Iar-noticias
Já lhes agarrou a síndrome da ratoeira: Os soldados israelenses começam a ser morridos ou feridos na s ruelas e becos de Gaza, e temem ficar "colados" com outro Waterloo sionista parecido ao de Líbano.
Destaca-o a própria imprensa israelense: Barak e o lobby da Defesa assim como os principais chefes militares falam de "até aqui chegamos". Livni, a falcom loira do gabinete presidencial, pensa nas eleiçons de fevereiro. Netanyahu e os ultra falcons do Likud fam saída polo foro, também à espera de ganhar as eleiçons em fevereiro.
O único que ainda resiste é Olmert, um premiê renunciador que nom tem nada que perder salvo a liberdade polos processos por corrupçom que enfrenta. Tácticamente, as tropas e os blindados judeus já estám empantanados em Gaza e suas periferias.
Os custos já superam amplamente aos avanços: Se colheitam mais cadáveres que resultados. O resto dos búnkeres dirigentes da mae pátria do sionismo mundial coincidem: Matar já nom é negócio, agora há que vender a imagem de "Hamás destruído" e negociar a "retirada vitoriosa". Criar mística popular com a propaganda governamental anunciando que "todas as metas foram cumpridas" e esperar o turno de Obama, que dantes de assumir já jurou no AIPAC e rezou no Muro dos Lamentos.
De novo estám na ratoeira: Com seus B16, seus mísseis inteligentes, os seus tanques e os seus canhons de última geraçom, os seus helicópteros Apache, as suas bombas de abano e seu fósforo branco para esfolar peles palestinas.
Nom fórom parados nem condenados por ninguém: Nem polas potências, nem polos governos (salvo Cuba, Venezuela e Bolívia), nem pola "opiniom pública mundial", cansárom-se se de matar em soledade. Cansarom-se de mutilar e desanguentar impunemente corpos de meninos, de mulheres e de homens palestinos no médio de umha cidade fantasma. Cansarom-se de apertar o gatilho, esgotarom-se de tanto derramar sangue humano indefesa no meio da nada. Gaza, já é o símbolo mais patético do absurdo e sem sentido de um império sionista criminoso e demente que já nom tem inimigos estratégicos, salvo seu próprio destino.
Após Gaza, já nom existe a ciência ficçom. O aparelho militar e a tecnologia imperial podem converter em puré qualquer coisa que se lhe ponha ao passo, incluído corpos vivos de seres humanos. Nom há limites: Nem a vida nem a justiça já têm quem os defenda. A lógica e o sentido comum foram devorados polo individualismo e a indiferença mundial nivelados planetariamente como "ideologia única".
Após Gaza Quem pode olhar a um menino aos olhos e falar de futuro? Quem pode responder à pergunta de Que fizeste durante o massacre papai?
No cemitério aberto de Gaza, estám, ainda quentes, os pequeninhos corpos despedaçados e mutilados de centenas de meninos palestinos que nunca entenderam o sentido da palavra Holocausto. Som um símbolo, um limite, para os que falam de moral, de família, de luta social, de valores, e depois se vam dormir com um televisor sionista implantado no cérebro.
Retomemos o fio: Israel já está na ratoeira. Meteu-se só, e agora só tem uma ideia fixa: Sair, fugir de sua própria obra de morte, sem que pareça uma derrota. Seguem sua rota, até o final.
Domenico Losurdo
Investigador do Istituto di Science Filosofiche e Pedagogiche, Urbino, Itália
A invasão do Iraque, em Março de 2003, foi acompanhada por uma curiosa campanha mediática contra os movimentos de oposição à guerra, acusados então de anti-americanismo. É muito significativo que neste clima ideológico e político os acusadores não recordassem o terror exercido pelo Ku Klux Klan em nome do "americanismo puro", ou do "americanismo cem por cento", face aos negros e aos brancos que se opunham à supremacia branca. Tão pouco recordavam a caça às bruxas de McCarthy contra os defensores de ideias ou sentimentos "não americanos".
