioma, e nom o próprio, aos seus filhos, em funçom do prestígio social de aquele.
DL - Como está a ser acolhido o vosso trabalho? Qual a distribuiçom?
Levamos quatro apresentaçons. A recepçom está a ser boa, mas estamos ainda na fase inicial, pois há menos de um mês que o documentário está editado. Nos próximos meses temos bastantes apresentaçons à nossa frente pola Galiza, nalguns desses territórios e algumha também em Portugal, como na Universidade do Minho, em Braga. A partir daí veremos, mas de partida já foi pré-seleccionado para um festival de cinema em Ourense e está a ser distribuído nos centros sociais da Galiza, assim como polas principais livrarias do País. Também figemos envios às terras que protagonizam o trabalho, para que tenham conhecimento do resultado da sua colaboraçom.
DL - Para concluir, tendes novos projectos como colectivo GLU-GLU?
Temos, mas nom pode adiantar-se mais, a nom ser que a língua terá presença, quer expressa, quer como transfundo. Estamos no processo de documentaçom e discussom prévia do que poderá vir a ser um novo trabalho, por isso ainda é cedo para dar pormenores.
De Entrevista joao |
Entre Línguas (2009)
Realizaçom: João Aveledo, Eduardo Maragoto e Vanessa Vila Verde.
Duraçom: 30 minutos (mais um segundo dvd de extras)
Legendas: português e espanhol
Entre Línguas Documentos: Olivença, Alcântara, Xalma, Almedilha, Calabor, Entrevista com Henrique costas.
Montagem
Ramiro Ledo
Design
Manuel Pintor
Montagem Extras
Heitor Barandela
Música
"De la vida de les piedres" Diariu 2, Nacho Vegas e Ramón Lluis Bande; "Olhar quem passa" Contarolando, João Filipe
De Lançamento Ferrol |
DL - A apresentaçom decorreu como parte do programa das Jornadas Culturais que cada ano organiza a Escola Oficial de Idiomas de Ferrol.
Dentro da campanha de apresentaçom da obra audiovisual realizada por João Aveledo, Eduardo Maragoto e Vanessa Vila Verde, Ferrol foi a quarta localidade a projectar num acto público o documentário.
Montado por Ramiro Ledo e com umha duraçom de 30 minutos, a obra é a estreia no campo audiovisual dos dous realizadores e da realizadora, que viajárom polos cinco territórios que, pertencendo administrativamente a Espanha por vicissitudes históricas, continuam a manter o português como língua própria.
O acto contou com a presença de João Aveledo, um dos autores, que explicou como na origem do projecto estivo o receio pola explicaçom que estava a ser dada nas instáncias académicas oficiais sobre a realidade lingüística dessas regions raianas entre Portugal e Espanha. O contacto com as pessoas de Calabor, Almedilha, Xalma, Alcántara e Olivença serviu para confirmar o parecido existente entre as tendências sociolingüísticas lá verificadas e as características do conflito lingüístico galego, a começar pola influência e erosom produzida pola pressom do espanhol sobre todas essas variantes do espaço lingüístico galego-português.
O público participante no evento, que contou com umha presença maioritária de estudantes de Português na Escola Oficial de Idiomas de Ferrol, respondeu com aplausos à projecçom da obra, dando lugar a um debate sobre o grande paralelo existente entre a realidade desses territórios, desconhecida até agora na Galiza, e a nossa própria realidade.
A apresentaçom da obra de Aveledo, Maragoto e Vila Verde (Colectivo GLU-GLU) vai continuar nas próximas semanas por diferentes cidades e vilas da Galiza e Portugal. Durante os actos de apresentaçom, oferece-se a possibilidade de adquirir o DVD que recolhe a obra (30 minutos) mais um extenso segundo volume de documentos audiovisuais estendidos a partir do próprio documentário oficial. O preço é de 12 euros e também pode ser adquirido nos centros sociais galegos, como o da Fundaçom Artábria no caso de Ferrol.
Os confíns do galego ou como o portugués busca o seu camiño cara o castelán
De Xalma |
Do matrimonio do castelán e o portugués sae un fillo fermosísimo e moi san: o galego. Así o demostra o documental ?Entre linguas?, dirixido e feito por un equipo integramente galego que trata de ser un extenso estudio filolóxico que amosa como en cinco zonas fronteirizas de España e Portugal ambos idiomas se entrelazan e dan como resultado dialectos usados hoxe en día pola población local e moi similares ao galego actual.
