Última entrevista de Vasco Gonçalves (1)

29-07-2005

  15:46:47, por Corral   , 688 palavras  
Categorias: Outros, Dezires

Última entrevista de Vasco Gonçalves (1)

Última entrevista de Vasco Gonçalves

por Viriato Teles

Entre 18 de Junho de 1974 e 12 de Setembro de 1975, foi o Primeiro-Ministro de Portugal, e esse foi o tempo mais gratificante da sua vida. Aos 452 dias iluminados que então viveu, mais de dez mil horas quase todas vividas de olhos abertos, juntem-se-lhe todos os outros e as noites e as madrugadas acesas que fizeram o ano e meio da Revolução. Vasco Gonçalves sorri quando fala desse período, e não é um sorriso de dor ou de saudade: é o riso sereno de quem cumpriu o seu destino e está feliz por com isso ter contribuído para melhorar o destino dos outros.

Vasco, o Companheiro Vasco, foi o único ocupante do Palácio de São Bento a quem o povo concedeu o gosto de tratar pelo nome próprio. Os adversários e os inimigos vingaram-se, inventando o gonçalvismo ? tentando resumir num homem aquilo que para eles era a fonte de todos os medos, mas que mal ou bem nascia dos mais puros anseios de um povo que, pela primeira vez na história recente, tinha como chefe do Governo um homem que o escuitava e, mais importante, o compreendia.

Por esse tempo, Lisboa era um centro de conspirações e um ninho de espiões como já não havia desde a II Guerra Mundial. Longe, em Washington e em Moscovo, os senhores do mundo sentiam-se incomodados com este homem que falava como quem ama. Por razões diferentes mas concatenantes, Brejnev e Kissinger estavam preocupados com o futuro político deste país esquecido à beira-Atlântico. Esquecido, mas fundamental por razões geo-estratégicas, já que fica a meio do eixo que ligava e separava as capitais dos dous impérios.

Depois do 11 de Março de 1975, Vasco Gonçalves foi o centro de todas as atenções: daqueles que o admiravam, como daqueles que o temiam. Durante o PREC, Vasco e a Revolução foram uma e a mesma coisa. A queda do V Governo Provisório, dois meses antes de Novembro, foi o prenúncio de que a Revolução estava a chegar ao fim: "Vasco voltará", garantiam, então, os seus seguidores mais crédulos. Vasco não voltou, claro. Pela simples razão de que não chegou nunca a partir: ficou aqui, entre os seus. Certamente magoado por não ter tido todo o tempo que merecia, mas ainda assim feliz por ter vivido o que viveu. E o certo é que, nesse tempo, as pessoas eram felizes ? mesmo as que não gostavam dele. E, isso, ninguém lhe pode tirar.

* * *

Viriato Teles: - Saudades de abril, General Vasco Gonçalves?

Vasco Gonçalves: ? Tenho, naturalmente, saudades de Abril. Mas saudades saudáveis, não nostálgicas ou melancólicas. Saudades que animam a luta pelo futuro.

VT: ? "Não imagino como seria a minha vida se não tivesse participado no 25 de Abril". São palavras suas. Como é a sensação de estar não apenas a viver a História mas também a transformá-la?

VG: ? Uma grande alegria de estar a participar activamente, com o nosso povo, com os militares, num processo de transformação profunda, estrutural, da nossa sociedade a caminho da justiça social, da libertação do homem, do socialismo.

VT: ? Há quem diga que o 25 de Abril nasceu como golpe de Estado e só quando o povo saiu à rua se deu a revolução, Está de acordo?.

VG: ? No dia 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas derrubou o governo fascista-colonialista. Nesse mesmo dia, apoiando o golpe militar, desencadeou-se um espontâneo e vigoroso movimento popular e nacional. O impulso das massas populares e dos trabalhadores, exigindo um empenhamento social e político mais alargado e profundo do que o inicialmente previsto pelo Movimento das Forças Armadas, fez com que a relação de forças dentro do Movimento fosse favorável aos militares que mais se identificavam com as aspirações, as reivindicações, os interesses populares, e imprimiu umha dimensão revolucionária ao golpe militar.

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