Resistir.info
por Tim Anderson
Professor de Política Económica da Universidade de Sydney
"Não esperávamos que o líder eleito de um partido com um mandato esmagador pudesse ser forçado a renunciar desta maneira numa democracia". Comunicado de imprensa da Fretilin, 26 de Junho.
Respaldado por um exército estrangeiro, e com o exército do seu país confinado aos quartéis, o grande líder da resistência, Xanana Gusmão, acaba por permitir o derrube do líder do primeiro governo pós-independência de Timor Leste. Mas o apoio da Austrália foi de importância vital.
Se isto parece difícil de explicar, devemos entender que, seja qual for a configuração do novo governo de Timor Leste, ficará um poço de amargura entre os actores principais quanto à gestão da crise recente e à intervenção, e um conflito sobre como gerir o novo relacionamento com a Austrália. Além disso, a mudança de regime de Junho tem implicações claras não só para as personalidades implicadas como também para a estratégia de desenvolvimento do país.
Falar da necessidade de um governo de "inclusão" ou de "unidade nacional" é esquecer o facto de que as recentes lideranças políticas em Timor Leste foram por coligação. O mais significativo disto é que o CNRT (Conselho Nacional de Resistência Timorense) desmembrou-se depois de as Nações Unidas insistirem em eleições multipartidárias. O governo dirigido pela Fretilin, eleito em 2001, incluiu importantes ex membros da Fretilin, José Ramos Horta e Xanana Gusmão, eleito separadamente. Após as próximas eleições o governo não deveria ser muito diferente.
A diferença imediata é a dupla actividade de Mari Alkatiri, estratego chefe da Fretilin, a seguir à sua renúncia forçada como primeiro ministro. As acusações sugeridas contra Alkatiri (armar paramilitares durante a tentativa de golpe) não irão a parte alguma. As acusações de "esquadrões de choque", emitidas pela australiana ABC, não têm credibilidade. Mas os meios de comunicação australianos e a intervenção militar que ajudou a derrubar a direcção de um governo eleito marcam uma nova realidade política para os cidadãos timorenses.
O jornal The Australian, completamente anti-Alkatiri, escreve que sua renúncia traz "boas notícias para as companhias australianas que queiram fazer negócios em Dili". Mas a Fretilin continua a ser (de longe) o principal partido do parlamento. Os media mais importantes de Rupert Murdoch insistem em que "a crise continuada" exige uma presença semi-permanente das tropas australianas para bloquear aquilo que o jornal chama governo "marxista revolucionário" e porque "não há outra maneira de que o governo caia no caos".
Outros comentaristas australianos simpatizantes desta linha já estão a insinuar a necessidade de abolir o exército do país. Realmente, parece que a autoridade de Xanana Gusmão com um certo número de comandantes do exército foi enfraquecida em resultado da simpatia percebida para com os rebeldes de Reinado. Mas a abolição do exército levaria rapidamente a proposta para o estabelecimento de uma base militar australiana permanente em Timor Leste, um grande dilema para uma gente que esteve a lutar duramente pela independência.
Até o momento, o "caos" foi em grande parte alimentado pelo apoio passivo australiano aos rebeldes e pela hostilidade ao governo, enquanto a "revolução marxista" era mais um modesto nacionalismo económico guiado por Alkatiri. Expliquei em outro artigo ( Achievements of a 'Failed State' )
as áreas de tensão com a Austrália, que decorrem de uma política independente em Timor Leste. Xanana não exprimiu uma visão diferente do desenvolvimento, mantendo-se no tema da reconciliação. Ramos Horta exprimiu o desejo de relações mais próximas com os EUA e a Austrália, e maiores facilidades para o investimento estrangeiro. Mas ainda não há sinal de que a Fretilin vá abandonar a via mais independente estabelecida por Alkatiri.
Aí está o problema. Uma oligarquia de capitalistas australianos que sempre se opôs à independência de Timor Leste, antes e depois de 1999, declarou-se abertamente em oposição ao projecto da Fretilin. O regime de Howard mantem em público uma correcção política no que se refere à autonomia de Timor, mas compartilha a hostilidade. Isto é tanto uma oposição estratégica como uma oposição a qualquer política particular. Mas a predisposição mental para o "protectorado" pretende certamente dar acesso fácil aos recursos de Timor Leste, maiores privilégios ao investimento estrangeiro e uma mudança na política em relação à língua nacional, do português-tetum para o inglês-tetum.
Parece provável que, mesmo com Alkatiri afastado, o movimento da Fretilin mantenha a estratégia expressa no Plano de Desenvolvimento Nacional e em políticas sectoriais, e com o respaldo da Constituição. Alternativamente (e se os escribas de Murdoch fazem o seu trabalho) um novo governo seria persuadido a abandonar seu passado económico nacional e a aceitar um status de protectorado australiano.
Portanto, qual o problema para um pequeno país em adquirir empréstimos do Banco Mundial e converter-se num "amigo do ocidente"? Não será isto um bom caminho para atrair investimentos, melhorar a governabilidade e reduzir a pobreza? Examinemos tudo isto à luz da experiência.
O processo começa com empréstimos para infraestruturas essenciais, normalmente electricidade e estradas, e toda a gente tem estado a queixar-se da electricidade e das estradas. O Banco Mundial emprestaria dinheiro ao governo a juro comercial baixo (considerando o baixo PIB per capita de Timor) ou um empréstimo muito baixo da IDA (International Development Association, uma agência da ONU) a apenas 0,7% de taxa de juros durante 35 anos. Isto, à primeira vista, parece generoso, mas condições mais estritas seriam acrescentadas na forma de contrato de "boa governação".
Uma parte importante das condições da "boa governação" estipularia que, apesar de o empréstimo ser público, a construção e o serviço de distribuição seria privado ? "uma parceria de desenvolvimento". Isto significa que um grande número de companhias estrangeiras seriam contratadas para construir a rede de electricidade e de estradas, enquanto outras assegurariam um regime de fornecimento da electricidade "pago pelo utilizador". Como o acordo de "boa governação" também estipularia preços não subsidiados, para as famílias pobre as única maneira de acederem à electricidade seria por subsídio fiscal directo. Mas o governo não tem fundos suplementares e foi por isso que em primeiro lugar tomou dinheiro emprestado.
Esquema de "parcerias" semelhantes já viram em abastecimentos de água. Abastecimentos que cidades importantes das Filipinas ou da Bolívia acabaram por não poder permitir-se. As reduzidas camadas médias que se podem permitir os pagamentos deveriam ter recebido um melhor serviço, mas o governo ainda tinha de intervir para assegurar a qualidade e conter a corrupção que as privatizações geraram. O acesso das famílias pobre à água ou à electricidade dependeria da sua capacidade de pagar.
Os regimes de "pagamento pelo utilizador", fomentado pelo Banco Mundial em todos os serviços, prejudica o acesso à educação e aos serviços de saúde. A evidência disto é concludente. O neoliberalismo dos anos 80 redefiniu o consenso global sobre o direito à educação, pelo só a educação primária era encarada como de pleno direito e portanto financiável nos países pobres. A educação secundária, essencial para a mobilidade social mas sujeita o princípio do "pagamento pelo utilizador", tornou-se impossível de financiar para as crianças das famílias mais pobres. Na rica em petróleo mas neoliberal Venezuela do final dos anos 90, só 20& das crianças alcançavam a educação média. Mas da metade da infância no Bali de hoje em dia, que sobrevive com dólares dos turistas, não consegue chegar à educação secundária. Isto é o padrão por todo o mundo. O regime neoliberal negou o futuro a uma geração inteira de crianças em situação do pobreza. Com a "boa governação" do Banco Mundial as matrículas na escola secundária de Timor vão em retrocesso.
