Miguel Giribets
Rebelión
Da independência à crise de 1990
Somália fai-se independente em 1960. Desde o princípio, a URSS ajudou ao país. As décadas dos anos 60 e 70 fôrom os melhores anos para os somalis: as condiçons sociais, a sanidade e o ensino alcançárom níveis mais que aceitáveis. A agricultura e gadaria alcançaram um nível tal que faziam de Somália num país auto-suficiente para alimentar à sua populaçom.
Os problemas começaram em 1977 polos confrontos com a sua vizinha Etiópia. As autoridades somalis pretenderam anexionar-se a regiom etíope de Ogadem, de maioria de populaçom somali, e atacaram a Etiópia. Naquele momento, Etiópia era um país que marchava para o Socialismo, com o apoio soviético. A URSS intervéu e alcançárom um acordo de paz, mas Somália nom o respeitou, persistiu na sua agressom aos etíopes e passou ao bando imperialista. umha vista informal de Kissinger a Mogadiscio selou as novas relaçons do país com os EEUU.
Com a viragem para Ocidente, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial entrárom em Somália para saquear o país:
- Impom-lhe fortes desvalorizaçons da moeda nacional, com os que a dívida externa engorda-se até níveis insustentável e a dependência financeira dos bancos ocidentais fai-se asfixiante. De 1981 a 1990 a dívida externa se mais que duplicou, passando de 1.000 milhons de dólares a 2.300 milhons. Na actualidade, a dívida é de 3.000 milhons de dólares; nom é maior porque ao nom haver um Estado as entidades financeiras ocidentais nom prestam dinheiro, polas dificuldades de recuperá-lo.
- Impom-lhe a importaçom de alimentos -como fizérom com o resto dos países do Terceiro Mundo-, com o que se destrói a agricultura e a gadaria locais, base de subsistência da populaçom.
- Aplicam-se as "leis de mercado", que consistem em reduzir o gasto sanitário em 78% do 1975 a 1989, o de educaçom em 82 dólares/ano/criança em 1982 a 2 dólares/ano/criança em 1986, etc., etc. Face a todo isso, Somália comprou a EEUU nos anos 80 armas por valor de 200 milhons de dólares.
Os programas de ajustes traem o desemprego, a liquidaçom dos subsídios à agricultura, a liquidaçom do gasto social, salários de miséria, esmagamento dos direitos laborais e pobreza generalizada.
Ante a destruiçom da economia somali, começa a chegar ajuda humanitária. Mas os funcionários e militares corruptos apropriaram-se de 80% da ajuda alimentaria nestes anos.
As condiçons de vida da populaçom caem em picado. Em 1991, a luta armada dos diferentes clans derroca ao governo. Mas o país cai em maos destes chefes de clans e tribos, em lutas contínuas entre eles.
Em 1991 a regiom nortenha de Somalilandia autoconstitui-se em país independente. Outra regiom, Puntland segue os seus passos a partir de 1998, ainda que sem declaraçom formal de independência. Estas duas regions desfrutam de umha certa estabilidade, entre outras cousas porque, ao nom ser países reconhecidos internacionalmente, nem o FMI nem o Banco Mundial haver desembarcado neles para lhes criar dívida externa nem outras dependências financeiras.
Somalilandia tem uns 2 milhons de pessoas maioritariamente do clam dos Issaqs e proclamou umha Constituiçom em 1997. Mantém certa actividade comercial através do porto de Berbera. Compreende quase a metade norte do país. Puntland estrutura-se em torno do clam dos Majestins. Compreende parte-a noroeste do país. O resto de Somália, quase 60% do território, fica em maos dos diversos clans e tribos, que se mantenhem em luta contínua.
Intervençom norte-americana 1992-1993
A intervençom norte-americana tem lugar entre 1992 e 1993, junto com diversas tropas da ONU que permanecêrom até 1995.
