11-11-2012

  14:00:35, por Corral   , 2957 palavras  
Categorias: Ensaio

CANTA O MERLO: Social-democracia - Notas sobre um percurso desonroso*

Social-democracia - Notas sobre um percurso desonroso*

Albano Nunes
http://www.odiario.info

Ao procurar responder à pergunta «o que é a social-democracia hoje?» há uma questão prévia de lucidez e pura higiene mental: rejeitar liminarmente a caracterização desta corrente política como força «de esquerda» e, do mesmo passo, rejeitar uma «unidade de esquerda» que, em nome de um pretenso combate a uma direita «ideológica» e «ultraliberal», apenas serviria para atrasar a unidade necessária e iludir questões de fundo da luta de classes.

Faz ainda algum sentido falar em «social-democracia»?
Se sim, o que é a «social-democracia» hoje?
Como caracterizá-la de um ponto de vista de classe?
Que lugar ocupa no xadrez político internacional?
Como se posiciona em relação aos grandes problemas do nosso tempo?
No quadro da política de alianças da classe operária como encarar a «social-democracia»?
Estas são questões a que um partido revolucionário tem de dar resposta para determinar com rigor a sua posição no combate ideológico e também eventuais convergências e alianças, por mais limitadas e conjunturais que possam ser. Resposta que é tanto mais necessária quando o mundo está confrontado com a ameaça de uma regressão de dimensão civilizacional em que a social-democracia está profundamente comprometida e se impõe unir na resistência e na luta todas as forças que, pela sua situação social e prática política, se integram de facto na ampla frente anti-monopolista e anti-imperialista que, só ela, poderá inverter o rumo destruidor que o capitalismo está a impor à Humanidade.
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A questão da «social-democracia» é uma questão actual e em certo sentido crucial. Os partidos socialistas ? social-democratas ? trabalhistas, não obstante a sua reconhecida evolução direitista, continuam a reclamar-se de «esquerda» e a dispor de apreciável expressão eleitoral e real influência em importantes segmentos da classe operária e camadas populares. A luta dos comunistas pela unidade da classe operária e pela hegemonia politica e ideológica da classe operária na luta contra o grande capital, encontra pela frente esta realidade na generalidade dos países capitalistas desenvolvidos, nomeadamente da Europa onde a social-democracia nasceu e mais fortemente se enraizou, mas também na América Latina, África e Ásia. O combate à ideologia da colaboração de classes, ao divisionismo e ao anti-comunismo, perdura como uma exigência central do nosso tempo.
Por outro lado a social-democracia, que surgiu como corrente reformista e revisionista no seio do movimento operário e se desenvolveu como força anti-revolucionária, hostil à Revolução de Outubro e aos países socialistas, transformou-se em força abertamente contra-revolucionária, em componente fundamental do sistema de exploração capitalista e pilar do imperialismo. O «bloco central» («centro-direita» e «centro-esquerda»), a «bipolarização», a «alternância» (do «ora agora governo eu, governas tu, governas tu mais eu»), espelham bem esta realidade. A cavalgada da social-democracia para a direita neoliberal (que mais que «rendição» foi opção consciente e deliberada) aproximou-a, confundiu-a e em certos casos fundiu-a com a própria direita burguesa, de que se tornou uma simples variante. Os entendimentos de incidência governamental ou parlamentar, e em qualquer caso as convergências e coincidências em todas as questões fundamentais ? como no caso da integração capitalista europeia, da NATO e sua estratégia agressiva planetária, das políticas de apoio ao capital monopolista contra os trabalhadores ? tornaram-se uma banalidade. Os acordos são formais e informais, selados à luz do dia em nome do «interesse nacional» ou em (nem sempre) discretas comezainas de troca de favores. O que não dispensa o habitual recurso e manipulação do binómio «esquerda/direita» sempre que tal sirva para enganar a opinião pública e manter sob a sua influência massas descontentes, sobretudo em períodos eleitorais.
O caso porventura mais evidente de «partido único» bicéfalo é o norte-americano com a dupla Partido Republicano/Partido Democrático, este último erigido, com Clinton, em exemplo da família social-democrata, mesmo não sendo membro da Internacional Socialista. Mas a tendência é geral como, nomeadamente, acontece na Grã-Bretanha, na Alemanha, na Espanha, na Grécia (1) ou Portugal, e procura-se impô-la e institucionalizá-la com leis que marginalizem os chamados «pequenos partidos» e facilitem a bipolarização, num jogo perverso que visa confundir «alternância» no governo com «alternativa» política, e assim fechar a porta a alternativas verdadeiras.
A verdade é que, no governo ou na «oposição», a social-democracia se tornou parte integrante do sistema de poder capitalista, uma força que, como sublinhou a Resolução Política do XVIII Congresso do PCP, está hoje «estruturalmente comprometida» com os interesses do grande capital. É desta realidade que o movimento comunista e revolucionário tem de partir para concretizar a política de alianças da classe operária.
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Sem qualquer pretensão de fazer aqui a história da social-democracia, é indispensável assinalar alguns momentos marcantes da sua evolução: de corrente do movimento operário (assim nasceu) a instrumento da grande burguesia; de produto da influência da ideologia burguesa no mundo do trabalho a simples variante do pensamento da classe dominante; de defensora da liquidação («pacífica» e «democrática», claro) do capitalismo e propagandista de um socialismo «democrático» e de «rosto humano», a defensora do capitalismo («humanizado», com «consciência social» e «inclusivo», naturalmente) e do imperialismo, com tudo quanto tal significa de reaccionário e criminoso.
Falamos da social-democracia, claro está, em termos gerais, globais. Falamos da posição política e ideológica adoptada e posta em prática pelos seus chefes e ideólogos. É grande a diversidade dos partidos que a compõem. As condições de lugar e tempo talham em grande medida o perfil dos partidos socialistas ? social-democratas ? trabalhistas. A social-democracia sempre teve rostos diferentes na Europa Ocidental (há muito hegemonizada pelo SPD alemão e pelo Partido Trabalhista britânico), ou na América Latina, onde, conforme as circunstâncias, tanto adquiriu tonalidades «revolucionárias» de fachada nacionalista, como constituiu instrumento decisivo para servir o imperialismo ianque e derrotar o desenvolvimento de processos democráticos, anti-imperialistas e revolucionários.
Um dos «segredos» da social-democracia reside nas suas características camaleónicas, no seu ecletismo, na sua composição inter-classista, na sua heterogeneidade, na existência no seu interior de diferentes alas e correntes, na capacidade para, segundo as circunstâncias e necessidades, ser um pouco de tudo e o seu contrário. Aquilo que para um partido comunista é mortal (correntes de opinião cristalizadas, grupos, fracções, polémicas públicas) para a social-democracia é um modo natural de ser, indispensável para alimentar a ideia de que a alternativa às políticas de direita se encontra dentro dos próprios partidos socialistas ? social-democratas ? trabalhistas, mesmo quando praticam uma política claramente de direita e o seu programa é abertamente capitalista. É essa a missão de todos os Alegres deste mundo.
Em qualquer caso a social-democracia não existe nem age no vácuo da luta de classes. Posiciona-se desde sempre, desde o histórico corte revisionista simbolizado por Bernstein (2) («o movimento é tudo, o objectivo final não é nada»), do lado da adaptação, consolidação e reprodução do capitalismo e não hesitou diante dos maiores crimes para cortar o passo a transformações sociais profundas, como aconteceu com a traição da revolução alemã de Novembro de 1918 e a abertura do caminho ao nazismo pela política conciliadora dos dirigentes social-democratas da República de Weimar. O cruel assassinato de Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht fica a assinalar uma das páginas mais negras do reformismo contra-revolucionário social-democrata.
Mas o posicionamento prático da social-democracia foi também influenciado pela luta popular de massas, pela pressão das suas bases operárias e pela acção independente dos comunistas. Assim foram possíveis, por exemplo, os grandes êxitos das Frentes Populares, como nos casos da Espanha e da França. Assim foram possíveis, com a projecção poderosa das realizações da URSS e dos países socialistas, os avanços do chamado «Estado social», que nos países nórdicos chegaram a cobrir-se abusivamente com o epíteto de «socialismo nórdico». Foi a acção revolucionária da classe operária e das massas trabalhadoras, antes e depois do 25 de Abril, que empurrou Mário Soares e o PS, entretanto fundado na República Federal Alemã, para posições e convergências à esquerda, que, como rapidamente se veio a comprovar, contrariavam a sua natureza liberal-burguesa.
Porém, sem o envolvimento das massas e o empurrão das suas bases atraídas à unidade da acção com os comunistas, tirando raras e honrosas excepções configuradas por percursos de luta peculiares (como o velho Partido Socialista Italiano de Pietro Nenni, ou o Partido Socialista do Chile de Salvador Allende), a opção das cúpulas social-democratas foi invariavelmente por alianças com os partidos da direita e da reacção para impedir qualquer avanço revolucionário e preservar o sistema capitalista em qualquer das suas variantes, keynesiana, liberal ou mesmo fascista, neste caso até ao momento em que os próprios partidos social democratas se tornaram também vítimas da perseguição e ilegalização, que, numa primeira fase, se direccionara fundamentalmente contra os comunistas.
No que respeita à experiência portuguesa é oportuno recordar ? sem ir aos tempos da auto-dissolução do velho e desacreditado Partido Socialista e da colaboração de um seu chefe, Ramada Curto, com Salazar na elaboração da Carta do Trabalho fascista e a posição da direcção do PS português. Passado o curto período de colagem à Revolução, Mário Soares rapidamente se transformou em bóia de salvação do grande capital e pólo aglutinador de todas as forças contra-revolucionárias, e a política de alianças do PS, com excepções localizadas e pontuais, fez-se sempre à direita (3). A assinatura do pacto de agressão pelo PS, PSD e CDS com a troika estrangeira é o corolário lógico da enraizada posição de classe de um partido que, depois de ter «metido o socialismo na gaveta», se tornou uma força política profundamente identificada com os interesses do grande capital e do imperialismo estrangeiro.
Claro que a capacidade, cada vez mais questionada, de haver forças que, como o PS, conseguem ano após ano recuperar o descontentamento de largos sectores da população não vai durar sempre. São previsíveis situações de conflito, enfraquecimento e divisão, e o aparecimento de novas forças talhadas pela agudização da luta de classes. São inevitáveis processos de recomposição do quadro político-partidário, impulsionados pelo desenvolvimento da luta de massas, que abram a possibilidade de a arrumação de forças no plano social encontrar correspondência no plano político.
Em qualquer caso não é com este PS e a sua continuada orientação e prática políticas que pensamos ser possível a política patriótica e de esquerda que preconizamos como via para romper com trinta e seis anos de políticas de direita e avançar na solução dos problemas dos trabalhadores, do povo e do país.
Para concretizar a unidade que a situação reclama não basta uma «guinada à esquerda» num corpo apodrecido pelo oportunismo e pela identificação com o poder económico. Nem sequer, como pretendem o BE, em Portugal, ou o «partido da esquerda europeia» («pee») na Europa, a simples apropriação do espaço eleitoral alienado pela correria para a direita das actuais cúpulas social-democratas. Na prática isso representaria fundamentalmente o fortalecimento de uma «ala esquerda» da social-democracia (que é aquilo que na Grécia, o Syriza é) com a missão de ganhar tempo para travar o avanço de forças anti-capitalistas e revolucionárias, e não a emergência de forças realmente comprometidas com a ruptura com o sistema, ainda que influenciadas por maiores ou menores ilusões reformistas. Nem é preciso ir mais longe do que a questão da integração capitalista europeia ? com o «europeísmo de esquerda» do BE, ou a umbilical ligação do «pee» à UE ? para rejeitar a ilusão de que seja por aí que possa ultrapassar-se a alienação eleitoral de amplas massas entretanto objectivamente interessadas em politicas anti-monopolistas e na transformação socialista da sociedade.
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Ao procurar responder à pergunta «o que é a social-democracia hoje?» há uma questão prévia de lucidez e pura higiene mental: rejeitar liminarmente a caracterização desta corrente política como força «de esquerda» e, do mesmo passo, rejeitar uma «unidade de esquerda» que, em nome de um pretenso combate a uma direita «ideológica» e «ultraliberal», apenas serviria para atrasar a unidade necessária e iludir questões de fundo da luta de classes.
É ver, aliás, como por essa Europa fora os partidos socialistas ? social-democratas ? trabalhistas, sem excepção, estão comprometidos até ao tutano com a ofensiva do capital visando arrebatar aos trabalhadores direitos e conquistas alcançadas por muitas décadas de duras lutas e à custa de pesados sacrifícios. E como desenvolvem uma cooperação estruturada e oficial com os partidos da direita ? veja-se o binómio Partido Socialista Europeu/Partido Popular Europeu ? para congeminar estratégias comuns e repartir pastas e postas nas estruturas da UE. E por aí abaixo, ao nível dos diferentes países, é o que se vê.
Para chegar até aqui foi preciso percorrer um longo caminho desde o tempo em que, desmascarados por Lénine e pelos jovens partidos comunistas, os velhos partidos da II Internacional se consideram eles os genuínos intérpretes de Marx e Engels, cuja obra entretanto falsificam e despojam da sua essência revolucionária (4).
Neste processo, há momentos paradigmáticos de que aqui se deixam alguns exemplos: a condenação da Revolução de Outubro; a política de «não intervenção» contra a República espanhola capitaneada por Léon Blum; a recusa à cooperação com os comunistas para fazer frente ao ascenso do nazi-fascismo; a ruptura da unidade democrática anti-fascista depois da Vitória na II Guerra Mundial; a activa participação na construção do edifício imperialista da «guerra fria» com o «socialista» belga Paul-Henry Spaak escolhido para primeiro Secretário-geral da NATO; a política colonialista da SFIO em França profundamente responsável pelas guerras da Indochina e da Argélia (1956); o Congresso de Bad-Godesberg do SPD alemão, que, em 1959, oficializa a sua ruptura com o marxismo e o repúdio da luta de classes; a guinada direitista e anti-comunista ligada com as derrotas do socialismo na URSS e no Leste da Europa e a empenhada participação no salto imperialista da União Europeia de Maastricht; a «terceira via» de Tony Blair, liquidando o que ainda pudesse restar da referência operária e da política social do Partido Trabalhista britânico, e a introdução do Partido Democrático dos EUA no redil social-democrata; a conspiração aberta contra a revolução portuguesa sob o disfarce hipócrita da «Europa connosco»; o percurso emblemático de Javier Solana, de dirigente do PSOE espanhol e do poderoso movimento contra a entrada da Espanha na NATO a Secretário-geral desta aliança agressiva; a brutal ofensiva do Governo do SPD Gerard Schröder, «o amigo dos patrões», contra os salários e direitos dos trabalhadores alemães através da «Agenda 2010» e do «Hartz IV» (5); a activa participação dos respectivos partidos socialistas, PS e PASOK respectivamente, no impiedoso processo de extorsão de que os povos português e grego estão a ser vítimas.
A deriva direitista da social-democracia internacional não é um processo linear. Lá onde os partidos comunistas e o movimento operário e popular eram fortes foram possíveis momentos de convergência e cooperação progressista. Mas a contradição entre social-democratas e comunistas que, simplificadamente, era na altura da cisão do movimento operário «reforma/revolução», tornou-se nos dias de hoje «gestão do capitalismo/revolução» e a ideologia da colaboração de classes típica do reformismo acabou por conduzir a social-democracia a tomar partido aberto pelo capital em geral e pelo grande capital monopolista em particular. E nem mesmo nas diferentes formas de gestão do capitalismo ? como sucede com a «liberal» ou a «keynesiana» ? é já fácil distinguir a social-democracia da direita propriamente dita.
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Este desonroso percurso da social-democracia internacional é afinal consequência lógica do pecado original seu: o desprezo pelas massas, o temor e negação da revolução, a rejeição da conquista do poder pela classe operária como condição necessária para a liquidação do capitalismo e daí a negação revisionista e oportunista do pensamento de Marx, a começar pela rejeição do conceito de «ditadura do proletariado». Pecado que contaminou importantes partidos comunistas, nomeadamente aqueles que nos anos 70 desenvolveram a linha do «eurocomunismo» e que, começando também eles por abandonar o conceito de ditadura do proletariado, de abandono em abandono ? centralismo democrático, papel da classe operária, marxismo-leninismo, internacionalismo proletário ? caíram no mais vulgar parlamentarismo e chegaram mesmo à auto-liquidação, como no dramático caso do Partido Comunista Italiano.
A questão do poder e da sua natureza de classe é a questão central da revolução (6). Abandonando o objectivo da conquista do poder pelos trabalhadores e declarando guerra à Revolução de Outubro, os partidos revisionistas da II Internacional colocaram-se objectivamente do lado da contra-revolução. Na época da passagem do capitalismo ao socialismo e em tempos de aprofundamento da crise do capitalismo e agudização da luta de classes, é compreensível que a opção fundadora da social-democracia tenha conduzido à sua transformação em instrumento do capital e pilar do imperialismo.

