http://www.rebelion.org/noticia.php?id=173532
Juan Torres López
"Nom podemos construir um automóvel decente, nem um televisom? já nom temos siderúrgicas, nom podemos outorgar serviços de saúde aos nossos idosos, mas isso sim, podemos bombardear o teu país até fazê-lo merda, especialmente se o teu país está cheio de morenos?" (George Carlin).
Muita gente identifica o capitalismo com a existência dos mercados e mesmo das empresas mas isso é um grave erro. Ambos os existírom desde muito antes que o capitalismo e seguiram existindo quando desapareça, ainda que sim é em verdadeiro que em cada sistema económico funcionam com características e funçons diversas.
O traço distintivo do capitalismo é que, primeiro, incorporou à órbita do mercado recursos que antes se utilizavam fora dele, como o tempo de trabalho e a terra. Antes podia-se comprar ou vender às pessoas mas nom se adquiria a sua força de trabalho a mudança de um salário e a terra conquistava-se ou transmitia mas nom se intercambiava em mercados como se fai no capitalismo. Esse facto, e o que mais adiante se hajam mercantilizado mesmo até as expressons mais íntimas da vida humana e social, fam com que o capitalismo se distinga nom por criar, como as vezes acreditasse erroneamente, a economia de mercado, senom a sociedade de mercado. E, portanto, submeter a vida social no seu conjunto à vontade do lucro.
A utilizaçom do trabalho assalariado e de grandes volumes de capital (físico e financeiro) no seio das empresas permite multiplicar a capacidade de produçom e gerar umha grande acumulaçom que derivou, justo é dizê-lo, num progresso inegável. Mas, ao mesmo tempo, acredite fortes contradiçons e problemas sociais muito graves.
Ainda que possa parecer um simples jogo de palavras o que ocorre no capitalismo é que para poder obter benefícios há que obter cada vez mais benefícios, o que leva a produzir sem cessar e a fazer com cada vez menos custo. Só com que nom cresça o investimento, mesmo ainda que nom caia, nom só se estancam os ingressos e os benefícios senom que se reduzem de jeito multiplicado.
Mas para obter cada vez mais benefícios produzindo sem parar é preciso reduzir ao máximo o custo salarial. Isso provoca muito a miúdo a falta de sintonia entre o preço que se quereria pagar polo trabalho e a possibilidade de vender todo o que se pom à venda. Se os capitalistas fossem tam numerosos como para comprar a totalidade do que produzem poderia-se pagar umha miséria aos trabalhadores, mas se estes som os que compram a maior parte da produçom, como em realidade ocorre, resulta que à medida que se lhes paga menos é menor a capacidade global da economia para comprar a produçom. Isso quer dizer que, queiram-no ou nom, quando os capitalistas reduzem o salário pode ser que algum ganhe mais individualmente mais; porém, a nível geral, o que provocam é que se esgote a capacidade geral de absorver a produçom que entre todos geram. E daí vem a maior parte das crises que de forma recorrente vem produzindo desde que o capitalismo existe.
Para evitar isso os capitalistas tem que recorrer a diversos remédios (que nom vou comentar aqui) e um deles é alcançar que a sua produçom se adquira por quem nom depende do salário para poder comprar, concretamente polo sector público. É outro paradoxo mais do capitalismo: os capitalistas rejeitam a actividade do Estado mas só quando favorece a outros porque constantemente reclamam ao sector público que adquira a maior parte possível da sua produçom ou que salve às empresas quando a sua estratégia de poupar salário produz umha crise.
Umha dessas vias é o gasto militar. Praticamente todas as grandes empresas mundiais sem excepçom tem umha boa parte da sua actividade dedicada a fornecer bens ou serviços ao Estado e mais concretamente aos seus exércitos. É umha forma muito rendível e nom dependente dos salários de realizar a sua produçom. E nom importa que a produçom militar as vezes simplesmente se vá armazenando ou que destrua recursos quando se utiliza, porque no capitalismo a produçom nom leva a cabo em funçom de que seja mais ou menos útil o que se produz, senom de que proporcione benefícios.
É por isso que se alenta o crescimento continuado do gasto militar, ainda que já seja tam alto (1,33 bilions de euros em 2012) que até resulta claramente inecessário, pois com muitíssimo menos dessa quantidade seria suficiente para destruir várias vezes a todo o planeta. Um gasto tam elevado, irracional e desproporcional (ou melhor supracitado, um negócio tam redondo) que só se pode justificar se se generaliza a ideia e convence à populaçom de que vivemos em permanente perigo e de que há múltiplos inimigos prestes a atacar-nos, quando em realidade o que há polo meio nom é outra cousa que o desejo incontrolado de ganhar cada vez mais dinheiro das grandes empresas multinacionais.
Todos sabemos que a imensa maioria dos conflitos bélicos que se produziram na história da humanidade deveram-se a motivos económicos e também agora ocorre assim. As últimas guerras do Iraque ou Afganistám ou as que a menor escala desenvolvem noutros lugares do mundo tem a sua origem, cada vez com menos dissimulo, em interesses económicos. Mas, ademais disso, o que ocorre no capitalismo é que a guerra e o gasto militar nom só servem a interesses económicos senom que se convertêrom num interesse económico em sim mesmos.
No capitalismo, a guerra nom é só um modo de produzir satisfaçom e dar poder a quem a gana, como sempre, senom que também se recorre a ela para resolver os problemas que produzem o acostumam de lucro que lhe é consubstancial e as contradiçons que se derivam da tentativa continuada de reduzir o salário.
A conclusom é evidente. Ainda que para saber que há detrás e o por que das guerras sempre houvo que descobrir com nomes e apelidos a quem beneficiam dela, hoje dia também é necessário perceber como funciona umha economia que só busca o benefício privado de umha parte da sociedade à conta dos ingressos dos demais. E a prediçom subseguinte é igual de obvia: enquanto que isto último produza-se, enquanto perviva o capitalismo e a estratégia económica dominante seja poupar-se salários, nom deixaram de soar os tambores de guerra nem se acabaram de contar os mortos que produz.