Por Jean-Guy Allard
Ao recorrer a ex-militares, esbirros e delinqüentes para desestabilizar Jean-Bertrand Aristide, Caleb McCarry foi o autor da situação atual nessa nação do Caribe, qualificada de "catastrófica" pela ONU. O ex-funcionário do Partido Republicano, ligado aos órgãos de informação norte-americanos, foi eleito por George W. Bush para concretizar o último plano de anexação de Cuba, promovido por sua administração e pela máfia de Miami.
Funcionários da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti qualificaram de "catastrófica" a situação dos direitos humanos nesse país, informou a agência ANSA. "Existem violações graves e repetidas. A polícia leva a cabo ou aprova execuções, torturas e detenções arbitrárias", afirmou em entrevista coletiva Thierry Fagart, advogado da seção de direitos humanos da ONU em Porto Príncipe.
Caleb McCarry, pré-cônsul designado pela administração para tentar concretizar a anexação de Cuba, é membro da máfia de políticos e funcionários norte-americanos que seqüestrou o presidente Jean-Bertrand Aristide no Haiti, a ocultas do Departamento de Estado e com a anuência do clã Bush.
McCarry e seus parceiros organizaram um conluio, utilizando um ativista político ligado aos Duvalier e um grupo de mercenários e delinqüentes, em uma operação suja, manipulada pelos círculos da extrema direita mais fanáticos do Partido Republicano.
Num artigo intitulado The other regime change (A outra mudança de regime), publicado em julho de 2004 pelo site www.salon.com, o jornalista norte-americano Max Blumenthal revela como o International Republican Institute (IRI), uma "fundação política sem ânimo de lucro" fortemente subsidiada pela Usaid e representada na devastada ilha por Stanley Lucas, dirigiu a operação anti-Aristide. Para essa tarefa suja, o IRI recebeu orientações e apoio incondicional dum grupo de ativistas da extrema direita do Partido Republicano, estreitamente ligados a George W. Bush e onde McCarry desempenha um papel fundamental.
A família de Lucas é famosa no Haiti por um massacre de camponeses que seus primos, Leonard e Rémy, organizaram em 1987. Um grupo de delinqüentes, armados com machetes, assassinaram 250 agricultores que exigiam uma redistribuição das terras de sua fazenda. Naquele momento, Lucas treinava militares para ações da antiguerrilha.
Segundo Blumenthal, Lucas, ex-campeão de judô com imagem de ?play-boy? procede de uma família rica, com vínculos com a família Duvalier, cujo regime dominou o Haiti durante décadas, é a versão haitiana do colaborador iraquiano Ahmed Chalabi.
Enquanto Colin Powell buscava manter com o Haiti uma linha política moderada concebida quando da administração Clinton, Caleb McCarry, "funcionário anti-Aristide do Comitê das Relações Estrangeiras da Câmara", e uma delegação de republicanos se reuniram na República Dominicana com Convergence, a aliança anti-Aristide, que depois manifestou uma linha divergente da do Departamento de Estado. Nas eleições de 2000, Convergence recebeu do IRI, aproximadamente, US$ 2 milhões, entre 1998 e 2002, confessou ao jornalista um porta-voz.
Segundo dados dum ex-oficial do Departamento de Estado, McCarry e Lucas trabalharam "unidos" para vincular o financiamento norte-americano à "oposição" que fabricavam.
Lucas se dedicou pessoalmente a treinar os opositores de Aristide em cursos que intitulou Democracia 101, informou Blumenthal.
Entre os convidados ao "treino" estavam vários membros de Creddo, o grupo político do general Prosper Avril, que dirigiu o Haiti de 1988 a 1990, declarando o estado de sítio e torturando seus opositores.
Quando em fevereiro de 2004, o mercenário Guy Philippe ? ex-chefe da polícia, amigo da infância de Lucas ? capturou Cap Haitien com 200 "guerrilheiros", entre eles numerosos assassinos, delinqüentes e ex-esbirros de regimes anteriores, e ameaçou de ocupar Porto Príncipe enquanto a polícia nacional fugia, oficiais da embaixada norte-americana comunicaram a Aristide a alternativa de ficar na capital sem proteção, frente a bandos de delinqüentes dos amigos de Lucas, ou subir num avião com provisões de Washington que o levasse a África.