Os serviços de saúde estão relacionados com a educação. Sem formação maciça dos trabalhadores da saúde, os serviços são caros e escassos. Apesar de três décadas de ajuda da Austrália e de programas do Banco Mundial, a Papua Nova Guiné (PNG) apresenta números chocantes quanto à mortalidade infantil e maternal. Simplesmente não há médicos fora das capitais de província. A PNG efectuou em quantidades importantes exportações de petróleo, gás, ouro, cobre e madeira. As exportações mantiveram-se em torno dos 40% do PIB da PNG durante duas décadas. Mas não houve "gotejamento" em benefícios para a saúde. Se a Austrália e o Banco Mundial deslocarem os 200 médicos cubanos em Timor Leste e dispensarem o sujo sistema "comunista" que ofereceu 600 bolsas médicas gratuitas a jovens de Timor, os padrões de saúde do país competirão muito bem com os da PNG.
A seguir está o campo e a agricultura, ainda no centro das possibilidades de ganhar a vida para muitas famílias pobres. A preferência neoliberal aqui é clara: cultivo orientado para a exportação e títulos individuais de terra, vendíveis. Esta é a razão porque o Banco Mundial e o Banco Asiático para o Desenvolvimento, após a crise asiática e sob seus programas de "ajustamento estrutural", apoiaram o corte das árvores (desprezando advertências quanto à "florestação sustentável") e o desenvolvimento da palmeira oleaginosa sobre mais de dois milhões de hectares na Indonésia; uma catástrofe ambiental que pisoteou o direitos da gente que habita o campo e retirou-lhes meios de vida. A abolição dos subsídios ao arroz e ao querosene provocou distúrbios alimentares em Djacarta.
Podemos apreciar os resultados do paradigma neoliberal em Marrocos, onde há alguns anos o campo foi organizado para exportar. As pessoas deixaram o campo para ir para a cidade e o sector da subsistência foi prejudicado. As barreiras da União Europeia às importações agrícolas bloquearam as exportações e o país, pela primeira vez, teve de enfrentar carências alimentares.
No anos 90 no Peru, sob Alberto Fujimori, os campos inferiores a 10 hectáres arruinaram-se quando foi reorganizada a agricultura. Milhares de pequenos camponeses viram-se obrigados a trabalhar para camponeses mais ricos ou na produção de coca. A produção de cocaína no Peru duplicou. Em Lima, a eliminação do subsídio ao combustível de cozinha levou a um surto de cólera provocando 2000 mortes em seis meses, quando as pessoas mais pobres já não puderam permitir-se ferver água ou comida. Em 1991, mais de 80% da população do Peru estava mal alimentada.
As instituições públicas, tão importantes para definir a identidade de uma nova nação, são reiteradamente bloqueadas pelas forças neoliberais. A segurança alimentar foi tratada em profundidade quando Timor Leste dirigiu-se ao Banco Mundial em 2000 a pedir ajuda para reabilitar seus campos de arroz a fim de fortalecer seu sector de subsistência e estabelecer silos públicos de cereais. O Banco Mundial e a Austrália disseram não. A ajuda à agricultura só era possível para culturas de exportação. Recomendou-se a Timor a importação de arroz. Apesar de tudo, o governo independente de Timor tratou de desenvolver sua própria indústria do arroz, sem a ajuda do Banco Mundial.
Este acordo ideológico de exportar cultivos explica os contínuos subsídios da Austrália, do Banco Mundial e do Banco Asiático para o Desenvolvimento à indústria da palmeira oleaginosa na Papua Nova Guiné, ainda que esta indústria seja dominada por grandes companhias estrangeiras. Os pequenos agricultores recebem poucos benefícios desta indústria e sofrem importantes custos ambientais. O desenvolvimento em infraestruturas também está centrado em monoculturas.
Frequentemente a promessa de uma "transição" para um regime amistoso à ocidental vai acompanhada de outras promessas de ajuda e investimento estrangeiro, que pode trazer benefícios mais amplos. Aqui, muitos países pequenos enfrentam o "dilema nicaraguense". Depois de se desfazerem do governo sandinista em 1990 (com guerra e bloqueio económico), os EUA renegaram suas promessas de ajuda e o investimento estrangeiro esteve longe de concretizar-se. Só por se oferecer aos investidores o acesso aos recursos do país livres de impostos não significa que eles venham.
Portanto, por que os líderes dos países em desenvolvimento participam em programas neoliberais quando são tão daninhos para as pessoas comuns? Uma das razões é que foram obrigados a romper os pactos políticos, após a independência. Manter o status quo económico, após o apartheid, ajuda a explicar a maioria das políticas ortodoxas do Congresso Nacional Africano, na África do Sul. Uma segunda razão é a falta de atenção, debilidade política e o desejo de acomodar os grandes poderes ? alguns destes elementos podemos perceber hoje em Timor Leste. Mas muito frequentemente, líderes como Suharto na Indonésia ou Fujimori no Peru entram pessoalmente na elite dos negócios, ganhando comissões, rendimentos e outros benefícios da ajuda e dos programas de privatização.
O papel da Austrália na abalada independência de Timor é difícil de ver por agora, com a cortina de fumo dos meios de comunicação a influírem para o desejo de nos vermos como os salvadores do pequeno país. Não somos nada disso. Os amigos australianos de Timor Leste devem reconhecer as chocantes perspectivas de um status neoliberal de protectorado e manter o seu apoio a uma nação independente
por Michel Chossudovsky
Resistir
Haverá uma relação entre o bombardeamento do Líbano e inauguração do mais estratégico oleoduto do mundo, o qual transportará mais de um milhão de barris de petróleo por dia para mercados ocidentais?
Virtualmente desapercebida, a inauguração do oleoduto Baku-Tblisi-Ceyhan (BTC), que liga o Mar Cáspio ao Mediterrâneo Oriental, verificou-se a 13 de Julho, exactamente no princípio dos bombardeamentos do Líbano realizados por Israel.
Um dia antes dos ataques israelenses, os principais parceiros e accionistas do projecto do oleoduto BTC, incluindo vários chefes de Estado e executivos de companhias petrolíferas, compareciam ao porto de Ceyhan. Eles foram então despachados para uma cerimónia de inauguração em Istambul, convidados pelo presidente da Turquia, Ahmet Necdet Sezer, nas elegantes vizinhanças do Palácio Çýraðan.
Também presentes estavam o presidente da British Petroleum (BP), Lord Browne, juntamente com altos responsáveis governamentais da Grã-Bretanha, EUA e Israel. A BP dirigiu o consórcio do oleoduto BTC. Outros grandes accionistas ocidentais incluem a Chevron, Conoco-Philips, Total da França e ENI da Itália
O ministro da Energia e Infraestrutura de Israel, Binyamin Ben-Eliezer, estava ali presente, juntamente com uma delegação de altos responsáveis petrolíferos israelenses.
O oleoduto BTC contorna totalmente o território da Federação Russa. Ele transita através das antigas repúblicas soviéticas do Azerbaijão e Geórgia, ambas as quais tornaram-se "protectorados" americanos, firmemente integradas dentro de uma aliança militar com os EUA e a NATO. Além disso, tanto o Azerbaijão como a Geórgia têm acordos de cooperação militar a longo prazo com Israel. Em 2005, companhias georgianas receberam US$ 24 milhões em contratos militares financiados pela assistência militar americana a Israel sob o chamado "Foreign Military Financing (FMF) program". Ver http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/states/GA.html
Israel tem interesse nos campos petrolíferos azeris, dos quais importa uns vinte por cento do seu petróleo. A abertura do oleoduto reforçará substancialmente as importações petrolíferas israelenses da bacia do Mar Cáspio. Mas há uma outra dimensão que se relaciona directamente com a guerra ao Líbano. Em paralelo ao enfraquecimento da Rússia, Israel candidata-se ao desempenho de um importante papel estratégico na "protecção" do transporte no Mediterrâneo Oriental e nos corredores do oleoduto até Ceyhan.