Notas

(1) Onde sofreu um golpe muito sério em 6 de Maio com o descalabro eleitoral dos dois partidos do «centrão» responsáveis pela tragédia que se abateu sobre o povo grego: o PASOK e a Nova Democracia que nas anteriores eleições somavam 77,5% tombaram para 32,1%.
(2) Bernstein (1850/1932), destacado teórico da II Internacional, pai do «revisionismo», revisão oportunista das teorias de Marx e Engels. Kautsky, que inicialmente o criticou duramente de um ponto de vista marxista, tornou-se por sua vez expoente do revisionismo, tendo sido combatido por Lénine, nomeadamente em A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky, que se tornou num clássico do marxismo-leninismo. Ver Obras Escolhidas em 6 tomos, t. 4 Edições «Avante!»-Edições Progresso, Lisboa-Moscovo, 1986.
(3) Ver a obra do camarada Álvaro Cunhal, A Verdade e a Mentira sobre a Revolução Portuguesa, A Contra-Revolução Confessa-se, Edições «Avante!», Lisboa,1999
(4) O grande momento de clarificação entre a corrente oportunista e a corrente revolucionária marxista no movimento operário dá-se quando em vésperas da I Guerra Mundial, traindo as próprias orientações e decisões da II Internacional, os deputados da social-democracia alemã votam os créditos de guerra, enquanto na Duma russa os deputados bolcheviques votavam contra e eram deportados para a Sibéria.
(5) Ver em O Militante n.º 308, de Setembro-Outubro de 2010, o artigo «Alemanha, 20 anos de contra-revolução».
(6) Recomenda-se vivamente a leitura e estudo de O Estado e a Revolução, de V. I. Lénine, Edições «Avante!», Lisboa, 2011; e de A Questão do Estado, Questão Central de cada Revolução, de Álvaro Cunhal, 2º de., Edições «Avante!», Lisboa, 2007

*Este artigo foi publicado em ?O Militante? nº 319, Julho/Agosto 2012

10-11-2012

  10:53:45, por Corral   , 1326 palavras  
Categorias: Ensaio

CANTA O MERLO: Siria - Esquadrões da morte promovidos pelos EUA-NATO integram as ?forças da oposição?

Esquadrões da morte promovidos pelos EUA-NATO integram as ?forças da oposição?

