O PETRÓLEO E O LIBANO

01-08-2006

  00:36:02, por Corral   , 1506 palavras  
Categorias: Outros, Ensaio

O PETRÓLEO E O LIBANO

A guerra ao Líbano e a batalha pelo petróleo
por Michel Chossudovsky

Resistir.info

Haverá uma relação entre o bombardeamento do Líbano e inauguração do mais estratégico oleoduto do mundo, o qual transportará mais de um milhão de barris de petróleo por dia para mercados ocidentais?
Virtualmente desapercebida, a inauguração do oleoduto Baku-Tblisi-Ceyhan (BTC), que liga o Mar Cáspio ao Mediterrâneo Oriental, verificou-se a 13 de Julho, exactamente no princípio dos bombardeamentos do Líbano realizados por Israel.
Um dia antes dos ataques israelenses, os principais parceiros e accionistas do projecto do oleoduto BTC, incluindo vários chefes de Estado e executivos de companhias petrolíferas, compareciam ao porto de Ceyhan. Eles foram então despachados para uma cerimónia de inauguração em Istambul, convidados pelo presidente da Turquia, Ahmet Necdet Sezer, nas elegantes vizinhanças do Palácio Çýraðan.
Também presentes estavam o presidente da British Petroleum (BP), Lord Browne, juntamente com altos responsáveis governamentais da Grã-Bretanha, EUA e Israel. A BP dirigiu o consórcio do oleoduto BTC. Outros grandes accionistas ocidentais incluem a Chevron, Conoco-Philips, Total da França e ENI da Itália
O ministro da Energia e Infraestrutura de Israel, Binyamin Ben-Eliezer, estava ali presente, juntamente com uma delegação de altos responsáveis petrolíferos israelenses.
O oleoduto BTC contorna totalmente o território da Federação Russa. Ele transita através das antigas repúblicas soviéticas do Azerbaijão e Geórgia, ambas as quais tornaram-se "protectorados" americanos, firmemente integradas dentro de uma aliança militar com os EUA e a NATO. Além disso, tanto o Azerbaijão como a Geórgia têm acordos de cooperação militar a longo prazo com Israel. Em 2005, companhias georgianas receberam US$ 24 milhões em contratos militares financiados pela assistência militar americana a Israel sob o chamado "Foreign Military Financing (FMF) program". Ver http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/states/GA.html
Israel tem interesse nos campos petrolíferos azeris, dos quais importa uns vinte por cento do seu petróleo. A abertura do oleoduto reforçará substancialmente as importações petrolíferas israelenses da bacia do Mar Cáspio. Mas há uma outra dimensão que se relaciona directamente com a guerra ao Líbano. Em paralelo ao enfraquecimento da Rússia, Israel candidata-se ao desempenho de um importante papel estratégico na "protecção" do transporte no Mediterrâneo Oriental e nos corredores do oleoduto até Ceyhan.
Militarização do Mediterrâneo Oriental
O bombardeamento do Líbano é parte de um roteiro cuidadosamente planeada e militarmente coordenado. A extensão da guerra à Síria e ao Irão já foi contemplada pelos planeadores militares americanos e israelenses. Esta agenda militar mais vasta está intimamente relacionada com o petróleo e os oleodutos estratégicos. É apoiada pelos gigantes petrolíferos ocidentais que controlam os corredores do oleoduto. Em última análise procura controle territorial sobre a linha costeira do Leste do Mediterrâneo.
Neste contexto, o oleoduto BTC dominado pela British Petroleum, mudou dramaticamente a geopolítica do Mediterrâneo Oriental, a qual agora está ligada, através de um corredor de energia, à bacia do Mar Cáspio:
"[O oleoduto BTC] altera consideravelmente o status dos países da região e cimenta uma nova aliança pro-ocidental. Tendo levado o oleoduto até o Mediterrâneo, Washington praticamente estabeleceu um novo bloco com o Azerbaijão, a Geórgia, a Turquia e Israel" (Komerzant, Moscovo 14/Julho/2006)
Israel agora é parte do eixo militar anglo-americano, o qual serve os interesses dos gigantes petrolíferos ocidentais no Médio Oriente e na Ásia Central.
Enquanto os relatórios oficiais declaram que o oleoduto BTC "transportará petróleo para mercados ocidentais", o que é raramente reconhecido é que parte do petróleo do Mar Cáspio será directamente dirigido para Israel. Em relação a isto, foi encarado um projecto de oleoduto submarino israelense-turco que ligaria Ceyhan ao porto israelense de Ashkelon e, a partir dali, através do sistema principal de oleodutos de Israel, ao Mar Vermelho.
O objectivo de Israel é não só adquirir o petróleo do Cáspio para as suas próprias necessidades de consumo como desempenhar um papel chave na reexportação do mesmo em retorno para os mercados asiáticos através do porto de Eilat, no Mar Vermelho. As implicações estratégicas desta re-orientação do petróleo do Mar Cáspio são de grande alcance.
Em Abril de 2006, Israel e Turquia anunciaram planos para quatro oleodutos submarinos, os quais passariam ao largo do territórios sírio e libanês.
"A Turquia e Israel estão a negociar a construção de um projecto de energia e água de muitos milhões de dólares que transportará água, electricidade, gás natural e petróleo por pipelines para Israel, com o petróleo a ser enviado para diante de Israel para o Extremo Oriente.
A nova proposta turco-israelense em discussão encararia a transferência de água, electricidade, gás natural e petróleo para Israel através de quatro pipelines submarinos.
www.jpost.com/
"O petróleo de Baku pode ser transportado para Ashkelon através deste novo oleoduto e para a Índia e o Extremo Oriente [através do Mar Vermelho]".
"Ceyhan e o porto mediterrâneo de Ashkelon estão situados a apenas 400 km de distância. O petróleo pode ser transportado para a cidade em petroleiros ou através de pipelines submarinos construídos para isso. A partir de Ashkelon o petróleo pode ser bombeado através do oleoduto já existente para o porte de Eilat no Mar Vermelho e dali pode ser transportado para a Índia e outros países asiáticos em petroleiros. (REGNUM).

