Usos e abusos das medidas de produtividade

15-01-2006

  17:41:24, por Corral   , 4250 palavras  
Categorias: Novas

Usos e abusos das medidas de produtividade

por Harry Magdoff

Há um ano analisámos, na Monthly Review , a natureza espúria do alarme sobre o que vem acontecendo à produtividade nos Estados Unidos. Desde então, não se deixou de falar nessa questão. Acredita-se hoje, em geral, mesmo entre os trabalhadores, que a produtividade vem na realidade decaindo, e que esse suposto declínio é a causa da maioria de nossos males económicos. Ao mesmo tempo, o que se está tornando cada vez mais claro é que a incessante propaganda em torno dessa questão está a ser usada para atacar os trabalhadores a fim de justificar um retrocesso nas condições no local de trabalho.

Assim, a grande dificuldade durante as negociações para solucionar a recente greve dos trabalhadores do metro e dos autocarros da cidade de Nova York não foram tanto os salários, mas a insistência dos patrões em que os trabalhadores abrissem mão de melhorias das condições de trabalho conquistadas em contratos anteriores. Esses retrocessos ? como, por exemplo, a eliminação dos períodos de descanso de 20 minutos ? foram exigidos pelo Departamento de Transporte Metropolitano da Cidade de Nova York, sob a alegação de que a sua eliminação era absolutamente essencial para o aumento da produtividade. Embora pairem dúvidas consideráveis sobre a possibilidade de que as concessões que acabaram por ser feitas pelo sindicato venham a resultar, na prática, numa maior eficiência, o importante, do ponto de vista patronal, é que o princípio do retrocesso foi estabelecido. Esse acontecimento em Nova York está longe de constituir fenómeno isolado. As exigências dos patrões com respeito a retrocessos ? anulação de conquistas obtidas a duras penas pelos trabalhadores em matéria de condições de trabalho ? vêm-se generalizando entre as indústrias. E o terreno para essa modificação na luta de classes foi preparado pela bem sucedida lavagem cerebral do público para que este acreditasse que os Estados Unidos estão em dificuldades devido à queda da produtividade do trabalho.

FANTASMA ESTATÍSTICO

O aspecto mais notável de toda essa gritaria sobre a produtividade é que ela se baseia em estatísticas absolutamente falsas, as quais, devido à repetição frequente e à exibição destacada pela imprensa, são aceites como medidas válidas e significativas. Um exemplo notável de como esses números podem ser enganosos e falsos é-nos proporcionado pela indústria de construção. Os dados oficiais, tal como computados pelos estatísticos governamentais, mostram que a produtividade dessa indústria aumentou mais de 70% de 1949 a 1967, e desde então declinou mais de 20%. Noutras palavras, os trabalhadores na construção produzem hoje, presumivelmente, 1/5 menos por hora do que em 1967.

Especialistas nessa indústria, porém, têm consciência cada vez mais clara de que esses números não têm relação com a realidade. (Ver ?A Productivity Drop that Nobody Believes?, Business Week , 25/Fev/1980). Na verdade, estudos de campo sobre as modificações nas exigências de mão-de-obra para tipos específicos de construção, realizados pelo Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, mostraram que a produtividade, na realidade, vem aumentando nesse mesmo período, durante o qual o índice de produtividade para a indústria como um todo registou acentuado declínio. Qual a explicação dessa prestidigitação estatística?

Para compreender as precárias bases do índice de produtividade geral, devemos primeiro reconhecer que a indústria de construção cobre ampla gama de actividades: estradas, edifícios de escritórios, armazéns, centros comerciais, fábricas, apartamentos, residências unifamiliares ? esses e muitos outros tipos de construção são incluídos sob a mesma rubrica. É claro que esses diversos tipos de produção não podem ser facilmente resumidos numa estatística. O método adoptado pelos estatísticos para solucionar esse problema é o de somar o valor monetário (habitualmente o preço de venda) de cada tipo de construção. A dificuldade desse procedimento é que os números resultantes reflectem não apenas as variações na produção, mas também as tendências inflacionárias.

Para evitar isso, os estatísticos do Governo usam uma média ponderada das taxas de salários e dos custos materiais na construção a fim de desinflacionar o valor em dólares da construção. Mas, como observa o artigo da Business Week acima mencionado, ?durante décadas [essa] solução clássica do problema [de se chegar a uma medida do volume físico de todos os tipos de construção combinados] vem-se constituindo numa não-solução?. A razão é que o processo não leva em conta a diversidade da indústria de construção e as modificações nas exigências de mão-de-obra que ocorrem com o tempo, em função dessa diversidade. Assim, em certos períodos a construção de estradas é especialmente importante, enquanto noutros pode predominar a construção de fábricas, escritórios ou apartamentos. Além disso, os edifícios diferem muito entre si, pois destinam-se a espaços específicos e a atender necessidades específicas dos compradores. Finalmente, há modificações, de tempos a tempos, até mesmo nos tipos de construção mais padronizados, como as residências unifamiliares. Por exemplo, uma maior percentagem de residências unifamiliares nos últimos anos representou mais lareiras, isolamento, ar condicionado central e outros melhoramentos do que no passado.