Michel Chossudovsky

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Modelado nas operações encobertas dos EUA na América Central, a ?Opção salvadorenha para o Iraque?, iniciada pelo Pentágono em 2004 foi executada sob o comando do embaixador dos EUA no Iraque John Negroponte (2004-2005) em conjunto com Robert Stephen Ford, que em Janeiro de 2011 foi nomeado embaixador dos EUA na Síria, menos de dois meses antes de começar a insurgência armada contra o governo de Bashar Al Assad.
?A opção salvadorenha? é um ?modelo terrorista? de assassinatos em massa por esquadrões da morte patrocinados pelos EUA. Ela foi aplicada primeiramente em El Salvador, no auge da resistência contra a ditadura militar, resultando em cerca de 75 mil mortes.
John Negroponte foi embaixador dos EUA em Honduras de 1981 a 1985. Como embaixador em Tegucigalpa ele desempenhou um papel chave no apoio e supervisão dos mercenários Contra nicaraguenses que estavam baseados em Honduras. Os ataques além fronteiras dos Contra, na Nicarágua, ceifaram cerca de 50 mil vidas civis.
Em 2004, John Negroponte foi nomeado embaixador dos EUA no Iraque, com um mandato muito específico.
A opção salvadorenha para a Síria: O papel central do embaixador estado-unidense Robert S. Ford
O embaixador estado-unidense na Síria (nomeado em Janeiro de 2011), Robert Stephen Ford, fez parte da equipe de Negroponte na Embaixada dos EUA em Bagdad (2004-2005). A ?Opção salvadorenha? para o Iraque estabeleceu as bases para o lançamento da insurgência na Síria, em Março de 2011, a qual começou na fronteira Sul, na cidade de Daraa.
Em relação a acontecimentos recentes, as matanças e atrocidades cometidas que resultaram em mais de 100 mortes incluindo 35 crianças na cidade fronteiriça de Houla, em 27 de Maio, eles foram, com toda a probabilidade, executados sob o que pode ser descrito como uma ?Opção salvadorenha para a Síria?.
O governo russo apelou a uma investigação
?À medida que a informação goteja de Houla, Síria, próxima à cidade de Homs e da fronteira sírio-libanesa, torna-se claro que o governo sírio não foi responsável por bombardear até à morte cerca de 32 crianças e seus pais, como é periodicamente afirmado e negado pelos media ocidentais e mesmo a própria ONU. Parece, ao invés, que havia esquadrões da morte em quarteirões próximos ? acusados por ?activistas? anti-governo como sendo ?bandidos pro regime? ou ?milícias? e pelo governo sírio como trabalho de terroristas Al Qaeda ligados a intrusos estrangeiros?. (Ver Tony Cartalucci, Syrian Government Blamed for Atrocities Committed by US Sponsored Deaths Squads , Global Research, May 28, 2012)
O embaixador Robert S. Ford foi despachado para Damasco no fim de Janeiro de 2011 no momento do movimento de protesto no Egipto. (O autor estava em Damasco em 27/Janeiro/2011 quando o enviado de Washington apresentou as suas credenciais ao governo Al Assad).
No princípio da minha visita à Síria, em Janeiro de 2011, reflecti sobre o significado desta nomeação diplomática e o papel que poderia desempenhar num processo encoberto de desestabilização política. Não previ, contudo, que esta agenda de desestabilização seria implementada dentro de menos de dois meses a seguir à posse de Robert S. Ford como embaixador dos EUA na Síria.
O restabelecimento de um embaixador dos EUA em Damasco, mas mais especificamente a escolha de Robert S. Ford como embaixador dos EUA, dá azo a um relacionamento directo com o início da insurgência integrada por esquadrões da morte em meados de Março de 2011, contra o governo de Bashar al Assad.
Robert S. Ford era o homem para este trabalho. Como ?Número Dois? na embaixada do EUA em Bagdad (2004-2005) sob o comando do embaixador John D. Negroponte, ele desempenhou um papel chave na implementação da ?Opção salvadorenha no Iraque? do Pentágono. Esta consistiu em apoiar esquadrões da morte e forças paramilitares iraquianas modeladas na experiência da América Central.
Desde a sua chegada a Damasco no fim de Janeiro de 2011 até ser chamado de volta a Washington em Outubro de 2011, o embaixador Robert S. Ford desempenhou um papel central em preparar o terreno dentro da Síria bem como em estabelecer contactos grupos da oposição. A embaixada do EUA foi a seguir encerrada em Fevereiro. Ford também desempenhou um papel no recrutamento de mercenários Mujahideen junto a países árabes vizinhos e na sua integração dentro das ?forças de oposição? sírias. Desde a sua partida de Damasco, Ford continua a supervisionar o projecto Síria fora do Departamento de Estado dos EUA.
?Como embaixador dos Estados Unidos junto à Síria ? uma posição que o secretário de Estado e o presidente estão a manter-me ? trabalharei com colegas em Washington para apoiar uma transição pacífica para o povo sírio. Nós e nossos parceiros internacionais esperamos ver uma transição que estenda a mão e inclua todas as comunidades da Síria e que dê a todos os sírios esperança de um futuro melhor. O meu ano na Síria diz-me que uma tal transição é possível, mas não quando um lado inicia constantemente ataques contra pessoas que se abrigam nos seus lares?. ( US Embassy in Syria Facebook page )
?Transição pacífica para o povo sírio?? O embaixador Robert S. Ford não é um diplomata vulgar. Ele foi o representante dos EUA em Janeiro de 2004 na cidade xiita de Najaf, no Iraque. Najaf era a fortaleza do exército Mahdi. Poucos meses depois ele foi nomeado o ?Homem Número Dois? (Ministro Conselheiro para Assuntos Políticos) na embaixada dos EUA em Bagdad no princípio do mandato de John Negroponte como embaixador no Iraque (Junho 2004 ? Abril 2005). Ford a seguir serviu sob o sucessor de Negroponte, Zalmay Khalilzad, antes da sua nomeação como embaixador na Argélia em 2006.
O mandato de Robert S. Ford como ?Número Dois? sob o comando do embaixador Negroponte era coordenar fora da embaixada o apoio encoberto a esquadrões da morte e grupos paramilitares no Iraque tendo em vista fomentar a violência sectária e enfraquecer o movimento de resistência.
John Negroponte e Robert S. Ford, na embaixada dos EUA, trabalhavam em estreita colaboração no projecto do Pentágono. Dois outros responsáveis da embaixada, nomeadamente Henry Ensher (vice de Ford) e um responsável mais jovem na secção política, Jeffrey Beals, desempenharam um papel importante na equipe ?conversando com um conjunto de iraquianos, incluindo extremistas?. (Ver The New Yorker, March 26, 2007). Outro actor individual chave na equipe de Negroponte era James Franklin Jeffrey, embaixador dos EUA na Albânia (2002-2004).
Vale a pena notar que o recém nomeado chefe da CIA nomeado por Obama, general David Petraeus, desempenhou um papel chave na organização do apoio encoberto a forças rebeldes da Síria, na infiltração da inteligência síria e nas forças armadas.
Petraeus desempenhou um papel chave na Opção salvadorenha do Iraque. Ele dirigiu o programa ?Contra-insurgência? do Comando Multinacional de Segurança de Transição em Bagdad em 2004 em coordenação com John Negroponte e Robert S. Ford na Embaixada dos EUA.
A CIA está a supervisionar operações encobertas na Síria. Em meados de Março, o general David Petraeus encontrou-se com seu confrades da inteligência em Ancara, para discutir apoio turco ao Free Syrian Army (FSA) ( CIA Chief Discusses Syria, Iraq With Turkish PM , RTT News, March 14, 2012)
David Petraeus, o chefe da CIA, efectuou reuniões com altos oficiais turcos ontem e em 12 de Março, soube o Hürriyet Daily News. Petraeus encontrou-se ontem com o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoðan e seu confrade turco, Hakan Fidan, chefe da Organização de Inteligência Nacional (MIT), no dia anterior.
Um responsável da Embaixada dos EUA disse que responsáveis turcos e americanos discutiram ?muito frutuosamente as mais prementes questões da cooperação na região para o próximos meses?. Responsáveis turcos disseram que Erdoðan e Petraeus trocaram pontos de vista sobre a crise síria e o combate anti-terror. ( CIA chief visits Turkey to discuss Syria and counter-terrorism | Atlantic Council , March 14, 2012)
28/Maio/2012
Ver também:
Dr Bashar Al-Ja?afari?s Press Conference at the UN (resposta do embaixador da Síria à declaração da ONU acerca do massacre de Hula)
Phony ?Houla Massacre?: How Media Manipulates Public Opinion For Regime Change in Syria
SYRIA: Guardian?s Houla Massacre Propaganda Stunt Uses ?Little Kid?. Another case of reckless journalism aimed at selling war
O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=31096
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

09-11-2012

  09:44:44, por Corral   , 3573 palavras  
Categorias: Ensaio

CANTA O MERLO: Assimilação ou Rotura ? A posição dos Partidos Comunistas frente à crise capitalista

Assimilação ou Rotura
? A posição dos Partidos Comunistas frente à crise capitalista

por Aleka Papariga [*]

http://www.resistir.info/grecia/papariga_01out12_p.html

São hoje bem conhecidas as trágicas consequências da crise económica na vida da classe operária e dos trabalhadores visto que a crise já dura há mais de cinco anos enquanto, em todos os países afectados, todas as medidas bárbaras seguem na mesma direcção e todas elas têm o mesmo objectivo: reduzir o preço da mão-de-obra a um nível extremamente baixo, abrir novas oportunidades de rentabilidade no período da crise, sobretudo após a esperada recuperação que será débil e mais ou menos de curta duração.

Actualmente temos uma experiência ainda mais rica, não só por causa da Grécia mas também dos estados-membros da UE, em especial dos membros da zona do euro, e ainda da crise nos EUA em 2008 e não só. Além disso, temos a experiência bem recente das crises na Rússia, na Argentina e nos chamados tigres asiáticos.

Consideramos que o movimento dos trabalhadores e os partidos comunistas em todos os países devem lutar a fim de que o povo clarifique o carácter da crise e, em simultâneo, seja detida a deterioração da vida das populações, para uma saída em prol do povo.

O facto de a crise, em 2008-2009, se ter manifestado no sistema financeiro, na esfera da circulação do capital, ou o facto de na Grécia a crise estar relacionada com a dívida e os défices não significa de modo algum que temos uma crise de um tipo novo. Desde o início definimos que é uma crise de sobre-acumulação do capital, cujas raízes residem na relação da exploração da força de trabalho pelo capital, i.e., na esfera da produção capitalista. A contracção da produção industrial, tanto nos EUA como na UE, assim como nos países que ainda não entraram no ciclo da crise são peças de uma prova irrefutável. Observamos todas as características que são inerentes ao capitalismo: anarquia, desigualdade no desenvolvimento de sectores e ramos, uma competição feroz que é promovida por meios político-económicos e também pelas armas.

Em todo o mundo capitalista estão a ser tomadas as mesmas medidas e a ser usados os mesmos argumentos, quer a dívida seja maior ou menor, quer o défice esteja inflacionado em maior ou menor extensão, quer os países participem ou não no mecanismo de estabilização com o acordo da UE-BCE-FMI. Além disso, é sintomático que as zonas de pobreza não aparecem apenas nos países capitalistas menos desenvolvidos, nos países que têm uma posição intermédia no sistema imperialista, mas também nos países capitalistas mais poderosos e desenvolvidos.

Consideramos que, devido ao desenvolvimento desigual, a crise explodirá noutros países da zona do euro, já que até mesmo a Alemanha mostra sinais de fadiga e esses sinais também estão a começar a aparecer na China.

A questão do carácter da crise não é meramente uma questão teórica. É claramente uma questão prática porque determina a especialização da linha política dos partidos comunistas em condições de crise.

Portanto, quaisquer peculiaridades na manifestação, na intensidade ou na duração da crise, de país para país, não determinam o carácter da crise nem deverão influenciar a estratégia e as tácticas do partido comunista.

A história provou que, quando os estados capitalistas não conseguem gerir a crise e sobretudo as suas consequências, também recorrem ao uso das armas, ou seja à guerra imperialista, não para venderem armas claro, como alguns pacifistas afirmam, mas porque, na específica conjuntura, o uso das armas é mais eficaz para a redistribuição dos mercados.

