Juan Torres López
Sistema Digital
Quando se está a falar tanto da necessidade, da iminência ou da possibilidade dum ?resgate? da economia espanhola convém reflexionar e pôr algumhas cousas em claro.
Dizê-se que um grupo de países ou instituiçons, como poderiam ser a Uniom Europeia ou o Fundo Monetário Internacional, ?resgatam? um país quando lhe concedem um crédito a pagar num determinado prazo que lhe permite cobrir os ?buracos? que por diversas razons (geralmente por acumulaçom de deficit e dívidas) tenham podido produzir sua insolvência. Mas há que ter em conta que esses buracos podem ser de natureza muito variada. Assim, muitas ditaduras e governos militares dos anos setenta e oitenta endividárom a seus países, com a conivência dos grandes bancos internacionais, com empréstimos que em ocasions nem sequer chegaram a eles senom que se utilizaram fora do país para negócios corruptos. Outras vezes utilizaram-nos em obras completamente inúteis ou directamente para enriquecer aos grandes empresários e banqueiros.
No recente caso de Irlanda, a necessidade peremptória de ?ajuda? deve-se a que há que cobrir as perdas multimilionárias do sector bancário. E umha parte importante da dívida pública grega que foi ?resgatada? recentemente originou-se para comprar armamento a França ou Alemanha.
Quando a acumulaçom de dívida à que nom se pode fazer frente é muito grande, os credores som os primeiros interessados em que se produza o ?resgate? do país pois dessa maneira asseguram-se sua reintegro. E costumam ser eles os que o promovem. O dinheiro que chega com o "resgate" dedica-se a saldar suas dívidas e a nova que se origina com as instituiçons que resgatam a pagam os cidadaos em seu conjunto ao longo do tempo. Os ?resgates? consistem, pois, em converter dívida privada, que polo geral geraram e desfrutado os sectores mais ricos, em dívida pública que pagárom principalmente as classes de rendas mais baixas. Mas a cousa nom fica aí. O ?resgate? nom se produz nunca como umha dádiva senom a condiçom de que o país ?resgatado? cumpra umha série de condiçons. A primeira, que esta nova dívida tenha sempre carácter preferente e, ademais, que se tomem as medidas de política económica e mudança estrutural que convenham a quem ?resgata?.
Graças a esse procedimento, a dívida externa que se originou em muitos países ao longo dos anos setenta e oitenta foi a antessala da aplicaçom das políticas neoliberais que promovem o Fundo Monetário Internacional e os grupos mais poderosos do mundo que, para fechar o círculo, som ademais os que se beneficiam do saldo da dívida.
por James Petras*
Enquanto os progressistas e os esquerdistas escrevem sobre as "crises do capitalismo", os industriais, as companhias petrolíferas, os banqueiros e muitas outras grandes empresas de ambos os lados do Atlântico e da costa do Pacífico encaminham-se sorrateiramente para a banca.
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A partir do primeiro trimestre deste ano, os lucros das empresas dispararam entre vinte a mais de cem por cento (Financial Times, 10/Agosto/2010, p. 7). Na realidade, os lucros das empresas subiram mais do que antes do início da recessão em 2008 (Money Morning, 31/Março/2010). Contrariamente aos bloggers progressistas as taxas dos lucros estão a subir em vez de descer, principalmente entre as maiores empresas (Consensus Economics, 12/Agosto/2010). O acréscimo dos lucros empresariais é consequência directa do agravamento das crises da classe trabalhadora, dos funcionários públicos e privados e das pequenas e médias empresas.
No início da recessão, o grande capital eliminou milhões de postos de trabalho (um em cada quatro americanos ficou desempregado em 2010), conseguiu recuos dos patrões dos sindicatos, beneficiou de isenções de impostos, de subsídios e de empréstimos praticamente sem juros dos governos locais, estaduais e federal.
Quando a recessão bateu no fundo temporariamente, os grandes negócios duplicaram a produção com a restante mão-de-obra, intensificando a exploração (maior produção por trabalhador) e reduziram os custos passando para a classe trabalhadora uma fatia muito maior dos encargos com os seguros de saúde e com os benefícios de pensões a aquiescência dos responsáveis milionários dos sindicatos. O resultado é que, embora as receitas tenham diminuído, os lucros subiram e os balancetes melhoraram (Financial Times, 10/Agosto/2010). Paradoxalmente, os directores-gerais utilizaram o pretexto e a retórica das "crises" oriunda dos jornalistas progressistas para impedir os trabalhadores de exigirem uma fatia maior dos lucros florescentes, ajudados pela reserva cada vez maior de trabalhadores desempregados e sub-empregados como possíveis "substitutos" (amarelos) no caso de acções de protesto.