Distribuido por Amén Cinema, o documental descubre pouco a pouco como o contacto das falas co español é o causante de que a lingua nativa nalgún territorios, incluso en concellos enteiros, quede absorbida. Idea do colectivo Glu-Glu (Galego Lingua Útil-Galego Lingua Universal), o documental é o seu primeiro traballo, aínda que xa teñen en mente visitar a fronteira de Uruguai con Brasil para verificar se o proceso de contacto ofrece os mesmos resultados alí.
O galego do que nada sabiamos
Hai dúas décadas foi moi sonado en Galicia o ?galego de Cáceres?, un caso que se reproduce en outros catro territorios ao longo da fronteira de Portugal, desde Zamora ata Badaxoz, onde a pesar de ser territorio español por vicisitudes históricas conservan unha fala moi similar ao galego. No documental, os veciños destas zonas, case sempre pequenas vilas, contan como ven esta peculiaridade e conversan sobre os motivos para continuar falando e cantando nun idioma que non é de nin teu nin meu.
Respalda esta idea o feito de que en 16 escolas públicas, centros rurais e institutos na zona limítrofe de Castela e León o galego goza dun réxime de protección propio, aínda que tamén se imparte como asignatura noutros dez centros do resto de España e outros 20 espallados polo resto do mundo.
Link: http://certo.es/index.php?page=entre_linguas
Entrevista com Vanessa Vila Verde, Eduardo Maragoto e João Aveledo, realizadores do documentário
"Nós nom pensamos que o galego e o português sejam línguas diferentes"
"No actual mundo das comunicaçons, é absurdo que haja instituiçons
empenhadas em fechar as fronteiras do galego a quatro províncias"
De Olivença |
Os tres directores, Aveledo, Vila Verde e Maragoto, nun receso en Olivença (Portugal), debaixo dunha boa sobreira
O subtítulo do documental "Entre línguas" é "O galego de que nada sabíamos". Ao longo da fronteira con Portugal (a coñecida raia no Miño, pero tamén moito máis abaixo, dende Zamora ata Badajoz), hai catro territorios máis que, por diferentes fitos históricos, son agora españois pero falan uns dialectos que a calquera lles poderían sonar a galego. Vanessa Vila Verde, Eduardo Maragoto e Joâo Aveledo xuntaron esforzos e partillaron unha viaxe por estes territorios para profundar no seu coñecemento. Unha investigación que agora reflicten no documental "Entre Línguas". Cóntannos, coa grafía na que traballan, como foi aquela aventura que lles ocupou espazos de lecer e traballo no ano 2009. As imaxes son da realización de "Entre línguas".
De Xalma |
.- Tres directores: un para cada lingua? Ou tres para un dialecto?
.- Somos três amigos muito interessados desde há tempo no debate da língua. Desde que se começou a falar do 'galego de Cáceres' chamou-nos a atençom a teoria que circulava na Galiza de que esse fenómeno era derivado de umha antiga repovoaçom de galegos que tinham ido parar à serra de Gata. Chamava-nos a atençom que, sendo um dialecto fronteiriço, nom tivesse nada que ver com as falas do outro lado da fronteira. De maneira que, produto de umha curiosidade filológica, figemos as primeiras viagens a essa terra chamada Xalma. Confirmamos que tinha muita relaçom com a língua falada no lado português e entom decidimos comparar a fala do Xalma com outras falas de territórios com origem portuguesa e que hoje em dia tenhem soberania espanhola. E decidimos gravar esses dialectos, que já se encontram no limite da desapariçom em muitos casos.
De Xalma |
.- Precisades na capa: "o galego do que nada sabíamos". Pero é galego esa lingua de fronteira que tratades? Dádenos razóns para non lle chamar portuñol, portulego, ou o máis pexorativo: castrapo...
.- Nós nom pensamos que o galego e o português sejam línguas diferentes, assim que nom nos preocupam muito as discrepáncias terminológicas. Porém, o que constatamos nas nossas viagens é que, sempre que o português é falado em Espanha, normalmente porque um antigo território desse país fica do lado espanhol, vai evoluindo de tal maneira que se acaba tornando mui semelhante ao galego, indistinguível em muitos casos. Isso foi o que provocou que na Galiza se pensasse que em Cáceres se falava galego, isto é, que a Cáceres foram parar galegos. Se umha pessoa galega nom tem conhecimentos filológicos terá muitas dificuldades em situar fora da Comunidade Autónoma Galega as pessoas que gravamos em todos estes territórios fronteiriços. Por isso dizemos que som os outros galegos de que nada sabíamos.
De Xalma |
.- Como vos documentastes para ir a eses territorios (Calabor, Almedilha, Xalma, Alcántara e Olivença) e non a outros?
