O referendo de 5 de Julho e a posição do KKE
Como é bem conhecido, o governo da "esquerda" e na essência social-democrata do partido SYRIZA e a "direita" nacionalista do partido ANEL, numa tentativa de administrar a completa bancarrota dos seus compromissos pré eleitorais, anunciou um referendo para o dia 5 de Julho de 2015, sendo a única pergunta se os cidadãos concordam ou não com o acordo proposto, o qual foi posto em cima da mesa pela UE, FMI e BCE e refere-se à continuação das medidas anti-povo para uma saída da crise capitalista, com a Grécia permanecendo no euro.
Responsáveis da coligação governamental apelam ao povo para dizer "não" e tornam claro que este "não" no referendo será interpretado pelo governo grego como aprovação para a sua própria proposta de acordo com a UE, FMI, BCE, a qual, nas suas 47+8 páginas também contém duras medidas anti-povo e anti-trabalhadores, com o objectivo de aumentar a lucratividade do capital, do "crescimento" capitalista e da permanência do país no euro. Como admite o governo SYRIZA-ANEL, o qual continua a louvar a UE, "nosso lar europeu comum", a "façanha europeia", esta proposta sua é 90% idêntica à proposta da UE, FMI e BCE e tem pouco relacionamento com o que o SYRIZA prometeu antes das eleições.
O fascista Aurora Dourada, juntamente com os partidos da coligação governamental (SYRIZA-ANEL), tomaram posição a favor de um "não" e também apoiaram abertamente o retorno a uma divisa nacional.
Por outro lado, a oposição de direita ND, o social-democrata PASOK que governou até Janeiro de 2015, juntamente com o POTAMI (que constitui um partido do centro, essencialmente um partido reaccionário) tomaram posição a favor de um "sim" às medidas bárbaras da Troika, a quais, declaram eles, serão interpretadas como sendo consentimento a "permanecer na UE a todo custo".
Na realidade, ambas as respostas levam a um sim à "UE" e à barbárie capitalista.
Durante a sessão de 27/Junho do parlamento, a maioria governamental do SYRIZA-ANEL rejeitou a proposta do KKE de que as seguintes questões fossem colocadas perante o julgamento do povo grego no referendo:
NÃO ÀS PROPOSTA DE ACORDO DA UE-BCE-FMI E DO GOVERNO GREGO
DESLIGAMENTO DA UE ? ABOLIÇÃO DO MEMORANDO E TODAS AS SUAS LEIS DE APLICAÇÃO
Com esta postura, o governo demonstrou que quer chantagear o povo levando-o a aprovar a sua proposta à troika, a qual é o outro lado da mesma moeda. O que significa dizer: é pedir ao povo grego o seu consentimento para os seus planos anti-povo e para arcar com as suas novas opções anti-povo, ou através de um novo acordo alegadamente "melhorado" com as organizações imperialistas, ou através de uma saída do euro e um retorno a uma divisa nacional, algo a que o povo será chamado a pagar mais uma vez.
Nestas condições, o KKE conclama o povo a utilizar o referendo como uma oportunidade para fortalecer a oposição à UE, a fortalecer a luta pela única saída realista da barbárie capitalista de hoje. O conteúdo desta saída é: RUPTURA-DESLIGAMENTO DA UE, CANCELAMENTO UNILATERAL DA DÍVIDA, SOCIALIZAÇÃO DOS MONOPÓLIOS, PODER DOS TRABALHADORES E DO POVO.
O povo, através da sua actividade e da sua escolha no referendo, deve responder ao engano da falsa pergunta colocada pelo governo e rejeitar a proposta da UE-FMI-BCE e também a proposta do governo SYRIZA-ANEL. Ambas contêm bárbaras medidas anti-povo, as quais serão acrescentadas ao memorando e às leis de aplicação dos anteriores governos ND-PASOK. Ambos servem os interesses do capital e dos lucros capitalistas.
O KKE enfatiza que o povo não deve escolher entre Scila e Caribdis, mas deve exprimir, com todos os meios disponíveis e por todas as vias, sua oposição à UE e seu memorando permanente no referendo. Ele deve "cancelar" este dilema lançando dentro da urna eleitoral, como seu voto, a proposta do KKE como seu voto
NÃO À PROPOSTA DA UE-FMI-BCE
NÃO À PROPOSTA DO GOVERNO
DESLIGAMENTO DA UE, COM O POVO NO PODER
A versão em inglês encontra-se em inter.kke.gr/en/...
Este artigo
? "A crença em que um carcereiro num campo de trabalhos forçados vai sancionar um dos prisioneiros expulsando-o desse mesmo campo é a estupidez acabada".
por João Vilela
A tentação para acharmos que o imperialismo é uma força indestrutível que tudo pode contra nós enquanto nós nada podemos contra ele constitui a base das teorias kruschevistas sobre a coexistência pacífica e, no fundo, não passa de um convite ao atentismo e à capitulação. Alguns tentam transformar este atentismo numa postura política digna, disfarçando-o (mal) de postura táctica. Já houve quem dissesse que a coexistência pacífica era ? pasme-se! ? um instrumento da luta de classes. Que belo destino teriam tido as revoluções do Vietname, de Cuba, das colónias africanas, se tal tese tivesse recebido o menor crédito.
As estruturas do imperialismo dão-lhe um enorme poder. É um facto. Mas nenhuma delas é invencível, e a crença mágica no Apocalipse que significa a libertação dos povos relativamente a elas, em termos de sanções e isolamento, é só mesmo isso ? uma crença mágica. Uma cobertura pseudo-teórica para uma atitude, objectivamente, reformista. Pode haver justificações da mais variada ordem para uma atitude reformista, reconheça-se: mas o reformismo não passa a chamar-se outra coisa por ser justificável com a conjuntura.
As estruturas do imperialismo mostraram-se cediças recentemente, com os acontecimentos da Grécia. Perante um Governo ciente da impossibilidade de cumprir seja que papel histórico for, ficou exposta uma falha nos mecanismos da dominação europeia. A arquitectura da dominação imperialista dos países da periferia pelo centro alemão é fruto de uma aposta na conservação ficcional de Estados soberanos por falta de condições para o decreto unilateral de uma qualquer República Federal Europeia. Isto criou uma brecha que agora se expôs, e que os trabalhadores gregos têm sabido cavar e alargar num esforço dramático, heróico, pela sua libertação. Esforço tanto mais importante quanto é feito quase às escuras, sob orientações contraditórias e erradas, com uma barragem ideológica de fogo cerrado provinda tanto do imperialismo como do reformismo da euro-esquerda.