A actual explosão de lucros não beneficiou todos os sectores do capitalismo: a sorte grande saiu sobretudo às maiores empresas. Em contrapartida, muitas pequenas e médias empresas registaram altas taxas de falências e de prejuízos, o que as tornou baratas e presa fácil para aquisição pelos "grandes chefões" ( Financial Times, 01/Agosto/2010). As crises do capital médio levaram à concentração e centralização do capital e contribuíram para a taxa crescente de lucros das empresas maiores.
O diagnóstico falhado das crises capitalistas feito pela esquerda e pelos progressistas tem sido um problema omnipresente desde o fim da II Guerra Mundial, quando nos foi dito que o capitalismo estava ?em estagnação? e se dirigia para um colapso final. Os recentes profetas do apocalipse viram na recessão de 2008-2009 a queda definitiva e total do sistema capitalista mundial. Cegos pelo etnocentrismo euro-americano, não viram que o capital asiático nunca entrou nas "crises finais" e a América Latina teve uma versão suave e passageira ( Financial Times. 09/Junho/2010, p. 9). Os falsos profetas não conseguiram reconhecer que os diferentes tipos de capitalismo são mais ou menos susceptíveis às crises? e que algumas variantes tendem a sofrer rápidas recuperações (Ásia, América Latina, Alemanha) enquanto outras (EUA, Inglaterra, Europa do Sul e do Leste) são mais susceptíveis a recuperações anémicas e precárias.
Enquanto a Exxon-Mobil arrebanhou mais de 100% de aumento de lucros em 2010 e as empresas de automóveis registaram os seus maiores lucros dos últimos anos, os salários dos trabalhadores e o seu nível de vida diminuíram e os funcionários públicos sofreram pesados cortes e despedimentos maciços. É óbvio que a recuperação de lucros empresariais se baseia na mais dura exploração da mão-de-obra e de maiores transferências de recursos públicos para as grandes empresas privadas. O estado capitalista, com o presidente democrata Obama à frente, transferiu milhares de milhões para o grande capital através das operações de salvamento, empréstimos praticamente isentos de juros, cortes nos impostos e pressionou a força de trabalho a aceitar salários mais baixos e reduções na saúde e das pensões. O plano da Casa Branca para a ?recuperação? resultou para lá de todas as expectativas ? os lucros empresariais recuperaram; "só" a grande maioria dos trabalhadores é que se afundou mais nas crises.
As previsões falhadas dos progressistas quanto à morte do capitalismo são consequência directa da subavaliação da dimensão com que a Casa Branca e o Congresso iria pilhar o erário público para ressuscitar o capital. Subavaliaram o grau com que o capital iria ser aliviado para sacudir toda a carga da recuperação de lucros para cima das costas dos trabalhadores. Neste aspecto, a retórica progressista sobre a "resistência da força de trabalho" e o "movimento sindical" reflectiram a falta de compreensão de que praticamente não tem havido qualquer resistência à redução dos salários sociais e monetários porque não existe organização da força de trabalho. O que se intitula como tal está completamente ossificado e ao serviço dos defensores da Wall Street do Partido Democrata na Casa Branca.
Processo precàrio
O que o actual impacto desigual e injusto do sistema capitalista nos diz é que o capitalismo consegue ultrapassar as crises aumentando apenas a exploração e anulando décadas de "ganhos sociais". Mas o actual processo de recuperação de lucros é altamente precário porque se baseia na exploração de inventários actuais, taxas de juros baixas e cortes nos custos da mão-de-obra (Financial Times, 10/Agosto/2010, p. 7). Não se baseia em novos investimentos privados dinâmicos nem no aumento da capacidade produtiva. Por outras palavras, são "ganhos ocasionais" ? não são lucros provenientes de receitas de vendas acrescidas nem de mercados de consumo em expansão. Como poderiam ser ? se os salários estão a diminuir e o desemprego, o sub-emprego e a redução da mão-de-obra é maior do que 22%? Obviamente, esta explosão de lucros a curto prazo, com base em vantagens políticas e sociais e num poder privilegiado, não é sustentável. Há limites para os despedimentos maciços de funcionários públicos e para os ganhos de produção a partir da exploração intensificada da mão-de-obra? alguma coisa tem que ceder. Uma coisa é certa: O sistema capitalista não vai cair nem ser substituído por causa da sua podridão interna ou"contradições".
por Paul Craig Roberts [*]
Na véspera do dia e acção de graças o jornal em língua inglesa China Daily e People's Daily Online informaram que a Rússia e a China havia efectuado um acordo para abandonar a utilização do US dólar no seu comércio bilateral e usaram as suas próprias divisas em substituição. Os russos e os chineses disseram que haviam dado este passo a fim de isolar as suas economias dos riscos que minaram a sua confiança no US dólar como divisa de reserva mundial.