Em 1924, Correspondance Internationale (a versão francesa do órgão da Internacional Comunista) publicava um artigo escrito por um jovem indochinês imigrante nos Estados Unidos, no qual afirmava sentir grande admiração pelo desenvolvimento norte-americano, ao mesmo tempo que se horrorizava com a prática do linchamento de negros no Sul. Um desses espectáculos de massas é descrito cruamente nesse texto: "O negro é cozido, flamejado e queimado, pois deve morrer duas vezes em lugar de uma só. É depois enforcado, ou mais exactamente, o que resta do seu corpo é pendurado... Quando já todos estão saciados, o cadáver é descido. A corda é então cortada em pequenos pedaços, cada um dos quais será vendido por três a cinco dólares". No entanto, a denúncia do sistema de supremacia branca, não implicava uma condenação global dos Estados Unidos: o Ku Klux Klan tinha toda "a brutalidade do fascismo", mas seria derrotado, não só pelos negros, judeus e católicos (todos vítimas em diferentes graus), como por "todos os americanos decentes". [1]
UM MARAVILHOSO PAÍS DO FUTURO
Foi um indochinês que comparou o Ku Klux Klan com o fascismo, mas as semelhanças de ambos os movimentos eram também evidentes para os autores norte-americanos da época. Os homens vestidos de branco do Sul dos Estados Unidos eram frequentemente comparados aos camisas negras italianos e aos camisas castanhas alemães. Após assinalar as semelhanças entre o Ku Klux Klan e o movimento nazi, um académico norte-americano da época chegava à seguinte conclusão: "Se a Depressão não tivesse atingido a Alemanha tão duramente, o nacional-socialismo poderia ser hoje considerado como o é às vezes o Klan: uma curiosidade histórica predestinada ao fracasso". [2] Por outras palavras, o que explica, tanto o fracasso do Ku Klux Klan nos Estados Unidos, como o ascenso do Terceiro Reich na Alemanha, mais que as distâncias na história ideológica e política, são os diferentes contextos económicos. Mas deve também ser considerado o importante papel desempenhado pelos movimentos reaccionários e racistas norte-americanos como inspiradores da agitação que conduziu Hitler ao poder na Alemanha.
Já nos anos vinte se tinham constituído as relações, o intercâmbio e a colaboração entre o Ku Klux Klan e a extrema direita alemã, para promover o racismo contra judeus, negros e outras pessoas não brancas. Em 1937, o ideólogo nazi Alfred Rosenberg exaltava os Estados Unidos como um "maravilhoso país do futuro", que detinha o mérito de ter formulado a brilhante "ideia de um Estado racial", uma ideia que devia ser posta em prática, "com um poder jovem" através da expulsão e deportação de "negros e amarelos". [3] Basta analisar as leis publicadas imediatamente após a chegada dos nazis ao poder para comprovar as semelhanças com a situação que então se vivia no sul dos Estados Unidos. A posição dos alemães de origem judia na Alemanha correspondia obviamente à dos afro-norte-americanos no sul estadunidense. Hitler distinguia claramente, inclusive no âmbito jurídico, a posição dos arianos relativamente aos judeus e aos poucos mulatos que viviam na Alemanha. "A questão negra", escrevia Rosenberg, "é o mais urgente de todos os assuntos decisivos nos Estados Unidos"; e uma vez que a noção de igualdade deixava de ser aplicada aos negros, também deixava de haver motivo para que não se extraíssem "as consequências necessárias para amarelos e judeus". [4]
Nada disto pode surpreender. Desde que o fundamento do projecto nazi era a construção de um Estado racial, que outro modelo possível existia nessa época? Rosenberg mencionava a África do Sul, que devia permanecer solidamente em "mãos nórdicas e brancas", e servia como um "sólido baluarte" diante da ameaça representada pelo "despertar negro". Sem dúvida que, até certo ponto, Rosenberg sabia que a política segregacionista sul-africana era amplamente inspirada pelo sistema de supremacia branca surgido nos Estados Unidos.
Por outro lado, o objectivo de Hitler não consistia num expansionismo colonial tradicional, mas sim num império continental criado com a anexação e germanização de territórios vizinhos do Leste. A Alemanha era chamada a expandir-se para a Europa de Leste como se se tratasse do longínquo Oeste americano, tratando os "nativos" da mesma forma que os índios norte-americanos tinham sido tratados, sem perder de vista o modelo estadunidense, que o Führer exaltava pela sua "força interior sem precedentes". [6] Imediatamente após a invasão, Hitler procedeu ao desmembramento da Polónia: uma parte, da qual foram expulsos os polacos, foi directamente incorporada no Grande Reich; o resto foi transformado em "Governo Geral" dentro do qual os polacos viviam "numa espécie de reserva", como declara o Governador Geral Hans Frank, [6] o modelo norte-americano de liquidação da população originária foi seguido quase literalmente.