Em consequência de tudo isso, o volume de mão-de-obra exigido pode diferir de um ano para outro, não devido a diferenças no volume de construção ou a mudanças na produtividade do trabalho, mas em razão de modificações naquilo que está sendo construído. E como o índice oficial da actividade de construção não leva em conta esses detalhes, as duas séries sobre a produção e o emprego nessa área não são comparáveis. Segue-se que o índice de produtividade, dividindo a produção pelo emprego, é uma estatística sem significado.

Além dessa falácia básica, devemos mencionar um factor técnico que contribui ainda mais para invalidar a medida da produtividade. Há fortes razões para acreditar que os índices de preços e de salários usados pelos estatísticos do Governo exageram o aumento nos custos de construção na década de 1970 [1] . Por todas essas razões, a mesma revista Business Week , resumindo as opiniões de vários peritos no assunto, conclui que ?o continuado colapso da produtividade na construção é um fantasma estatístico?.

É importante compreender todas as implicações de se chamar de ?fantasma estatístico? o declínio da produtividade na construção. Praticamente todas as declarações sobre assuntos económicos nos últimos anos ? - quer feitas pelo Presidente, por funcionários do Governo, líderes empresariais ou professores de economia ? apresentaram propostas baseadas na suposição de que a redução da produtividade no sector privado é facto indiscutível. Mas esse ?facto indiscutível? baseia-se principalmente no cálculo segundo o qual os trabalhadores da construção estão hoje realizando menos 1/5 do trabalho por hora que faziam em 1967: cerca de metade da muito comentada redução da produtividade global deve-se a esse fantasma estatístico . Segue-se que, se as estatísticas de produtividade na construção estão cheias de furos, todo o argumento sobre uma diminuição da produtividade torna-se suspeito. Além disso, se de facto a produtividade na construção vem aumentando, como indicam os estudos de campo do Departamento do Trabalho sobre projectos individuais, então, pelo menos, não houve qualquer declínio na produtividade global.

FETICHISMO

Ainda mais importante que a precariedade dos dados sobre a construção, porém, é a irracionalidade da própria ideia de que a produtividade da economia pode ser medida e que os resultados são analiticamente significativos. O que temos no caso é um caso clássico de fetichismo estatístico ? um fetichismo que surgiu quando o conceito de produtividade foi transformado do que era outrora ? um termo técnico claramente definido ? numa expressão amorfa e abrangente ? como hoje é usada. Tal como empregada originalmente, a medida da produtividade do trabalho limitava-se à esfera das mercadorias. Assim, se em 1970 um trabalhador produzia em média, digamos 40 pares de sapatos de homem por hora, e dez anos mais tarde, 60 pares do mesmo tipo de sapatos, há sentido em se dizer que a produtividade dos trabalhadores das fábricas de sapatos de homens aumentou 50% numa década. O que faz disso uma afirmação significativa é o facto de o produto final ser o mesmo nos dois anos. Evidentemente, se o produto obtido nessas fábricas tivesse sofrido modificações substanciais ? digamos, passado a ser constituído de botas em lugar de sapatos de passeio ? , um índice de variação na produção por trabalhador perderia o significado. Não haveria como saber se a diferença no número de unidades produzidas por homem-hora se deve a uma mudança no produto ou a uma variação no volume de trabalho necessário à produção de uma unidade. Assim, a comparabilidade do produto é essencial para uma medida racional da produtividade.

Por isso surgem muitos problemas técnicos, especialmente num ambiente dinâmico, quando os modelos e estilos se modificam com frequência. Não é este o lugar para nos estendermos sobre tal questão: basta dizer que, muitas vezes, é possível chegar a estimativas razoáveis das variações da produtividade em indústrias nas quais há produção em massa de um grupo bastante semelhante de mercadorias, de ano a ano ? em contraposição às indústrias que se dedicam a itens fabricados sob especificação, como a de máquinas especializadas ou o sector da construção, de que já falámos.