Entre os "combatentes da liberdade", como os chamou Roger Noriega, estão Louis Joyel Chamblain, líder paramilitar de péssima reputação e Emmanuel "Toto" Constant, que depois confessou seus vínculos com a CIA.
DEMOCRACIA, VERSÃO McCARRY
Uma recopilação de artigos da imprensa oficial norte-americana, realizada recentemente pelo pesquisador canadense Aaron Mate e publicada pelo site www.Znet.org, destaca vários fatos violentos ocorridos nos últimos meses que demonstram, claramente, as características da democracia instaurada no Haiti graças a Caleb McCarry e seus cúmplices.
Em 1º de março de 2005, o The Miami Herald publicava que no dia anterior a polícia haitiana tinha atacado uma passeata de 2 mil manifestantes pacíficos em Porto Príncipe, matando dois e ferindo vários. O protesto comemorava o golpe contra Aristide, ocorrido um ano antes.
Em 24 desse mesmo mês, a AP descrevia o ataque da polícia a vários manifestantes na capital, matando uma pessoa. "Repórteres da Associated Press viram oficiais da polícia tirando ao ar e contra os manifestantes", precisava o telexe.
Em 27 de abril, pela terceira vez, a polícia atacou de novo manifestantes que exigiam a libertação de partidários de Aristide, matando cinco pessoas, informou a AP.
Em 5 de junho, a agência britânica Reuters informou que "até 25 pessoas foram assassinadas em ações públicas e em bairros marginais da capital do Haiti, durante vários dias", segundo "trabalhadores dum depósito de cadáveres". Um dos testemunhas, Ronald Macillon, contou que os policiais "mataram muitas pessoas e incendiaram as casas".
Segundo informação da Reuters, com data 15 de julho, "grupos da oposição e residentes de bairros marginais contam que muitas pessoas inocentes foram assassinadas durante ações das tropas da ONU e da polícia haitiana". Renan Hedouville, líder do Comitê de Advogados para os Direitos Individuais, conhecido como Carli, grupo muito respeitado pela seriedade de suas intervenções, precisava que entre as vítimas haviam crianças e pessoas idosas dos bairros Bel-Air e Cité Soleil.
Em 1º de setembro, o Herald publicou outro massacre na localidade de Martissant, em 20 de agosto, "durante um jogo de futebol" por policiais com fuzis e máscaras pretas.
O ataque deixou um saldo de seis mortos e ocasionou preocupações entre oficiais da ONU que tentam estabilizar essa cidade sem lei, onde policiais, com vínculos com gangues, guiados por algum político desconhecido, realizavam uma operação de limpeza, tendo em conta as eleições de novembro.
Em 30 de agosto, o Washington Times precisou que testemunhas do massacre "disseram que viram civis armados com machetes como ?attachés?, quer dizer, criminosos locais, qualificados de assassinos pagos pela polícia.
OS ELEITOS DE BUSH, RICE, MARTÍNEZ E DÍAZ-BALART
Aristide foi seqüestrado em 28 de fevereiro de 2004 por forças especiais norte-americanas e expulso de seu próprio país.
Blumenthal destaca no seu artigo como Condoleezza Rice acorda George W. Bush no meio da noite para lhe anunciar a notícia do "triunfo" norte-americano no país mais pobre do hemisfério.
Em 29 de julho de 2005, Condoleezza Rice, nomeada secretária de Estado, anunciou a designação de McCarry "para dirigir a Comissão de Ajuda para uma Cuba Livre" e repetir em Cuba o realizado no Haiti.
A cerimônia de nomeação de McCarry teve lugar no Salão de Tratados do prédio Harry S. Truman, no Departamento de Estado, na presença de dois membros ilustres da máfia de Miami, o senador Mel Martínez, diretor do Cuban Liberty Council, cujos membros se destacam pelos vínculos com o terrorista internacional Luis Posada Carriles, e Lincoln Díaz-Balart, o furibundo congressista que se gaba de suas relações privilegiadas com os círculos mais fanáticos da Flórida do Sul.