Isto é grande notícia, especialmente no período de poucas notícias do feriado do dia de acção de graças, mas não a vi relatada na Bloomberg, CNN, New York Times ou em qualquer media impresso ou na TV dos EUA. A cabeça do avestruz permanece na areia.
Anteriormente, a China concluíra o mesmo acordo com o Brasil.
Como a China tem uma grande e crescente provisão de dólares com os excedentes comerciais com os quais comercia, a China está a indicar que prefere rublos russos e reais brasileiros a mais US dólares.
A imprensa financeira americana consola-se com os episódios em que a dívida soberana amedronta a UE e remete o dólar para cima contra o euro e a libra esterlina. Mas estes movimentos de divisas são apenas medidas de actores financeiros a protegerem-se de dívidas perturbadas denominadas em euros. Eles não medem a força do dólar.
O papel do dólar como divisa mundial de reserva é um dos principais instrumentos da hegemonia financeira americana. Não nos disseram quanto dano a fraude da Wall Street infligiu às instituições financeiras da UE, mas os países da UE já não necessitam do US dólar para comerciarem entre si pois partilham uma divisa comum. Uma vez que os países da OPEP cessem de manter os dólares com que são pagos pelo petróleo, a hegemonia do dólar ter-se-á desvanecido.
Outro instrumento da hegemonia financeira americana é o FMI. Sempre que um país não pode honrar suas dívidas e reembolsar os bancos americanos, entra o FMI com um pacote de austeridade que esmaga a população do país com impostos mais altos e cortes em programas de educação, cuidados médicos e apoio ao rendimento até que os banqueiros obtenham o seu dinheiro de volta.
Isto está agora a acontecer à Irlanda e provável que se propague a Portugal, Espanha e talvez mesmo a França. Após a crise financeira causada pela América, o papel do FMI como uma ferramenta do imperialismo estado-unidense é cada vez menos aceitável. O facto poderá tornar-se evidente quando os governos não puderem mais liquidar os seus povos em benefício dos bancos americanos.
Há outros sinais de que alguns países estão a cansar-se da utilização irresponsável do poder por parte da América. Governos civis da Turquia há muito têm estado sob o controle dos militares turcos influenciados pela América. Contudo, recentemente o governo civil actuou contra dois altos generais e um almirante suspeitos de envolvimento no planeamento de um golpe. O governo civil afirmou-se mais uma vez quando o primeiro-ministro anunciou no dia de acção de graças que a Turquia está preparada para reagir a qualquer ofensiva israelense contra o Líbano. Eis aqui um aliado da NATO americana a libertar-se da suserania americana exercida através dos militares turcos. Quem sabe a Alemanha podia ser o próximo.
Enquanto isso, na América a administração Obama conseguiu propor uma Comissão do Défice cujos membros querem pagar as guerras de muitos milhões de milhões (trillion) de dólares que estão a enriquecer o complexo militar/segurança e o muitos milhões de milhões de dólares dos salvamentos do sistema financeiro através da redução de aumentos anuais da Segurança Social conforme o custo de vida, da elevação da idade de reforma para 69 anos, do fim da dedução do juro hipotecário, do fim da dedução fiscal de seguro de saúde proporcionado pelo empregador, da imposição de um imposto federal sobre vendas de 6,5 por cento, enquanto corta a taxa fiscal de topo para os ricos.
Mesmo as baixas taxas de juro do Federal Reserve são destinadas a ajudar os banksters [1] . As baixas taxas de juro privam os reformados e aqueles que vivem das suas poupanças do rendimento do juro. As baixas taxas de juro também privaram pensões corporativas de financiamento. Para colmatar o fosso há corporações que estão a emitir milhares de milhões de dólares em títulos corporativos a fim de financiar as suas pensões. A dívida corporativa está a aumentar, mas não as instalações e equipamentos que produziriam receitas para o serviço da dívida. À medida que a economia piora, servir a dívida adicional será um problema.
Além disso, os idosos da América estão a descobrir que cada vez menos médicos os aceitarão como pacientes pois um corte de 23 por cento prepara-se nos já baixos pagamentos do Medicare aos médicos.