As medidas de produtividade tornam-se ainda mais distantes da realidade quando estendidas a combinações de indústrias, como por exemplo no preparo de um índice para o sector manufactureiro como um todo. Há, no caso, dois problemas intimamente relacionados com os já discutidos. Em primeiro lugar, é necessário enfrentar o teste da comparabilidade. A única maneira de se chegar a uma medida sem ambiguidade é comparar as variações no volume de trabalho necessário para produzir a mesma cesta de mercadorias, de um período a outro. Na medida em que há modificações na cesta de mercadorias entre os dois períodos, o índice de produtividade perde relevância, pois não temos como saber se os seus movimentos se devem a diferentes exigências de mão-de-obra ou a mudanças na composição da produção.

Em segundo lugar, é necessário seleccionar um método pelo qual seja possível somar as quantidades de diferentes produtos manufacturados. A força de trabalho não é totalmente homogénea, devido a diferenças de qualificação, intensidade de trabalho, etc., mas isso não nos impede de atribuir uma significação clara ao conceito de número total de horas trabalhadas em determinado período. A dificuldade é que as variações nas horas trabalhadas têm de ser comparadas com um agregado formado por números de automóveis, metros de pano, toneladas de aço, etc. ? itens que simplesmente não podem ser somados para se chegar a um total dotado de significação. O problema vem sendo enfrentado há longos anos pelos estatísticos: trata-se de construir um índice satisfatório de produção. E a experiência mostrou que não há maneira ideal (ou absolutamente certa) de fazê-lo: vários métodos podem ser usados, proporcionando diferentes resultados e tendo um significado seriamente limitado. Nessas circunstâncias, a melhor abordagem é perguntar, de saída, por que está sendo medida a produtividade e que respostas estão sendo procuradas com isso. Quanto mais específicas e limitadas forem as perguntas, mais relevante pode tornar-se o método de medir a produção e a produtividade. (Para um exame mais detalhado desse problema, ver Harry Magdoff, The Purpose and Method of Measuring Productivity?, Journal of the American Statistic Association , Junho de 1939; e Harry Magdoff et al. , Production, Employment and Productivity in 59 Manufacturing Industries, 1919-36 [Filadélfia, Pa.: WPA National Research Project, Maio de 1939], Parte I, onde se mostra que as fórmulas adequadas dos números-índices para a medida da produtividade diferem de acordo com o objectivo da medida. Também se demonstra que, a fim de responder a certos tipos de questões relativas a produtividade, horas trabalhadas ou mão-de-obra exigida por unidade de produção é o denominador mais significativo para equiparar produtos manufacturados.)

Uma razão para se incluir essa discussão um tanto técnica é destacar o facto de não existir nada que se assemelhe a uma medida directa, ou ?verdadeira?, da produtividade. E se isso acontece no sector das mercadorias, onde um significado razoável, embora limitado, pode ser atribuído ao conceito, que dizer sobre a produtividade dos trabalhadores de serviços? Há, é claro, trabalhos de serviços que consistem em operações rotineiras, repetitivas ? por exemplo, a dactilografia ? , onde medidas de produtividade podem ter algum significado. Mas como medir a produtividade de um bombeiro, um cozinheiro, um garçon, uma recepcionista de um escritório de advocacia? Pela sua própria natureza, na maioria dos serviços as variações qualitativas estão entrelaçadas com as quantitativas: portanto, não há continuidade de ?produção? de um período a outro, com o qual se possam comparar as variações no emprego. Além disso, é típico de qualquer área de serviços que a ?produção? não pode ser separada do trabalho empregado na realização do serviço. Também por isso não há como comparar as variações na produção e no trabalho. Por outras palavras, a noção de uma medida de produtividade para a maioria das ocupações do sector de serviços não tem sentido, além de ser auto-contraditória [2] .

Infelizmente, essas considerações de lógica elementar não impediram que estatísticos e economistas produzissem toda uma sequência de medidas de produtividade aplicáveis não só à economia privada (combinando a produção de mercadorias e os serviços), mas também, em certos casos, ao Governo, e úteis para finalidades ideológicas e de elaboração de políticas. E pela força de uma repetição interminável e da ênfase selectiva, esses fantasmas estatísticos (repetindo a feliz expressão da Business Week ) alcançaram o status de factos indiscutíveis e entraram na esfera do discurso científico. O que na realidade não passa de um rude fetiche tornou-se, assim, uma das armas mais potentes na luta do capital contra o trabalho, e no apoio de um sistema social cada vez mais irracional e destrutivo.