O caso é simples e conta-se em poucas linhas: apostado em negociar com a Alemanha, o Syriza apanhou pela frente a irredutibilidade alemã e começou a fazer concessões sucessivamente, temendo sair do euro, temendo sair da UE, temendo a fome, a miséria, o caos, os filhos que matariam mães e os pais que almoçariam filhos se deixasse de drapejar a obscena bandeira azul com estrelinhas sobre os céus de Atenas. Perante as cedências acumuladas, a reacção dos gregos não se fez esperar, desde logo dentro do Syriza: históricos como Manolis Glezos pediram desculpas por apelar ao voto em Tsipras; membros do Comité Central do Syriza, como Stathis Kouvelakis, vieram referir que de há muito vinham sendo denunciadas as ilusões europeístas da direcção de Tsipras; enquanto isso, o movimento sindical de classe da Grécia, organizado na central PAME (Frente Militante de Todos os Trabalhadores), desenvolveu uma avassaladora ofensiva popular contra a capitulação do Syriza. Contam por dezenas as manifestações, as greves, com especial incidência no sector da saúde e da indústria; foram desenvolvidas formas de luta cada vez mais avançadas, de que a ocupação do Ministério das Finanças no passado dia 13 de Junho constituiu um exemplo importante. Ao mesmo tempo, é justo referir aqui o papel desempenhado por outra estrutura anticapitalista grega, a Conspiração das Células de Fogo, de raiz anarco-sindicalista, que invadiu e ocupou a sede nacional do Syriza e cujos activistas, em Abril, cercaram e procuraram agredir o ministro das Finanças, Yannis Varoufakis, à saída de um restaurante em Atenas.
Ante esta reacção popular abrupta e determinada, o Syriza não pôde prosseguir a senda de concessões e cedências com que iniciou o seu mandato. Teve de mudar de estratégia, e agir como se estivesse a fazer músculo perante as instituições europeias. A resposta destas foi uma ameaça de expulsão, ameaça que a não ser na cabeça dos Franciscos Louçãs deste mundo não cabe na cabeça de ninguém: a crença em que um carcereiro num campo de trabalhos forçados vai sancionar um dos prisioneiros expulsando-o desse mesmo campo é a estupidez acabada. A ameaça (que põe o Syriza em guarda e provavelmente assusta uma parte dos trabalhadores gregos, apesar de tudo intoxicados pela propaganda do "a UE ou o caos"), é estúpida, como se vê, e exprime o limite material que a UE encontrou para continuar a espoliar o povo grego dentro da actual configuração do sistema. Mas nem por isso deixou de desencadear uma série de protestos por toda a Europa exigindo solidariedade europeia para com os gregos e... a refundação do projecto europeu, depurado da austeridade, e posto ao serviço dos povos...
Se queremos ser solidários com os gregos, não podemos dizer-lhe que fiquem no campo de prisioneiros connosco, assegurando-lhe que usaremos toda a nossa influência junto dos carcereiros do sítio para obter melhor tratamento para eles. Se conseguiram fazer uma pequena abertura na parede da sua cela, aproveitando uma debilidade da estrutura, o incentivo a dar-lhes é o de que continuem a alargar esse buraco, a cavar essa brecha, a alargar o caminho por onde passarão rumo à liberdade deste pesadelo prisional que a UE significa. Se não querem troika, libertem-se. Se não querem tratado orçamental, libertem-se. Se não querem austeridade, libertem-se. Aqueles que cá ficarem, por teimosia ou dolo dos seus Governos, nunca se livrarão de tal coisa, e é ridículo se se convencerem do contrário.
Isto coloca duas tarefas centrais aos trabalhadores gregos e às suas organizações na luta por uma efectiva ruptura anti-imperialista: a primeira é a compreensão de que esta debilidade estrutural da arquitectura da UE não um erro insanável, mas apenas um percalço da estrutura, facilmente resolúvel da forma como, usualmente, quer os Estados quer as organizações internacionais da burguesia geralmente resolvem estes assuntos ? ou com golpes de Estado a favor de quem manda contra o Governo que hesita, ou com invasões liminares e imposição da vontade do centro imperialista. A segunda hipótese pode ser mais improvável, mas a primeira, por mecanismos mais ou menos palacianos, tem campo aberto para ser aplicada. As massas devem ter organização, capacidade de mobilização de massas, de tomar as ruas, de enfrentar a repressão ? mas o seu objectivo histórico não é resistir. A missão histórica do proletariado é tomar o poder e edificar o socialismo e o comunismo. O momento em que o proletariado grego ou se lança no assalto dos céus ou é cilindrado pelo aparelho repressivo está a aproximar-se a passos largos, e é vital que as estruturas que o representam e lideram comecem desde já acautelar essa situação.
Um outro ponto prende-se com o dia seguinte, o tal dia em que, a fazer fé nas previsões de Merkel e Juncker, de Rui Machete e Nuno Rogeiro, o trigo crescerá para dentro da terra nos campos gregos, as árvores recusarão entregar os seus frutos, e as crianças se negarão a sair dos ventres maternos com medo desse mundo estranho com passaportes e sem quotas leiteiras. Até Tsipras já percebeu, embora o faça apenas por jogos florentinos (a faixa do Syriza, que corre mundo nos protestos de solidariedade promovidos pelos outros partidos-membros do Partido da Esquerda Europeia, onde se lê "Change Europe", diz tudo o que cumpre saber sobre a convicção da diligência), que a saída, após a UE, será um dos BRICs, e naturalmente a Rússia. Um projecto socialista e anti-imperialista pode manter relações, tácticas e à falta de melhor aliado, com uma potência capitalista cujas relações com outros Estados não se pautam propriamente por um respeito escrupuloso pela reciprocidade e a não-ingerência. Contanto saiba conservar a sua própria autonomia e soberania, desenvolvendo-a progressivamente, e contrapondo-a sempre a quaisquer pretensões hegemónicas que o novo aliado revele. Será sempre um trajecto difícil, complexo, cheio de espinhos e novidades difíceis de ponderar, o que a Grécia vai trilhar quando sair da União Europeia. Nunca se disse que o caminho para a libertação não tinha perigos, convivendo com grandes possibilidades. Tudo o que se sabe sobre esse caminho é que tem um horizonte vermelho. E isso, para os explorados e os oprimidos, chega.
