Os perigos reais de um holocausto nuclear ( e 5)

19-08-2005

  16:25:31, por Corral   , 1124 palavras  
Categorias: Novas

Os perigos reais de um holocausto nuclear ( e 5)

por Robert S. McNamara

Presumivelmente, os soviéticos de modo análogo apontavam muitas cidades americanas. A declaração de que as nossas armas nucleares não alvejam populações per se era e continua a ser totalmente enganosa no sentido de que o chamado dano colateral de grandes ataques nucleares incluiria dezenas de milhões de mortes de civis inocentes.

Isto, em poucas palavras, é o que fazem as armas nucleares: Elas indiscriminadamente explodem, queimam e irradiam com uma velocidade e determinação que são quase incompreensíveis. Isto é exactamente o que países como os Estados Unidos e a Rússia, com armas nucleares prestes a disparar ao primeiro alerta, continuam a ameaçar a cada minuto de cada dia neste novo século XXI.

NENHUMA MANEIRA DE VENCER

Tenho trabalhado sobre questões relacionadas com estratégia nuclear e planos de guerra dos EUA e da NATO ao longo de mais de 40 anos. Durante esse período nunca vi uma folha de papel que esboçasse um plano para Estados Unidos ou a NATO iniciarem a utilização de armas nucleares com algum benefício para os Estados Unidos ou a NATO. Fiz esta declaração frente a audiências, inclusive ministros da Defesa da NATO e responsáveis militares superiores, muitas vezes. Nem um alguma vez refutou-a. Lançar armas contra um oponente equipado com o nuclear seria suicídio. Fazê-lo contra um inimigo não nuclear seria militarmente desnecessário, moralmente repugnante e politicamente indefensável.

Cheguei a estas conclusões logo depois de me tornar secretário da Defesa. Embora acredite que os presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson partilhassem meu ponto de vista, era impossível para qualquer de nós fazer tais declarações publicamente porque eram totalmente contrárias à política estabelecida da NATO. Depois de deixar o Departamento da Defesa, tornei-me presidente do Banco Mundial. Durante os meus 13 anos de gestão, desde 1968 até 1981, eu estava proibido, como empregado de uma instituição internacional, de comentar publicamente sobre questões de segurança nacional dos EUA. Após a minha retirada do banco, comecei a reflectir sobre como eu, com sete ano de experiência como secretário de Defesa, posso contribuir para um entendimento das questões com as quais comecei minha carreira no serviço público.

Naquele momento, muito estava a ser dito e escrito sobre como os Estados Unidos poderia, e porque deveriam, ser capazes de combater e vencer uma guerra nuclear com os soviéticos. Esta visão implicava, naturalmente, que armas nucleares tinham utilidade militar, que elas podia ser usadas em batalha com ganho final para quem tivesse a força maior ou as usasse com maior perspicácia. Tendo estudado estas visões, decidi vir a público com alguma informação que sabia que seria controversa, mas que senti que era necessária para injectar realidade dentro destas discussões cada vez mais irreais acerca da utilidade militar de armas nucleares. Em artigos e discursos, critiquei a suposição fundamentalmente enviesada de que armas nucleares poderiam ser utilizadas de alguma forma limitada. Não há maneira de conter efectivamente um ataque nuclear ? impedi-lo de infligir enorme destruição sobre vidas civis e propriedade, e não há garantia contra a escalada ilimitada uma vez ocorrido o primeiro ataque nuclear. Não podemos evitar o sério e inaceitável risco da guerra nuclear até que reconheçamos estes factos e baseemos nossos planos e políticas militares neste reconhecimento. Mantenho estes pontos de vista ainda mais fortemente hoje do que o fiz quanto pela primeira vez falei contra os perigos nucleares que as nossas políticas estavam a criar. Sei por experiência directa que a política nuclear americana hoje cria riscos inaceitáveis a outras nações e para nós próprios.

O QUE CASTRO NOS ENSINOU

Entre os custos de manter armas nucleares está o risco ? para mim um risco inaceitável ? do uso das armas tanto por acidente como em resultado de maus julgamentos ou erros de cálculo em tempos de crise. A crise cubana dos mísseis demonstrou que os Estados Unidos e a União Soviética ? e na verdade o resto do mundo ? estiveram a uma curtíssima distância do desastre nuclear em Outubro de 1962.

Na verdade, de acordo com antigos líderes militares soviéticos, no auge da crise, as forças soviéticas em Cuba possuíam 162 ogivas nucleares, incluindo pelo menos 90 ogivas tácticas. Naquele mesmo tempo, o presidente cubano Fidel Castro pediu ao embaixador soviético em Cuba que enviasse um telegrama ao primeiro-ministro soviético Nikita Khruschev declarando que Castro o encorajava a reagir a um ataque americano com uma resposta nuclear. Claramente, havia um alto risco frente a um ataque americano, que muitos no governo americano estavam preparados para recomendar ao presidente Kennedy, de que as forças soviéticas em Cuba teriam de decidir-se a utilizar as suas armas nucleares ao invés de perde-las. Só uns poucos anos atrás soubemos que cada um dos quatro submarinos soviéticos que rastreavam navios da U.S. Navy próximo de Cuba carregavam torpedos com ogivas nucleares. Cada um dos comandantes dos submarinos tinha a autoridade necessária para lançar os seus torpedos. A situação eram ainda mais terrífica porque, como me contou o principal comandante, os submarinos estavam sem comunicação com as suas bases na União Soviética, e eles continuaram as suas patrulhas durante quatro dias depois de Khrushchev ter anunciado a retirada dos mísseis de Cuba.

A lição, se ela tivesse ficado clara antes, foi apresentada numa conferência sobre a crise efectuada em Havana em 1992, quando começámos pela primeira vez a saber da parte de antigos oficiais soviéticos acerca dos seus preparativos para a guerra nuclear no caso de uma invasão americana. Perto do fim daquela reunião, perguntei a Castro se ele teria recomendado que Khrushchev utilizasse as armas frente a uma invasão americana e, em caso afirmativo, como ele pensava que os Estados Unidos responderiam. "Nós partimos da hipótese de que se houvesse uma invasão de Cuba, a guerra nuclear irromperia", respondeu Castro. "Estávamos nós certos acerca disto? Seria o preço pelo qual desapareceríamos". Ele continuou: "Teria eu estado pronto a utilizar armas nucleares? Sim, eu teria concordado com o uso de armas nucleares". E ele acrescentou: "Se o sr. McNamara ou o sr. Kennedy tivessem estado no nosso lugar, e tivessem o seu país invadido, ou o seu país vindo a ser ocupado... acredito que teriam utilizado armas nucleares tácticas".

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