O ESTADO RACIAL NA ALEMANHA E NOS ESTADOS UNIDOS
O modelo norte-americano deixou uma profunda marca inclusive no âmbito das categorias e linguístico. O termo Untermensch (sub-homem), que desempenhou um papel tão central como destruidor na teoria e prática do Terceiro Reich, não era mais que uma tradução de Under Man. O nazi Rosenberg estava bem consciente desse facto e expressou a sua admiração pelo autor americano Lothrop Stoddard, inventor do termo, que aparece como subtítulo -- The Menace of the Under Man (A ameaça do sub-homem) de um livro publicado pela primeira vez em Nova York em 1922 e traduzido para o alemão (Die Drohung das Untermenschen) três anos mais tarde. Relativamente ao seu significado, Stoddard afirmava que servia para designar a massa de "selvagens e bárbaros essencialmente incivilizáveis e incorrigivelmente hostis à civilização", que deviam ser tratados de modo radical para evitar o colapso desta. Já antes de ser elogiado por Rosenberg, Stoddard havia sido recomendado por dois presidentes norte-americanos (Harding y Hoover). Mais tarde foi recebido com honrarias em Berlim, onde se avistou com as mais altas autoridades do regime, incluindo Hitler, que já havia começado a sua campanha para dizimar e dominar os Untermenschen, os "nativos" da Europa de Leste.
Nos Estados Unidos da supremacia branca, assim como na Alemanha em poder do movimento nazi, o programa para restabelecer a hierarquia racial estava estreitamente vinculado a projectos de incentivo aos melhores para que procriassem, evitando assim o risco de "suicídio racial" (Rassenselbstmord) que pesava supostamente sobre os brancos. Em 1918 Oswald Spengler dava a voz de alarme, citando o presidente estadunidense Theodore Roosevelt. [7] Decerto que a advertência de Roosevelt contra o espectro do "suicídio racial" ou a "humilhação racial" era acompanhada peIa denúncia da "diminuição da taxa de nascimentos nas raças superiores", ou seja, "o antigo stock de norte-americanos nativos" ou seja os WASP (Brancos Anglo-saxões e Protestantes). Também aqui as descobertas da investigação histórica são surpreendentes. Erbgesundheitslehre (educação para a saúde hereditária) ou Rassenhygiene (higiene racial), outra palavra-chave da ideologia nazi, não são mais que as traduções para alemão do termo eugenics (eugenia) a nova ciência consagrada ao aperfeiçoamento racial, inventada em Inglaterra durante a segunda metade do século XIX por Francis Galton. Não é por acaso que esta nova ciência foi recebida tão favoravelmente nos Estados Unidos. Em vésperas da Primeira Guerra Mundial, muito antes da chegada de Hitler ao poder, publicou-se em Munique um livro intitulado Die Rassenhygiene in den Vereinigten Staaten von Nordamerika (A higiene racial nos Estados Unidos da América do Norte), que no próprio título assinala já os Estados Unidos como um modelo de "higiene racial". O autor, Géza von Hoffmann, vice-cônsul do lmpério Austro-Húngaro em Chicago, exaltava a América do Norte peIa "lucidez" e "pura razão prática" demonstrada, ao afrontar com a energia necessária, um problema muito importante frequentemente ignorado: nos Estados Unidos violar as leis que proíbem as relações sexuais e o matrimónio inter-racial podia ser punido com dez anos de prisão. Não só podiam ser perseguidos e condenados os responsáveis por esses actos como também os seus cúmplices. [8] Já depois do acesso dos nazis ao poder, os ideólogos e "cientistas" da raça continuavam insistindo: "A Alemanha tem muito que aprender com as medidas adoptadas pelos norte-americanos: eles fazem o que deve ser feito". [9]
Merece destaque o facto de ter aparecido nos Estados Unidos, muito antes do que na Alemanha, a noção de "solução final" a respeito da questão negra num livro publicado em Boston em 1913. [10] Ievada mais tarde a cabo pelos nazis, empregando o mesmo termo (EndIösung) para resolver a "questão judaica".
