por Claudio Katz
O flagelo da fame afecta a umha sexta parte da populaçom mundial (1020 milhons de pessoas) e a desnutriçom incrementou-se um 9% no ano passado.
Esta tragédia social dos povos periféricos beneficia directamente às empresas multinacionais que operam em sector da alimentaçom. O mesmo rédito é ambicionado polas classes dominantes agro-exportadoras da semiperiferia. Especialmente os capitalistas da Argentina ou Brasil lucram-se com a fame e celebram a carestia dos alimentos, como umha grande oportunidade para seus negócios.
Muitos processos de acumulaçom capitalista aceleraram abruptamente a urbanizaçom, precipitando a fame rural nas zonas limítrofes.
A carestia actual inscreve-se numha revalorizaçom das matérias primas, que treparam um 114% desde o ano 2002. Esta suba expressa tendências conjunturais e estruturais. O desencadeante imediato tem sido a especulaçom dos financistas, que introduziram no mercado dos alimentos toda a bateria de opçons e contratos a futuro.
A crescente brecha entre a produçom e a distribuiçom dos alimentos básicos é um resultado directo da nefasta reconversom agrícola, que impôs o neoliberalismo. A grande expansom capitalista nesse sector consumou-se em funçom de negócios globais que socavaram a segurança alimentaria. Junto à destruiçom do mundo labrego e ao éxodo rural sem criaçom de emprego urbano, muitos países perderam seu auto-abastecimento. Esta terrível regressom foi imposta mediante o livre-comércio da OMC, que inicialmente permitiu a Europa e a Estados Unidos descargar os excedentes de alimentos acumulados desde os anos 60. Posteriormente várias naçons periféricas fórom empurradas a especializar-se em cultivos de exportaçom e a converter-se em compradoras netas de produtos básicos. Egipto perdeu sua condiçom de antigo celeiro, Indonésia cedeu seus excedentes de arroz, México ficou com pouco milho, Zimbabwe, Malawi e Kenia deveram renunciar ao uso de seus graos. A prioridade exportadora conduziu a Costa Rica, México ou El Salvador a desmantelar sua agricultura de subsistência
A eliminaçom das reservas nacionais de alimentos tem sido outro golpe demolidor. A actividade agrícola tem ficado submetida o uso de herbicidas, insecticidas e fertilizantes que destroem a biodiversidade, em um contexto de grande enbajamento nas despesas de comercializaçom (transporte, envoltório, publicidade). Seis grandes multinacionais têm conseguido inéditos benefícios a costa da fame do Terceiro Mundo. Com a irrupçom dos agro-combustíveis este drama poderia acentuar-se drasticamente. Só encher o tanque de um automóvel exige queimar o milho requerido durante um ano, para a alimentaçom de um menino de Zâmbia.
A expulsom de camponeses e a destruiçom do autoconsumo agravam o desemprego nas cidades. O resultado deste divórcio é um incremento da pobreza estrutural que se traduz em fames colectivas, para além do curso que assuma o preço dos alimentos