O governo americano só tem recursos para guerras de agressão, intrusões de estado policial e salvamentos de banksters ricos. O cidadão americano tornou-se um mero sujeito a ser sangrado para as oligarquias dominantes.
A atitude de estado policial do Ministério da Segurança Interna em relação a viajantes de linhas aéreas é uma clara indicação de que os americanos já não são cidadãos com direitos mas sujeitos sem direitos. Ainda virá o dia talvez em que americanos oprimidos tomarão as ruas como os franceses, os gregos, os irlandeses e os britânicos.
29/Novembro/2010
[1] Banksters: banqueiros+gangsters.
[*] Foi editor do Wall Street Journal e secretário assistente do Tesouro dos EUA. Seu livro mais recente é How the Economy Was Lost . Contacto: PaulCraigRoberts@yahoo.com
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/roberts11292010.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
por Juan Torres López
Acaba de ser anunciado que o empréstimo a ser recebido pela Irlanda para tapar os buracos dos bancos e financiar a dívida provocada pela política neoliberal dos últimos anos terá uma taxa de juro de 5,8%.
Dias atrás descobrimos que a Reserva Federal dos Estados Unidos distribuiu, em mais de 21 mil operações secretas, de Dezembro de 2007 a Julho de 2010, mais de 3,3 mil milhões de dólares a um juro de 0,25% a grandes entidades financeiras e empresariais de todo o mundo. Dessa autêntica prenda beneficiaram-se bancos como Goldman Sachs, Citibank, JP Morgan Chase, Morgan Stanley, Merrill Lynch, Bank of America, Bear Stearns, Royal Bank of Canada, Scotiabank, Barclays Capital, Bank of Scotland, Deutsche Bank, Credit Suisse, BNP Paribas, Societe Generale, UBS, Bayerische Landesbank, Dresdner Bank, Commerzbank, Santander, BBVA; e multinacionais como General Electric, Caterpillar, Harley-Davidson, Verizon, McDonald's, BMW, ou Toyota. Algumas delas nem sequer o devolveram (as listagens podem ser lidas aqui e mais informação e comentários sobre isto aqui ).
Sabemos também que desde meados de 2009 o Banco Central Europeu está a proporcionar liquidez aos bancos privados, também quase presenteada, a 1%. Com o dinheiro que recebem, certamente compram a dívida dos estados a uma taxa mais elevada ganhando milhares de milhões graças à generosidade das nossas autoridades monetárias e ao mesmo tempo aproveitam para extorquir os governos ao obrigá-los a adoptar políticas que lhes facilitam ainda mais a obtenção de lucros.
Aos bancos que afundam as economias ou às grandes multinacionais que dominam o mundo emprestam o dinheiro a 0,25% ou a 1%.
Às pequenas e médias empresas que criam riqueza ou aos consumidores estão emprestando (quando o fazem) a 8% ou a 11% aos governos, ou seja, aos povos como o irlandês que hão de pagar a factura dos bancos internacionais o dinheiro é emprestado a 5,8%.
A mim me parece que tudo isto, o que fez a Reserva Federal à margem do seu governo e ou que está a fazer o Banco Central Europeu, só tem um nome: é um roubo à cidadania. Que outro nome pode ter dar dinheiro praticamente presenteado àqueles que criaram os problemas e a 6% ou mais àqueles que agora têm de solucioná-lo?
Reconheço que me ferve o sangue quando tomo conhecimento destes dados, ainda que reconheça que me sinto pior quando verifico que permanecemos calados perante um atropelo e uma imoralidade tão grande. Como é possível que os sindicatos, os partidos, os movimentos sociais, as organizações cidadãs e a imensa maioria das pessoas simplesmente honestas de qualquer ideologia permaneçam em silêncio perante tudo isto?
O original encontra-se em hl33.dinaserver.com/hosting/juantorreslopez.com/...
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Luita de classes: Patrons escravistas. Junta de Andaluzia proxeneta cúmplice
Umhas 50.000 mulheres, todas pertencentes ao proletariado europeu (polacas, rumanas, ... ou norte-africano (marroquinas, ...), vivem amoreadas em choupanas durante a longa tempada da colheita de morangos nos campos de Huelva. Se a dura jornada, de umhas 12 horas diárias sob o sol de verao e no campo nom fosse davondo, por 36 ?/dia; polas noites os patrons acompanhados de familiares e amigos acodem aos alpendres obrigando-lhes a ter sexo com eles, sofrendo toda classe de abusos e agressons sexuais. De nom aceitar, som ameaçadas com lhes proibir ir ao banheiro ou beber mentres estejam trabalhando e nom voltar a ser contratadas. Entretanto a ?socialista? Junta de Andaluzia olha para outra banda, como proxeneta cúmplice.
