por Robert S. McNamara
Este importante artigo foi escrito pelo antigo secretário da Defesa dos EUA, Robert McNamara. Foi publicado na Foreign Policy e refere-se aos perigos actuais de um holocausto nuclear. Este evento poderia ser desencadeado, sem qualquer aviso prévio, por uma única pessoa: o presidente dos EUA.
Frases em destaque
"Os Estados Unidos nunca endossaram a política do 'não primeiro uso', nem durante os meus sete anos como secretário [da Defesa] nem desde então. Temos estado e continuamos a estar preparados para iniciar a utilização de armas nucleares ? por decisão de uma pessoa, o presidente ? tanto contra um inimigo nuclear ou não nuclear sempre que acreditarmos ser do nosso interesse assim fazer?.
Lançar armas contra um oponente equipado com o nuclear seria suicida. Fazer isso contra um inimigo não nuclear seria militarmente desnecessário, moralmente repugnante e politicamente indefensável".
"Não há maneira de conter efectivamente um ataque nuclear ? impedi-lo de infligir enorme destruição de vidas civis e de propriedade, e não há garantia contra a escalada ilimitada uma vez verificado o primeiro ataque nuclear. Não podemos evitar o sério e inaceitável risco da guerra nuclear até que reconheçamos estes factos e baseemos os nossos planos militares e políticas sobre este reconhecimento?.
A Nuclear Posture Review [da administração Bush] recebeu pouca atenção da parte dos media. Mas a sua ênfase sobre armas nucleares de ofensiva estratégica merece um vigoroso exame público. Embora qualquer redução proposta seja benvinda, é duvidoso que os sobreviventes ? se houver algum ? da permuta de 3200 ogivas nucleares (os números dos EUA e da Rússia projectados para 2012), com um poder destrutivo de aproximadamente 65 mil vezes daquele da bomba de Hiroshima, pudessem detectar alguma diferença entre os efeitos de uma tal troca e outra que resultasse do lançamento das actuais forças americanas e russas que totalizam cerca de 12.000,.- ogivas nucleares.
Além de projectar a instalação distante de grande número de armas nucleares estratégicas no futuro, a administração Bush está a planear uma extensa e dispendiosa série de programas para manter e modernizar a força nuclear existente ... Alguns membros da administração apelaram a novas armas nucleares que pudessem ser utilizadas como destruidores de bunkers contra abrigos subterrâneos ...
"A administração Bush também anunciou que não tem intenção de solicitar ao Congresso que ratifique o Tratado Abrangente de Banimento de Testes (Comprehensive Test Ban Treaty, CTBT), e, apesar de nenhuma decisão de testar ter sido tomada, a administração ordenou aos laboratórios nacionais que começassem a investigar novas concepções de armas nucleares e que preparassem os sítios de testes subterrâneos em Nevada para testes nucleares se necessário no futuro. De forma clara, a administração Bush assume que as armas nucleares farão parte das forças militares americanas polo menos nas próximas décadas?.
Robert McNamara está preocupado. Ele sabe quão próximos estivemos da guerra. Os seus conselhos ajudaram a administração Kennedy a impedir a catástrofe nuclear durante a Crise Cubana dos Mísseis. Hoje, ele acredita que os Estados Unidos não devem mais confiar em armas nucleares como ferramenta de política externa. Fazer isso é imoral, ilegal e horrendamente perigoso.
Já é tempo ? mais do que tempo, na minha opinião ? de os Estados Unidos acabarem com a sua confiança, estilo Guerra Fria, nas armas nucleares como ferramenta de política externa. Com o risco de parecer simplista e provocador, eu caracterizaria a actual política de armas nucleares dos EUA como imoral, ilegal, militarmente desnecessária e horrendamente perigosa. O risco de um lançamento acidental ou por inadvertência é inaceitavelmente alto. Longe de reduzir estes riscos, a administração Bush tem assinalado que está comprometida a manter o arsenal nuclear americano como um esteio do seu poder militar ? um comprometimento que está simultaneamente a desgastar as normas internacionais que limitou a difusão de armas nucleares e de material de cisão durante 50 anos. Grande parte da actual política nuclear americana tem estado em vigor desde antes de eu ser secretário da Defesa, e apenas tem-se tornado mais perigosa e diplomaticamente destrutiva nos últimos anos.