O império barranco abaixo.
Jorge Beinstein
Repercussoes económicas:
A evolução da "petroguerra" começa a causar impacto na economias dos países centrais e, a partir dali, no resto do mundo. A conexão entre as "más notícias" enumeradas e o aumento do preço do petróleo é evidente. Trata-se de factores da conjuntura que agravam, convergem, com uma tendência pesada do sistema global em direcção ao tecto máximo de produção de petróleo que estamos a ponto de alcançar e a partir do qual a economia mundial enfrentará a seguinte opção: continuar a crescer para espatifar-se com o colapso energético ou retardar o referido colapso com taxas de crescimento económico próximas do zero ou negativas. Mas para que esta última alternativa seja socialmente viável e não derive numa explosão de caos e desemprego seria necessário introduzir mudanças revolucionárias na economia e na cultura que excederiam em muito as possibilidades do capitalismo, da sua lógica de rentabilidade a qualquer custo. O bloqueio energético global era tecnicamente previsível desde há mais de três décadas quando a hipótese de King Hubbert restrita à exploração petroleira nos Estados Unidos começou a ser cuprida (a superpotência iniciou o seu declínio como produtor de petróleo) e a sua extrapolação à produção mundial assinalava que o máximo seria alcançado entre a primeira e a segunda década do século XXI a partir do qual se instalaria a penúria energética. Mas as vias alternativas de poupança energética e a introdução de novas fontes de energia (solar, eólica, biotecnologia, etc) puderam desenvolver-se de maneira muito limitada, não só devido a dificuldades tecnológicas (superáveis a longo prazo) como basicamente à sua não adaptabilidade à dinâmica de acumulação do capital, suas taxas de lucro, seu ritmo crescente de inovação e incremento da produtividade, sua cultura de consumo, etc.
O actual afundamento militar do Império traz ou trará também a curto prazo outras consequências negativas para o sistema, dentre elas a baixa persistente do dólar, resultado dos desajustes fiscais e comerciais dos Estados Unidos, e a desaceleração da euforia consumista no referido país, único mega motor da procura global. Desse modo a solução neoconservadora (militarista) à decadência do Império torna-se um catalisador da mesma. A crise segue seu curso.
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(1) Pepe Escobar, Asia Times; "Iraq, the new Afghanistan" (Jun 24, 2005) e "The first, not the last throes" (Jun 25, 2005).
(2) ibid.
(3) M.K. Bhadrakumar, "Left, Right: Iran and Venezuela in lockstep", Asia Times, Jul. 8 2005.
(4) Goinaz Esfandiari, "Afghanistan, Iraq-style", Asia Times, Jul. 13 2005.