A crise e a guerra-paz imperialistas estão inextricavelmente ligadas e é assim que devemos considerá-las. Isto é verdade em especial para nós na Grécia que está situada numa região em ponto de ebulição, uma região que inclui o Médio Oriente e o norte de África.

Além disso, a prolongada crise capitalista está a apresentar uma outra coisa que é muito importante para a estratégia e as tácticas dos partidos comunistas. Mostra que a política de gestão burguesa enfrenta novas dificuldades, que não teve em períodos anteriores, na gestão para a saída da crise, entrando num novo ciclo de produção capitalista alargada, pondo um travão na pobreza absoluta e relativa das massas, fazendo mesmo algumas manobras. Surgiram duas receitas para gerir a crise, embora cada uma delas apareça em várias versões. Na essência, temos que lidar com a gestão burguesa expansiva e restritiva com o objectivo de controlar a dimensão da depreciação do capital e de efectuar a necessária distribuição de prejuízos e do capital acumulado. Estas duas formas de gestão conduzem aos mesmos resultados bárbaros para as populações e para os seus direitos. A disputa sobre uma ou outra forma de gestão, que é particularmente aguda na Europa, não tem nada a ver com a disputa a favor ou contra os interesses das populações, não é uma disputa entre uma linha política conservadora e uma de esquerda progressista, como o Partido Europeu de Esquerda vem afirmando actualmente.

A defesa de um ou do outro tipo de gestão baseia-se nos interesses da burguesia de cada estado membro, das alianças que ele pretende formar no quadro da competição. Os movimentos dos trabalhadores e das populações não podem assumir o partido de um ou do outro rival, será a perda de tudo.

De acordo com a nossa avaliação, o que tem prevalecido até agora é a visão da UE de que a Europa unificada e a zona do euro têm que permanecer intocáveis apesar das diferenças e da competição, enquanto a longo prazo não se exclui a possibilidade de uma separação. Por essa razão, cada governo e os principais sectores do capital estão a preparar a possibilidade de um país poder regressar à sua divisa nacional, depois de escolher o bloco da coligação imperialista com que desejam alinhar.

Os reformistas-oportunistas

Tanto mais que, agora melhor do que nunca, também podemos ver na Grécia que os partidos burgueses, velhos e novos, os reformistas-oportunistas, como a SYRIZA, estão a formular posições estranhas, concentrando-se em alianças, até mesmo uma aliança transatlântica ou procurando alianças com a Rússia, ou a China. Isso tornou-se bem aparente na disputa entre a UE e os EUA que se manifestou durante as eleições nacionais com a ajuda tanto do bloco da direita como do da ?esquerda?. Hoje as contradições inter-imperialistas dizem respeito ao sistema político burguês no seu todo e até ameaçam a unidade de qualquer partido nessa base.

Em conclusão, consideramos que a crise se vai prolongar e aprofundar e que também vai afectar outros países. Mesmo que um país, por exemplo a Grécia, entre numa fase de recuperação, essa recuperação será temporária, débil, com níveis de desemprego incomportáveis que nos transportarão ao final do século XIX. Irromperá um novo ciclo de crise antes de essa recuperação se consolidar. Isto não é válido apenas para a Grécia mas também para outros países. Haverá realinhamentos nas alianças e temos que ter em consideração uma nova vaga de guerras locais, não excluindo a possibilidade de uma guerra imperialista generalizada.

A experiência também confirma a posição que o nosso partido formulou logo aos primeiros sinais da crise, i.é., que a pobreza, a crise económica não conduz automaticamente ao desenvolvimento da luta de classes, da organização, do desenvolvimento da consciência política. Há duas opções possíveis neste caso: ou o movimento recua e é derrotado por um período mais curto ou mais longo ou passa à ofensiva e amadurece o entendimento da necessidade de derrubar o sistema capitalista. Ainda nada está resolvido.

Na Grécia, apesar de terem ocorrido lutas importantes e prolongadas, apesar de o movimento grego ter evoluído para um dos movimentos mais fortes do mundo e não apenas na Europa, vemos que no final todas essas medidas não foram travadas. Claro que o movimento lhes impôs um certo atraso mas, se nada mais mudar imediatamente, todas elas serão aprovadas dentro de pouco tempo. E todos sabemos muito bem que as lutas que não trazem alguns resultados cansam e desmotivam o povo.

O nosso partido considera que as suas deficiências e fraquezas, que não pretende esconder, têm tido algum impacto no atraso do contra-ataque da população e dos trabalhadores, embora não tenham desempenhado um papel decisivo. Assim como não desempenharam um papel decisivo na redução da sua força eleitoral. Isso não significa que não devamos colocar uma ênfase especial no desenvolvimento da competência e da resistência do partido.

Temos enfrentado uma frente unida a nível político e social que, apesar das divergências nas suas fileiras, têm uma posição comum no que se refere ao carácter da saída da crise, nomeadamente a mudança na fórmula para a gestão do sistema. Prevaleceu a política de assimilação e, claro, teve um impacto negativo na orientação da classe trabalhadora e seus aliados. Apesar disso, existe no movimento uma corrente radical, com orientação de classe que nesta fase tem que ultrapassar as consequências das eleições, avançar para a linha da frente e mobilizar forças mais alargadas de trabalhadores e da população.

As lutas provocaram abalos no sistema político burguês da Grécia e inviabilizaram a possibilidade de servir o sistema com a sucessão de governos de um só partido, entre o partido liberal e a social-democracia.

Ilusões parlamentares

Mas estes abalos não se transformaram em fendas profundas. Predominaram as ilusões parlamentares de que pode haver uma solução governativa alternativa de esquerda, i.e., reformista-oportunista. Deste modo, tornou-se claro que o sistema político burguês também tem outras ferramentas para gerir esses abalos. Actualmente na Grécia o sistema bipolar da ND liberal e do PASOK social-democrata está a ser substituído por outro sistema bipolar: de um lado o polo centro-direita-direita e do outro um polo de ?esquerda? que se formou com o synaspismos [1] oportunista no seu núcleo e com a transferência maciça do principais funcionários e mecanismos do PASOK, em especial dos estratos médios, dos trabalhadores do sector público, estreito ou mais alargado, do aparelho ideológico do estado, etc.

Claro que o processo ainda não terminou, está a ser preparada uma nova cena política de transição, ou uma mais permanente, a fim de impedir a radicalização, para quebrar o movimento antes que este recupere de modo maciço, e obviamente para desferir um golpe contra o KKE.

Sobre a Aurora Dourada

As duas batalhas eleitorais elevaram a Aurora Dourada a uma força parlamentar com 19 deputados. É uma formação criminosa, nazi, racista que se concentra principalmente na perseguição de imigrantes, em especial os asiáticos, com espancamentos, ataques assassinos, actos de violência, extorsão e ameaças. O seu apoio eleitoral, principalmente entre grupos mais jovens, foi formado com base nos seus slogans falsos, visto que se apresenta como um partido anti-sistema.

A nossa apreciação é que esta formação se desenvolve em paralelo com os esquadrões da morte do período de Hitler e que o objectivo básico é ser usado para quebrar o movimento dos trabalhadores e da população e desferir um golpe contra o KKE. Por detrás da Aurora Dourada há serviços secretos e secções do aparelho de estado e, muito provavelmente, ligações internacionais. É apoiada por células do sistema no interior das forças de segurança e do exército, enquanto, em termos políticos, é de grande ajuda ao sistema, na medida em que a maior parte dos partidos invocam o perigo dos chamados dois extremos, comparando o fascismo ao comunismo. Não pode ser considerada na base de uma frente anti-fascista nem de uma frente contra a violência em geral qualquer que seja a sua origem, porque essa atitude leva a um ataque ao próprio movimento. A Aurora Dourada tem que ser considerada pelo movimento organizado, nos locais de trabalho, nos sectores, nas organizações populares, denunciando o seu papel como apoiante do sistema, e as ofensas criminais que eles praticam com os seus ataques assassinos a que eles chamam agarrar na lei com as próprias mãos. Os outros partidos tratam a Aurora Dourada numa perspectiva de legalidade burguesa e de condenação da violência que, para eles, inclui as greves e as manifestações militantes.

O KKE ajustou as suas posições e reivindicações, a sua estratégia e tácticas às condições da crise.

Nas condições actuais, não só porque é a nossa escolha, mas porque objectivamente a questão amadureceu, apresentamos à população a linha de contra-ataque que tem o seu ponto de partida na luta contra as medidas, na luta por medidas de alívio, assim como no caminho para uma saída através da luta pelo poder da classe trabalhadora e da população em geral.

A política de alianças que propomos à população está relacionada com a formação da aliança do povo que tem uma clara orientação anti-monopólios (que, claro, na essência é anti-capitalista porque o capitalismo evoluiu para o capitalismo de monopólio). Nestas condições, a aliança da população organiza e coordena a resistência, a luta pela sobrevivência, está dirigida segundo uma linha de rotura com as uniões imperialistas, a guerra imperialista, pelo derrube do capitalismo, pelo poder da classe trabalhadora e da população em geral.

Apresentamos abertamente à população a necessidade de lutar pelo cancelamento unilateral da dívida, i.e., não a reconhecer, porque reconhecê-la leva a negociações, o que significa novos memorandos e novas medidas. Em simultâneo, sublinhamos a necessidade de a população lutar pela saída da União Europeia. Explicamos as razões porque é que esta saída e o cancelamento da dívida implicam a luta pelo poder do povo, com a socialização dos monopólios, um desenvolvimento planeado que vai utilizar o potencial de crescimento existente do país, a retirada das guerras imperialistas e os acordos da paz internacional, a saída da NATO, a luta por relações económicas internacionais mutuamente benéficas.

Apresentamos o caminho de desenvolvimento em prol da população contra a via de desenvolvimento capitalista. Expomos o conteúdo real da chamada reconstrução produtiva que está a ser promovida por todos os partidos burgueses incluindo a SYRIZA cujas propostas se enquadram dentro da UE. Esta via de desenvolvimento está a tentar transformar a Grécia num elo para o transporte de energia e mercadorias. Leva à exploração conjunta das reservas energéticas do Egeu, da Jónia e do Sul de Creta através de acordos com os monopólios.

Nesta perspectiva analisamos e tratamos da posição das forças políticas e alianças a um nível nacional e europeu. A formação de um programa mínimo não está alicerçada na realidade objectiva do ponto de vista das relações entre política e economia como a saída da crise a favor do povo, é antes uma questão estratégica.

O papel do Partido de Esquerda Europeu (ELP, na sigla em inglês) está a tornar-se ainda mais negativo e corrosivo para o movimento europeu porque, clara e inequivocamente, escolhe uma das diversas formas de gestão, seguindo fórmulas semelhantes às que são apoiadas pelos governos e forças sistémicas em geral da UE a nível nacional e continental. Está envolvido nas contradições inter-burguesas e inter-imperialistas.