22/Junho/2015
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Grécia: Fim da chantagem
Alexis Tsipras, "Discurso do Referendum", Atenas, 1h da madrugada - Concidadãos gregos, nesse momento pesa sobre nossos ombros a responsabilidade histórica pelas lutas e sacrifícios do povo grego para consolidar a democracia e a soberania nacional. Nossa responsabilidade pelo futuro de nosso país.
Aos cidadãos gregos
Já há seis meses estamos batalhando em condições sem precedentes de sufocamento econômico para implementar o mandato que recebemos dos cidadãos gregos dia 25 de janeiro.
O que estivemos negociando com nossos parceiros era pôr fim ao arrocho [não é 'austeridade', é arrocho] e fazer que a prosperidade e a justiça social voltassem ao nosso país.
Recebemos mandato para obter acordo sustentável que respeitasse simultaneamente a democracia e as regras comuns europeias e nos levasse afinal a sair da crise.
Ao longo desse período de negociações, nos pediram que implementássemos os acordos concluídos por governos anteriores com os Memorandos, apesar de eles já terem sido categoricamente condenados pelo povo grego nas recentes eleições.
Mas nem por um segundo consideramos a possibilidade de nos render, que é trair a confiança dos gregos.
Depois de cinco meses de dura barganha, nossos parceiros, infelizmente, lançaram no Eurogrupo, anteontem, um ultimato contra a democracia grega e o povo grego. Ultimato que contraria os princípios fundadores e os valores da Europa, os valores de nosso projeto europeu comum.
Disseram ao governo grego que teríamos de aceitar uma proposta que acumula nova carga insustentável para o povo grego e mina a recuperação da economia e da sociedade gregas, proposta que não apenas perpetua o estado de incerteza, mas acentua ainda mais as desigualdades sociais.
A proposta das instituições inclui: medidas para desregulação ainda maior do mercado de trabalho, cortes em aposentadorias, mais reduções nos salários do setor público e aumento do Imposto sobre Valor Agregado sobre comida, hospedagem e turismo, ao mesmo tempo em que se eliminam as vantagens tributárias que as ilhas gregas recebem.
Essas propostas violam diretamente os direitos sociais e fundamentais europeus: mostram que, no que tenha a ver com trabalho, igualdade e dignidade, a meta de alguns dos parceiros e instituições não qualquer acordo viável e benéfico para todas as partes, mas a humilhação de todo o povo grego.
Aquelas propostas destacam sobretudo a insistência do FMI em fórmulas do arrocho mais duro e punitivo e em tornar mais fácil do que jamais, para as grandes potências europeias colher a oportunidade e tomar iniciativas que afinal terminarão definitivamente com a crise da dívida soberana grega, crise que afeta outros países europeus e ameaça o próprio futuro da integração europeia.
Concidadãos gregos, nesse momento pesa sobre nossos ombros a responsabilidade histórica pelas lutas e sacrifícios do povo grego para consolidar a democracia e a soberania nacional. Nossa responsabilidade pelo futuro de nosso país.
E essa responsabilidade exige que respondamos àquele ultimato a partir do desejo soberano do povo grego.
Há pouco, em reunião do gabinete, sugeri que façamos um REFERENDUM de modo que o povo grego possa se manifestar de modo soberano. A sugestão foi aceita unanimemente.
Amanhã, a Câmara de Representantes será convocada em regime de urgência para apreciar a proposta do Gabinete, de que se realize um referendum no próximo domingo, 5 de julho, sobre se aceitamos ou rejeitamos a proposta que as instituições nos apresentaram.
Já dei conhecimento de minha decisão ao presidente da França, à chanceler alemã, ao presidente do Banco Central Europeu, e amanhã, por carta, solicitarei formalmente que os líderes e instituições da UE prorroguem por apenas uns poucos dias o atual programa, de modo a que o povo grego decida, livre de qualquer pressão ou chantagem, como exigem a Constituição grega e as tradições democráticas da Europa.
Concidadãos gregos,
à chantagem do ultimato que quer nos fazer aceitar arrocho [não é 'austeridade'; é arrocho] severo e degradante sem fim, sem qualquer possibilidade de recuperação social e econômica, peço que todos respondam de modo soberano e honroso, como o exige a história do povo grego.
Ao autoritarismo e ao arrocho, responderemos com democracia, decididamente e com calma.
A Grécia, berço da democracia, dará retumbante resposta democrática à Europa e ao mundo.
Pessoalmente me comprometo a respeitar o resultado de nossa escolha democrática, seja qual for. Tenho confiança absoluta de que a escolha da maioria honrará a história de nosso país e enviará ao mundo nossa mensagem de dignidade.
Nesses momentos críticos, todos temos de lembrar que a Europa é o lar comum dos povos. Que na Europa não há proprietários e hóspedes. A Grécia é continuará a ser parte integral da Europa e a Europa é parte integral da Grécia. Mas sem democracia, a Europa será amontoado de países sem identidade e sem bússola.
Convoco todos a manifestarem, em calma, nossa unidade nacional, para que tomemos as decisões certas. Por nós, pelas gerações futuras, pela história dos gregos. Pela soberania e dignidade de nosso povo. [Fim do discurso]
27/6/2015, Alexis Tsipras, "Discurso do Referendum", Atenas, 1h da madrugada
Jacobin Magazin (trad. ao ing. e links de Stathis Kouvelakis*)
O KKE efectuou manifestações em massa em 26 de Junho de 2015 nas principais cidades da Grécia contra as novas medidas e acordos anti-povo com os prestamistas, os quais estão a ser preparados pelo governo SYRIZA-ANEL.
O secretário-geral do CC do KKE, D. Koutsoumpas, afirmou, dentro outras coisas, no seu discurso na praça central de Atenas:
"O povo grego deve dizer um grande NÃO ao acordo, NÃO à continuação da sua própria bancarrota, NÃO aos partidos da via única da UE e do poder capitalista. Ele deve traçar uma rota de modo a que possa realmente tomar as rédeas do poder.
O povo deve lutar ao lado do KKE, deve impedir as medidas anti-povo, nas ruas nos lugares de trabalho.
O SYRIZA tornou-se governo através do sequestro das exigências do povo trabalhador. Ele está agora a tentar enganar o povo mais uma vez, distorcendo e interpretando os votos do povo de acordo com os seus interesses.
Cinco meses após as eleições, o governo está a preparar-se para enviar ao povo a factura com as medidas do novo acordo que são verdadeiramente um nó corrediço em torno dos pescoços das famílias dos estratos populares que sangraram e continuarão a sangrar por cauda dívida, por causa da UE, por causa da lucratividade dos monopólios, se não começarem um contra-ataque seguindo o caminho da ruptura e do conflito com a UE e os monopólios.