Militarização do Mediterrâneo Oriental
O bombardeamento do Líbano é parte de um roteiro cuidadosamente planeada e militarmente coordenado. A extensão da guerra à Síria e ao Irão já foi contemplada pelos planeadores militares americanos e israelenses. Esta agenda militar mais vasta está intimamente relacionada com o petróleo e os oleodutos estratégicos. É apoiada pelos gigantes petrolíferos ocidentais que controlam os corredores do oleoduto. Em última análise procura controle territorial sobre a linha costeira do Leste do Mediterrâneo.
Neste contexto, o oleoduto BTC dominado pela British Petroleum, mudou dramaticamente a geopolítica do Mediterrâneo Oriental, a qual agora está ligada, através de um corredor de energia, à bacia do Mar Cáspio:
"[O oleoduto BTC] altera consideravelmente o status dos países da região e cimenta uma nova aliança pro-ocidental. Tendo levado o oleoduto até o Mediterrâneo, Washington praticamente estabeleceu um novo bloco com o Azerbaijão, a Geórgia, a Turquia e Israel" (Komerzant, Moscovo 14/Julho/2006)
Israel agora é parte do eixo militar anglo-americano, o qual serve os interesses dos gigantes petrolíferos ocidentais no Médio Oriente e na Ásia Central.
Enquanto os relatórios oficiais declaram que o oleoduto BTC "transportará petróleo para mercados ocidentais", o que é raramente reconhecido é que parte do petróleo do Mar Cáspio será directamente dirigido para Israel. Em relação a isto, foi encarado um projecto de oleoduto submarino israelense-turco que ligaria Ceyhan ao porto israelense de Ashkelon e, a partir dali, através do sistema principal de oleodutos de Israel, ao Mar Vermelho.
O objectivo de Israel é não só adquirir o petróleo do Cáspio para as suas próprias necessidades de consumo como desempenhar um papel chave na reexportação do mesmo em retorno para os mercados asiáticos através do porto de Eilat, no Mar Vermelho. As implicações estratégicas desta re-orientação do petróleo do Mar Cáspio são de grande alcance.
Em Abril de 2006, Israel e Turquia anunciaram planos para quatro oleodutos submarinos, os quais passariam ao largo do territórios sírio e libanês.
"A Turquia e Israel estão a negociar a construção de um projecto de energia e água de muitos milhões de dólares que transportará água, electricidade, gás natural e petróleo por pipelines para Israel, com o petróleo a ser enviado para diante de Israel para o Extremo Oriente.
A nova proposta turco-israelense em discussão encararia a transferência de água, electricidade, gás natural e petróleo para Israel através de quatro pipelines submarinos.
www.jpost.com/
"O petróleo de Baku pode ser transportado para Ashkelon através deste novo oleoduto e para a Índia e o Extremo Oriente [através do Mar Vermelho]".
"Ceyhan e o porto mediterrâneo de Ashkelon estão situados a apenas 400 km de distância. O petróleo pode ser transportado para a cidade em petroleiros ou através de pipelines submarinos construídos para isso. A partir de Ashkelon o petróleo pode ser bombeado através do oleoduto já existente para o porte de Eilat no Mar Vermelho e dali pode ser transportado para a Índia e outros países asiáticos em petroleiros. (REGNUM).
Água para Israel
Também está envolvido neste projecto uma conduta para trazer água a Israel, bombeando água dos recursos a montante dos rios Tigre e Eufrates na bacia da Anatolia. Isto tem sido um objectivo estratégico a longo prazo de Israel em detrimento da Síria e do Iraque. A agenda de Israel em relação à água é apoiada pelo acordo de cooperação militar entre Tel Aviv e Ancara.
O re-direccionamento do petróleo da Ásia Central
Divergir petróleo e gás da Ásia Central para o Mediterrâneo Oriental (sob protecção militar israelense), para reexportá-lo para a Ásia, serve para minar o mercado de energia inter-asiático, o qual está baseado no desenvolvimento de corredores de oleodutos directos ligando a Ásia Central e a Rússia à Ásia do Sul, a China e o Extremo Oriente.
Em última análise, este desenho é destinado a enfraquecer o papel da Rússia na Ásia Central e desligar a China dos recursos petrolíferos da Ásia Central. Pretende também isolar o Irão.
Nesse ínterim, Israel emergiu como um novo jogador poderoso no mercado global de energia.
Guerra e oleodutos
Antes do bombardeamento do Líbano, Israel e Turquia haviam anunciado as rotas do oleoduto submarino, que passam ao largo da Síria e do Líbano. Estas rotas submarinas não transgridem abertamente a soberania territorial do Líbano e da Síria.
Por outro lado, o desenvolvimento de corredores alternativos por terra (para petróleo e água) através do Líbano e da Síria exigiria o controle territorial israelense-turco sobre a linha costeira mediterrâneo oriental através do Líbano e da Síria.
A implementação deste projecto exige a militarização da linha costeira do Leste do Mediterrâneo, caminhos marítimos e rotas por terra, estendendo-se desde o porto de Ceyhan através da Síria e do Líbano até a fronteira libanesa-israelense.
Não será isto um dos objectivos ocultos da guerra ao Líbano? Tornar acessível um espaço que permite a Israel controlar um vasto território que se estende desde a fronteira libanesa através da Síria até a Turquia.
"A longa guerra"
O primeiro ministro israelense Ehud Olmert declarou que a ofensiva israelense contra o Líbano "perduraria por muito longo tempo". Enquanto isso, os EUA aceleraram embarques de armas para Israel.
Há objectivos estratégicos subjacentes à "Longa guerra", os quais estão ligados ao petróleo e aos oleodutos.
A campanha aérea contra o Líbano está inextricavelmente relacionada com os objectivos estratégicos americano-israelenses no conjunto do Médio Oriente, incluindo a Síria e o Irão. Em recentes desenvolvimentos, a secretária de Estado Condoleeza Rice declarou que a principal finalidade da sua missão ao Médio Oriente não era pressionar por um cessar fogo no Líbano, mas ao invés disso isolar a Síria e o Irão. (Daily Telegraph, 22/Julho/2006)
Neste momento crítico, o reabastecimento dos stocks israelenses com armas de destruição em massa produzidas nos EUA aponta para uma escalada da guerra tanto dentro como para além das fronteiras do Líbano.
Nablús: «It is our life»
por Silvia Cattori (Jornalista suíça)
Enquanto o mundo assiste à destruição do Líbano por parte de Israel, a ocupação mantém-se em Palestina. Em momentos em que a atenção das câmaras se centra em Beirute, Israel segue estrangulando aos palestinos para os obrigar a fugir. Silvia Cattori descreve-nos o horror que estão a viver os habitantes de Nablús.
Noite depois de noite, o estrondo da guerra sacode a cidade de Nablús, um estrondo que impede o sonho. A gente acorda-se sobressaltada, incapaz já de saber se dormiram ou não, se estão a viver um pesadelo em plena vigília. Ouvem-se disparos, explosões que ressoam perto, se sentem mais longe, voltam em forma de eco. Não sabe-se que sucede nem onde. A inquietude cresce, logo deixa-se de pensar. Um se resigna e espera no dia. A gente diz que assim decorrem todos e cada um dos dias aqui, no distrito de Nablús, que isso não é nada novo desde o ano 2000, que é um instrumento mais da guerra do terror empreendida por Israel, parte de suas inumeráveis medidas repressivas.