Ao mesmo tempo, todo esse disparate estatístico serviu, com eficiência, para ocultar as implicações mais profundas das modificações da produtividade na história recente do capitalismo. A verdade é que o enorme e persistente crescimento da produtividade nas fábricas e nos campos proporcionou um excedente de mercadorias suficiente para apoiar o crescimento de uma economia de serviços cada vez mais ampla e complexa. Quanto menor a proporção da força de trabalho necessária à produção de mercadorias, maior o potencial de aumento das actividades de serviços. Parte desse crescente excedente foi para a criação de serviços que permitem uma vida melhor, como, por exemplo, nas áreas de educação, saúde e entretenimento. Parte substancial, porém, destinou-se a apoiar os interesses das empresas na luta competitiva pelos lucros. Foi isso que tornou possível o rápido crescimento do emprego em áreas como comércio retalhista, promoção de vendas, publicidade, bancos e outras operações financeiras, especulação em acções, bolsas de mercadorias e imóveis, serviços jurídicos e contábeis, e assim por diante. Segue-se que, qualquer que seja a interpretação dada aos índices de produtividade global, o próprio crescimento constante desse excedente e da economia de serviços que ele mantém prova, além de qualquer dúvida, que a produtividade do trabalho nas áreas produtoras de mercadorias vem crescendo aos saltos em toda a moderna história do capitalismo. E se esse aumento muito real da produtividade do trabalho se manifesta cada vez menos em vantagens para a massa do povo, a razão é a crescente irracionalidade e desperdício do capitalismo monopolista, que canaliza um volume cada vez maior de mão-de-obra para actividades relacionadas com a obtenção e o gasto de lucros e cada vez menos para actividades úteis que poderiam atender as necessidades do povo.

Uma boa ilustração da maneira pela qual esse processo funciona é-nos proporcionada pela indústria automobilística. Em 1977 (último ano para o qual temos dados comparáveis), havia 727 mil trabalhadores de produção na indústria. Naquele mesmo ano, as agências de vendas de automóveis empregavam 1.115 mil pessoas. (Esses números encontram-se no Statistical Abstract of the United States: 1979 .) Como alguns desses revendedores também estavam a vender carros importados, vamos calcular, conservadoramente, que apenas 900 mil trabalhadores estivessem empregados na venda e distribuição de carros nacionais ? cerca de 200 mil mais que o número de trabalhadores necessários para a fabricação dos carros! Pode-se dizer que a comparação é tendenciosa, pois parte do pessoal empregado pelos revendedores de carros também se dedica à assistência mecânica aos automóveis. Isso é certo, mas por outro lado não contamos as centenas de milhares de outros que são empregados indirectamente na venda de carros. Havia, por exemplo, 200 mil empregados não produtivos nas firmas de produção de carros, grande parte dos quais atendendo os revendedores, realizando pesquisas de mercado e outros tipos de actividades de promoção de vendas. Havia mais de 100 mil empregados no comércio de automóveis por atacado. E os quase 1,5 mil milhões gastos na publicidade bem como os 90 mil milhões, aproximadamente, em crediários para compras de automóveis absorviam ponderável número de empregados de serviços. O que vemos aqui é uma modificação característica de tendências de passagem da produção de mercadorias para o emprego em serviços: prodigalidade nas vendas, financiamentos e distribuição, e incessante contenção de custos (pela poupança de mão-de-obra e outras economias) nas operações de produção.

Recente artigo publicado na página de editoriais e opinião do New York Times (9 de Abril de 1980), da autoria de um trabalhador numa linha de montagem de carros, proporciona-nos elementos sobre o que acontece no interior de uma fábrica:

«Eu trabalhava numa linha de submontagem numa fábrica de peças para automóveis. Tínhamos de produzir 330 peças de segurança por hora ? cinco e meio por minuto. Minha tarefa consistia em vários movimentos: colocava dois pedaços de metal numa prensa, em seguida apertava botões para fechá-la e para soldar o metal. Era necessário proceder da forma mais mecânica possível, repetindo cada movimento de forma exacta. Eu podia realizar o trabalho sem olhar e com frequência o fazia. A única maneira de conversar comigo, por sobre todo aquele barulho, era berrar fragmentos de frases no meu ouvido, nos poucos segundos em que eu me afastava rapidamente da máquina.
«Embora a inspecção não fosse parte da minha tarefa, eu recolhia e deitava fora as peças defeituosas ? até que um dia o inspector recolheu as peças que eu havia posto fora e mandou que eu as usasse. Noutra ocasião, numa fábrica diferente, um inspector me disse que estava enfrentando problemas por mandar para o lixo um número muito grande de peças, embora ele compreendesse que elas realmente não prestavam».

