por Francisco Carlos Teixeira
A economia mundial está sob impacto de uma nova crise de energia, largamente explicitada pelos preços do barril do petróleo ? além de US$ 50 desde setembro de 2004. Menos espetacular do que as anteriores, a atual crise, mais silenciosa e duradoura, parece atingir as próprias bases do modelo energético do Ocidente.
Em setembro de 2004, em face dos evidentes sinais do descontrole dos preços do petróleo no mercado mundial, as mais importantes autoridades econômicas e financeiras do mundo ( nos referimos aos Estados Unidos, Japão e União Européia ? doravante UE) apressaram-se a expor, em público, sua confiança na ordem econômica e nas perspectivas de crescimento mundial. Coube a Claude Mandil, diretor da Agência Internacional de Energia, declarar que o ?mercado internacional de petróleo encontra-se suficientemente abastecido?, podendo, portanto, resistir ao impacto dos preços do barril do ?cru?.
Enquanto isso o ministro do petróleo da Arábia Saudita, Ali al Naimi, anunciava que seu país estava disposto a elevar a produção em 30%... em dois anos, chegando a 14 milhões de barris/dia. Por sua vez Ahmad Fahd al Ahmad, ministro do Kwait, prognosticava ? sem nenhuma evidência histórica, como veremos a seguir ? que os preços cairíam, em especial após as eleições americanas de 2 de novembro (de 2004).
Várias autoridades mundiais, entretanto, apresentavam-se bem menos otimistas, particularmente quando, em 12 de outubro de 2004 o barril do cru tipo Brent, negociado em Londres, ultrapassa a ?barreira psicológica?dos U$50,00. Os setores dependentes do petróleo (e derivados) mais ligados à produção, como a pesca, os transportes de mercadoria e a aviação civil apresentavam sinais evidentes de nervosismo. No interior da União Européia os setores sensíveis, em particular os transportes, apresentavam-se, conforme assinala o comissariado europeu, com um caráter crítico.
Mesmo figuras marcadas pela discrição e muito pouco dadas a críticas públicas, como o primeiro presidente do Banco Central da UE advertem para a iminência de uma crise. Em meio
a uma imensa onda de rumores, o presidente da OPEP, Purmono Yusgiantoro (da Indonésia) declara ? contrariando seu colega saudita - que não estavam programados novos aumentos da produção de petróleo, visando controlar os preços, visto que o descontrole atual derivaria de razões estranhas à própria economia do petróleo.
Aqui reside um ponto fundamental e bastante controverso: a alto dos preços (mais de 70% em relação ao mesmo período de 2003) seria decorrente de fatores externos à economia do petróleo ? como o conflito no Iraque (e depois aos efeitos do Katrina) ou estariam inscritas suas causas na própria estrutura de exploração e industrialização do combustível fóssil ?