Milhons de cidacans perdêrom os seus empregos, e centos de milhares as suas vivendas, os bancos, entretanto ganhárom 32.000 milhons de euros entre 2008 e 2009. Ante tal injustiça, a resposta do governo do PSOE seja impor mais recortes: congelaçom das pensons, reforma laboral contra os trabalhadores e a preparaçom dos orçamentos mais restritivos
Servir ao capital aproveitando o gasto social
Milhares de milhons de euros aos que Zapatero nunca recorrerá
José Daniel Fierro
Rebeliom
No seu discurso da passada quarta-feira ante o Parlamento o presidente José Luis Rodríguez Zapatero reclamou um "esforço nacional e colectivo, especial, singular e extraordinário" ante a crise e assegurou que as medidas anunciadas para reduzir o deficit som muito duras mas imprescindíveis. Zapatero antecipou desse modo um plano imposto polo Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Uniom Europeia (UE) que significará um severo revés para a classe trabalhadora, que é a que está a levar a pior parte desde que se iniciasse a crise capitalista. E ainda que durante a campanha eleitoral de 2004 o presidente afirmou: governarei para os mais débeis, a realidade é que o seu governo nom fai mais que trabalhar para os bancos e as grandes empresas.
Com todo isso, o governo espera cumprir com cresces o recorte extra de 0,5% do PIB para este exercício e de 1% para o que vem, o que supom reduzir o gasto em 15.000 milhons e situar o deficit de 11,2% actual ao 6% no ano que vem.
Poderia parecer que umha quantidade como 15 mil milhons de euros é tám descomunal que só se pode reunir recorrendo a um duríssimo ajuste económico sobre os mais débeis. Vejamos no entanto que medidas governamentais se levaram a cabo nos últimos meses:
- Em 2009 criou-se o FROB (Fundo para a Reestruturaçom Ordenada Bancária), dotado com um orçamento de 9.000 milhons de euros, ampliáveis até 90.000 milhons, com o que se garantiu à burguesia financeira os fundos públicos necessários por se fizesse falta ir ao resgate de bancos e caixas com problemas.
- Pô-se em marcha também um plano para o investimento em obras públicas, tratando de frenar a sangria da perda de empregos na construçom (Plano E de obras públicas, ajudas à moradia de diferente tipo ?). Agora o governo projecta recortar em 6.045 milhons de euros esse investimento estatal em infra-estruturas, o que implicasse um aumento do desemprego entre os trabalhadores que se podiam ter beneficiado do citado programa.
- No mês de Dezembro o presidente anunciou a subida do IVA até o 18%; e um Plano de Austeridade e Poupança a desenvolver com as prefeituras e as Comunidades autónomas. Agora nom se descarta para Julho umha nova subida do IVA (que a sofrem maioritariamente as rendas mais baixas) enquanto a fraude fiscal (do que se beneficiam fundamentalmente as rendas mais altas) atinge os 280.000 milhons de euros segundo umha estimaçom levada a acabo polos Inspectores de Fazenda. Isto é um monto 20 vezes maior do que se pretende obter com o plano de ajuste. Quando na passada quarta-feira no Congresso Joan Herrera, de ICV, exigiu ao presidente explicaçons por nom subir os impostos aos que mais ganham, este contestou que fá-se-ia mais adiante e com acalma.
Além do anterior, ainda planeiasombra de incrementar a idade de aposentaçom e nos anos de cotizaçom necessários para o cálculo do custo das pensons.
Numha recente entrevista (O País 12-04-2010) ao presidente permanente do Conselho Europeu, Herman Vom Rompuy, afirmou que o maior perigo é o populismo reinante e em conseqüência a falta de compromisso europeu, o populismo fai difícil tomar as medidas que terá que adoptar para o futuro de Europa. Estamos obrigados a tomar medidas impopulares, nom poder-se-á escapar a reformas impopulares nos próximos anos, mas há que ser valentes. Com as medidas adoptadas Zapatero demonstrou, sem dúvida, a sua valentia em frente aos débeis e o seu servilismo ante os poderosos.
Sirva como exemplo a sua docilidade ante outra série de gastos públicos, outras partidas orçamentais também milionárias, às que nunca ocorrerá-se-lhe ir nem inquietar. Recordemos que com a reduçom e congelaçom dos salários dos empregados públicos se espera colectar 4.500 milhons de euros. A listagem é unicamente um breve aponte nom exaustivo.