O povo grego deve rejeitar tanto as propostas das "três instituições" prestamistas como as propostas do governo Tsipras de 47+8 páginas, ambas são bárbaras, uma guilhotina para o povo.
O governo SYRIZA-ANEL e também seus parceiros europeus e o FMI, com a intervenção dos EUA, não abandonaram os esforços para salvar a Grécia capitalista dentro da estrutura da UE capitalista".
Nas primeiras horas da manhã de 27 de Junho, o primeiro-ministro A. Tsipras anunciou um referendo, cuja pergunta será se o povo aceita as propostas dos prestamistas ou não.
Numa intervenção durante o programa da estação Mega TV, pouco após o discurso do primeiro-ministro, Yiannis Gkiokas, membro do CC do KKE e responsável pelo seu Gabinete de Imprensa enfatizou que:
"A posição do KKE é clara. O NÃO do povo grego deve ser dirigido em conjunto a ambas as propostas ? às propostas dos prestamistas e também às propostas do governo com 47 páginas que tiveram pormenores acrescentados durante todo este período.
Ambas as propostas contêm medidas selvagens a expensas do povo.
O referendo tem as características de chantagem contra o povo e pretende torná-lo cúmplice dos seus planos anti-povo, conclamando-o a escolher entre dois males.
O governo deve cessar de contar contos de fada acerca de alegadamente respeitar a vontade do povo. O povo lutou e sangrou nos anos anteriores contra o memorando e as leis que o aplicavam. E durante estes cinco meses, o governo não aboliu qualquer lei, manteve a estrutura anterior intacta e está também a propor novas medidas aos prestamistas.
Não à continuação da bancarrota do povo
por KKE
O governo diz que as propostas dos prestamistas ultrapassam o mandato popular. Estarão as suas próprias propostas dentro das fronteiras do mandato popular?
O governo contou mentiras ao povo grego. Ele prometeu-lhe que podia libertar-se do memorando e da austeridade dentro da UE e do caminho do desenvolvimento capitalista e agora está a tentar administrar o colapso desta narrativa pré eleitoral.
O povo deve dizer não a ambas de todas as formas e utilizando todos os meios disponíveis. Deve rejeitar o plano dos credores e também o plano do governo. Deve levantar-se e combater pela única solução realista para os seus próprios interesses, a qual é a ruptura com a UE e com o actual caminho de desenvolvimento".
27/Junho/2015
O original encontra-se em inter.kke.gr/en/articles/KKE-NO-to-the-continuing-bankruptcy-of-the-people/
Esta notícia encontra-se em http://resistir.info/ .
TERRORISMO FINANCEIRO & REFERENDO GREGO
Ao invés de dizer um não rotundo e claro ao terrorismo financeiro da Troika para com o povo grego, o governo Syriza-ANEL saiu-se dia 26 de Junho com mais uma das suas piruetas: Anuncia que vai organizar um referendo no dia 5 de Julho quanto às propostas chantagistas das três "instituições" (FMI, BCE e Comissão Europeia). O governo Syriza-ANEL demite-se assim das suas responsabilidades. Ao longo de cinco meses ele cedeu a quase todas as exigências da Troika, uns 90 por cento delas. Mas agora finge-se envergonhado em capitular nas exigências finais e sai-se com este expediente pseudo-democrático numa tentativa de transferir para outros o odioso das suas cedências. Este referendo até pode ser democrático, mas as condições em que o povo grego irá votar ? com a corda no pescoço ? nada têm de democráticas. Nestes cinco meses de conversações o governo Syriza-ANEL não se preparou nem preparou o povo grego para a necessária ruptura com a Troika ? confiou na benevolência da Troika, mas esta marimbou-se para o sr. Tsipras.
O debate sobre o acordo ortográfico que obrigou a uma ata (e a uma acta) da CPLP com duas grafias
23.06.2015
Jose Carlos Carvalho
O acordo ortográfico tirou o ?C? de ?ata? e uma reunião oficial e de alto nível discutiu a eventualidade de se confundir a ata - o documento oficial - com o ato de atar pessoas. Portugal manifestou-se contra a existência de uma ata na grafia pré-acordo, Angola a favor: ?Quando a forma ortográfica muda, as palavras não significam a mesma coisa?, defendeu um governante angolano
Exigências de Angola e Moçambique sobre o Acordo Ortográfico (AO) obrigaram à alteração da ata final da XIV Conferência dos Ministros da Justiça da CPLP, em Díli, para incluir, ao longo de todo o texto, as duas grafias.
Esta foi a solução encontrada depois de um debate que incluiu referências múltiplas à "língua de Camões" e até a análise etimológica da palavra "ata", que o representante da Guiné-Bissau disse poder suscitar uma interpretação alternativa "de atar pessoas".
A solução, proposta pelo ministro da Justiça de Cabo Verde, foi necessária para evitar a alternativa defendida inicialmente pelos representantes de Angola e Moçambique: duas atas, uma na grafia do AO e outra na grafia pré-AO.
Essa posição foi rejeitada por Portugal, Cabo Verde, Brasil e São Tomé e Príncipe, que consideraram que essa alternativa não faria sentido numa comunidade que fala a mesma língua, sendo prejudicial porque daria 'armas' aos que contestam a CPLP.
O representante do secretariado executivo da CPLP recordou, por seu lado, que o critério usado até aqui nas cimeiras de Chefes de Estado e de Governo e nos encontros setoriais da comunidade tem sido de recorrer à grafia usada no país onde decorre a reunião.
Nesse caso, e a manter-se esse critério, a ata final da reunião de Díli seria feita com a grafia do AO, que já foi ratificado por Timor-Leste.
A polémica marcou a sessão de encerramento da XIV Conferência quando os representantes nacionais se preparavam para aprovar o texto das 17 páginas da ata final do encontro, que passou a incluir a grafia do AO como base e a grafia pré-AO entre parenteses.
O debate começou quando estava para ser lida a ata final, tendo o secretário de Estado dos Direitos Humanos angolano, António Bento Bembe, afirmado que Angola ainda não tinha ratificado o AO, questionando por isso o seu uso no texto.
"A questão aqui não é como falamos, mas como escrevemos. Quando a forma ortográfica muda, as palavras não significam a mesma coisa", disse António Bento Bembe.
"Uma vez que se chega a este acordo na base do consenso, não posso assinar este documento que não está escrito da forma que se fala em Angola. Camões não escreveu assim", disse.
