Osvaldo Martínez
Director do Centro de Investigaciones da Economía Mundial (CIEM), Habana.
Livre comércio, como proposta de hoje para o Sul, é também investimento de capital em condições de especial benefício para as transnacionais, é compras do sector público manietadas e incapazes de actuar como impulsoras de desenvolvimento interno para respeitar o direito das transnacionais a dominar os mercados nacionais e é uma política de competição concebida para exterminar os chamados "monopólios oficiais" enquanto fecha os olhos perante os monopólios privados.
Para finalizar esta apresentação, surgem as interrogações quanto ao futuro. O sistema de comércio internacional pode ser reformado como comércio ou necessita mais do que uma reforma, uma profunda transformação substancial que torne realidade não simplesmente algo menos mau e sim o outro mundo possível e definitivamente melhor que aspiramos?
As reformas contidas nas reivindicações do Grupo dos 77 na OMC (o tratamento especial e diferenciado, o acesso a mercados, a eliminação de subsídios agrícolas, as mudanças para tentar compensar o desequilíbrio na actuação da OMC e outras) são justas porque pretendem enfrentar graves injustiças e merecem apoio frente à intransigência e à voracidade do G-7 e seus consórcios transnacionais. São também parciais e não atingem a profundidade necessária para alcançar a transformação de fundo. Sua parcialidade consiste em que o comércio internacional não é mais que uma subsistema, uma peça de uma maquinaria total que é o sistema imperialista de dominação e exploração e que agora utiliza as peças financeiras e monetárias como os principais componentes para operar a dominaçom.
O avanço das reformas comerciais ? no caso de avançarem ? deixaria abertos múltiplos e amplos espaços pelos quais aquela dominação poderia continuar a existir. Pouco significado teria, como um exemplo entre outros, algum tratamento especial e diferenciado no comércio, se as taxas de câmbio flutuantes, a absoluta liberdade para dar fuga ao capital e a expoliação da dívida externa continuarem a chicotear os países subdesenvolvidos. O sistema é isso: um sistema integrado e global e a resposta à sua actuação tem que ser global e integral, como o entende e é a razão de ser do Fórum Social Mundial e do Fórum Social das Américas.
Tentando olhar mais longe, em direcção ao mundo possível e melhor a construir, o comércio internacional não poder limitar-se a mitigar um tanto a liberalização.Essa liberalização tem um código genético bem claro. É filha do mercado capitalista e não pode ocultar a sua vocação essencial para a exploração comercial que emana do intercâmbio desigual entre partes desiguais às quais os intercâmbio aparente de equivalentes apresenta como iguais.
Um mundo melhor e possível, esse da utopia imprescindível que nos permite avançar, não necessita amenizar a liberalização e sim criar outro padrão de valores. Um padrão de valores no qual a solidariedade entre também no comércio, e impeça que este continue a ser o cenário descrito por Che Guevara da actuação da raposa livre entre galinhas livres.