.- Sabíamos por artigos e livros de antigos filólogos espanhóis e portugueses que em todos estes sítios se tinha falado português, mas nom sabíamos se ainda o continuavam a falar na actualidade. De facto, num deles (Bouça, em Salamanca) já morreram os últimos falantes e nom pudemos gravar. Nas últimas décadas, por razons políticas, em Portugal só interessava um dos territórios (Olivença) e também por razons políticas na Galiza só interessava o caso do Xalma. Nós simplesmente fomos ver que acontecia nos outros sítios, absolutamente esquecidos.
.- Colectivo Glu-Glu: explicádenos un pouquiño quen sodes e que obxectivos tedes.
.- Somos um colectivo aberto que pretende fazer trabalhos audiovisuais com a perspectiva do galego como língua útil e universal. Daí Glu-Glu (Galego Língua Útil-Galego Língua Universal). Por isso nos debruçamos sobre temas que salientam que a nossa língua nom está limitada às fronteiras da Galiza.
De Xalma |
.- Neste ano de cambio no goberno da Xunta de Galicia, o conflito lingüístico foi e segue a ser unha noticia permanente nos medios. Como vos posicionades?
.- Nom nos posicionamos em torno de conflitos concretos e, em certa medida, efémeros. Nós trabalhamos para que a mentalidade das pessoas em relaçom ao galego mude. Pensamos que, no actual mundo das comunicaçons, é absurdo que haja instituiçons empenhadas em fechar as fronteiras do galego a quatro províncias. Num mundo dominado por línguas faladas em muitos países, com diferentes sotaques e vocabulário, é absurdo querer forçar a condiçom regional do galego. Temos que aproveitar o que nos une ao Brasil ou a Angola.
De Xalma |
.- No voso documental, unha das teses que confirmades é que, onde se tocan portugués, galego e castellano, todos se van, tarde ou cedo, para o castellano. Que explicación lle dades?
.- Nom é exactamente assim. Qualquer língua subordinada a umha língua estatal evolui de maneira a convergir com esta. Se um dialecto castelhano ficasse dentro do território português, acabaria também convergindo com o português. O que acontece é que a razom para estes cinco dialectos, todos tam afastados geograficamente, se parecerem tanto entre eles e ao mesmo tempo com o nosso galego, é que tenhem o castelhano sobreposto. Todos evoluem na mesma direcçom, possuem os mesmos castelhanismos, etc. Assim, pouco a pouco, vam confluindo, podendo englobar-se na denominaçom genérica de galego.
De Xalma |
.- Lemos por aí que este ano, o 2010, vai haber unha colleita moi boa de documentais galegos, entre eles o voso. Está a renacer o formato documental coa democratización das novas tecnoloxías? Ou é debido a outros factores, como a escasa credibilidade que temos os medios de comunicación, en especial a televisión?
.- Algo disto último pode haver, mas é claro que a proliferaçom de documentários tem que ver com a democratizaçom do género que impulsionam as novas tecnlogias. De facto, sem isto, nós nom teríamos oportunidade de fazer este documentário. Há só uns anos nom teríamos a infraestrutura necessária para o levarmos avante.
.- Por onde vai rolar o voso documental? (festivais, centros de ensino, despachos de San Caetano???) Ides distribuír en Galicia e Portugal... que pasa con Brasil? xa Moçambique pode ser máis arriscado...
.- Nom lhe pomos limites, mas é evidente que o documentário é percebido plenamente só na Galiza e Portugal, para além das zonas em que foi gravado, claro. Aqui temos tido já numerosas apresentaçons num só mês: centros sociais, centros de ensino e nas próximas semanas apresentaremo-lo em entidades mais viradas para o audiovisual como o CGAI. Também o estamos a enviar a diferentes festivais galego-portugueses. Vamos ver se temos sorte.
De Xalma |
.- Que foi o máis duro de conseguir para levalo a bo termo? Financiación? Bos entrevistados? Un bo gps para atopar os pobos?
.- Acho que nada foi realmente duro, porque o mais duro foi também o mais estimulante. As horas que passamos metidos num carro dérom para variar o roteiro do documentário milhentas vezes. Por tratar-se também de um documento (nom só um documentário) todas e cada umha das entrevistas que figemos, mais de 50 horas de gravaçons, nos pareciam excepcionais. O dinheiro das viagens saiu do nosso peto, mas nom nos importou: foi a melhor proposta de lazer que tivemos no ano 2009.
Máis información nestas ligazóns:
http://actodeprimavera.blogaliza.org/2009/12/31/dez-filmes-para-o-2010/
http://linguaourense.org/?q=node/92
http://www.pglingua.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1906:o-galego-ou-a-caminhada-do-portugues-para-o-castelhano&catid=8:cronicas&Itemid=69
(Nesta última pequeno trailer... escoiten como a señora di "oitros", igual que os de Ribeira)