A posição foi ecoada pelo ministro da Justiça de Moçambique, Abdurremane Lino de Almeida, e pelo representante da Guiné-Bissau, tendo o secretário de Estado da Justiça português, António Manuel da Costa Moura, afirmando que a decisão deveria caber a Timor-Leste, já que a ata foi escrita em Díli.
"Ter duas atas seria um prato de lentilhas para quem quisesse explorar divergências sobre a língua numa comunidade que fala português. Percebo a questão e tenho até uma opinião pessoal. Mas ter duas versões de uma mesma língua, de uma reunião, de uma comunidade, que fala uma língua não será muito boa ideia", disse Costa Moura.
Também o ministro da Justiça de Cabo Verde, José Carlos Lopes, e o de São Tomé e Príncipe, Roberto Pedro Raposo, questionaram a opção das duas atas, propondo um voto ou a definição, pela presidência, do critério a seguir.
"Independente do respeito que tenho pelas pessoas que ainda não ratificaram o AO, ter duas atas é contraditório. Falamos a mesma língua", disse Raposo, sugerindo que a ata incluísse uma nota a recordar os países que ainda não ratificaram o AO.
Guiné-Bissau, Angola e Moçambique manifestaram a sua oposição à versão com AO, insistindo que o documento "tem que ser apreciado superiormente", com o responsável moçambicano a referir casos, no passado, em que responsáveis governativos devolveram documentos "mal escritos" porque vinham na grafia do AO.
"Conhecendo esta realidade, não posso levar isto, este documento escrito assim. Se prevalece a assinatura da ata, que seja de acordo com a velha língua portuguesa - não temos como apresentar isso às autoridades", disse Abdurremane Lino de Almeida.
Depois de um debate de quase 30 minutos, o impasse acabou por ser resolvido com uma solução invulgar: duas grafias no mesmo texto, ignorando apelos dos que, como o representante do Brasil, recordaram que no passado sempre houve só uma ata. "Até no recente encontro dos ministros da Educação", disse Isulino Giacometi Junior, representante brasileiro.
A ata acabou por referir, no seu próprio texto, a oposição de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique à grafia do texto e a decisão, depois de debate, "que se aplicariam ambos os critérios em simultâneo".
"O plano de ajuda à Grécia era ilegal e ilegítimo"
por Dominique Berns e Eric Toussaint [*]
entrevistados por Le Soir
Enquanto as negociações entre a Grécia e seus credores estão no ponto morto, a Comissão de auditoria da dívida, estabelecida pelo Parlamento grego, revela seu relatório nesta quarta e quinta-feira. O alvo: o "plano de salvamento" de Maio de 2010, concluído em condições "de irregularidade, de ilegitimidade e de ilegalidade", explica o coordenador científico da Comissão, o economista belga Eric Toussaint.
A Comissão de auditoria denuncia o "plano de salvamento" de Maio de 2010. Por que?
Porque há uma vontade conjunta do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Central Europeu (BCE), da Comissão, em acordo com vários governos chave, em particular o alemão e o francês, e do governo grego, de deformar a realidade e de apresentar a situação como resultante de uma crise grave das finanças públicas. Era entretanto a dívida privada que colocava o problema fundamental. Uma vez no euro, a Grécia e o sistema financeiro grego beneficiaram maciçamente de empréstimos dos grandes bancos, essencialmente franceses e alemães. Seguiu-se uma bolha do crédito privado. Entre 2001 e 2009, os empréstimos dos bancos gregos às famílias multiplicaram-se por sete e os empréstimos às empresas por quatro; ao passo que os empréstimos aos poderes públicos aumentavam somente 20%. Os bancos gregos efectuaram uma política aventureira, emprestando a médio e longo prazos e financiando-se a curto prazo. Em Dezembro de 2008, as autoridades gregas tiveram de injectar 5 mil milhões de euros de capitais no sistema bancário e conceder 23 mil milhões de garantias. Depois, em 2009, o PIB da Grécia caiu 4%; e agentes económicos, famílias e empresas começaram a encontrar dificuldades de reembolso. Em lugar de enfrentar a situação, o novo governo do sr. Papandreu optou por dramatizar a situação das finanças públicas.
Pouco após sua chegada ao poder, Papandreu anuncia que o défice público representava cerca de 14% do PIB ? e não 6% como afirmava seu antecessor...
O governo Papandreu fez pressão sobre o Gabinete Grego das Estatísticas para agravar os números do défice e da dívida. A dívida foi assim inchada em 28 mil milhões, nela contabilizando 19 mil milhões de dívidas de empresas públicas, 4 mil milhões de despesas em medicamentos de hospitais e 5 mil milhões e swaps. Inicialmente, a direcção do Gabinete das Estatísticas contestava a integração destes montantes. O Eurostat, o gabinete europeu de estatística, igualmente. Depois o Eurostat aceitou. Ora, as regras do Eurostat não obrigavam a integrar estes 28 mil milhões na dívida. Dramatizar a situação das finanças públicas permitia ocultar os problemas bancários.
Para evitar impor perdas aos credores estrangeiros dos bancos gregos?
Sim. Assim como se afastou a possibilidade de uma reestruturação da dívida pública...
... Novamente para proteger os grandes bancos estrangeiros e lhes dar tempo para reduzir sua exposição. Isto é conhecido.
O ex-representante grego no FMI, Panayotis Roumeliotis, informou-nos que Jean-Claude Trichet, o [então] presidente do BCE, ameaçou Atenas de cortar a liquidez aos bancos gregos a partir de Abril de 2010 em caso de reestruturação. Os bancos gregos aproveitaram igualmente deste adiamento: entre 2010 e a reestruturação de Fevereiro-Março de 2010, sua exposição à dívida grega passou de 43 mil milhões para pouco de 20 mil milhões. Compreende-se porque tanto o sr. Papandreu como os srs. Trichet e Sarkosy, a sra. Merkel e a direcção do FMI se puseram de acordo em 2010 para excluir toda reestruturação da dívida. Ora, num documento interno de Março de 2010, o FMI espera que as medidas de ajustamento que vão ser impostas à Grécia provoquem uma queda da actividade económica e uma explosão do rácio da dívida pública em relação ao PIB de 150% em 2013. Problema: as regras não permitem ao FMI autorizar um país a exercer um direito de saque se a dívida não for sustentável. Eis porque estas regras foram mudadas, sob a pressão de países como a França ou a Alemanha, do BCE, da Comissão, com o acordo dos Estados Unidos. Portanto foi tomada uma decisão visando proteger os interesses de uma minoria privilegiada de grandes bancos privados, em detrimento do interesse geral. E como contrapartida a estes empréstimos maciços que transformaram dívidas privadas em dívidas públicas, foram ditadas aos sucessivos governos gregos medidas extremamente precisas em matérias de pensões, de salários, etc, que deviam ser aprovadas a mata-cavalos no Parlamento grego. Ora, os credores estavam conscientes das graves consequências económicas e sociais que estas medida iam provocar ? nomeadamente a violação de uma série de convenções internacionais protegendo os direitos humanos, que a Grécia assim como os Estados credores teriam devido respeitar.