18.160 milhons de euros destinados ao gasto militar para 2010
2.510 milhons de euros previstos para este ano em gasto armamentístico.
http://www.antimilitaristas.org/IMG/pdf/Informe_gasto_2010.pdf
Mais de 800 milhons de euros previstos para 2010 nas missons de guerra que o governo mantém no exterior pese ao seu pretendido carácter pacifista (a metade levar-lho-á a ocupaçom de Afeganistám). O orçamento destinado a estas operaçons nom está incluído no orçamento de Defesa e se finança través de um crédito extraordinário aprovado polo ministério de Economia e Fazenda.
Mais de 7.000 milhons de euros é o custo do financiamento público à Igreja católica, segundo um relatório realizado por Europa Laica dentre as diferentes Administraçons do Estado. A esta cifra há que somar o enorme custo para as arcas públicas (administraçom central, autonómica e local) que supóm quantidades que nom se ingressam em conceito de IBI, licenças de obras, etc., e que a UE pediu em reiteradas ocasions que se ponha fim a esse trato de favor.
Cerca de 9 milhons de euros é o orçamento para 2010 da Casa Real. Exactamente 8.896.920 euros, que o cidadao Juan Carlos de Borbón poderá dispor sem nengum controle público, já que segundo o artigo 65.1 o monarca "recebe dos Orçamentos do Estado umha quantidade global para suster a sua família e Casa, e distribui livremente a mesma".
30.000 milhons de euros estabelecidos nos Orçamentos Gerais a subvencionar actividades empresarias, entre os que se encontram os 2.800 milhons de euros dedicados a políticas activas de emprego e que tanto empresários como sindicatos reconhecem a sua nula utilidade.
155 milhons de euros (em 2008) que a Administraçom central do Estado destina à compra de software proprietário (cujo principal beneficiário é o gigante Microsoft) em lugar de apostar polo software livre cuja aquisiçom é gratuita.
http://www.csi.map.é/csi/rainha2009/capitulo3/c3t04.htm
Bastam estes dados para fazer-nos umha ideia de quais som as intençons de um governo que se desvive por manter a flutue um sistema capitalista que fai águas e ameaça com se levar por diante décadas de lutas sindicais, políticas e sociais.
Rebeliom publicou este artigo com a permissom do autor mediante umha licença de Creative Commons, respeitando a sua liberdade para publicá-lo em outras fontes.
A ex ministra de Fomento e actual eurodeputada socialista Magdalena Álvarez assume nesta quinta-feira o cargo de vice-presidenta do Banco Europeu de Investimentos (BEI)
Magdalena Álvarez ocupará este cargo ao menos seis anos e cobrará ao mês ao menos 20.000 euros mais os benefícios fiscais que lhe outorga seu novo posto. Ademais há que acrescentar seu salário de ex ministra
por Ossiám
Os gastos do MAUSOLEU FRAGHIANO
Emigra-se por fame
O Gaiás, que será aberto em Novembro próximo, gerará anualmente uns gastos fixos de 890.000 euros em conceito de consumos de energia e água, vigilância, limpeza e tarefas de manutençom. O cálculo nom inclui outros desembolsos correntes, como, por exemplo, os de fornecimentos de material de escritório, os de primas de seguros, comunicaçons, nem, sobretodo, os empregados contratados, segundo destaca a imprensa galega. Incluindo estas partidas a desfeita será maior de 1.500.000,.- ( UM MILHOM E CINCO CENTOS MIL) euros por ano num País como o nosso, onde a gente emigra a milhares; em cinco anos, mais de 500.000 rapazes e raparigas tivérom que deixar os seus para emigrar na procura da sua sobrevivência. De todos eles, uns 250.000 para Madrid sede do imperinho de Terra Seca. A arramplam-nos os homens e mulheres; os nossos recursos econômicos, tanto energéticos como financeiros, deixando-nos só com a miséria, o deserto humano e industrial.
Com esses desembolsos investidos na industrializaçom, em criaçom de empresas públicas, em pouco tempo a emigraçom seria só umha dolorosa lembrança.
por Leo Huberman e Paul M. Sweezy [*]
A política externa dos Estados Unidos tem gerado derrotas há bem mais de uma década mas nunca a um ritmo tão rápido e furioso como durante os últimos meses [NR: escrito em 1960].
Qual é a reacção da classe dominante americana a este fracasso constante e generalizado da política externa? Poder-se-ia esperar uma acumulação de críticas e um apoio crescente a política ou políticas alternativas. Mas olha-se em vão por qualquer coisa desta espécie nos Estados Unidos de hoje. Estamos em meio a uma campanha eleitoral, a qual dá a todos os líderes políticos de ambos os partidos muitas oportunidades para expor ao público os seus pontos de vista. Tanto quanto sabemos, nenhum deles exprimiu qualquer crítica dos fundamentos da política americana ou propôs que fosse mudada em qualquer aspecto importante.
