A verdade que a ONU cala a respeito das quadrilhas em Haiti

19-02-2007

  02:01:04, por Corral   , 1381 palavras  
Categorias: Outros, Dezires

A verdade que a ONU cala a respeito das quadrilhas em Haiti

Kevin Pina

As recentes operações militares da ONU em Cite Soleil revelam uma estratégia soterrada que se baseia numa série de falsos supostos que vêm sendo propagados pelos responsáveis políticos da administração Bush através da embaixada dos Estados Unidos em Haiti.

O Estado espanhol tem unidades da Guarda Civil, como sempre baixo ditados dos USA

O argumento para tal estratégia é o seguinte:

1. Aristide fomentou e armou a redes de quadrilhas com o fim de acossar à oposição e manter-se no poder.

2. O que temos agora são os restos dessas mesmas quadrilhas que controlam o maior bairro de favelas de Haiti, e que seguem recebendo apoio de Aristide.

3. Essas quadrilhas estão por trás das grandes manifestações que seguem se levando a cabo em apoio a Aristide e a seu movimento Lavalas.

4. Se as quadrilhas fossem expulsadas, as manifestações cessariam.

Os generais brasileiros, que lideram a campanha militar da ONU em Haiti, combinaram esta estratégia com tácticas que desenvolveram para fazer frente a seus próprios problemas de quadrilhas nas favelas de Rio e São Paulo. Isto é o que deu a luz a um meio onde o dono de ?maquilas? Andy Apaid, membro da coalizão anti-Lavalas de entidades da sociedade civil chamada Grupo 184, pôde apoiar às bandas paramilitares como uma força de contraposição nas favelas da capital de Haiti onde o apoio a Aristide segue forte.

Foi esta amalgama de tácticas brasileiras com estratégias estadunidenses a que permitiu que a banda Labanye pudesse prover-se de armamentos em Cite Soleil em 2004, e também a subsiguiente constituição pela polícia haitiana do tristemente célebre Exército Pequeno Machete em 2005. A ONU também deu refúgio a conhecidos bandidos que ajudaram a derrocar a Aristide e que actualmente governam a quarta maior cidade de Haiti, Gonaives. Também não conseguiram desarmar ao antigo e brutal exército de Haiti, e de fato premiaram-no com uma recompensa de 29,5 milhões de dólares. A estratégia política da ONU foi a de propiciar, com a ajuda de eleições, a lavagem da bem merecida reputação que esses indivíduos têm como violadores dos direitos humanos. Apesar de que se acha que esses grupos estão momentaneamente dormentes e/ou que foram suficientemente cooptados, a longa busca da ONU da estabilidade política tem relegado às futuras gerações ao carrossel da instabilidade política.

Enquanto a ONU implementou fielmente a estratégia da administração Bush de desmembrar o movimento Lavalas de Aristide, este foi infiltrado também pelas opulentas elites de Haiti, que foi a verdadeira força por trás do que os grandes meios informativos proclamaram como o levantamento popular que derrocou a Aristide em fevereiro de 2004. Pode-se dizer que foi a forma de fazer negócio da reduzida elite adinheirada o que acabou criando um abismo enorme entre ela e grande parte da maioria haitiana desesperadamente pobre, o que historicamente deu origem a Aristide e a seu movimento Lavalas.

As massas de pobres marginados viam a Aristide e ao movimento Lavalas como a única força política que jamais tenha representado seus interesses em toda a história de Haiti. Por este motivo somente resistiram à violência patrocinada pelo Estado e às perseguições políticas levadas a cabo durante o regime de Gerardo Latortue, instalado pelos Estados Unidos e provista de legitimidade sob a égida de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Seguem até hoje arriscando a vida em manifestações de apoio a Aristide e a Lavalas, apesar do preço tão alto que tiveram que pagar por sua confiança em Lavalas, cujo princípio primordial era de que as massas pobres tinham direito a jogar um papel na determinação do futuro de Haiti, e portanto do futuro de seus filhos.