Qual pode ser a utilidade deste relatório?
O direito internacional permite a um Estado colocar um acto soberano de suspensão de pagamento sem acumulação de juros atrasados ? portanto uma moratória unilateral ? se a dívida estiver claramente marcada por ilegitimidade e se não puder ser reembolsada senão violando as obrigações em matéria de direitos humanos fundamentais. Mas a decisão caberá ao governo de Alexis Tsipras.
[*] Eric Toussaint: Mestre de conferências da Universidade de Liège, presidente do CADTM Bélgica e membro do conselho científico do ATTAC França.
Ver também:
La dette grecque est illégale, illégitime et odieuse selon le rapport préliminaire du Comité sur la dette
Hellenic Parliament?s Debt Truth Committee Preliminary Findings - Executive Summary of the report
O original encontra-se no jornal Le Soir de 17/Junho/15 e em cadtm.org/Le-plan-d-aide-a-la-Grece-etait
Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/ .
CAPITULAÇÃO ABJECTA
As cedências do governo grego chegaram agora à abjecção. Ele já rasteja frente à troika. Num acto de vassalagem, no dia 23 de Junho foram anunciadas novas propostas do governo SYRIZA-ANEL de medidas gravosas contra o povo. "Sentimo-nost traídos, este governo continua a política de degola imposta pelos seus antecessores. Ele propõe incontáveis novos impostos directos e indirectos a serem suportados pelo povo", afirmou Manolia Rallakis, secretário-geral da federação dos pensionistas gregos. As pensões anteriormente haviam sido cortados entre 60 e 40 por cento e agora o governo SYRIZA-ANEL propõe a Bruxelas ainda mais encargos adicionais sobre cuidados de saúde e serviços.
PAME: Todos às ruas
Terça-feira 23 de Junho o PAME organiza uma nova manifestação na Praça Omonia às 18h00.
O PAME [Frente Militante de Todos os Trabalhadores gregos] está a convocar uma "mobilização popular para impedir o novo acordo selvagem anti-povo, o novo pacote anti-povo com que eles querem sobrecarregar-nos.
No mesmo dia os pensionistas farão uma manifestação nacional em Atenas.
Na sua convocatória para a manifestação o PAME nota que:
"A solução tem de ser encontrada nas lutas sob as bandeiras do trabalhadores, dos interesses do povo, com base nos nossos direitos e necessidade e não naqueles dos patrões. A solução tem de ser encontrada na confrontação nos lugares de trabalho, no contra-ataque total contra nossos exploradores, os quais são os únicos que têm aproveitado das novas medidas bárbaras.
Nós estabelecemos as nossas próprias linhas vermelhas
Viramos as costas àqueles que nos querem a aplaudir o governo e seus parceiros, os torcedores de uma negociação que está a levar-nos à pobreza para os lucros de poucos.
Viramos às costas aos defensores da UE, às uniões do capital e dos seus servidores que estão a protestar pelo direito a continuar a viver a partir do suor dos outros, a continuar a explorar a vasta maioria do povo ainda mais selvaticamente.
Não temos nada a ver com eles! Não somos os mesmos!
Nós não colocamos nossas palavras de ordem e cartazes sob falsas bandeiras. Não temos os mesmos interesses, as mesmas necessidades, as mesmas ansiedades e dificuldades dos nossos exploradores.
Você ou está com os monopólios ou com as necessidades do povo! Não há outro caminho! Nosso caminho é da luta, da ruptura com a UE e a via dos monopólios.
Nenhum apoio ao novo memorando, seja qual o nome que lhe seja dado!
Não-aceitação da UE bárbara e anti-povo!
No dia 11 de Junho mais de 700 organizações de trabalhadores e populares deram uma forte resposta em 60 cidades gregas.
Na terça-feira, a voz dos trabalhadores, dos pensionistas, da juventude, das mulheres será ouvida outra vez.
Nossas lutas não são um jogo na competição dos monopólios, as propostas e linha política da UE, FMI, BCE, Rússia e China. O povo não tem interesse em escolher a corda que estas forças utilizarão para enforcá-lo, seu interesse está em por em causa estas forças.
Toda a gente dever juntar-se às lutas!
Trabalhadores, desempregado, jovens.
Não aceitem:
As novas e velhas leis anti-sociais de segurança.
A continuação dos ataques ao rendimento, salários e pensões do povo.
Os novos impostos e gravames.
Nossas vidas não podem aguentar outras medidas. Nossas necessidades não podem esperar. Exigimos, aqui e agora, em oposição à intimidação e à chantagem:
Aumentos de salários, pensões e benefícios
Recuperação de todas as perdas.
Restauração dos acordos de trabalho Colectivos.
Abolição das leis anti-trabalhador.
Protecção real de todos os desempregados.
Organizemos a nossa resposta!
Acumulemos a nossa força!
Fortaleçamos nossos sindicatos em todos os sectores. Respondamos militantemente! Esmaguemos o clima de medo, a chantagem e as ameaças do patronato, do governo, da UE-FMI-BCE.
Só a nossa fortaleza e posicionamento podem abolir as leis anti-povo, o memorando e os patrões!"
22/Junho/2015
O original encontra-se em inter.kke.gr/en/articles/PAME-Everyone-onto-the-streets/
Esta convocatória encontra-se em http://resistir.info/ .
Syriza: Saqueio, pilhagem e prostração
? Como a "esquerda" abraça políticas de direita
por James Petras
A Grécia tem estado nas manchetes da imprensa financeira internacional durante os últimos cinco meses, quando o partido de esquerda recém eleito, o Syriza, que se opunha ostensivamente às chamadas "medidas de austeridade", confrontava directamente a Troika (Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu).
Inicialmente a liderança do Syriza, encabeçada por Alexis Tsipras, adoptou vários posicionamentos estratégicos com consequências fatais ? em termos de implementação das suas promessas eleitorais de elevar padrões de vida, acabar com a vassalagem à Troika e seguir uma política externa independente.