Os soldados entram sempre, durante a noite, nas silenciosas ruelas de Nablús ou dos povoados. Derrubam portas, lançam granadas. Procuram, casa por casa, homens que qualificam como «wanted», «suspeitos». Sacam às famílias de suas casas, registam, rompem-no tudo e, se não encontram nada, exigem que as mães falem pelos alta-vozes exortando a seus filhos a se render. Se o «suspeito» não se rende, às vezes prendem ao pai, aos irmãos ou voam a casa. Vão-se dantes do amanhecer. Após meia-noite ouviram-se disparos mas os principais combates começaram às quatro da manhã, quando uma forte explosão sacudiu os edifícios.
Depois os tiroteios fizeram-se mais intensos. Por duas vezes a voz do almuecín cobriu o ruído dos disparos, uma voz que chegava longe, voltava como um eco, retinha nosso alento. O sucedido durante a incursão desta noite é inusual. As tropas israelenses entraram sem fazer ruído, por surpresa. Geralmente, os soldados não têm que enfrentar aos combatentes porque os homens que estão a procurar se escondem. Sabem-se procurados e, com seus tristes fuzis, têm todas as de perder. Mas esta amanhã os homens agochados apresentaram resistência. Os combates duraram várias horas. Do lado do exército israelense teve um soldado morto e seis feridos, vários deles de gravidade. Quatro jovens palestinos foram capturados e os soldados levaram-lhos. Desde então estão a ser submetidos a interrogatório pelo Shin Bet. As informações que lhes possam arrancar servirão para organizar as próximas incursões e acções punitivas.
Espera-se que o exército volte em qualquer momento e que a repressão seja mais dura ainda já que o soldado morrido era o filho do comandante encarregado da região. A gente está ao topo. Israel humilha-os, submete-os à fome, priva-os de tudo. Aqui vivem como numa prisão. Quando a gente se apresenta nos pontos de controle ?que são zonas militares nas que os soldados lhas arranjam para fazer reinar o terror? os militares humilham-nos, prendem-nos, submetem-nos a malheiras. Os jovens ?de 14 a 30 anos? não podem passar. Têm que se lançar, por sua conta e risco, a transitar por caminhos de montanha. Uma estudante da universidade de Najah presa faz ano e meio num ponto de controle está detida ainda por ter dado umhas labaçadas ao soldado que a estava cacheando.
Após seis anos de privações e massacres, sente-se à gente ainda mais rebelde e tensa na medida em que agora sofrem, além das perseguições de Israel, o estrangulamento por parte de Europa, uma Europa escandalosa que castiga e condena um povo inteiro à fome por ter votado a favor de Hamas.
Isto não faz mais que fortalecer o espírito de resistência desse povo que não tem já outra via que a rebelião para salvaguardar sua dignidade pisoteada. Por isso sentimos que está decidido, disposto a se enfrentar ao mundo inteiro até que este senta a vergonha de ter cometido um crime tão grande e compreenda que, para os palestinos, reclamar o respeito a seus direitos violados é algo legítimo.
O sucedido esta noite não deixará de ter graves consequências para eles. O exército israelense regressará para castigá-los com mais força ainda. No entanto, eles seguem se ocupando de seus assuntos, como se nada sucedesse. Olham-nos com a tranquilidade de quem sabe que a humanidade está de sua parte. Em isso reside sua força. «It is our life», respondem com acalma quando expressamos nossa inquietude por eles.
O tanguero fuzilado por Franco
Susana Viau Página/12
Chegou a Buenos Aires aos cinco anos. Trabalhou no diário A Imprensa, foi directivo da Federação de Sociedades Galegas e bailarino de tango. Voltou a seu país como chefe da guerrilha de Galiza. Aqui, a história do vizinho de San Telmo, fuzilado por republicano no '49. E o depoimento de seu filho Jorge, agora de 75 anos. Às oito e meia da noite do 10 de julho de 1948, Eduardo Alfonso Cruz, chefe o Serviço de Informação da 140 Comandáncia da Policia civil, sentou-se como um paroquiano qualquer numa das mesas do Barlovento, o bar mais coincidido da Corunha. Tinha a esperança de ser quem atrapasse a "Julián", o chefe da guerrilha galega ou, como escreveu no parte, das "partidas de bandoleiros que actuam nesta região". Ao cabo de um momento, um casal aproximou-se ao local. O homem respondia às características físicas de "Julián". Num abrir e fechar de olhos, os efectivos da "benemérita" que vigiavam nas imediações rodearam aos dois clandestinos. Começava assim um processo absurdo que ia culminar nas primeiras horas do 6 de novembro, quando no Campo das Dormideiras "Julián" foi colocado em frente ao pelotom de fuzilamento. "Julián" era em realidade António Seoane Sánchez, um espanhol chegado aos cinco anos à Argentina, trabalhador do diário A Imprensa, director da Federação de Sociedades Galegas, bailarino de tango, habituei de um café de Defesa e Estados Unidos, vizinho de San Telmo. Tinha 43 anos. As assinaturas, as mobilizações realizadas em Buenos Aires pedindo a comutaçom da pena não tinham servido de nada.
Não foi a única condenação a morte: com ele morreu José Gómez Gayoso, alias "López", ex comissário político dos exércitos republicanos e regressado para assumir a secretaria geral do ilegalizado Partido Comunista de Galiza, direcção política da guerrilha. A jovem apresada com "Julián" no Barlovento era seu novo amor, Josefina González Cudeiro, Fina para seus familiares. Ela permaneceu quinze anos detida nos cárceres de Alcalá de Henares, Burgos e Segovia. Dantes, igual que seu amante, tinha sido brutalmente torturada, pendurada das mãos e queimada com ácido nos genitais, quiçá porque assim castigava a Espanha da cruz e a espada à rapariga de esquerdas que acabava de se fazer um aborto com uma parteira de Madri e praticava o amor livre.
Foi a irmã de Fina a que a seu pedido mandou uma carta à mãe de António, a Buenos Aires, lhe avisando de sua detenção. Também recomendava-lhe que golpeasse todas as portas, que mobilizasse tudo o mobilizável porque o final do processo se avizinhava e ficavam poucas esperanças. Assunção, a mãe de António, uma galega que se tinha estabelecido em San Telmo e alugava habitações para ajudar aos esquálidos rendimentos do marido, carpinteiro e dono de uma carbonária que estava em frente ao cinema Cecil, seguiu ao pé da letra as indicações que lhe chegaram do outro lado do mar. "Pediu inclusive uma audiência com Eva Perón para rogar-lhe que intercedera, mas a senhora não a recebeu - recorda agora Jorge, o filho de António -. Minha avó era uma velha heróica, que apesar de sua pobreza lhes deu de comer a muitos colegas que chegavam de Espanha morridos de fome."
Jorge acha que a única depositaria do segredo que rodeou a viagem de António a Espanha foi sua avó Anunciaçom. Dele, em mudança, se despediu num dia que não atinge a determinar, com um abraço e a promessa do mandar a procurar muito cedo; talvez não fosse uma mentira, pode que António Seoane pensasse, como muitos republicanos então, que o final da Segunda Guerra ia ser também o fim da ditadura franquista.
O verdadeiro é que Jorge não imaginou que esse seria o último contacto entre ambos. Tinha ideias imprecisas a respeito da causa que impulsionava a seu pai e aos homens e mulheres com quem António se reunia no local da Federação de Sociedades Galegas. E levar-lhe-ia um tempo descobrir que tinha sido recém em 1939 quando resolveu se afiliar ao Partido Comunista de Espanha, uma decisão tardia mas não inesperada: estava inscrita na atmosfera familiar e no contacto com os exilados republicanos.