As multitudinarias manifestações de 7 de fevereiro ao longo do país, exigindo a volta do derrocado presidente Jean-Bertrand Aristide, passaram em sua maior parte desapercibidas pelos grandes meios informativos, em contraste à avalanche de informações dois dias mais tarde quando as forças das Nações Unidas, conhecidas pelo acrónimo MINUSTAH, lançaram outra de uma longa série de operações militares no bairro costeiro de favelas Cite Soleil. Apesar de que o objectivo da incursão foi teoricamente livrar ao bairro das quadrilhas, seguiu umha pauta que apontava à estratégia central adoptada pela administração Bush.

Com anterioridade a esta última ofensiva militar da ONU no bairro de baiucas mais desesperado da capital de Haiti, já se tinha estabelecido um padrom entre as expressões de apoio ao presidente derrocado e as operações militares da ONU. Em 16 de dezembro passado vimos a outra grande manifestação de apoio a Aristide que começou em Cite Soleil, e seis dias mais tarde a ONU levaria a cabo um assalto mortífero que os residentes e grupos de defesa dos direitos humanos dizem que ocasionou uma grande matança de vítimas inocentes. Não membros de quadrilhas como a ONU diria mais tarde, se não residentes desarmados que tentavam fugir dos disparos que segundo eles vinham fundamentalmente das forças de paz da ONU.

O 22 de dezembro de 2006 teve o que seria chamado um segundo massacre perpetrado pelas forças da ONU em Cite Soleil, parecida às acusações anteriores provocadas pela operação militar de 6 de julho de 2005. Na matança produzida em 6 de julho de 2005, a ONU sustentava que somente seis bandidos tinham sido morridos, ao passo que organizações locais de defesa dos direitos humanos e activistas comunitários alegavam que uns 70 residentes desarmados poderiam ter caído ante os disparos da ONU. A ONU foi ainda mais longe e asseverou que, apesar de que não estavam em condições de precisar o número exacto de mortos, se tivessem residentes entre os mortos isto se deveu à acção dos as quadrilhas em vingança contra aqueles que eles achavam que tinham aplaudido as operações militares da ONU. Para os partidários do presidente derrocado, a incursão do 6 de julho de 2005 foi vista principalmente como um ataque preventivo da ONU e das elites opulentas de Haiti para asfixiar o impacto dos protestos que estavam programadas para o dia do aniversário de Aristide, que teria lugar nove dias após o 15 de julho. O paralelismo entre os dois acontecimentos é inegável, e a maior vergonha é que nenhuma organização internacional de direitos humanos, inclusive Amnistia Internacional, jamais quis levar a cabo uma investigação séria sobre essas acções militares da ONU, apesar das petições dos sobreviventes e das famílias das vítimas.

As manifestações exigindo a volta de Aristide e justiça para o movimento político Lavalas não cessarão apesar das operações militares da ONU contra as quadrilhas que eles erroneamente acham que está por trás deles. Apesar da propaganda de parte de jornalistas bem situados, que alimentam a imagem de Lavalas como a de um grupo constituído exclusivamente por fanfarrões, a imensa maioria do movimento está composta pelos mesmos representantes das maiorias pobres de Haiti que estão a ser assassinados pelas balas da ONU.

Enquanto muitos nos grandes meios informativos descrevem a realidade da população de Cite Soleil como formada por duas categorias de pessoas, a primeira composta por residentes indefesos surpreendidos pelo fogo cruzado, e a segunda por pandilheiros, há uma terceira força que não vai desaparecer. Trata-se de gente consciente e inteligente que se opõe à ocupação de seu país pela ONU. Não têm nenhum tipo de armas mais que a convicção de que são Aristide e Lavalas os que representam a eles e a um futuro melhor para seus filhos. Os partidários de Aristide e de Lavalas acham que têm o direito de manifestar publicamente suas convicções. Desafortunadamente, a ONU já demonstrou qual é sua postura em relação ao direito de expressão reivindicados pelos seguidores de Aristide e seu movimento Lavalas.

Onde está Amnistia Internacional e demais ONG?

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