Prosseguiremos esboçando os fracassos sistémicos iniciais do Syriza e as subsequentes concessões, corroendo mais uma vez padrões de vida gregos e aprofundando o papel da Grécia como um colaborador activo do imperialismo dos EUA e israelense.
Ganhar eleições e capitular ao poder
A esquerda norte-americana e europeia celebrou a vitória eleitoral do Syriza como uma ruptura com programas de austeridade neoliberais e como o lançamento de uma alternativa radical, a qual implementaria iniciativas populares para mudanças sociais básicas, incluindo medidas para gerar emprego, restabelecer pensões, reverter privatizações, reordenar prioridades do governo e favorecer pagamentos a empregados em relação a bancos estrangeiros. A "evidência" para a agenda de reforma radical estava contida no Manifesto de Salónica , o qual o Syriza prometeu que seria o programa condutor dos seus responsáveis recém eleitos.
Contudo, antes e imediatamente depois de serem eleitos, líderes do Syriza adoptaram três decisões básicas eliminando quaisquer mudanças significativas. Na verdade, estas decisões puseram em curso uma rota reaccionária .
Em primeiro lugar e acima de tudo, o Syriza aceitou como legítima a dívida externa de mais de 350 mil milhões de dólares, apesar de a maior parte ter sido assinada por anteriores governos cleptocratas, bancos, negócios, imobiliário e interesses financeiros corruptos. Virtualmente nada desta dívida foi utilizada para financiar actividade produtiva ou serviços vitais, os quais fortaleceriam a economia e a futura capacidade da Grécia para reembolsar os empréstimos.
Centenas de milhares de milhões de Euros foram escondidos longe através de contas em bancos e imobiliário estrangeiro ou investidos em acções e títulos além-mar. Depois de afirmar a "legitimidade" da dívida ilícita, o Syriza prosseguiu declarando sua "disposição" para pagar a dívida. A Troika imediatamente entendeu que o novo governo Syriza seria um refém receptivo a nova coerção, à chantagem e pagamentos da dívida.
Em segundo lugar, e relacionado com o acima, o Syriza declarou sua determinação de permanecer dentro da União Europeia e da Eurozona e portanto aceitou a rendição da sua soberania e da sua capacidade para moldar uma política independente. Declarou a sua disposição a submeter-se aos ditames da Troika. Uma vez sob a pata da Troika, a única política do Syriza seria "negociar", "renegociar" e fazer novas concessões aos bancos da UE num processo totalmente unilateral. A rápida submissão do Syriza à Troika foi a sua segunda traição estratégica, mas não a última, ao seu programa eleitoral.
Uma vez que o Syriza demonstrou à Troika a sua disposição para trair seu programa popular, a Troika escalou suas exigências e endureceu sua intransigência. Bruxelas descontou a retórica de esquerda do Syriza e seus gestos radicais de teatro como um sopro de fumaça nos olhos do eleitorado grego. Os banqueiros da UE sabiam que quando chegasse o momento de negociar novos acordos de empréstimo, a liderança do Syriza capitularia. Enquanto isso, a esquerda euro-americana engoliu toda a retórica radical do Syriza sem olhar para sua prática real.
Em terceiro lugar, ao tomar posse, o Syriza negociou uma coligação com a extrema-direita do Partido dos Gregos Independentes , pró NATO, xenófobo e anti-imigrantes, garantindo que a Grécia continuaria a apoiar políticas militares da NATO no Médio Oriente, na Ucrânia e a campanha brutal de Israel contra a Palestina.
Em quarto lugar, a maior parte dos nomeados para o gabinete do primeiro-ministro Tsipras não tinham experiência de luta de classe. Pior ainda, a maior parte eram académicos e antigos conselheiros do PASOK sem qualquer capacidade ou disposição para romper com os ditames da Troika. Sua "prática" académica consistia em grande parte de "combate" teórico, mal adaptado à confrontação no mundo real com potências imperiais agressivas.
De um arranhão à gangrena
Ao capitular à UE desde o início, incluindo a aceitação do pagamento da dívida ilegítima, enganchado à Extrema-direita e submisso aos ditames da Troika, o cenário estava pronto para que o Syriza traísse todas as suas promessas e agravasse o fardo económico dos seus apoiantes . As piores traições incluem: (1) não restabelecer pagamentos de pensões; (2) não restabelecer o salário mínimo; (3) não reverter privatizações; (4) não finalizar programas de austeridade; e (5) não aumentar fundos para educação, saúde, habitação e desenvolvimento local.
A Troika e seus publicistas na imprensa financeira estão a exigir que o Syriza corte ainda mais o sistema grego de pensões, empobrecendo 1,5 milhão de trabalhadores reformados. Ao contrário do que os media apresentaram como "exemplos" de pensões gordas desfrutadas por menos de 5% de pensionistas, os gregos sofreram as mais profundas reduções de pensões na Europa em mais de um século. Só nos últimos quatro anos a Troika cortou oito vezes as pensões gregas. A vasta maioria das pensões foi amputada em aproximadamente 50% desde 2010. A pensão média é de 700 Euros por mês mas 45% dos pensionistas gregos recebem menos de 665 Euros por mês ? abaixo da linha de pobreza. Mas a Troika exige reduções ainda maiores. Estas incluem por fim a subsídios orçamentais a pensionistas que vivem em pobreza extrema, um aumento na idade de reforma para 67 anos, uma abolição de disposições de pensões ligadas a ocupações perigosas e para mães trabalhadoras. As medidas regressivas prévias, impostas pela Troika e implementadas pelo regime anterior da coligação de direita, esgotou gravemente o fundo de pensões grego. Em 2012, o programa de "reestruturação da dívida" da Troika levou à perda de 25 mil milhões de Euros de reservas possuídas pelo governo grego em títulos governamentais. As políticas de austeridade da Troika asseguraram que as reservas para pensões não seriam reabastecidas. As contribuições mergulharam quando o desemprego ascendeu a cerca de 30% ( Financial Times, 6/5/15, p.4). Apesar do assalto frontal da Troika ao sistema de pensões grego, a "equipe económica" do Syriza manifestou sua disposição para elevar a idade de reforma, cortar pensões em 5% e negociar novas traições a pensionistas enfrentando privações. O Syriza não só fracassou em cumprir sua promessa de campanha de reverter as políticas regressivas anteriores como comprometeu-se nas suas próprias liquidações "pragmáticas" junto à Troika.
