Osvaldo Martínez
Director do Centro de Investigaciones da Economía Mundial (CIEM), Habana.
Se o suposto avanço no comércio de bens de alta tecnologia é só uma miragem baseada num novo padrão estratégico das corporações, é também assustador comprovar que o Sul retrocede inclusive no seu triste e tradicional reduto onde as vantagens comparativas o recluíram: o comércio de produtos básicos.Com os produtos básicos está a verificar-se que os seus preços e a relação de intercâmbio resultante continua a sua tendência secular para o descenso, que o seu comércio cresce mais lentamente que o de qualquer outro tipo de produto, que estão cativos em cadeias de comercialização controladas por consórcios transnacionais e que os países são induzidos a exportar cada vez mais produtos cujo preço é menor quanto mais exportam.
Com efeito, a relação de intercâmbio dos países do Sul ? excluído o petróleo e as manufacturas ? caiu mais de 20% desde 1980. Para a África a queda foi superior a 25%. A África teve de aumentar as suas exportações em mais de um terço para manter o mesmo nível das importaçoes que fazia em 1980.
Estes países são induzidos a exportar o máximo pelo FMI, Banco Mundial e OMC, mas o resultado é fatídico. Enquanto as exportações de café aumentaram de 3,7 milhões de toneladas em 1980 para 5,9 milhões no ano 2000, a receita recebida pelas mesmas caiu de US$12,5 milhoes para 10,3 milhoes $ USA em 2000.Mas ainda há mais: no começo dos anos 90 as receitas dos países produtores de café eram de uns 10-12 mil milhões de dólares e o valor das vendas de café em países desenvolvidos era de uns 30 mil milhões. Agora os produtores recebem só 5,5 mil milhões, enquanto as vendas nos países desenvolvidos ultrapassam os 70 mil milhoes de dólares usa.
Isto se explica pelo excelente "equilíbrio no poder de mercado" criado pela onda de fusões e aquisições que levaram à estruturação de umas quatro ou cinco "trading companies" gigantescas que compram uns 15 milhões de sacos de café de 60 kg a cada ano. Frente a elas apresentam-se para receber o infalível ditame do mercado um produtor camponês que vende em média menos de 5 sacos (Oxfam, 2002)
Outro exemplo entre muitos desta excelente actuação do livre comércio é do abastecimento de bananas ao mercado do Reino Unido. Na produção participam uns 400 mil trabalhadores, mas na comercialização apenas cinco empresas têm mais de 80% do mercado. Os porta-vozes do livre comércio dizem que este é um instrumento para reduzir a pobreza. Mas o aumento do comércio mundial desde os anos 80 contradiz isso. Ao principiar o século XXI as pessoas que lutam por sobreviver com menos de um dólar por dia não são menos que então e o mesmo ocorre com os que recebem menos de dois dólares por dia. Não existe correlação entre o crescimento do comércio e a redução da pobreza. O México multiplicou as suas exportações e no mesmo período viu multiplicar-se a quantidade de pobres ou marginados.
Os porta-vozes do livre comércio dizem que as exportações industriais dos países subdesenvolvidos cresceram com muita força.É uma verdade estatística que é, ao mesmo tempo, uma mentira no que significa de desenvolvimento verdadeiro. Explica-se no essencial pelo comércio intra-firma. Mas, além disso, sua distribuição geográfica deixa de fora vastas áreas do mundo subdesenvolvido.
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Seria bom que continuasse este tipo de trabalhos. Ah!, poderia o da tarrafa nom ocupar todo o espazo.