O NAZISMO COMO PROJECTO MUNDIAL DE SUPREMACIA BRANCA
No decurso da sua história, os Estados Unidos tiveram de enfrentar directamente os problemas resultantes do contacto entre diferentes "raças" e o afluxo de numerosos imigrantes procedentes de todo o mundo. Por outro lado, o violento movimento racista, que aí surgiu no final do século XIX, constituiu uma resposta à Guerra Civil e ao período de reconstrução que se lhe seguiu.
Durante os séculos XIX e XX, o Ku Klux Klan e os teóricos da "supremacia branca" acusavam os Estados Unidos posteriores à escravatura (com a sua maciça entrada de imigrantes procedentes dos países europeus menos desenvolvidos e do Oriente) de ser uma "civilização mestiça" ou um "gentio de cloaca". De forma análoga, Hitler descrevia no Mein Kampf a sua Áustria natal como um caótico "conglomerado de povos", uma "Babilónia de gente", um "reino babilónico" dilacerado pelo "conflito racial". Segundo Hitler, a catástrofe era iminente na Áustria: a "eslavização" e a "desaparição do elemento germânico" progrediam, e o ocaso da raça superior que tinha colonizado e civilizado o Oriente estava próximo. A Alemanha, para onde Hitler (que era austríaco) foi viver, havia presenciado uma convulsão sem precedentes desde o final da Primeira Guerra Mundial, uma comoção comparável à que percorreu o Sul dos Estados Unidos depois da Guerra Civil. Segundo a visão racista, mais grave ainda que a perda das suas colónias, era que a Alemanha se via obrigada a suportar a ocupação militar de tropas multirraciais das potências vencedoras e que parecia ter sido transformada numa "misturada racial". Este fantasma da proximidade do fim da civilização era reforçado pelo surgimento da Revolução de Outubro, apelando à rebelião dos povos colonizados. Esta revolução estalou e afirmou-se numa área habitada por povos tradicionalmente considerados à margem da civilização. Assim como os partidários da abolição da escravatura foram assinalados no sul dos Estados Unidos como "amantes dos negros" e traidores à sua própria raça, os social-democratas e especialmente os comunistas eram considerados por Hitler como traidores à raça germânica e ocidental. Em suma, o Terceiro Reich apresentava-se como uma tentativa para impedir, sob condições de guerra total e de guerra civil internacional, o suposto fim da civilização, o suicídio do Ocidente e da raça superior criando um regime de supremacia branca à escala mundial e sob hegemonia alemã.
DE FORD A HITLER
Alguém se lembra do elogio do Ku Klux Klan ao "genuíno americanismo de Henry Ford"? Amplamente admirado, o magnata automobilístico condenava a Revolução Bolchevique acusando-a de ser, em primeiro lugar, o produto de uma conspiração judaica. Fundou até uma revista, o Oearborn Independent, cujos artigos publicados foram reunidos em 1920 num único volume intitulado O Judeu Internacional. O livro transformou-se imediatamente numa referência básica do anti-semitismo internacional, foi traduzido para alemão e adquiriu grande popularidade. Nazis destacados, como Von Schirach e mesmo Himmler vieram mais tarde a reconhecer terem sido inspirados ou motivados por Ford. Segundo Himmler, o livro de Ford desempenhou um papel "decisivo" (ausschlaggebend) não só na sua formação pessoal, como também na do Führer.
Também aqui se evidencia o carácter inconsistente de qualquer comparação esquemática entre a Europa e os Estados Unidos, como se a praga do anti-semitismo não afectasse ambos. Em 1933 Spengler considerava necessário esclarecer este ponto: a fobia anti-judaica que confessava abertamente, não devia confundir-se com o racismo "materialista" típico "dos anti-semitas na Europa e na América". [11] O anti-semitismo biológico que se agitava impetuosamente no outro lado do Atlântico era considerado excessivo mesmo por um autor como Spengler, que se expressava sem qualquer pudor nos seus escritos, contra a cultura e a história judaicas. Por esta razão, entre outras, Spengler foi considerado tímido e inconsequente pelos nazis, cujas preferências se situavam noutro lado: O Judeu Internacional continuou a ser publicado com todas as vénias no Terceiro Reich, e com editoriais que enfatizavam o singular mérito histórico do seu autor (por haver trazido à luz a "questão judaica"), estabelecendo uma linha de continuidade entre Henry Ford e Adolfo Hitler.