Hoje a prioridade é que a população impeça uma destruição ainda maior e tenha melhores perspectivas para o futuro. Isso exige antecipadamente:

Primeiro

Compreender que tipo de crise estamos a viver, nomeadamente uma crise da via capitalista para o desenvolvimento e para a assimilação na UE, ou seja, a importância da luta contra os monopólios e o seu poder.

Segundo

A organização dos trabalhadores nos locais de trabalho, nos sectores, nos bairros.

Terceiro

O reforço e a consolidação da aliança da população entre a classe trabalhadora e as forças sociais que têm interesse em lutar contra os monopólios e o capital independentemente das diferenças entre eles, com a participação reforçada das mulheres e dos jovens dos referidos estratos. O movimento tem que ser dirigido para o derrube do poder dos monopólios.

O KKE, com clareza e também com argumentos específicos, recusou-se a participar num governo de gestão burguesa proposto pelo novo pólo de oportunismo que está a cooperar com uma grande parte do PASOK. A proposta inicialmente visava exercer pressão política sobre o KKE, e principalmente roubar votos à esfera de influência do KKE. Nem sequer tinha uma base aritmética porque não havia número de deputados suficiente para formar um governo. Claro, conforme já sublinhámos, não foi por não ser suficiente o número de deputados que dissemos NÃO. Mas o facto de essa proposta não ter o número necessário de deputados prova o seu carácter demagógico e o facto de que tinha como alvo a estratégia do KKE.

Tivemos perdas nas eleições, mas consideramos que as perdas para a população teriam sido muito maiores e irreversíveis por muito tempo se o KKE tivesse decidido apoiar um governo de gestão burguesa e aceitado a assimilação da Grécia na UE e o poder dos monopólios na área da economia. No período entre as primeiras e as segundas eleições, a SYRIZA abandonou alguns dos slogans radicais que tinha e por isso conquistou um maior número de votos, o que o colocou em segunda posição, votos esses principalmente das massas populares que tinham medo de ser afastadas do euro, e que achavam ser possível uma melhor negociação para restringir as medidas sem ter que partir ovos. Agora a Syriza está a intitular-se melhor negociadora em comparação com o governo da ND-PASOK-Esquerda Democrática e está a aproximar-se de um partido centrista contemporâneo.

A esquerda governante não vai mudar a linha política geral nem desferir nenhum golpe contra o apodrecido sistema político. Nenhum governo, por mais que se intitule de esquerda, comunista, ou mesmo revolucionário, irá respeitar as suas proclamações se os meios de produção e a riqueza continuarem nas mãos dos monopólios, se o povo não detiver nas suas mãos a posse e o poder do estado.

Em termos genéricos, não é por causa da correlação negativa de forças que a batalha na Grécia é difícil. Seria mais correcto dizer que se tornou mais complexa no terreno da correlação negativa de forças. Exige um alto nível de competência e de estabilidade do partido de modo a que este esteja em posição de penetrar mais alargadamente na classe trabalhadora e nas massas populares, de gerir a situação de modo adequado sem alterar a sua linha política geral ou de se desligar dos trabalhadores e empregados que têm ilusões e ainda não adquiriram experiência política.

Para concluir esta questão, o que pretendemos sublinhar é que tanto a nossa teoria como a nossa experiência histórica demonstram que por mais forte que um PC possa ser eleitoralmente, se assumir posições governativas no quadro do sistema burguês acaba inevitavelmente por ser assimilado. Esta questão tem que ser discutida atempadamente entre o povo, a fim de que compreenda que as margens para viver uma vida melhor encolheram dramaticamente em comparação com o passado, não só nas condições da crise, mas também na fase de recuperação. Objectivamente as condições para um derrube radical amadureceram ainda mais quando os monopólios penetraram muito profundamente na economia e em todos os outros aspectos da vida social.

Claro que o factor subjectivo, ou seja, o movimento dos trabalhadores, a força do PC está muito atrasada e temos que avançar rumo ao seu fortalecimento.

Não devemos abandonar a luta contra a guerra imperialista e a paz imperialista em nome da crise económica.

Por conseguinte, temos que realçar as razões e os modos como a intervenção imperialista pode ser executada com base nos exemplos e evidências da chamada Primavera Árabe, da Líbia e da Síria. Como se forma uma oposição interna no exterior do país, como é armada, como tenta o derrube mesmo de governos burgueses devido a contradições inter-imperialistas e inter-burguesas. Temos que discutir sistematicamente com argumentos porque a arena internacional de luta se mantém crucial e decisiva e, ao mesmo tempo, a importância da cooperação e solidariedade internacionalista. O movimento também pode utilizar as contradições inter-imperialistas de dois modos: denunciar o elemento básico da internacionalização capitalista e, por outro lado, preparar a população para que não apoie a classe burguesa do seu país na competição inter-imperialista e na guerra pela redistribuição de mercados.

O KKE está a tentar estudar, cientificamente e através da experiência do movimento, o desenvolvimento no seu todo para que as fendas no sistema político burguês sejam reforçadas, o que contribuirá para uma maior emancipação do movimento.

Tanto mais porque actualmente o curso dos desenvolvimentos a um nível nacional é determinado pela correlação de forças internacional e regional assim como pelo dinamismo e pela linha revolucionária do movimento dos trabalhadores e dos comunistas. Cada êxito num país produz impacto noutros movimentos europeus, e os desvios em compromissos ou o recuo colocarão os movimentos de muitos países numa situação difícil. Claro que os desenvolvimentos serão determinados pelo nível das lutas e da aliança social, mas hoje tem que haver uma intensa luta ideológica contra as visões burguesas dominantes, reformistas e oportunistas. Sem uma tal luta a nível ideológico será difícil às massas populares serem orientadas para a luta por medidas de alívio e pelo cancelamento e derrube das piores medidas. As lutas, ainda que adquiram um carácter de massas, não terão o nível de organização necessário e uma orientação política bem dirigida sem a confrontação ideológica no interior do movimento.
[1] O Synaspismos surgiu inicialmente como uma coligação eleitoral nos finais da década de 80, com os dois partidos comunistas gregos (o Partido Comunista da Grécia 'KKE' e a Esquerda Grega, sucessora do Partido Comunista da Grécia, eurocomunista, como principais membros [N.T.]

SIGLAS
BCE ? Banco Central Europeu
ELP ? Partido da Esquerda Europeia
FMI ? Fundo Monetário Internacional
ND ? Nova Democracia
PASOK ? Movimento Socialista Pan-helénico
SYRISA ? Coligação da Esquerda Radical ? Frente Social Unida
UE ? União Europeia

[*] Secretária-geral do CC do KKE. Discurso Introdutório na Conferência Comunista Europeia, Bruxelas, 1-2/Outubro/2012

O original encontra-se em http://inter.kke.gr/News/news2012/2012-10-01-ecm-omilia-kke
Tradução de Margarida Ferreira.


Este discurso encontra-se em http://resistir.info/ .

08-11-2012

  07:20:30, por Corral   , 1088 palavras  
Categorias: Ensaio

CANTA O MERLO: A Islândia mostrou o caminho: Chimpar na cadeia aos banqueiros

A Islândia mostrou o caminho: recusar a austeridade
? Recusou receituário do FMI, deixou bancos falirem e condenou responsáveis pela crise
? Por que pouco se fala da Islândia nos media galegos que se auto-proclamam como "referência"?

por Salim Lamrani [*]

http://resistir.info/

Quando, em Setembro de 2008, a crise económica e financeira atingiu a Islândia ? pequena ilha no Atlântico com 320 mil habitantes ?, o impacto foi desastroso, tal como no resto do continente. A especulação financeira levou à falência os três principais bancos, cujo total de activos era dez vezes superior ao PIB do país. A uma perda líquida foi de 85 mil milhões de dólares. A taxa de desemprego aumentou nove vezes entre 2008 e 2010, ao passo que antes o país gozava de pleno emprego.

A dívida da Islândia representava 900% do PIB e a moeda nacional desvalorizou-se 80% em relação ao euro. O país caiu numa profunda recessão, com uma diminuição do PIB de 11% em dois anos. [1]

Diante da crise

Em 2009, quando o governo pretendeu aplicar as medidas de austeridade exigidas pelo FMI em troca de uma ajuda financeira de 2,1 mil milhões de euros, uma forte mobilização popular o obrigou a renunciar. Nas eleições antecipadas, a esquerda ganhou a maioria absoluta no Parlamento. [2]

No entanto, o novo poder adoptou a lei Icesave ? cujo nome provém do banco online que foi à bancarrota e cujos depositantes eram, na maioria, holandeses e britânicos ? destinada a reembolsar os clientes estrangeiros. Essa legislação obrigava os islandeses a reembolsarem uma dívida de 3,5 mil milhões de euros (40% de seu PIB) ? nove mil euros por habitante ? ao longo de quinze anos e com uma taxa de juros de 5%. Diante dos novos protestos populares, o presidente recusou-se a promulgar a lei aprovada pelo parlamento e submeteu-a a um referendo. Em Março de 2010, 93% dos islandeses recusaram a lei do reembolso das perdas do Icesave. Quando submetida novamente a referendo, em Abril de 2011, 63% dos cidadãos voltaram a rejeitá-la. [3]

Uma nova Constituição, redigida por uma Assembleia Constituinte de 25 cidadãos eleitos por sufrágio universal entre 522 candidatos, composta por nove capítulos e 114 artigos, foi adoptada em 2011. Ela prevê o direito à informação, com acesso público aos documentos oficiais (Artigo 15), a criação de uma Comissão de Controle da Responsabilidade do Governo (Artigo 63), o direito à consulta directa (Artigo 65) ? 10% dos eleitores podem pedir um referendo sobre as leis votadas pelo Parlamento ?, assim como a nomeação do primeiro-ministro pelo Parlamento. [4]

Assim, ao contrário das outras nações da União Europeia na mesma situação, que aplicaram ao pé da letra as instruções do FMI exigindo medidas de austeridade severas, como na Grécia, Irlanda, Itália ou Espanha, a Islândia escolheu uma via alternativa. Quando, em 2008, os três principais bancos do país ? Glitnir, Landsbankinn e Kaupthing ? desmoronaram, o Estado islandês recusou-se a neles injectar fundos públicos, tal como havia feito o resto da Europa. Em vez disso, efectuou sua nacionalização.

