Vicenç Navarro ""Esta situaçom é insustentável e intolerável. Condena a várias geraçons a um futuro miserável. Por isso é polo que devesse considerar-se o até agora impensável: a saída de Espanha do euro. "" Quando se iniciará tal debate em Espanha?
Este artigo analisa as causas de que se estejam seguindo as políticas neoliberais que estám a danar de jeito cumprido o bem-estar das classes populares dos países da Eurozona e muito em particular dos países periféricos da Eurozona. Estas políticas estám a ser impostas polo Conselho Europeu, a Comissom Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional com o fim de debilitar ao mundo do trabalho e ao Estado do Bem-estar. Devido ao enorme domínio de tal pensamento nas estruturas da Eurozona, o artigo conclui com a necessidade de que se abra um debate em Espanha sobre se nom seria umha alternativa melhor à Recessom, e logo Depressom resultado das políticas neoliberais, a saída de Espanha do euro.
Vicenç Navarro
Estamos a ver durante estes anos de crises a tentativa mais intensa e maciço por parte das autoridades da eurozona "Banco Central Europeu (BCE), Conselho Europeu e Comissom Europeia" assim como do Fundo Monetário Internacional (FMI) de debilitar, em cada país da zona euro, o mundo do trabalho, a protecçom social e o Estado do bem-estar. A evidência disso é contundente. Recortes de direitos laborais e sociais e de gasto público social estám a ocorrer ao longo dos países da eurozona, dando-se com especial intensidade nos países da periferia da eurozona, conhecidos como os PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Nom passa dia sem que notícias sobre recortes e reduçom de direitos golpeiem as páginas das rotativas de maior difusom. A generalizaçom de tais medidas na maioria de países da eurozona apresenta-se como um indicador do seu inevitabilidade, é dizer, da necessidade de que levem a cabo para sair da crise.
A evidência que se haver ir acumulando amostra, contodo, que tais medidas nom só nom estám a contribuir à saída da crise e da recessom, senom que a estám piorando. Os dados reflectem claramente que tais políticas estám a reduzir ainda mais a demanda necessária para estimular a economia. E posto que a demanda gerada no sector privado está estagnada (resultado em Espanha do enorme buraco criado na economia polo estalido da borbulha imobiliária), o único sector que poderia estimular a economia é o sector e o gasto público. Por isso é polo que a reduçom de tal gasto público seja um grande erro, pois impossibilita a saída da crise. De novo, a evidência disso é abafadora. Só os economistas e políticos neoliberais, que dominam os meios de maior difusom, continuam repetindo a dogma neoliberal que está já profundamente desacreditado empiricamente.
Por que entom se estám impondo tais políticas" É mais que duvidoso que as autoridades da eurozona e do Fundo Monetário Internacional nom conheçam a abafadora evidência que mostra o insucesso de tais políticas. O facto de que, apesar de ser conscientes do dano de tais políticas ao bem-estar da maioria da cidadania e à própria economia, continuem impondo-as deve-se a que estám a utilizar esta situaçom de enorme crise (acentuando-a inclusive) o fim de forçar com maior contundência o que os grupos dominantes nestas instituiçons (o capital financeiro, é dizer, a banca e as grandes empresas transnacionais sempre desejaram: debilitar ao mundo do trabalho e ao Estado do bem-estar.
Mais e mais informaçom está a fazer-se pública mostrando o tipo de pressons que tais organizaçons (e, muito em especial, o BCE e o binómio Merkel-Sarkozy) estiveram realizando para que os governos recebam "ajudas" (ponho-o entre aspas porque umha percentagem de tais transferências está encaminhado a que os estados receptores podam pagar as suas dívidas públicas aos bancos alemás e franceses, entre outros). O Banco Central Europeu supedita estas ajudas "em forma de compra de dívida pública" a que fagam reformas que claramente debilitem o mundo do trabalho (tais como eliminar a indexaçom dos salários ou a descentralizaçom dos convénios colectivos) e reduzam os seus estados do bem-estar (tais como a privatizaçom das pensons ou dos serviços sanitários), todas é-las medidas que tem muito pouco que ver com a génese da crise ou com a saída dela. O argumento que utilizam para justificar a imposiçom de tais políticas é que aumentárom a competitividade da economia dos países PIIGS e com isso aumentárom as exportaçons, que devessem ser o motor do crescimento económico e a saída da crise.
De novo, a evidência existente (que é também bastante abafadora) questiona que os países PIIGS podam sair da crise a base de tais políticas, pois o maior problema que tem estes países nom é nem o seu inexistente elevado gasto público, incluído o social (que é dos mais baixos da UE), nem a falta de competitividade (as exportaçons continuaram crescendo em Espanha durante a crise), senom a sua escassísima demanda. Mas o facto de que a evidência mostre que este argumento é erróneo ou falso nom lhes trava para que continuem impondo tais políticas, admitindo, como fam os economistas Kenneth Rogoff e Cármen Reinhart, muito influentes no FMI, que o impacto de tais políticas supostamente positivas nom se verá por muito tempo, de dez a quinze anos a partir de agora...
Esta situaçom é insustentável e intolerável. Condena a várias geraçons a um futuro miserável. Por isso é polo que devesse considerar-se o até agora impensável: a saída de Espanha do euro. Nom há dúvida de que seria um passo difícil, mas nom necessariamente pior que o que se predizer para o próximos dez e quinze anos. Alternativas, em contra do que dizem Rogoff e Reinhart, existem. Salvando as diferenças (que as há) entre Argentina e Espanha, o facto é que Argentina em 2001, trás romper a paridade com o dólar e as políticas impostas polo FMI, baixo o Governo Kirchner, recuperou o seu próprio controlo do valor da moeda e do seu Banco Central, permitindo-lhe em três anos que o seu PIB fosse já o que existia antes da crise, sendo a partir de entom o país da América do Norte Latina que tivo maior crescimento económico. Letónia, em mudança, seguiu as políticas que está a impor o FMI e hoje o seu PIB é um 20% inferior ao que tinha ao iniciar-se a crise. É importante que para o bem das classes populares inicie-se um debate em Espanha sobre os excessivos custos de pertencer ao euro, e dos que a populaçom parece ser já consciente. Segundo um recente inquérito, 70% da populaçom espanhola tem maiores reservas para o euro. Quando se iniciará tal debate em Espanha?