Água para Israel
Também está envolvido neste projecto uma conduta para trazer água a Israel, bombeando água dos recursos a montante dos rios Tigre e Eufrates na bacia da Anatolia. Isto tem sido um objectivo estratégico a longo prazo de Israel em detrimento da Síria e do Iraque. A agenda de Israel em relação à água é apoiada pelo acordo de cooperação militar entre Tel Aviv e Ancara.
O re-direccionamento do petróleo da Ásia Central
Divergir petróleo e gás da Ásia Central para o Mediterrâneo Oriental (sob protecção militar israelense), para reexportá-lo para a Ásia, serve para minar o mercado de energia inter-asiático, o qual está baseado no desenvolvimento de corredores de oleodutos directos ligando a Ásia Central e a Rússia à Ásia do Sul, a China e o Extremo Oriente.
Em última análise, este desenho é destinado a enfraquecer o papel da Rússia na Ásia Central e desligar a China dos recursos petrolíferos da Ásia Central. Pretende também isolar o Irão.
Nesse ínterim, Israel emergiu como um novo jogador poderoso no mercado global de energia.
Guerra e oleodutos
Antes do bombardeamento do Líbano, Israel e Turquia haviam anunciado as rotas do oleoduto submarino, que passam ao largo da Síria e do Líbano. Estas rotas submarinas não transgridem abertamente a soberania territorial do Líbano e da Síria.
Por outro lado, o desenvolvimento de corredores alternativos por terra (para petróleo e água) através do Líbano e da Síria exigiria o controle territorial israelense-turco sobre a linha costeira mediterrâneo oriental através do Líbano e da Síria.
A implementação deste projecto exige a militarização da linha costeira do Leste do Mediterrâneo, caminhos marítimos e rotas por terra, estendendo-se desde o porto de Ceyhan através da Síria e do Líbano até a fronteira libanesa-israelense.
Não será isto um dos objectivos ocultos da guerra ao Líbano? Tornar acessível um espaço que permite a Israel controlar um vasto território que se estende desde a fronteira libanesa através da Síria até a Turquia.
"A longa guerra"
O primeiro ministro israelense Ehud Olmert declarou que a ofensiva israelense contra o Líbano "perduraria por muito longo tempo". Enquanto isso, os EUA aceleraram embarques de armas para Israel.
Há objectivos estratégicos subjacentes à "Longa guerra", os quais estão ligados ao petróleo e aos oleodutos.
A campanha aérea contra o Líbano está inextricavelmente relacionada com os objectivos estratégicos americano-israelenses no conjunto do Médio Oriente, incluindo a Síria e o Irão. Em recentes desenvolvimentos, a secretária de Estado Condoleeza Rice declarou que a principal finalidade da sua missão ao Médio Oriente não era pressionar por um cessar fogo no Líbano, mas ao invés disso isolar a Síria e o Irão. (Daily Telegraph, 22/Julho/2006)
Neste momento crítico, o reabastecimento dos stocks israelenses com armas de destruição em massa produzidas nos EUA aponta para uma escalada da guerra tanto dentro como para além das fronteiras do Líbano.

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