Do mesmo modo, os bancos privados tiveram que cancelar todos os créditos hipotecários com taxas variáveis que superassem 110% do valor dos bens imobiliários, o que evitou uma crise de subprime como nos Estados Unidos. Por outro lado, a Corte Suprema declarou ilegais todos os empréstimos indexados a divisas estrangeiras que haviam sido concedidos a particulares, obrigando assim os bancos a renunciarem a seus créditos em benefício da população. [5]

Quanto aos responsáveis pelo desastre ? os banqueiros especuladores que provocaram o desmoronamento do sistema financeiro islandês ?, não foram beneficiados com a mansidão verificada no resto da Europa, onde foram sistematicamente absolvidos. Com efeito, Olafur Thor Hauksson, Procurador Especial nomeado pelo Parlamento, processou-os e prendeu-os, inclusive ao ex-primeiro-ministro Geir Haarde. [6]

Uma alternativa à austeridade

Os resultados da política económica e social islandesa têm sido espectaculares. Enquanto a União Europeia se encontra em plena recessão, a Islândia apresentou uma taxa de crescimento de 2,1% em 2011 e prevê uma taxa de 2,7% para 2012, além de uma taxa de desemprego de 6%. [7] O país até se deu ao luxo de realizar o reembolso antecipado de suas dívidas ao FMI. [8]

O presidente islandês Olafur Grímsson explicou este milagre económico: "A diferença é que, na Islândia, deixamos os bancos quebrarem. Eram instituições privadas. Não injectámos dinheiro para salvá-las. O Estado não tem porque assumir essa responsabilidade". [9]

Agindo contra seus próprios prognósticos, o FMI saudou a política do governo islandês ? o qual aplicou medidas totalmente contrárias àquelass que o Fundo preconiza ?, que permitiu preservar "o precioso modelo nórdico de protecção social". De fato, a Islândia dispõe de um índice de desenvolvimento humano elevado. "O FMI declara que o plano de resgate ao modo islandês oferece lições nos tempos de crise". A instituição acrescenta que "o facto de que a Islândia tenha conseguido preservar o bem-estar social das unidades familiares e conseguir uma consolidação fiscal de grande envergadura é uma das maiores conquistas do programa e do governo islandês".

No entanto, o FMI omitiu a informação de que tais resultados só foram possíveis porque a Islândia recusou sua terapia de choque neoliberal e elaborou um programa de estímulo económico alternativo e eficaz. [10]

O caso da Islândia demonstra que existe uma alternativa crível às políticas de austeridade que são impostas na Europa. Estas, além de serem economicamente ineficazes, são politicamente custosas e socialmente insustentáveis. Ao colocar o interesse geral acima do interesse dos mercados, a Islândia mostrou ao resto do continente o caminho para escapar do beco sem saída.
11/Outubro/2012

Referências bibliográficas
(1) Paul M. Poulsen, ''Como a Islândia, uma vez à beira do precipício, se restabeleceu'', Fundo Monetário Internacional, 26/Outubro/2011. http://www.imf.org/external/french/np/blog/2011/102611f.htm (site acessado em 11/Setembro/2012).
(2) Marie-Joëlle Gros, ''Islândia: a retomada de uma dívida suja'', Libération, 15/Abril/2012.
(3) Comissão de cancelamento da dívida do Terceiro Mundo, "Quando a Islândia reinventa a democracia", 4/Dezembro/2010.
(4) Constituição da Islândia, 29/Junho/2011. http://stjornlagarad.is/other_files/stjornlagarad/Frumvarp-enska.pdf (site acessado em 11/Setembro/2012).
(5) Marie-Joëlle Gros, "Islândia: a retomada de uma dívida suja", op. cit.
(6) Caroline Bruneau, "Crise islandesa: o ex-primeiro-ministro não está aprovado", 13/Maio/2012.
(7) Ambrose Evans-Pritchard, "A Islândia ganhou no fim", The Daily Telegraph, 28/Novembro/2011.
(8) Le Figaro, "A Islândia já reembolsou o FMI", 16/Março/2012.
(9) Ambrose Evans-Pritchard, "Islândia oferece uma tentação arriscada à Irlanda terminada a recessão", The Daily Telegraph, 8/Dezembro/2010.
(10) Omar R. Valdimarsson, "FMI diz que resgate ao estilo da Islândia traz lições em tempos de crise", Business Week, 13/Agosto/2012.

[*] Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos pela Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, professor responsável por cursos na Universidade Paris-Sorbonne-Paris IV e na Universidade Paris-Est Marne-la-Valée, jornalista especializado nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro é Etat de siège. Les sanctions économiques des Etats-Unis contre Cuba, Paris, Ed. Estrella, 2011. Contacto: Salim.Lamrani@univ-mlv.fr. Página no Facebook:
https://www.facebook.com/SalimLamraniOfficiel

O original encontra-se em operamundi.uol.com.br/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

02-11-2012

  18:45:22, por Corral   , 476 palavras  
Categorias: Ensaio

CANTA O MERLO: ?Os amos do mundo. As armas do terrorismo financeiro

Cousas do dinheiro que vostede quiçá nom sabia
22/10/2012

Pascual Serrano/Mundo Obrero

Sabia vostede que a empresa Exxon-Mobil ganhou 9.907 milhons de euros em dous anos com um só empregado em Espanha e nom tivo que pagar um só euro em impostos? Ou que a empresa Foxconn, que fabrica os cristais endurecidos para as marcas mais conhecidas de smartphones, tivo que pôr redes nas suas indústrias para impedir que os seus empregados, desesperados polas condiçons em que se lhes obriga a trabalhar, tirassem polas janelas.

Conhecia que o valor das acçons do quinze empresas mais grandes do mundo é equivalente ao PIB dos 27 países da Uniom Européia e que o valor dos activos do Banco de Santander (1,6 bilions) é maior que o PIB de Espanha(1,3)? Ou que só nove pessoas controlam um mercado que mobiliza nada menos que 700 bilions de dólares.

Sabia que actualmente os Estados só criam directamente menos de 10% do dinheiro circulante porque o resto criam-no de forma intangível principalmente os bancos, e é por aceder a esse dinheiro virtual polo que as economias europeias estám endividadas e pagam em juros mais que o salário de todos os seus empregado? E que por cada euro que os bancos recebem em depósito eles criam novos meios de pago -é dizer, inventam-se- por valor dentre cinco ou mais dez euros. E esse é o dinheiro que prestam.
No caso da França, leva pagos 1,1 bilions de euros em juros desde 1980 a 1996 para umha dívida que era de 229.000,.-?. É dizer, se esse dinheiro o tivesse financiado o seu banco central em lugar dos bancos privados aforraria-se 914.000 milhons de euros.
Que o Reino ?boubónico?espanhol pagou já três vezes a dívida pública que tinha em 2000 e ainda segue devendo case o dobro. Em toda a Uniom Europeia pagam-se 350.000 milhons de euros à banca privada em interesses.

Sabia que na época de George Bush, entre 2002 e 2006, só 1% dos estadounidenses recebeu 78% da renda que se criou em todo o país?

Sabia que num só edifício do paraíso fiscal das ilhas Caimám estám registadas 18.000 sociedades? E que esses paraísos fiscais utilizam-nos para evitar impostos 83% das grandes corporaçons de Estados Unidos, 99% das europeias e 86% das 35 maiores empresas espanholas que cotam em Bolsa.

Sabia que segundo um estudo de umha das revistas científicas mais acreditadas em saúde morrêrom 4,47 milhons de crianças durante o período 1990-2002 como conseqüência das políticas de austeridade promovidas polo Fundo Monetário Internacional, quase tantos como judeus morreram no holocausto? E que quinze anos depois das políticas privatizadoras nos países que pertenciam à Uniom Soviética, onze deles nom recuperárom a esperança de vida que tinham durante o comunismo.

Pois todo isso pudem descobrir eu com o livro de Vicenç Navarro e Juan Torres López ?Os amos do mundo. As armas do terrorismo financeiro (Espasa)?. Imaginem-se quantas cousas mais se podem saber se o livro tem duzentas páginas e o que eu contei cabe numha.

01-11-2012

  00:46:45, por Corral   , 127 palavras  
Categorias: Dezires

CANTA O MERLO:A CIA e o PSOE

http://www.insurgente.org

A CIA e a re-fundaçom do PSOE corresponde ao contido de um capítulo do livro de Alfredo Grimaldos intitulado:
«La CIA en España» foi publicado pelo editorial DEBATE. Neste rigoroso trabalho de trabalho de investigaçom, Grimaldos desvela quem som e como actuam alguns dos que participaram nas acçons que nele se descrevem, que conexons tivérom e tenhem com a cúpulas militares e civis do poder, assim como qual é a sua presença, até o dia de hoje , nas instituiçons espanholas. Documentado de forma irrefutável e escrito como um ?thriller? político, este é um trabalho repleto de informaçom e nomes próprios que provocará calafrios a quem se atreva a mergulhar-se nas suas páginas.

Acede à sua leitura aqui: http://es.scribd.com/doc/21982417/CIA-y-PSOE

«La CIA en España» pode baixa-se na rede

31-10-2012

  23:37:12, por Corral   , 592 palavras  
Categorias: Novas

CANTA O MERLO: González e Aznar- Como se converter de advogado trabalhista ou de funcionário da Fazenda em oligarcas.

http://www.larepublica.es/
www.publico.es

Aznar e González: mais de 500.000 euros ao ano em salários e duas pensons de 80.000 euros brutos ao ano para sempre.

Nom lhes vai nada mal aos dous ex presidentes do Governo do Reino boubónico de Espanha. Um revejo aos emolumentos públicos de Felipe González e José María Aznar mostra como entre os dous conseguem ingressos superiores aos 500.000 euros ao ano, ainda que o político fascista ingressa ao menos 50% mais que o post-moderno.

José María Aznar foi fichado pola mineira Barrick Gold Corporation, a maior companhia do mundo na extracçom de ouro, com muita presença na América do Norte Latina onde controla umhas 25 minas. O amigo de Bush também está fichado por Endesa como assessor externo centrado concretamente em temas latino-americanos a razom de 200.000 euros anuais. O pruri-emprego nom remata nisto, porque ademais assessora em News Corporation, empresa do magnata Rupert Murdoch, A notável subida de salário que o polémico magnata dos médios Rupert Murdoch concedeu ao ex presidente do PP pola sua condiçom de conselheiro do império News Corporation, proprietário entre outros dos jornais The Wall Street Journal, The Times ou as cadeias CNBC e Fox News, situa as suas retribuiçons totais polos cargos que desempenha por enzima dos 300.00 euros brutos anuais.