Pior ainda, o Syriza aprofundou e estendeu as políticas dos seus antecessores reaccionários. (1) O Syriza prometeu congelar privatizações: Agora ele promete estendê-las em 3,2 mil milhões de Euros e privatizar novos sectores públicos. (2) O Syriza concordou atribuir recursos públicos escassos aos militares, incluindo um investimento de 500 milhões de Euros para aperfeiçoar a Força Aérea Grega. (3) O Syriza pilhou o fundo nacional de pensões e tesourarias municipais em mais de mil milhões de euros para cumprir pagamentos de dívidas à Troika. (4) O Syriza está a cortar investimentos públicos em projectos de infraestrutura e criação de emprego para atender datas finais da Troika. (5) O Syriza concordou com um excedente orçamental de 0,6% no momento em que a Grécia está a incidir, neste ano, num défice de 0,7% ? o que significa mais cortes depois deste ano. (6) O Syriza prometia reduzir o IVA sobre bens essenciais como alimentos; agora aceita uma taxa de 23%.
A política externa do Syriza imita a dos seus antecessores. O ministro da Defesa de extrema-direita do Syriza, Panos Kammenos, tem sido um apoiante ruidoso das sanções dos EUA e UE contra a Rússia ? apesar da agitação habitual dos falsos "dissidentes" do Syriza a políticas da NATO, seguidas pela capitulação total ? para permanecer nas boas graças da NATO. O regime Syriza tem permitido a todos os cleptocratas e evasores fiscais bem conhecidos a reterem sua riqueza ilícita e aumentarem seus haveres além-mar com transferências maciças das suas actuais "poupanças" para fora do país. No fim de Maio de 2015, o primeiro-ministro Tsipras e o ministro das Finanças Varoufakis esvaziou o Tesouro para atender a pagamentos de dívida, aumentando as perspectivas de que pensionistas e trabalhadores do sector público não receberão os seus benefícios. Tendo esvaziado o Tesouro grego, o Syriza agora imporá a "Solução Troika" sobre as costas das empobrecidas massas gregas: ou aprovar um novo plano de "austeridade", reduzindo pensões, aumentando a idade de reforma, eliminando leis de protecção à segurança de empregos dos trabalhadores e negociando direitos ou enfrentar um tesouro vazio, sem pensões, aumento do desemprego e aprofundamento da depressão económica. O Syriza deliberadamente esvaziou o Tesouro, pilhou fundos de pensão e haveres locais de municípios a fim de chantagear a população a aceitar como um facto consumado as políticas regressivas de banqueiros da UE ? os chamados "programas de austeridade".
Desde o princípio , o Syriza atendeu aos ditames da Troika, mesmo quando eles encenavam sua "resistência de princípio". Primeiro mentiram ao público grego, chamando a Troika de "parceiros internacionais". A seguir mentiram outra vez chamando o memorando da Troika para maior austeridade de "documento negocial". Os enganos do Syriza pretendiam esconder a sua continuação do "quadro" altamente impopular imposto pelo anterior e desacreditado regime de extrema-direita.
Ao pilhar o país de recursos a fim de pagar os banqueiros, o Syriza escalou sua abjecção internacional. Seu ministro da Defesa ofereceu novas bases militares à NATO, incluindo uma base aérea-marítima na ilha grega de Carpatos. O Syriza escalou o apoio político e militar da Grécia à UE e aos EUA para intervenções militares e apoio a terroristas "moderados" no Médio Oriente, ridiculamente em nome da "protecção de cristãos". A bajulação do Syriza a sionistas europeus e estado-unidenses, fortalecendo seus laços com Israel, evocando uma "aliança estratégica" com o estado do apartheid terrorista. Desde os seus primeiros dias no gabinete, o ministro de extrema-direita da Defesa, Kammenos, propôs a criação de um "espaço de defesa comum" incluindo Chipre e Israel ? apoiando portanto o bloqueio aéreo e marítimo de Israel a Gaza.
Conclusão
A decisão política do Syriza de " embutir-se " na UE e na Eurozona, a todo custo, assinala que a Grécia continuará a ser um estado vassalo , traindo seu programa e adoptando políticas profundamente reaccionárias, mesmo enquanto trombeteia sua falsa retórica esquerdista e finge "resistência" à Troika. Apesar do facto de o Syriza ter pilhado pensões internas e tesourarias locais, muitos iludidos esquerdistas na Europa e nos EUA continuam a aceitar e racionalizar o que eles escolheram alcunhando-as como "compromissos realistas e pragmáticos".
O Syriza podia ter confiscado e utilizado os US$32 mil milhões de propriedades imobiliárias possuídas pelas Forças Armadas Gregas para implementar um plano alternativo de investimento e desenvolvimento ? arrendando estas propriedades para portos marítimos, aeroportos e instalações turísticas comerciais .
O Syriza enterrou a Grécia ainda mais fundo dentro da hierarquia dominada pelas finanças alemãs, ao capitular do seu poder soberano de impor uma moratória da dívida, abandonar a Eurozona, preservar seus recursos financeiros, restabelecer uma divisa nacional, impor controles de capitais, confiscar milhares de milhões de Euros em contas ilícitas além-mar, mobilizar fundos locais para financiar a recuperação económica e reactivar o sector público e privado. O falso "Sector de esquerda" dentro do Syriza repetidamente balbuciou "objecções" impotentes, enquanto Tsipras-Varoufakis prosseguiam a liquidação mistério até a capitulação final.
No final das contas, o Syriza aprofundou a pobreza e o desemprego, aumentou o controle estrangeiro sobre a economia, desgastou ainda mais o sector público, facilitou o despedimento de trabalhadores e cortou nas indemnizações por despedimento ? enquanto aumentou o papel dos militares gregos ao aprofundar suas ligações à NATO e a Israel.
Igualmente importante, o Syriza esvaziou totalmente a fraseologia de esquerda de qualquer significado cognitivo: para eles, soberania nacional traduz-se em vassalagem internacional e anti-austeridade tornam-se capitulações pragmáticas a nova austeridade. Quando o acordo Tsipras-Troika for finalmente assinado e o terrível dano da austeridade durante as próximas décadas afundar-se dentro da consciência do público grego, a traição esperançosamente dará lugar à repulsa em massa. Talvez o Syriza venha ser dividido e a "esquerda" finalmente abandone seus confortáveis postos no gabinete e se junte aos milhões insatisfeitos para formar um partido alternativo.
15/Junho/2015
O original encontra-se em petras.lahaine.org/?p=2039
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
21/Jun/15