A invasom fai-se contodo luxo de meios: foi retransmitida em directo polas cadeias de televisom. Era um Hollywood facto realidade, ainda que acabou em tragédia porque a populaçom opom-se com as armas à intervençom estrangeira. Mais de umha centena de capacetes azuis morrêrom nestes anos. O caso mais conhecido produziu-se em Outubro de 1993, quando 18 soldados norte-americanos mortos fôrom arrastados polas ruas de Mogadiscio e as imagens percorrêrom todo mundo. Pouco a pouco dias, os estadounidenses abandonavam o país.
Chamava-se a operaçom "restaurar a esperança", aprovada polo Conselho de Segurança da ONU, e foi realizada no meio de umha seca e umha fame preta generalizadas. Em 1992 morreram de fame umhas 300.000 pessoas. Como explica Chomsky ?...enquanto o conflito seguia activa a fame era terrível, a populaçom morria e produziam-se muitas mortes, EE.UU. simplesmente mantivérom-se à margem sem mostrar-se dispostos a fazer nada a respeito disso. Quando a luta diminuiu, quando parecia que ia produzir-se umha boa colheita e havia consideráveis possibilidades de que acabasse a fame, e quando a Cruz Vermelha e outras organizaçons eficazes estavam a fornecer comida, nesse momento a EE.UU. entraram no país realizando umha demonstraçom de força e umha enorme operaçom de relaçons públicas, esperando receber ao menos umha enorme publicidade favorável pola sua intervençom". (3)
Fala-se muito dos 18 soldados norte-americanos. Mas fala-se menos dos 10.000 mortos -homens, mulheres e crianças-, muitos deles tirados polas ruas de Mogadiscio e milhares de torturados e desaparecidos a maos dos capacetes azuis.
A actuaçom dos capacetes azuis Somália foi inqualificável, como também vimos noutros muitos lugares do Terceiro Mundo. Em Abril de 1997 publicaram-se várias fotos que ilustram a actuaçom dos capacetes azuis belgas em 1993. Entre outras, apresentavam estas cenas:
* um soldado mejando sobre um somali morto, com a bota sobre o pescoço do falecido.
* um somali no chao, agarrado polo cabelo e a roupa, com um fuzil no pescoço; foi assassinado a seguir, segundo a imprensa belga.
* um soldado mejando sobre umha tumba somali.
* um adolescente crivado a balázios.
* dous soldados sustenhem a umha criança somali sobre umha fogueira; a criança se debate para nom morrer queimado.
* um soldado obriga a umha criança somali a beber água com sal depois de que lhe obrigou a comer-se os seus próprios vómitos.
* obrigam a um rapaz muçulmano a comer carne de porco (proibida pola sua religiom) misturada com água salgada, atam-lhe a um tanque e ponhem-no em marcha.
* morre um rapaz encerrado num contentor metálico baixo o sol.
* vários soldados celebram os aniversários de um deles violando a umha rapariga.
As tropas italianas também nom ficaram à zaga. umha série de fotos também ilustra acçons como estas:
* fotografias com torturas, violaçons e assassinatos de civis.
* umha violaçom. "A mulher chorava, revolvia-se e gritava, mas estávamos em grupo, excitados, e queríamos divertir-nos", declarou um dos estupradores (4).
* uns soldados com cabos nas maos, com os que vam a ?picanear? nos testículos a um somali.
* lançamento de granadas sobre veículos onde iam só civis; "tiravam ao branco só para se divertir", declarárom os soldados.
* assassinato de um velho a pontapés.
* umha mulher atada à que se lhe introduz umha bomba coberta de marmelada pola vagina, "para divertir-nos".
* ao menos 10 prisioneiros somalis morreram por causa das torturas, segundo consta no diário de um soldado italiano.
Também se conhecem atrocidades dos capacetes azuis do Canadá.
(3) GUERRA Y EXPOLIO: EL TERRORISMO COMO EXCUSA Y LA AYUDA HUMANITARIA COMO CAMUFLAJE-21/2/2007 REBELION, ESPAÑA 210207 Alfredo Embid -Boletín armas contra las guerras nº 142
(4) ACUSAN A TROPAS ITALIANAS DE TORTURAR A SOMALIES-14/6/1997 CLARIN, ARGENTINA 140697