O expediente que faz nuns anos lhe enviaram desde Galiza lhe permitiu reconstruir um trecho daquela viagem: depois de falhar-lhes os contactos estabelecidos em Pamplona e em Barcelona, António pediu instruções a Buenos Aires e ordenaram-lhe dirigir-se a Madri. Desde então utilizou um documento estendido a nome de Aureliano Barral, cidadão argentino; seu pseudónimo no Exército Guerrilheiro de Galiza, onde arribou no '45, foi "Julián". A comunicação com a família cortou-se. O silêncio estava imposto pela fechada clandestinidade e pelos ares políticos governamentais que, na Argentina dos '30, os '40 e os '50 não sopravam em favor da República. A prosa fascista do atestado instruído pela Policia civil descreveria o périplo de maneira diferente: "O processado, que vivia na Argentina, se afilio ao Partido Comunista Espanhol ao chegar à Nação irmã os refugiados fugidos da zona vermelha".
Questão de honra
Hoje, Jorge admite que o casal de seus pais estava rompido desde fazia muito, mas que pese a todo Saladina Cruz, sua mãe, compreendia e apoiava o sacrifício do marido. Era uma operária esclarecida, delegada da Fábrica Argentina de Alpargatas, "na época em que iam trabalhar com chapéu". E galega. Foi a ela a quem António lhe dirigiu as cartas datadas na "Prisão Provincial, Primeira Galeria, Cela 6". Numa delas, lhe advertiu: "Fui detido o 10 de julho, acusado de ser o chefe guerrilheiro de Galiza. Já podes-te imaginar o que isto supõe num Conselho de Guerra sumarissimo. Tinha notícias de que este Conselho levar-se-ia a cabo o 7 do corrente, mas faz nuns dias nos inteirámos de que tinha sido adiado para mediados deste mês. Não sei a que obedece este adiamento. De todas formas, para mim isto significa nuns dias mais de vida. Ainda que sobre isto não tenho segurança nenhuma. Perdoa-me a crueza, mas é que devemos ser realistas. Em quanto a meu estado de ânimo, é perfeitamente normal, porque isto não me tomou de surpresa e nos últimos momentos, não te caiba dúvida alguma, saberei me comportar como o que sempre crio ter sido. Não digo mais...".
Na seguinte, quase em capela, António explicava a sua mulher: "Os três (ele, Gómez Gayoso e um terceiro combatente, José Bartrina) estamos já isolados, em regime de condenados a morte, saímos uma hora ao pátio, sob a vigilância de um oficial; não permitem que nos enviem comida da rua e nos retiraram o papel, pluma, lápis, etc. O desenlace não é possível o prever, já que pudessem existir determinados factores que modifiquem a sentença. Não fazemo-nos ilusões e sem infundados pessimismos prevemos que terá execuções. Quantas? O que está claro é que os altos chefes da Policia civil pressionam ferozmente e que fizeram de nossa execução questão de honra. A pressão do exterior pode decidir o desenlace de uma forma ou outra. Sobre isto não crio necessário vos insistir. A Argentina, pelas relações que mantém com o regime de Franco, pode decidir muitíssimo. Temos confiança absoluta no que nosso P. (partido) e os P. irmãos façam para mobilizar à opinião democrática mundial em nosso favor. Ainda que isolados, conhecemos o volume da campanha de solidariedade".
A morte, no entanto, não conseguia hegemonizar o texto; o condenado punha-a a raia com uma volta sistémica à vida quotidiana: "E agora algo do nosso - escrevia -. Estou assombrado com as fotos que me mandais. Francamente confesso-te que ao as ver me senti velho e até agora presumia de não o ser. Mas é possível que já tenha nora? ¡Vamos, isto si que é para se cair de costas! ¡E que guapa Elsita! Quando me contestes di-me de que bairro é e qual é seu apelido". A correspondência, o único vínculo do réu António Seoane com o mundo exterior, era o produto de um balanço solitário. Dí-o de maneira explícita na nota que lhe dirige a Roberto Gastelú, seu chefe na secção distribuição da Imprensa: "Você sabe que ainda que me criei na Argentina, à que amo como minha segunda pátria, na que repousam os restos de meu pai e residem minha idosa mãe, minha esposa e meu filho, eu nasci em Espanha (...). Ao fazer mentalmente um requento dos seres por quem tive sempre grande carinho e respeito não podia me esquecer de você, que me conheceu sendo quase um pibe".
A fins de outubro, o Conselho de Guerra presidido pelo tenente coronel de Engenheiros Ramón Rivas Martínez ditou para Seoane e Gómez Gayoso (a) "López" a pena capital pelo delito de "actividades comunistas". O defensor militar, mais piedoso ou mais realista, não tinha solicitado o sobressimento senão 30 anos de prisão maior. O 5 de novembro, o ministro de Exército confirmou as sentenças; o 6 dispôs-se o envio de um médico que constatasse as mortes, dois ataúdes, as permissões do cemitério para o enterro, se requerendo, ademais, a presença do defensor militar, capitão de artilharia José Lago Vizoso. Ordenou-se, assim mesmo, que os condenados fossem entregados à Policia civil, que se faria cargo de executar a sentença. Às quatro da manhã, logo de ler-lhes a resolução, "Julián" e "López" foram colocados em capela. Ambos se tinham negado a assinar a notificaçom. Uma nova cédula deixou constância de que "às oito do dia de hoje foi executada por fuzilamento a pena de morte nas pessoas dos réus José Gómez Gayoso e António Seoane Sánchez no Campo de Dormideiras desta Praça".
O 8 de fevereiro de 1949, o defensor militar fez entrega dos pertences de António Seoane que, por todo conceito, consistiam numa pluma estilográfica "Parker", um chisqueiro de metal branco, um relógio de homem "Omega" com sua correia, um alfinete de gravata de ouro com três pérolas e um prendedor de pescoço dourado. Como se vê, nem as medidas excepcionais nem a pena capital estavam renhidas com a burocracia.
O exército tinha deixado um registro formalmente perfeito de cada um dos passos cumpridos, inclusive das parcelas do campo-santo em que seriam depositados os corpos. Um pequeno esquecimento fez-lhes omitir que Seoane tinha os pés e as mãos destroçados e tinha adelgaçado vinte quilos; que a Gómez Gayoso lhe tinham esvaziado um olho e seu corpo tinha sofrido inumeráveis ultrajes. Fina comunicou-lhe a Assunção a morte de seu filho, António Seoane. Na breve esquela e com enorme dignidade pedia-lhe que a perdoasse se a confessom da "intimidade" que a tinha unido ao chefe guerrilheiro a molestava e lhe assegurava que através de "Julián" tinha aprendido aos querer a todos. Com os anos, Fina entregar-lhe-ia em própria mão a Jorge a estilográfica e o chisqueiro que tinham pertencido a seu pai. Também legou-lhe o retrato que, a lápis, lhe tinha desenhado um de seus camaradas na prisão. "Ela e os seus são nossa família agora", diz Jorge Seoane a Página/12.
A figura do tanguero António Seoane, chefe máximo do Exército Guerrilheiro Galego, quinta-essência do sacrifício militante, foi esquecida pelos argentinos. Não mencionam-se sequer os versos que lhe dedicou Rafael Alberti: "A quem nomearei primeiro?/Ninguém é segundo em minha língua/ quando é de aço o aço/ Se um é glorioso, em glorioso/ ao outro não há quem lhe ganhe/ Se digo Gómez Gayoso,/já estou a dizer Seoane (...) ¡Sangue de Gómez Gayoso/ sangue puro, sangue bravo/ sangue de António Seoane (...)/¡Mar de sangue derramado!". E se prefere-se uma homenagem mais portenho, estão os versos de Raúl González Tuñón: "Prenderam-lhe ao alva da luta/junto a Seoane, a frente de seu povo,/filhos da esperança, honra de Espanha/camaradas do dia. Guerrilheiros (...) Se cai Gayoso, se Seoane cai,/seus colegas e suas colegas,/não dobrarão a morte as campanhas/nem pôr-lhe-emos luto à bandeira". Em seu departamento de Almagro, Jorge Seoane, o filho que hoje tem 75 anos, não reclama homenagens. Seu desejo é tão modesto como incumpível: "Não perdoo-me não ter estado com ele durante o Conselho de Guerra". Quiçá, por essas coisas, não tenha consertado em que António Seoane, além de "Julián" e "Aureliano Barral", se tinha rebautiçado com um terceiro nome, "Jorge", o seu.