Como explicar isto? Como explicar o facto de que a resposta virtualmente unânime da classe dominante americana é uma evasão a qualquer análise séria das causas e uma adesão teimosa às mesmas políticas que no passado conduziram constantemente ao fracasso?
Sem dar respostas completas a estas questões, [1] podemos no entanto expor algumas considerações relevantes.
Para começar, é crucialmente importante reconhecer que a política externa é modelada e dominada por interesses de classe internos. Isto é verdade para os Estados Unidos de hoje assim como o foi para o Império Romano ou a França de Luís XIV. Em alguns países, em certos momentos, a estrutura de classe e o padrão de interesses reflectido na política externa apresenta um puzzle mais ou menos complicado. Isto foi verdadeiro, por exemplo, nos Estados Unidos dos meados do século XIX quando o país incluía duas formas contraditórias de sociedade a lutarem pelo controle do governo nacional, cada uma com a sua própria estrutura de classe e suas necessidades particulares na área da política externa. Também foi verdadeiro, para dar outro exemplo, na Alemanha Imperial no meio século que antecedeu a I Guerra Mundial, aquela conjugação única de feudalismo e capitalismo que era levada por uma rigorosa lógica interna a antagonizar tanto a Rússia a Leste como a Inglaterra a Oeste e portanto a garantir a sua própria derrocada final.
WELFARE OU WARFARE
Os Estados Unidos de hoje, em comparação, são um caso muito mais simples. O país é dominado totalmente pelo capitalismo monopolista, pois os remanescentes de formas sociais anteriores (particularmente a classe agrícola independente) são em grande medida destituídos de poder. O estado normal de uma sociedade avançada no capitalismo monopolista ? no sentido da norma rumo à qual ela tende sempre ? é a depressão crónica. Os Estados Unidos atingiram esta etapa do desenvolvimento em algum momento entre 1910 e 1930, com a norma tornando-se realidade na década de 1930. A depressão crónica não é uma condição viável, sendo contra os interesses tanto dos capitalistas como dos trabalhadores. Ela pode ser ultrapassada (mas não eliminada como tendência) só e exclusivamente através de um sector público amplo e em crescimento firme. Teoricamente, este sector púbico pode assumir tanto uma forma "welfare" (estado previdência) ou uma forma "warfare" (estado guerreiro). Mas um amplo e crescente programa de previdência contraria os interesses de uma classe dirigente privilegiada, uma vez que necessariamente implica um programa cumulativo de reforma social, a erosão de direitos e privilégios especiais, etc. Um vasto e crescente programa de guerra, por outro lado, não só "resolve" o problema económico do capitalismo monopolista como também ajuda a preservar intacta a estrutura de classe existente com o seu sistema graduado de classificação, status e privilégio. Além disso, e isto é da máxima importância, o poder militar que cria é essencial para a manutenção do império económico à escala mundial, o qual proporciona ao capitalismo monopolista as indispensáveis (e altamente lucrativas) matérias-primas, mercados e saídas de investimentos. A classe dominante portanto tem todo o interesse em fazer com que o necessário sector público seja um sector guerreiro (warfare). A classe trabalhadora, embora naturalmente os seus interesses objectivos fossem melhor servidos por um sector previdência (welfare), prefere o sector warfare ao desemprego em massa e ? a julgar pela experiência até à data ? pode ser persuadida em massa de forma relativamente fácil a aceitar isto como um dever patriótico.
Portanto vemos que no caso da América de meados do século XX a investida dos interesses de classe internos imperativamente requer a guerra fria e a corrida às armas, e torna-se tarefa primária da política externa proporcionar a justificação necessária.
Observámos anteriormente que a resposta quase unânime da classe dominante a esta deterioração da posição mundial da América tem sido não o questionar da política que levou a isto mas, ao invés, insistir em que é necessário mais empenho em aplicar aquela política. A análise precedente permite-nos explicar este paradoxo aparente. Até agora, o declínio dos Estados Unidos como potência mundial tem tido apenas repercussões menores sobre a economia interna e portanto deixou imperturbado o padrão de interesses de classe que determina a política externa. Enquanto isto permanecer verdadeiro não há razão para esperar nem uma mudança na política externa nem uma interrupção no processo de declínio.