O OCIDENTE E A "DEMOCRACIA DO POVO DOMINANTE"
É oportuno destacar o paradoxo que caracterizou os Estados Unidos desde a sua fundação, sintetizada no século XVIII pelo escritor britânico Samuel Jonson: " Como poderemos suportar os estridentes gritos de liberdade dos proprietários de escravos?" [12]
A democracia desenvolveu-se na América do Norte no seio da comunidade branca simultaneamente com a escravização dos negros e a deportação dos índios. Em 22 dos primeiros 36 anos como nação independente, a presidência esteve nas mãos de proprietários de escravos. Também eram proprietários de escravos os que redigiram a Declaração de Independência e a Constituição. Sem escravatura (mais a correspondente segregação racial) não se pode entender a "liberdade americana": as duas estavam vinculadas, sustentando-se uma à outra. Enquanto a escravatura assegurava o firme controlo sobre as classes "perigosas" no âmbito da produção, a expansão para o Oeste servia para desactivar o conflito social, transformando o proletariado potencial numa classe de proprietários agrícolas, ainda que a expensas dos povos originários, que seriam expulsos ou aniquilados.
Depois da Guerra da Independência, a democracia norte-americana experimenta novos desenvolvimentos durante a presidência de Jackson na década de 1830: a extensão do sufrágio e a eliminação, em grande parte, das restrições relacionadas com a propriedade na comunidade branca, eram concomitantes com a rigorosa deportação dos índios norte-americanos e com o crescente ressentimento e violência contra os negros. O mesmo se pode dizer do período compreendido entre o final do século XIX e a metade da segunda década do século XX, onde se combinaram reformas como a instauração da eleição directa dos membros do Senado, o voto secreto, a introdução de eleições primárias e de instituições de referendo, etc". com factos sobremaneira trágicos para a população negra (alvo dos esquadrões do terror do Ku Klux Klan) e a expulsão dos índios norte-americanos dos seus últimos territórios e a sua submissão a uma brutal aculturação, com a intenção de os despojar inclusive da sua identidade cultural.
Relativamente a este paradoxo, numerosos intelectuais norte-americanos se referiram a uma Herrenvolk democracy, ou seja uma democracia apenas para "Senhores" (para usar uma expressão do tipo das que Hitler apreciava).
Na realidade, a categoria "democracia do povo dominante" pode ser útil para explicar a história do Ocidente como um todo. Desde o final do século XIX e nos princípios do século XX, a extensão do sufrágio na Europa marcha a par com a colonização e a imposição de relações laborais de servidão e semi-servidão aos povos submetidos. O governo democrático na Europa estava fortemente entrelaçado com o poder da burocracia e com a violência policial, e o estado de sítio nas colónias. Em última análise, trata-se do mesmo fenómeno que ocorrida nos Estados Unidos, com a diferença que na Europa era menos evidente porque os povos colonizados viviam do outro lado do oceano.
MISSÃO IMPERIAL E FUNDAMENTALISMO CRISTÃO
Em 1899, a revista Christian Oracle explicava assim a decisão de mudar o seu título para Christian Century: "Cremos que o próximo século será testemunha de triunfos do cristianismo jamais vistos, e que será mais verdadeiramente cristão que qualquer dos precedentes".
Mais adiante o presidente McKinley explicava que a decisão de anexar as Filipinas procedia da inspiração do "Todo poderoso" que, depois de escutar as incessantes preces do presidente, numa noite de insónia, o tinha por fim, libertado de toda a dúvida e indecisão. Não teria sido adequado deixar a colónia nas mãos da Espanha, ou entregá-la "à França ou à Alemanha, nossos rivais no comércio do Oriente". Nem, peIa mesma razão, teria sido correcto deixar as Filipinas aos próprios filipinos, que eram "incapazes de se autogovernar", o que teria Ievado o país a um estado de "anarquia e desgoverno" ainda pior que o resultante da dominação espanhola: "Não temos outra alternativa senão tomarmos tudo a nosso cargo, e educar os filipinos, civilizá-los e cristianizá-los, e, peia graça de Deus, fazer o mais que pudermos por eles, como companheiros nossos por quem Cristo também morreu. Voltei então para a cama e dormi profundamente". [13]
Hoje conhecemos os horrores perpetrados durante a repressão do movimento independentista nas Filipinas: a guerrilha desenvolvida pelos filipinos foi enfrentada com a destruição sistemática de campos e gados, pelo confinamento maciço da população em campos de concentração, onde pereciam vítimas da fome e da doença, e inclusive em alguns casos, do assassinato de todos os varões maiores de dez anos.