Com essa mania de redução de custos, não é de espantar que em 1977 e 1978 em conjunto (os dois últimos anos para os quais dispomos de dados) cerca de 19 milhões de carros norte-americanos tenham sido devolvidos devido a defeitos de fabricação. (Por isso, os revendedores de veículos necessitam de um quadro numeroso de mecânicos). Não há estatísticas ? o que não é surpresa ? sobre o número de trabalhadores com sérias enfermidades mentais e físicas atribuíveis às pressões no sentido da rapidez e a outras características prejudiciais à saúde, existentes no ambiente de trabalho das fábricas.

Em geral, a concentração obsessiva na questão da produtividade resume a racionalidade básica (ou melhor, irracionalidade) da economia capitalista. Para ter uma margem suficiente para proteger os activos e os lucros, e para defender a sua parcela do mercado, os capitalistas têm de dedicar constante atenção à redução dos custos no processo de produção. Isso leva inevitavelmente a uma contradição fundamental entre a contabilidade da empresa e a contabilidade social. Do ponto de vista da empresa, as medidas adoptadas para melhorar a segurança e a saúde dos trabalhadores, tornar melhores os produtos e impedir a futura deterioração do ambiente de trabalho são todas custos adicionais. Do ponto de vista social, o problema central não é a redução dos custos ou o aumento da produtividade, mas como e onde alocar os recursos para eliminar a pobreza e melhorar a qualidade da vida no trabalho e no lar.

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NOTAS

[1] A estimativa do volume físico da construção, como o leitor se lembrará, é deduzida através das variações no valor em dólares da construção pelas variações numa média ponderada das taxas de salários e preços das matérias primas. Assim, se o aumento do denominador for exagerado, a razão resultante ? supostamente, uma medida da produção ? será diminuída. E se a produção for diminuída, também a produtividade o será.

[2] Para tornar mais compreensível a última afirmação reproduz-se um excerto de outro artigo anterior, a que o autor faz referência no início do texto, publicado originalmente no número de Junho de 1979 da Montlhy Review [nota de resistir.info]:
O que significa a estatística da produtividade

«Passamos agora ao exame das medidas de produtividade que supostamente demonstrariam sua taxa decrescente de crescimento. Quanto a isso, é importante deixar claro que as estatísticas governamentais [...] pretendem medir a produção por homem-hora para toda a economia privada (não governamental). Toda a actividade produtiva privada estaria coberta ? não só a produção das fábricas, minas e fazendas, mas também a dos gabinetes de massagens, das salas e estúdios de cinemas, dos cabarés, instituições filantrópicas, escolas particulares e hospitais, supermercados, bancos e imobiliárias.

«À parte qualquer outro aspecto, são enormes os problemas exclusivamente técnicos de se chegar a uma medida quantitativa dessa mistura de bens e serviços. Em essência, o que os estatísticos fazem é somar os custos de produção (incluindo lucros) e em seguida ajustar os totais por meio de índices de preços, para chegar a uma medida da produção. Esse processo envolve grande dose de estimativas (ou suposições) e deixa espaço a uma margem de erro tanto no número total, em qualquer momento, como no montante de variação de um período para outro. Mas iniciar agora uma discussão sobre as deficiências técnicas desses números serviria apenas para afastar a atenção da questão mais importante, que é o seu significado.

«O que devemos compreender é que esses dados não levam em conta a qualidade da produção ? medem, na melhor das hipóteses, sua quantidade. Por mais significativa que possa ser essa omissão na medida da produção de bens, é especialmente séria no caso de serviços. Por exemplo, a produtividade das instituições educacionais aumenta à medida que aumenta a carga de trabalho dos professores. Mas ao mesmo tempo a qualidade da educação provavelmente sofre com isso, já que cada professor tem de ocupar-se de mais alunos, dedicando menos tempo e atenção a cada um deles. Estarão os professores, então, produzindo mais ou produzindo menos? Da mesma forma, o fecho do único hospital de uma comunidade e a transferência dos pacientes para um hospital numa área distante pode parecer um estímulo à produtividade dos trabalhadores do ramo que permaneceram, mas ao custo da qualidade dos serviços médicos. As medidas de produção quantitativas nesses serviços e em outros são necessariamente deformadas e só podem ter uma significação ambígua e limitada.

«Há, é claro, actividades nos campos dos serviços nos quais a produtividade tem um significado bastante preciso. Isso ocorre, por exemplo, no trabalho burocrático rotineiro dos bancos e companhias de seguros. Por outro lado, há áreas bem grandes em que funcionam muitos milhões de trabalhadores, nas quais as questões de definição de produção podem lançar dúvidas sobre o significado das medidas de produtividade e, portanto, também sobre as inferências que podem ser extraídas das variações dessas estatísticas»,

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