A ingerência humanitária em África, nova forma de domínio

22-06-2005

  19:15:16, por Corral   , 754 palavras  
Categorias: Novas

A ingerência humanitária em África, nova forma de domínio

Frustaçom e novo domínio (5)

por Gerardo González Calvo

É evidente que a adopçom do pluripartidarismo não está a resolver os problemas de convivência e de desenvolvimento, entre outras razões porque isto não depende só do sistema político. Muito menos o conseguiram os regimes militares e os partidos únicos. Na verdade, detecta-se um vazio de poder real acompanhado de dous fatores preocupantes:

Em primeiro lugar, o abismo cada vez maior entre poder e população civil; esta perdeu a fé nos seus dirigentes porque são incapazes de satisfazer as suas necessidades vitais. O afastamento entre o poder e os cidadãos levou-os a tentarem «resolver» os problemas como podem, acabando muitos deles ? sobretudo os jovens ? nos caminhos imprevisíveis rumo a uma Europa mítica e opulenta. No passado, os jovens africanos que vinham à Europa era para matricular-se nas universidades. Hoje, chegam ? muitos deles em jangadas ? para procurar qualquer trabalho que os europeus não queiram fazer. São os «boat-people» do desengano e da frustração.

Em segundo lugar, o assalto das multinacionais para instalar-se nos sectores chaves da economia. As multinacionais são agora a correia de transmissão das antigas metrópoles e dos Estados Unidos, que vêem em África uma parcela privilegiada para abastecer-se de hidrocarbonetos e de minerais estratégicos, imprescindíveis para manter o seu desenvolvimento económico e tecnológico. Os Estados Unidos intervêm já sem subterfúgios em muitos países africanos. Daí as frequentes visitas do ex-secretário de Estado, Collin Powell, a vários países africanos e o seu interesse em resolver conflitos como o de Darfur, no Sudão. Noutras ocasiões, como sucedeu na República Democrática do Congo, incentivam os conflitos, servindo-se de terceiros países ?Uganda e Ruanda- pata tirar o maior proveito do caos.

É preocupante, ademais, ver a apatia reinante nas universidades africanas, que deveriam ser o caldo de cultura de novas gerações bem preparadas para renovar as administrações públicas e mesmo os partidos políticos, repletos de velhos dirigentes que serviram sem escrúpulos os partidos únicos e os regimes militares. Passaram sem solução de continuidade do despotismo ao pluripartidarismo, mas não acompanharam as transições democráticas com a renovação dos aparelhos partidários. Ao fim e ao cabo, é a mesma gente com roupagens diferentes. Daí que assistamos em muitos países ao espectáculo de mudanças na cúpula dos partidos maioritários com pessoas que rondam os 70 anos. Isto aconteceu no Quénia, nas Seychelles e no Malawi e acaba de ocorrer na Namíbia, onde o sucessor de Sam Nujoma, de 75 anos, é Hifikepunye Pohamba, de 68 anos. Muda-se para que tudo fique igual. Por outro lado, em pouco lugares do mundo existem tantos Chefes de Estado com tantos anos no poder.

Enquanto isto acontece, aumenta o número de jovens desocupados embora possuam estudos superiores. Fechadas as portas das administrações públicas e do poder político, muitos destes jovens concentram-se nas grandes cidades, desanimados e abatidos. O seu futuro não é nada risonho. Muitos deles não podem casar-se porque não dispõem de meios económicos para celebrar a boda. O seu hipotético destino é algum país vizinho ou a Europa.

Paralelamente, aumentam no Ocidente africanos doutorados em diversas áreas que nem sequer colocam a possibilidade de regressar aos seus países de origem. Esta fuga de cérebros está a causar um prejuízo irreparável à África moderna, em especial nesta era de revolução tecnológica. Na actualidade, há 250 mil africanos profissionais, pessoal qualificado, licenciados, engenheiros, peritos em novas tecnologias, médicos e enfermeiros trabalhando fora de África.

O ministro da Defesa ganense, Kwame Addo Kufuor ? ex-oficial médico e presidente da Associação de Médicos do Gana ? declarou em Agosto do ano passado, durante um congresso sobre saúde, que o país poderia perder quase 25 milhões de dólares até 2006, se continuasse a fuga de médicos para países estrangeiros. Vinte e cinco milhões de dólares é o que custa ao Estado de Gana formar 400 médicos.
Isto contribui também para que, uma vez mais, um continente como o africano permaneça relegado a mero fornecedor de matérias-primas, algumas delas imprescindíveis para as novas tecnologias de ponta da informação. Aparece, outra vez, subjugado por uma nova colonização, mais subtil do que no passado, mas não menos sufocante.

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