Eles som os terroristas. Israel deve recordar sua origem "terrorista"
JOHANN HARI
Dramaturgo e jornalista galardoado britânico
Os pais de Tzipi Livni, ministra do Exterior israelense, e do Primeiro ministro, Ehud Olmert pertenceram a um grupo terrorista chamado Irgún que operou nas décadas dos 30 e 40
Enquanto as forças israelenses davam morte a mais de 300 civis e expulsavam de seu lar a meio milhão de pessoas em aras de erradicar o "terrorismo", uma pequena e amarga ironia histórica passava inadvertida na semana passada em Israel.
Os veteranos de outra organização "terrorista" reuniram-se em frente aos narizes das forças israelenses, para celebrar a matança de 91 pessoas, entre elas 28 britânicos, num hotel de Jerusalém. Recordarom com carinho nos dias em que plantavam bombas que voaram em pedaços a civis em ónibus, mercados e cafés, introduzindo essas tácticas no tango de Meio Oriente. Evocaram quando rodearam a todos os moradores e uma aldeia -251 homens, mulheres e meninos- e os mataram a balaços. Inclusive celebraram a captura de soldados do bando inimigo aos que mantiveram em cativeiro durante semanas até que finalmente os aforcam.
E esta organização terrorista, foi castigada com um bombardeio da força aérea israelense? Para nada.
O grupo chamava-se o Irgún, e estava formado por nacionalistas judeus cujos filhos agora fazem parte da elite dirigente israelense. Durante as décadas de 1930 e 1940 plantou bombas por toda Palestina, tomando como alvos tanto a soldados britânicos como a civis palestinos. Tinha dois objectivos: expulsar aos imperialistas britânicos e abeirar mediante o terror à população palestina a aceitar incondicionalmente a criação de Israel.
É duvidoso que Ehmud Olmert, o primeiro ministro israelense que declarou a "guerra ao terror", chegasse a condenar ao Irgún. Passou três anos de sua vida em seus campos de adestramento, enquanto seus pais contrabandeavam armas para a organização. Tzipi Living, a ministra do Exterior a quem muitos consideram a próxima primeira ministra, é filha do director de operações militares do Irgún e organizador de matanças de civis.
Enquanto a guerra em Líbano passava ao primeiro plano de atenção na semana passada, os combatentes do Irgún sobreviventes descubrírom uma placa que marca o 60 aniversário de sua decisão de voar o hotel Rei David. Se Olmert, Livni e o público israelense pudessem recordar sua própria história familiar de "terrorismo", seriam capazes de ver o inúteis que são suas actuais campanhas militares contra os "terroristas" em Gaza e Líbano.
Quando o povo israelense carecia de um Estado, uma secção de sua população tomou as armas e lutou pelo ter... com freqüência com tácticas terríveis. Alguns inclusive tiveram sonhos dementes de limpeza étnica. O povo palestino está exactamente na mesma situação hoje, alimentada e financiada por Hamas e Hezbolhah.
Faz três verãos conheci, num frio e austero departamento de Gaza, a um grupo de jovens que se adestravam para ser atacantes suicidas. Enquanto falava com esses jovens cheios de raiva, estremecia-me o conhecidas que me soavam suas palavras. Nesse tempo lia A revolta, as memórias de Menajem Begin, o comandante do Irgún que chegou a ser Primeiro ministro de Israel pelo partido Likud. "O sangue deu vida a nossa revolta", escreveu. "Só quando estás preparado a te enfrentar ao mesmo Zeus para levar o fogo à humanidade poderás atingir a revolução do fogo." Os supostos assassinos suicidas diziam: "Criaremos Palestina a sangue e fogo. Os judeus só entendem o sangue e o fogo".
Olmert e Livni precisam perguntar-se como teriam respondido seus pais, decididos combatentes terroristas, ao bombardeio aéreo que Israel inflige nesta semana. Os membros do Irgún não deixaram de voar civis árabes em pedaços porque os aplanaram barcos de guerra britânicos e helicópteros Apache: detiveram-se porque o mundo deu-lhes um anaco do que queriam. Não tudo: eles queriam toda a terra que se estende entre o rio Jordám e o Mediterráneo, mas transigírom para ter um Estado próprio dentro de fronteiras mais limitadas.
Hamas e Hezbolhah não podem ser silenciados por meios militares. Pode que neste ano lhes destruam seu arsenal de foguetes, mas a renovada ferocidade de seu ódio garantirá que o reconstruam no ano próximo. Não ficarão observando como seus filhos são reduzidos a níveis de desnutriçom próximos aos de África, como ocorreu em Gaza, ou enquanto a taxa de morte é de 10 a um em sua contra, como em Líbano.
A única forma de silenciá-los alguma vez será dar-lhes algo do que querem, não tudo. Os dois lembraram que se dá uma solução real de dois estados ao longo da fronteira de 1967, não voltarão a lançar um disparo para Israel. Querem toda a terra, limpada etnicamente de seus inimigos, tal como os pais de Olmert e Livni queriam faz 60 anos... mas conformar-se-ão com menos.
No entanto a governação israelense não elegeu esta rota de decrescer o conflito e negociar com o fim de ter dois estados para dois povos no estreito cacho de terra que estão condenados a compartilhar. Elegeu a guerra.
E por isso, de aqui a 60 anos, combatentes libaneses e palestinos reunir-se-ão com orgulho na cidade de Gaza e em Beirut para descobrir placas em honra dos "terroristas" que mataram e morreram combatendo a Israel nesta semana. A este ritmo, enquanto Meio Oriente afasta-se ainda mais da única solução sensata, a ironia histórica voltar-se-á a perder.
Resistir
O genocídio do povo palestino, e agora também do libanês, continua. O comportamento do estado sionista, proxy do regime bushista, é mais atroz do que o da Alemanha hitleriana. Isto está a ser cuidadosamente mascarado pelos media 'de referência' quando apresentam tais massacres como se fossem uma luta entre iguais. Não são. Trata-se de dizimar populações civis indefesas, homens, mulheres e crianças, e destruir infra-estruturas civis como centrais eléctricas, pontes e edifícios governamentais.
O estado racista judeu usa ainda a arma da fome contra o milhão e meio de palestinos que vivem na Faixa de Gaza, agora às escuras, sem electricidade, sem água e isolados do mundo.
A entidade sionista esmera-se em ultrapassar em barbárie todos os seus feitos anteriores. Revela-se agora a utilização de novas armas não convencionais na Faixa de Gaza. O Dr. Al Saqqa, do hospital central, revelou que "estas munições penetram no corpo e fragmentam, provocando combustão interna que conduz a queimaduras de quarto grau, expondo o osso e afectando o tecido e a pele". E acrescentou: "Estes tecidos morrem, não sobrevivem, o que obriga a executar amputações de braços ou pernas, e há fragmentos que penetram o corpo e não aparecem no raio X. Ao entrar no corpo eles chispam como uma combustão de arma de fogo, mas não quimicamente. Eles parecem radioactivos.
Resistir
O genocídio do povo palestino, e agora também do libanês, continua. O comportamento do estado sionista, proxy do regime bushista, é mais atroz do que o da Alemanha hitleriana. Isto está a ser cuidadosamente mascarado pelos media 'de referência' quando apresentam tais massacres como se fossem uma luta entre iguais. Não são. Trata-se de dizimar populações civis indefesas, homens, mulheres e crianças, e destruir infra-estruturas civis como centrais eléctricas, pontes e edifícios governamentais.
O estado racista judeu usa ainda a arma da fome contra o milhão e meio de palestinos que vivem na Faixa de Gaza, agora às escuras, sem electricidade, sem água e isolados do mundo.
A entidade sionista esmera-se em ultrapassar em barbárie todos os seus feitos anteriores. Revela-se agora a utilização de novas armas não convencionais na Faixa de Gaza. O Dr. Al Saqqa, do hospital central, revelou que "estas munições penetram no corpo e fragmentam, provocando combustão interna que conduz a queimaduras de quarto grau, expondo o osso e afectando o tecido e a pele". E acrescentou: "Estes tecidos morrem, não sobrevivem, o que obriga a executar amputações de braços ou pernas, e há fragmentos que penetram o corpo e não aparecem no raio X. Ao entrar no corpo eles chispam como uma combustão de arma de fogo, mas não quimicamente. Eles parecem radioactivos.
Israel deve recordar sua origem "terrorista"
JOHANN HARI
Os pais de Tzipi Livni, ministra do Exterior israelense, e do Primeiro ministro, Ehud Olmert pertenceram a um grupo terrorista chamado Irgún que operou nas décadas dos 30 e 40
Enquanto as forças israelenses davam morte a mais de 300 civis e expulsavam de seu lar a meio milhão de pessoas em aras de erradicar o "terrorismo", uma pequena e amarga ironia histórica passava inadvertida na semana passada em Israel.
Os veteranos de outra organização "terrorista" reuniram-se em frente aos narizes das forças israelenses, para celebrar a matança de 91 pessoas, entre elas 28 britânicos, num hotel de Jerusalém. Recordarom com carinho nos dias em que plantavam bombas que voaram em pedaços a civis em ónibus, mercados e cafés, introduzindo essas tácticas no tango de Meio Oriente. Evocaram quando rodearam a todos os moradores e uma aldeia -251 homens, mulheres e meninos- e os mataram a balaços. Inclusive celebraram a captura de soldados do bando inimigo aos que mantiveram em cativeiro durante semanas até que finalmente os aforcam.
E esta organização terrorista, foi castigada com um bombardeio da força aérea israelense? Para nada.
O grupo chamava-se o Irgún, e estava formado por nacionalistas judeus cujos filhos agora fazem parte da elite dirigente israelense. Durante as décadas de 1930 e 1940 plantou bombas por toda Palestina, tomando como alvos tanto a soldados britânicos como a civis palestinos. Tinha dois objectivos: expulsar aos imperialistas britânicos e abeirar mediante o terror à população palestina a aceitar incondicionalmente a criação de Israel.
É duvidoso que Ehmud Olmert, o primeiro ministro israelense que declarou a "guerra ao terror", chegasse a condenar ao Irgún. Passou três anos de sua vida em seus campos de adestramento, enquanto seus pais contrabandeavam armas para a organização. Tzipi Living, a ministra do Exterior a quem muitos consideram a próxima primeira ministra, é filha do director de operações militares do Irgún e organizador de matanças de civis.
Enquanto a guerra em Líbano passava ao primeiro plano de atenção na semana passada, os combatentes do Irgún sobreviventes descubrírom uma placa que marca o 60 aniversário de sua decisão de voar o hotel Rei David. Se Olmert, Livni e o público israelense pudessem recordar sua própria história familiar de "terrorismo", seriam capazes de ver o inúteis que são suas actuais campanhas militares contra os "terroristas" em Gaza e Líbano.
Quando o povo israelense carecia de um Estado, uma secção de sua população tomou as armas e lutou pelo ter... com freqüência com tácticas terríveis. Alguns inclusive tiveram sonhos dementes de limpeza étnica. O povo palestino está exactamente na mesma situação hoje, alimentada e financiada por Hamas e Hezbolhah.
Faz três verãos conheci, num frio e austero departamento de Gaza, a um grupo de jovens que se adestravam para ser atacantes suicidas. Enquanto falava com esses jovens cheios de raiva, estremecia-me o conhecidas que me soavam suas palavras. Nesse tempo lia A revolta, as memórias de Menajem Begin, o comandante do Irgún que chegou a ser Primeiro ministro de Israel pelo partido Likud. "O sangue deu vida a nossa revolta", escreveu. "Só quando estás preparado a te enfrentar ao mesmo Zeus para levar o fogo à humanidade poderás atingir a revolução do fogo." Os supostos assassinos suicidas diziam: "Criaremos Palestina a sangue e fogo. Os judeus só entendem o sangue e o fogo".
Olmert e Livni precisam perguntar-se como teriam respondido seus pais, decididos combatentes terroristas, ao bombardeio aéreo que Israel inflige nesta semana. Os membros do Irgún não deixaram de voar civis árabes em pedaços porque os aplanaram barcos de guerra britânicos e helicópteros Apache: detiveram-se porque o mundo deu-lhes um anaco do que queriam. Não tudo: eles queriam toda a terra que se estende entre o rio Jordám e o Mediterráneo, mas transigírom para ter um Estado próprio dentro de fronteiras mais limitadas.
Hamas e Hezbolhah não podem ser silenciados por meios militares. Pode que neste ano lhes destruam seu arsenal de foguetes, mas a renovada ferocidade de seu ódio garantirá que o reconstruam no ano próximo. Não ficarão observando como seus filhos são reduzidos a níveis de desnutriçom próximos aos de África, como ocorreu em Gaza, ou enquanto a taxa de morte é de 10 a um em sua contra, como em Líbano.
A única forma de silenciá-los alguma vez será dar-lhes algo do que querem, não tudo. Os dois lembraram que se dá uma solução real de dois estados ao longo da fronteira de 1967, não voltarão a lançar um disparo para Israel. Querem toda a terra, limpada etnicamente de seus inimigos, tal como os pais de Olmert e Livni queriam faz 60 anos... mas conformar-se-ão com menos.
No entanto a governação israelense não elegeu esta rota de decrescer o conflito e negociar com o fim de ter dois estados para dois povos no estreito cacho de terra que estão condenados a compartilhar. Elegeu a guerra.
E por isso, de aqui a 60 anos, combatentes libaneses e palestinos reunir-se-ão com orgulho na cidade de Gaza e em Beirut para descobrir placas em honra dos "terroristas" que mataram e morreram combatendo a Israel nesta semana. A este ritmo, enquanto Meio Oriente afasta-se ainda mais da única solução sensata, a ironia histórica voltar-se-á a perder.
* Dramaturgo e jornalista galardoado britânico
por Gaston Pardo
Começou a difusom dos expedientes secretos da secretaria de Fazenda que mostram os contratos que outorgou a governação federal à empresa denominada Hildebrando S.A., presidida por Diego Hildebrando Zavala Gómez do Campo, cunhado de Felipe Calderón, candidato do PAN formação da direita democrata cristã- à presidência da república.
Os contratos outorgados surtírom efeitos antes e após que o candidato presidencial fora secretário de Energia no gabinete presidencial de Vicente Fox, acusado ele mesmo de corrupto. Encabeçar este ministério significa exercer o controle da matéria energética, que influi sobre a estratégia da empresa nacional Petróleos Mexicanos.
Diego Hildebrando reconheceu ante a televisão e a rádio mexicanas que quando sua cunhado Felipe Calderón era membro do gabinete de Vicente Fox, lhe outorgaram contratos de diversa quantia. Este novo escândalo no que se vê envolvido o candidato da democracia cristã que preside José María Aznar, determina a opção final dos eleitores mexicanos para levar ao poder a Andrés Manuel López Obrador e frustrar o empenho presidencial de Felipe Calderón a quem por verdadeiro se lhe conhece sob o anagrama de Fecal.