À margem, o ex presidente conta com outras actividades profissionais, como conferências, assessorias, livros ou artigos que desenvolve habitualmente através de umha sociedade familiar, denominada Famaztella, acrónimo de Família Aznar-Botella, através da qual factura também os serviços para News Corporation. Essas actividades reportam-lhe ingressos adicionais nom conhecidos polo miúdo. Por exemplo, em 2010 Famaztella declarou um benefício de 225.000 euros e o ano anterior tinha ganhado quase o duplo.

Só pola sua condiçom de vogal do conselho do império mediático de ideologia conservadora, e trás a subida de salário de 7,6%, Aznar cobra uns 198.000 euros. Deles, 86.000 euros som em efectivo e 112.000 em acçons. À margem desta tarefa, o ex presidente é desde 2010 assessor externo da eléctrica Endesa, controlada pola italiana Enel. Ao nom exercer como conselheiro, a sua retribuiçom nom aparece nos dados oficiais que facilita Endesa ao organismo regulador do comprado. Publicaram-se cifras que situam esta compensaçom na contorna dos 200.000 euros. Como referência, a retribuiçom dos conselheiros nom executivos desta empresa foi em 2011 superior a 320.000 euros, exercício no que o actual ministro de Economia do Reino boubónico, Luís De Guindos, desempenhava essa funçom.

Estas retribuiçons privadas som compatíveis, ao menos por enquanto e do mesmo modo que em muitos países ocidentais, com umha pensom pública vitalícia como ex presidente do Governo. No reino boubónico de Espanha ascende a 80.000 euros brutos ao ano.

Pola sua banda, Felipe González, que ocupa um posto no conselho de outra das grandes eléctricas do país, Gás Natural Fenosa, recebe por esta funçom 126.000 euros brutos anuais sem dietas, já que os membros deste organismo nom as recebem, aos que se suma a pensom vitalícia como antigo chefe do Governo à que também tem direito. Ao todo, algo mais de 200.00 euros aos que teríamos que acrescentar ingressos pontuais polas actividades profissionais que desenvolve, também circunscritas ao mundo das conferências, os livros e as assessorias. É membro assessor de um dos grupos de pressom económica e política do mundo o do oligarca mexicano Carlos Slim.

As perguntas que nos devemos fazer som: Que entregárom estes dous sujeitos quando eram chefes de governo ao capitalismo internacional para converter-se em parte da sua oligarquia? A quanto ascende o saqueio (as privatizaçons) e as suas mais-valias dos bens públicos (Telefónica, Campsa, Endesa, Argentaria, Banesto, Galerias Prezados, etc...) que agora estám em maos da oligarquia à qual estes dous "chantas" hoje pertencem?

  16:01:47, por Corral   , 922 palavras  
Categorias: Ensaio

CANTA O MERLO: ? Só 147 corporaçons controlam o mundo ocidental"

Hegemonia globalizadora

147 corporaçons controlam a economia do mundo ocidental

(IAR Notícias) 25-Outubro-2012

Um estudo da Universidade de Zúrich revelou que um pequeno grupo de 147 grandes corporaçons transnacionais, principalmente financeiras e mineiro-extractivas, na prática controlam a economia global. O estudo foi o primeiro em analisar 43.060 corporaçons transnacionais e desentranhar a teia de aranha da propriedade entre elas, alcançando identificar a 147 companhias que formam umha ?super entidade? que controla 40 por cento da riqueza da economia global.

Por Ernesto Carmona - Mapocho Press (*)

O pequeno grupo está estreitamente interconectado através das juntas directivas corporativas e constitui umha rede de poder que poderia ser vulnerável ao colapso e propensa ao "risco sistémico", segundo diversas opinions. O Projecto Censurado da Universidade Sonoma State de Califórnia desclassificou esta notícia sepulta polos médios e o seu ex director Peter Phillips, professor de sociologia nessa universidade, ex director do Projecto Censurado e actual presidente da Fundaçom Média Freedom /Project Censored, citou-a no seu trabalho "The Global 1%: Exposing the Transnational Ruling Class" (1%: Exposiçom da Classe Dominante Transnacional), assinado com Kimberly Soeiro e publicado em ProjectCensored.org.

Os autores do estudo som Stefania Vitali, James B. Glattfelder e Stefano Battiston, investigadores da Universidade de Zúrich (Suíça), quem publicaram o seu trabalho o 26 de Outubro 2011, baixo o título "A Rede de Controlo Corporativo Global" (The Network of Global Corporate Controlo) na revista científica PlosOne.org.

Na apresentaçom do estudo publicado em PlosOne, os autores escreveram: "A estrutura da rede de controlo das empresas transnacionais afecta à competência do comprado mundial e a estabilidade financeira. Até agora, foram estudadas só pequenas amostras nacionais e nom existia umha metodologia adequada para avaliar o controlo a nível mundial. Apresenta-se a primeira investigaçom da arquitectura da rede de propriedade internacional, junto com o cálculo da funçom mantida por cada jogador global".

"Encontramos que as corporaçons transnacionais formam umha gigantesca estrutura como gravata de laço e que umha grande parte dos fluxos de controlo conduzem a um pequeno núcleo muito unido de instituiçons financeiras".

O diário conservador britânico Daily Mail foi talvez o único do mundo que recolheu esta notícia, o 20 de Outubro 2011, apresentada por Rob Waugh baixo o altissonante manchete "Existe umha "super-corporaçom que dirige a economia global" O estudo clama que poderia ser terrivelmente instável. A investigaçom encontrou que 147 empresas criaram umha "super entidade" dentro o grupo, controlando 40 por cento da riqueza".

Waugh explica que o estudo da Universidade de Zúrich "experimenta" que um pequeno grupo de companhias -principalmente bancos- exerce um poder enorme sobre a economia global. O trabalho foi o primeiro em examinar um total de 43.060 corporaçons transnacionais, a tela de aranha da propriedade entre elas e estabeleceu um "mapa" de 1.318 empresas como coraçom da economia global.

"O estudo encontrou que 147 empresas desenvolveram no seu interior umha "super entidade", controladora de 40 por cento da sua riqueza. Todos possuem parte ou a totalidade de um e outro. A maioria som bancos "os 20 top, incluídos Barclays e Goldman Sachs. Mas a estreita relaçom significa que a rede poderia ser vulnerável ao colapso", escreveu Waugh.

Mapa-mundi da riqueza (ver imagem)

O tamanho dos círculos representa os ingressos. Os círculos vermelhos som "corporaçons super-conectadas" enquanto os amarelos som "corporaçons muito conectadas". As 1.318 empresas transnacionais que formam o núcleo da economia globalizada, mostram as suas conexons de propriedade parcial entre uns e outros, e o tamanho dos círculos corresponde aos ingressos. Através das empresas os seus proprietários controlam a maior parte da economia "real" (Ilustraçom dos autores, PlosOne, 26/10/2012).

"Em efeito, menos de 1% das empresas foi capaz de controlar 40 por cento de toda a rede", dixo-lhe ao Daily Mail James Glattfelder, teórico de sistemas complexos do Instituto Federal Suíço de Zúrich, um do três autores da investigaçom.

Alguns dos supostos que subjacem no estudo foram criticados, como a ideia de que propriedade equivale a controlo. "Contodo, os investigadores suíços nom tenhem nengum interesse pessoal: limitaram-se a aplicar à economia mundial modelos matemáticos utilizados habitualmente para modelar sistemas naturais, usando Orbis 2007, umha base de dados que contém 37 milhons as companhias e investidores", informou Waugh.

Economistas como John Driffil, da Universidade de Londres, perito em macro-economía, dixo à revista New Scientist que o valor do estudo nom consistia em ver quem controla a economia global, mas mostra as estreitas conexons entre as corporaçons mais grandes do mundo. O colapso financeiro de 2008 mostrou que este tipo de redes estreitamente unidas pode ser instável. "Se umha empresa sofre angústia, esta propaga-se", dixo Glattfelder.

A riqueza global do mundo estima-se que ronda os 200 bilions de dólares, ou seja, dous centenas de milhons de milhons. Segundo Peter Phillips e Kimberly Soeiro, 1 por cento mais rico da populaçom do planeta agrupa, aproximadamente, a 40 milhons de adultos. Estas pessoas constituem o segmento mais rico das primeiras bancadas da populaçom dos países mais desenvolvidos e, intermitentemente, noutras regions.

Segundo o livro de David Rothkopf "Super-classe: a Elite de Poder Mundial e o Mundo que Está a Criar", a super elite abrangueria aproximadamente a 0,0001 por cento (1 milionésima) da populaçom do mundo e compreenderia a umhas 6.000 a 7.000 pessoas, ainda que outros assinalam 6.660. Entre esse grupo haveria que buscar aos donos das 147 corporaçons que cita o estudo dos investigadores de Zúrich.

(*)Ernesto Carmona, jornalista e escritor chileno
Fontes e referências:
Stefania Vitali, James B. Glattfelder, and Stefano Battiston, "The Network of Global Corporate Controlo," Public Library of Science, October 26, 2011, http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.põe.0025995
Rob Waugh, "Dóis One "Super Corporation" Run the Global Economy" Study Claims it Could bê Terrifyingly Unstable," Daily Mail, October 20, 2011, http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-2051008/Dóis-super-corporation-run-global-economy.html.
Stefania Vitali, James B. Glattfelder, Stefano Battiston, Revista PlosOne, 26 de octure 2011
http://www.mediafreedominternational.org/2012/04/04/small-network-of-corporations-run-the-global-economy/
Peter Phillips e Kimberly Soeiro, "The Global 1%: Exposing the Transnational Ruling Class"

30-10-2012

  11:19:22, por Corral   , 476 palavras  
Categorias: Ensaio

CANTA O MERLO: ?Os amos do mundo. As armas do terrorismo financeiro"

Cousas do dinheiro que vostede quiçá nom sabia
22/10/2012

Pascual Serrano/Mundo Obrero

Sabia vostede que a empresa Exxon-Mobil ganhou 9.907 milhons de euros em dous anos com um só empregado em Espanha e nom tivo que pagar um só euro em impostos? Ou que a empresa Foxconn, que fabrica os cristais endurecidos para as marcas mais conhecidas de smartphones, tivo que pôr redes nas suas indústrias para impedir que os seus empregados, desesperados polas condiçons em que se lhes obriga a trabalhar, tirassem polas janelas.

Conhecia que o valor das acçons do quinze empresas mais grandes do mundo é equivalente ao PIB dos 27 países da Uniom Européia e que o valor dos activos do Banco de Santander (1,6 bilions) é maior que o PIB de Espanha(1,3)? Ou que só nove pessoas controlam um mercado que mobiliza nada menos que 700 bilions de dólares.