Neste ponto devemos desviar por um momento do ponto principal para responder a uma possível objecção. Pode ser afirmado que a nossa teoria deixa de fora um factor importante, que ao determinar suas acções as pessoas podem e levam em conta não só a situação imediata que as confronta como também tendências e prováveis situações futuras. Não será um mistério a razão por que a classe dominante americana não só nada faz para conter a deterioração da posição mundial dos Estados Unidos como realmente intensifica as políticas que são responsáveis pela deterioração? A resposta, parece-nos, depende da característica mais fundamental de uma sociedade burguesa (ou de qualquer outra sociedade baseada na propriedade privada), nomeadamente que a preocupação predominante de cada indivíduo é e deve ser cuidar dos seus próprios interesses o melhor que puder. O que acontece à sociedade toda é a resultante de um número infinito de acções individuais em causa própria. A mentalidade dos membros de tal sociedade (além das classes ou grupos revolucionários, se houver) é completamente dominada por esta disposição. Cada um identifica o interesse público com o seu próprio interesse privado e portanto não tem inibições ou sentimentos de culpa acerca da promoção dos seus próprios interesses privados mesmo se chegar a ocupar uma posição governamental arcando com o dever de servir toda a sociedade. [2] Não existe nada em tudo isto que impeça o indivíduo de antecipar e planear seus negócios privados de forma a levar em conta o antecipado bem como situações reais, mesmo que isto signifique algum sacrifício no presente. Mas isto não significa que indivíduos não possam antecipar-se e aproveitar-se ou procurar impor sobre outros os sacrifícios do presente em troca de um antecipado benefício futuro para o grupo. Esta é a razão porque numa sociedade capitalista a previsão colectiva e o planeamento antecipado são possíveis só na medida em que envolvam sacrifícios insignificantes no presente e benefícios finais para todos ou quase todos os indivíduos que contam (isto é, possuidores de propriedade). Se os sacrifícios no presente forem substanciais e os benefícios no futuro forem colectivos, nenhuma acção é possível. A mentalidade burguesa, por outras palavras, é tão condicionada que nunca pode transcender o horizonte dos interesses individuais. Quando uma dada situação histórica parece apelar a um tal esforço, a resposta é um recurso a racionalizações as quais, se bem que distorcendo a realidade, proporcionam a justificação necessária para atitudes e acções que possam passar no teste do interesse privado.
Esta análise explica uma das coisas mais óbvias e ainda assim desconcertantes acerca da sociedade capitalista, a qual nunca pode actuar antecipadamente para impedir uma crise, não importa quão previsível possa ser, mas deve sempre esperar e actuar depois de a crise ter ocorrido. Centenas de ilustrações desta proposição poderiam ser mencionadas, mas basta uma. Sociólogos urbanos e planeadores de cidades são quase unânimes em dizer-nos que os nossos grandes centros metropolitanos caminham para a paralisia e que as políticas de transportes dos dias actuais estão a acelerar o dia do desastre. E ainda assim nenhumas contra-medidas efectivas são tomadas e é seguro prever que nenhuma o será até que interesses privados decisivos sejam imediata e esmagadoramente ameaçados. Sugerimos que precisamente o mesmo princípio se aplica no campo dos assuntos internacionais. Uma política externa que repousa sobre interesses privados está a precipitar o declínio e a queda dos Estados Unidos como potência mundial. Nada será feito quanto a isto, contudo, a menos e até que aqueles mesmos interesses privados comecem a ser prejudicados ao invés de beneficiados.
Quão logo e por que meios podemos esperar que a deterioração da posição mundial da América comece a ter efeitos adversos sérios sobre a economia americana? E quais as formas que estes efeitos adversos provavelmente tomarão?
Notas
1- Elas podem ser uma preocupação primária de cientistas sociais profissionais, mas não são. A razão é que cientistas sociais neste país hoje são dependentes de universidades e fundações as quais por sua vez estão sob o controle directo e estreito de representantes autênticos dos interesses e da ideologia da classe dominante. Os cientistas sociais são tratados generosamente e permite-se-lhes que façam o que quiserem, mas com uma condição, nomeadamente de afastarem-se de qualquer tentativa de uma análise crítica da sociedade americana. Há excepções, naturalmente, mas elas são todas daquelas que confirmam a regra.
2- Recordar a formulação clássica de Charlie Wilson: "O que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos".
[*] Paul M. Sweezy (1910-2004): economista marxista e fundador da Monthly Review . Leo Huberman (1903-1068): marxista americano, co-fundador e co-editor da MR. O texto acima é um excerto da "Revisão do mês" publicada no número de Setembro de 1960 da MR.
O original encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/2010/hs120710.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .