O livre comercio: O raposo livre no galinheiro(5)

14-07-2005

  09:55:33, por Corral   , 568 palavras  
Categorias: Novas, Outros, Ensaio

O livre comercio: O raposo livre no galinheiro(5)

Osvaldo Martínez
Director do Centro de Investigaciones da Economía Mundial (CIEM), Habana.

O leste da Ásia representa mais de 2/3 das exportações indutriais do Sul e mais de 3/4 nos sectores tecnológicos de alto rendimento como a electrónica. Mas em troca o sul da Ásia, África subsahariana e América Latina (se excluirmos o crescimento maquilhador do México) viram reduzir a sua quota de bens industriais. China, Coreia do Sul, Formosa, México e Singapura representam quase 2/3 do valor de todas as exportações industriais do mundo subdesenvolvido.

Os porta-vozes do livre comércio receitam a todos que exportem mais e abram mais seus mercados, mas o fechamento dos seus mercados é a negação da retórica. O lirismo da liberalização comercial espatifa-se contra o duplo critério que os países desenvolvidos aplicam no acesso aos seus mercados. Eles aplicam tarifas quatro vez mais altas às importações de manufacturas procedentes de países do Sul do que aquelas que aplicam a produtos semelhantes quando procedem de outros países desenvolvidos.

Os países mais pobres do mundo, os chamados "menos adiantados" são os mais castigados numa mostra suprema da racionalidade do livre comércio. As exportações desses 49 países mais pobres enfrentam tarifas 20% mais elevadas em média do que para o resto do mundo. Se se trata das poucas manufacturas que exportam, então as barreiras são 30% mais elevadas e perdem uns 2,9 mil milhões por ano pela elevada protecção nos Estados Unidos, na União Europeia, Japão e Canadá.

O discurso do livre comércio destaca o papel de vanguarda do comércio de serviços como cenário de progresso tecnológico e aposta de futuro. Mas os únicos serviços realmente liberalizados foram os serviços financeiros, justamente ali onde a superioridade e a conveniência dos Estados Unidos são esmagadores. Outros serviços de especial interesse para os países do Sul, como os serviços na construção e outros, permanecem fechados.

Por desgraça, quase todo o Sul engoliu a pílula do livre comércio. Os porta-vozes da abertura comercial não podem acusar de rebeldia ou sequer de falta de cooperação boa parte dos governos dos países do sul nos anos do neoliberalismo em auge. Seguindo as pregações do G-7 fizeram um desarmamento tarifário e, em geral, uma abertura comercial mais rápida e profunda que a realizada pelos próprios pais da proposta. Daí resultaram realidades tão absurdas que causariam riso se nom tivessem um significado tam doloroso para os povos.

Dezasseis países a África subsahariana têm economias mais abertas que a dos Estados Unidos, mas não tiram o primeiro lugar à América Latina (insuperável discípula neoliberal) que tem 17 países nessa condição. A liderança mundial é detida pelo Haiti. Reúne várias qualidades que revelam uma coerência impressionante. É o país mais pobre do hemisfério ocidental e um dos mais pobres do mundo. Sua pobreza é antológica, dolorosa e cruel. Mas desde 1986 o Haiti alcançou o galardão como economia totalmente aberta, segundo classificação do FMI. Recebeu calorosos elogios pela sua exemplar vontade aberturista. É um exemplo irrefutável de que a obediência ao modelo neoliberal de livre comércio é incapaz de resolver a pobreza e o subdesenvolvimento.

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