Sabia que actualmente os Estados só criam directamente menos de 10% do dinheiro circulante porque o resto criam-no de forma intangível principalmente os bancos, e é por aceder a esse dinheiro virtual polo que as economias europeias estám endividadas e pagam em juros mais que o salário de todos os seus empregado? E que por cada euro que os bancos recebem em depósito eles criam novos meios de pago -é dizer, inventam-se- por valor dentre cinco ou mais dez euros. E esse é o dinheiro que prestam.
No caso da França, leva pagos 1,1 bilions de euros em juros desde 1980 a 1996 para umha dívida que era de 229.000,.-?. É dizer, se esse dinheiro o tivesse financiado o seu banco central em lugar dos bancos privados aforraria-se 914.000 milhons de euros.
Que o Reino ?boubónico?espanhol pagou já três vezes a dívida pública que tinha em 2000 e ainda segue devendo case o dobro. Em toda a Uniom Europeia pagam-se 350.000 milhons de euros à banca privada em interesses.

Sabia que na época de George Bush, entre 2002 e 2006, só 1% dos estadounidenses recebeu 78% da renda que se criou em todo o país?

Sabia que num só edifício do paraíso fiscal das ilhas Caimám estám registadas 18.000 sociedades? E que esses paraísos fiscais utilizam-nos para evitar impostos 83% das grandes corporaçons de Estados Unidos, 99% das europeias e 86% das 35 maiores empresas espanholas que cotam em Bolsa.

Sabia que segundo um estudo de umha das revistas científicas mais acreditadas em saúde morrêrom 4,47 milhons de crianças durante o período 1990-2002 como conseqüência das políticas de austeridade promovidas polo Fundo Monetário Internacional, quase tantos como judeus morreram no holocausto? E que quinze anos depois das políticas privatizadoras nos países que pertenciam à Uniom Soviética, onze deles nom recuperárom a esperança de vida que tinham durante o comunismo.

Pois todo isso pudem descobrir eu com o livro de Vicenç Navarro e Juan Torres López ?Os amos do mundo. As armas do terrorismo financeiro (Espasa)?. Imaginem-se quantas cousas mais se podem saber se o livro tem duzentas páginas e o que eu contei cabe numha.

28-10-2012

  20:00:15, por Corral   , 1094 palavras  
Categorias: Ensaio

CANTA O MERLO: A dissolução da zona euro e o futuro das divisas de reserva

por Jacques Sapir [*]

http://resistir.info

Uma possível dissolução da zona Euro, solução agora defendida por um número cada vez maior de economistas, coloca o problema das divisas de reserva que viriam a ser utilizadas quer pelos Bancos Centrais, quer por agentes privados. O sistema monetário internacional passou duma situação de oligopólio, dominada pelo dólar, a uma situação de quase-duopólio, também ainda dominada pelo dólar, com a introdução do Euro. É esta situação que está em vias de se desmoronar.

A introdução do Euro, em 1999, foi acompanhada inicialmente por uma acentuada subida do dólar nas reservas dos Bancos Centrais e pelo afundamento das "outras divisas". Esse afundamento deve-se essencialmente à queda do yen japonês e de outras divisas europeias que serviam de divisas de reserva (franco suíço, libra esterlina). Foram estas as divisas que mais sofreram com a introdução do Euro.

Quadro 1 ? Proporção das diversas divisas nas reservas de câmbios dos Bancos Centrais (%)

Dólar americano

Euro

Marco alemão

Franco francês

Outras
(incl. libra e yen)
1995 59,0 ? 15,80 2,40 22,50
1996 62,1 ? 14,70 1,80 21,10
1997 65,2 ? 14,50 1,40 18,60
1998 69,3 ? 13,80 1,60 15,00
1999 71,0 17,9 ? ? 10,90
2000 70,5 18,8 ? ? 10,50
2001 70,7 19,8 ? ? 9,10
2002 66,5 24,2 ? ? 8,80
2003 65,8 25,3 ? ? 8,60
2004 66,0 24,9 ? ? 9,00
2005 66,4 24,3 ? ? 9,20
2006 65,7 25,2 ? ? 8,90
2007 64,1 25,8 ? ? 9,80
2008 64,1 26,4 ? ? 9,90
2009 62,1 27,6 ? ? 10,40
2010 61,8 26,0 ? ? 12,10
2011 62,1 25,0 ? ? 12,80
Fonte: FMI, Composição de Divisas das Reservas de Câmbio Estrangeiro Oficial, Washington DC, 2012

A situação criada pela instituição do Euro caracterizou-se portanto pela subida do poder desta última divisa e, ao mesmo tempo, pelo reforço do dólar. Foram as "outras divisas" que sofreram com a criação do Euro. Em 2007, na véspera da crise, a porção do dólar nas reservas dos Bancos Centrais ainda se mantinha em 65,7 %, enquanto era apenas de 59 % em 1995. A criação do Euro conduziu pois à criação de um duopólio assimétrico dólar-euro.

A partir de 2007, na sequência da crise dos " subprimes ", a porção do dólar começou a baixar paulatinamente. Mas essa baixa pouco aproveitou ao Euro, até 2010. Na sequência da "revelação" da crise no seio da zona Euro pelo encadeamento da crise grega, e depois da irlandesa, e depois da portuguesa e, finalmente, da espanhola, o Euro, que tinha atingido uma porção de 27,6 % regrediu para 25 %.

Com efeito, o aspecto mais interessante da evolução actual é que a queda do Euro a partir de 2010 não se faz tanto a favor do dólar, como seria natural esperar e talvez mesmo temer, mas a favor das "outras divisas". Mas, a composição desse grupo alterou-se radicalmente.

Quadro 2 ? Composição do grupo "outras moedas" (%)

Libra esterlina (BP)

Yen japonês (JPY)

Franco suíço (CHF)

Outros
1999 2,9 6,4 0,2 1,6
2000 2,8 6,3 0,3 1,4
2001 2,7 5,2 0,3 1,2
2002 2,9 4,5 0,4 1,4
2003 2,6 4,1 0,2 1,9
2004 3,2 3,8 0,2 1,9
2005 3,6 3,7 0,1 1,9
2006 4,2 3,2 0,2 1,5
2007 4,7 2,9 0,2 1,8
2008 4,0 3,1 0,1 2,2
2009 4,3 2,9 0,1 3,1
2010 3,9 3,7 0,1 4,4
2011 3,9 3,7 0,1 5,1
Fonte: FMI, Composição de Divisas das Reservas de Câmbio Estrangeiro Oficial, Washington DC, 2012

A proporção da libra aumentou de 1999 até 2007, mas depois essa evolução parou e acabou mesmo por diminuir. A proporção do franco suíço manteve-se marginal e foi o yen quem mais enfraqueceu desde a criação do Euro. Pelo contrário, as "outras divisas", grupo que engloba essencialmente divisas da zona Ásia-Pacífico, aumentou muito acentuadamente desde a crise de 2007/2008.

O fenómeno político a que se chama a emergência do grupo dos "BRIC", ou mesmo dos "BRICs" [1] tinha que ter uma tradução no seio das divisas de reserva.

Não é porque a China se recusa a deixar que a sua divisa se torne totalmente convertível, o que impede a sua constituição como divisa de reserva, nem porque o rublo russo, apesar das importantes reservas de câmbio da Rússia, se mantém como possivelmente perigoso. De resto, os esforços do governo russo para promover o rublo como divisa de reserva são frustrados pela fraqueza da dívida pública russa, o que limita os instrumentos de entesouramento em rublos. A evolução faz-se pois, quanto ao essencial, em proveito das "outras divisas" e, dentro delas, das "novas divisas" (dólar australiano, dólar canadiano, dólar de Singapura).

É assim claro que, no caso da dissolução da zona Euro, voltaremos rapidamente a uma situação de oligopólio. O medo na zona do Euro, que se manifesta agora nos operadores públicos [2] , só tem paralelo com o medo na zona do dólar.

Convém pois fazer justiça a certas crenças que rodearam a criação do Euro.

A ? A criação do Euro enfraqueceu a posição do dólar? Isto é obviamente falso, pois que vimos acima que a porção do dólar aumentou fortemente com a criação do Euro. Quando essa porção diminuiu, manteve-se sempre muito superior, até 2007, ao seu valor de 1995.

B ? O enfraquecimento do Euro reverte a favor do dólar e da libra esterlina? Também isso é falso. O Euro enfraquece a partir de 2010, mas esse enfraquecimento é acompanhado por uma estagnação das porções do dólar e da libra.

C ? As mudanças na economia mundial repercutem-se nas divisas? Isso é verdade, mas mesmo assim muito lentamente. Vemos, a partir de 2010, um movimento de contestação do duopolo assimétrico, constituído pelo par dólar-euro, em proveito das "novas divisas", mas também, e isso é importante para os agentes privados, uma nova subida dos metais preciosos como vectores de entesouramento.

D ? O papel do Euro nas transacções comerciais mantém-se importante ? É verdade, por enquanto, mas tendo em conta os movimentos que se observam nas divisas de reservas, podemos pensar que isso traduz uma forma da "Lei de Gresham" [3] , ou seja, que a divisa em que se tem mais confiança é utilizada como reserva de valor, enquanto que a divisa em que se tem menos confiança é utilizada para as transacções.

No caso de uma dissolução da zona Euro, e extrapolando a partir destes resultados, devemos pois esperar um retorno a uma situação de oligopólio no domínio das divisas de reservas. Se a parte do dólar americano poderá, sem dúvida, aumentar a curto prazo (6 a 12 meses), deverá estabilizar num espaço de 24 meses ? no máximo ? no seu nível actual e muito provavelmente voltar ao seu nível de 1995, ou mesmo abaixo, dados os problemas estruturais da economia americana. Quanto ao marco alemão, deverá voltar à sua posição de 1995 e mesmo melhorá-la e representar entre 16% a 18% das reservas. As "outras divisas" poderão atingir cerca de 18% a 20% das reservas de câmbio com uma forte subida das "novas divisas", e poderão representar até 11-13% do total.
[1] O "S" significa República da África do Sul.
[2] LINGLING WEI, ANDREW BROWNE e ALMAR LATOUR, "China CIC Chief Sees Rising Risk of Euro Breakup", The Wall Street Journal, 7/Junho/2012.
[3] Nome do economista britânico que constatou que "a moeda má afasta a boa da circulação".

[*] Economista francês. Ensina na EHESS-Paris e na Faculdade de economia de Moscovo (MSE-MGU). Especialista dos problemas da transição na Rússia, é também um especialista dos problemas financeiros e comerciais internacionais. É autor de numerosos livros, sendo o mais recente La Démondialisation (Paris, Le Seuil, 2011).

O original encontra-se em http://fr.rian.ru/tribune/20120825/195752559.html . Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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