Mas o assunto não só ameaça com quebrantar a aspiração presidencial de Calderón, senão que se assegura o triunfo do Partido da Revolução Democrática à hora de ganhar na eleição presidencial do 2 de julho próximo senadurías e diputacions, que respaldariam a política contrária ao neoliberalismo que foi anunciada por Andrés Manuel López Obrador.
Uma pequena empresa familiar constituída em 1986 pelos irmãos Zavala Gómez do Campo, integrada pela esposa de Felipe, Margarita, e seus irmãos, dedicada a serviços electrónicos (Hildebrando), converteu-se nos seis anos decorridos numa das companhias produtoras de software mais poderosas de México, com rendimentos a mais de mil milhões de pesos ao ano (quase 100 milhões de dólares).
As empresas e instituições federais que por influência de Felipe contrataram seus serviços incluem a Pemex, Comissão federal de electricidade, Luz e força do centro, Instituto nacional de migraçom (encarregada de aplicar a política fascista de Fox aos estrangeiros), a secretaria de Desenvolvimento social (ninho de fascistas) e o Instituto para a protecção da poupança bancária, onde os favoritos do regime conseguem deslocar sua dívida para que a pague o povo de México. Calderón disse que se deslinda do que tenha feito a empresa. Mas não pode se deslindar porque assim o declare. Seu compromisso com os enormes ganhos obtidos por Hildebrando em poucos anos só se explica com o tráfico de influências com que a beneficiou o candidato presidencial do PAN.
O Partido da Revolução Democrática, de centro esquerda, que é a formação que postula a López Obrador à presidência, acusou ao candidato panista de obter rendimentos ilegais, cuja base é o nepotismo e o tráfico de influências, por 250 milhões de dólares, benefícios pelos quais nem sequer pagou impostos. A ultrarreaccionaria Teresa Aranda, secretária de Desenvolvimento social admitiu que esse ramo administrativo fez negócios com a empresa dos Zavala.
Felipe Calderón ocupou a secretaria de Energia de setembro de 2003 a maio de 2004 um pequeno período que lhe bastou para cometer um das fraudes mais escandalosos do sexénio e que faz supor que muitos outros servidores públicos do PÃO fizeram outro tanto. A empresa do cunhado não teve que passar pelo processo de licitaçom no qual várias empresas ofertantes de bens e serviços competem por abastecer ao sector público -, pois Felipe se encarregou de que seus cunhados obtiveram, por exemplo de Pemex, uma adjudicaçom directa, sem licitaçom (isto é, sem concorrer com empresas competidoras). Isto significa que o panista contribuiu com suas recomendações à consumação de uma fraude.
Agora é o rancho incómodo
No estado de México, vizinho da capital mexicana, cerca do município de Amecameca, encontra-se um povoado que se denomina Ayapango. É um pequeno povoado tipicamente mexicano, que serviu de palco na filmaçom de muitas fitas. Seus moradores mal são mais de 5 mil dedicados aos labores agrícolas e a elaboração de vários tipos de queijo.
Ali está o rancho San José, propriedade de Diego Heriberto Zavala Pérez e de sua esposa Mercedes Gómez do Campo, pais de Margarita Zavala, esposa de Felipillo. Felipe Calderón deu um tratamento especial a este rancho, cujos empregados têm ordens de disparar contra os jornalistas que se acercam a seus marcos. Este tratamento consistiu no despliegue de influências ilimitadas ante a governação estatal em favor do rancho, para pô-lo a salvo da mirada alheia.
Na subprocuraduría de justiça de Tlalnepantla, estado de México, está instaurada uma denúncia por tráfico de influências contra Felipe o corrupto por ter recebido benefícios irregulares, em favor do rancho de seus sogros, da governação priista do estado de México. no entanto, ainda não se fazem valer as suspeitas de que nesse rancho algo irregular passa.
O fiscal de Tlalnepantla foi também o encarregado da investigação do tráfico de drogas que tem lugar no aeroporto de Atizapan, um município mexiquense vizinho de Amecameca, também baluarte panista. Atizapan é um património político outorgado ao PAN pelo sistema político mexicano para que suas elites se beneficiem do tráfico de estupefacientes.
No rancho dos sogros do candidato da direita há algo oculto. Sem dúvida. Só assim se explica que os empregados tenham faculdades especiais para assassinar jornalistas se estes chegassem a se acercar ao marco. o escândalo que provocarão as suspeitas sobre esta finca arrematarão o empenho presidencial de Calderón
Em fim, a cobiça ilimitada está na base dos esforços da direita por manter sob o blindagem político as operações irregulares e a megacorrupçom, gestadas em torno da fraude financeira conhecido como Fobaproa-Ipab cujo valor é de 12 mil milhões de dólares, e as operações ilegais realizadas em Pemex.
O capítulo espanhol
Vários directores da empresa Hildebrando S.A. tem sócios espanhóis vinculados ao de direita Partido Popular, de José María Aznar, que proporcionaram financiamento privado ao PAN, segundo a informação que este partido entregou ao Instituto Federal Eleitoral.
Duas personagens de Hildebrando S.A. fizeram doações de aproximadamente 30 mil dólares à campanha presidencial de Calderón. Eles são Javier Pastrana Thamez e José Luis Neri Becerril. Ambos estão vinculados com o espanhol Joaquín Moya-Angeler Cabrera, quem ocupou um cargo directivo na multinacional IMB de 1977 a 1990 e ocupou outro um assento entre os altos cargos de Hildebrando.
Moya-Angeler Cabrera é um dos grandes empresários mexicanos com os que se reuniu o presidente Vicente Fox em sua visita a Espanha o 16 de maio de 2002, para os convidar a investir em México em negócios turísticos.
De acordo com informação proporcionada por Meta4, a empresa espanhola de Moya, a governação mexicana adquiriu da empresa espanhola sistemas para a "segurança social" de México destinados a 90 mil empregados cujo centros de trabalho não identifica. Meta4 está vinculada com a controvertida assinatura de consultoria McKinsey, que é manejada em Espanha por Juan Buracos, amigo desde a infância de José María Aznar.
Nos escritórios neoyorkinas de Meta4 trabalha José María Aznar Botella, filho do ex presidente da governação espanhola. A equipa formada em Espanha por Aznar e Moya foi fundamental para que a Fundação para a Análise dos Estudos Sociais (FAES) se difundisse em países da América Latina; FAES é a plataforma desde a qual Aznar lançou sua estratégia política no foro denominado A força das ideias e o futuro de América Latina, que teve lugar na sede nacional do PAN na cidade de México o 21 de fevereiro último.
Ali Aznar disse: "Estou aqui também para dizer que espero, desejo, que Felipe Calderón seja o novo presidente de México pelo bem de todos os mexicanos", o que causou que o Instituto Federal eleitoral aplicasse ao PAN uma pequena multa
Resistir
Nas eleições de 2 de Julho a direita mexicana seguiu as lições de Bush, que venceu as suas eleições a custa de fraudes, manipulaçoes de listas eleitorais, algoritmos informáticos concebidos ad hoc e juízes coniventes nos tribunais. Além disso, aproveitou a sua própria experiência histórica, como a das eleições fraudadas de 1988.
A última contagem (15h10 do dia 6) dava uma vantagem de 0,57% para o candidato reaccionário: Calderón dispunha de 35,88% dos votos e Lopez Obrador 35,31%. Não se sabe se este cômputo inclui os 3 milhões de votos que misteriosamente haviam sido postos de parte pelo Instituto Federal Eleitoral (IFE, já chamado Instituto da Fraude Eleitoral). Até a organização norte-americana Global Exchange considerou que o IFE chegou "debilitado e sem credibilidade" às eleições de 2 de Julho.
A batalha agora prossegue fora das urnas. Não será fácil fazer respeitar a vontade popular.
<< 1 ... 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 ... 118 >>