Sem dúvida que, apesar das dimensões dos "danos colaterais", a marcha da ideologia imperial-religiosa da guerra se reactivou triunfalmente durante a Primeira Guerra Mundial, quando o presidente Wilson a eIa se referia como se se tratasse de uma cruzada real, de uma "guerra santa, a mais sagrada em toda a história", destinada a impor a democracia e os valores cristãos em todo o mundo.
A mesma plataforma ideológica foi aplicada a outros conflitos no século XX, sendo a Guerra Fria particularmente exemplar neste aspecto. John Foster Dulles, era definido por Churchill como "um severo puritano". Dulles orgulhava-se de que "ninguém no Departamento de Estado conhece a Bíblia como eu". O seu fervor religioso não era de modo nenhum um assunto privado: "Estou convencido que aqui temos a necessidade de fazer que os nossos pensamentos e práticas políticas reflictam com a maior fidelidade a convicção religiosa de que o homem tem a sua origem e destino em Deus". [14] A esta fé, associavam-se outras categorias teológicas fundamentais na luta política internacional: os países neutrais que recusavam tomar parte na cruzada contra a União Soviética estavam em "pecado", enquanto que os Estados Unidos, à cabeça dessa cruzada, representavam o "povo moral" por definição.
Em 1983, Ronald Reagan, quando a Guerra Fria atingia o seu clímax, apontou a necessidade de derrotar o inimigo ateu (a URSS), com claros acentos teológicos: "Há no mundo pecado e maldade, e as Escrituras e Jesus nosso senhor ordenaram-nos que nos oponhamos a isso com todo o nosso poder". [15]
Alinhando-se com esta tradição e radicalizando-a ainda mais, George W. Bush conduziu a sua campanha eleitoral sob um autêntico dogma: "A nossa nação é a eleita de Deus e foi escolhida peIa História como um modelo de justiça para o mundo".
A história dos Estados Unidos está marcada peIa tendência a transformar a tradição judaico-cristã numa espécie de religião nacional que consagra o excepcionalismo do povo norte-americano e a missão sagrada que lhe foi confiada. Não é este entrelaçamento de religião e política sinónimo de fundamentalismo? Não foi por acaso que o termo fundamentalismo foi utilizado pela primeira vez no âmbito do protestantismo norte-americano.
Certamente que qualquer administração norte-americana terá os seus hipócritas, os seus intriguistas e os seus cínicos; mas não há motivos para duvidar da sinceridade de Wilson ou, actualmente, de Bush Jr. Não devemos esquecer o facto de que os Estados Unidos não são uma verdadeira sociedade secular, a arraigada convicção de representar uma causa sagrada e divina facilita não só a constituição de uma frente unida em tempos de crise, mas também a repressão e banalização das páginas mais obscuras da história estadunidense. Durante a Guerra Fria, Washington patrocinou sangrentos golpes de Estado na América Latina e colocou no poder brutais ditadores militares; em 1965, promoveu na Indonésia o massacre de centenas de milhares de comunistas ou seus simpatizantes. No entanto, por mais desagradáveis que possam ser, esses detalhes não alteram a santidade da causa personificada pelo "Império do Bem".
Max Weber costumava referir-se à "moralina" (farisaísmo) norte-americana. "Moralina" não significa mentira, nem hipocrisia consciente. É tão só a hipocrisia dos que são capazes de mentir a si mesmos, o que se assemelha à falsa consciência assinalada por Engels. De todo o modo, não é fácil compreender totalmente essa mescla de fervor religioso e moral, por um lado, e a clara e aberta tentativa de domínio político, económico e militar do mundo, por outra. É sem dúvida, esta amálgama (combinação explosiva), este peculiar fundamentalismo, que constitui actualmente a grande ameaça à paz mundial. O fundamentalismo norte-americano intoxica um país que, designado e autorizado por Deus, considera irrelevantes a ordem internacional actual e as regras humanitárias. É neste quadro que devemos situar a deslegitimação das Nações Unidas, o desprezo peIa Convenção de Genebra, e as ameaças proferidas não só contra os seus inimigos, como também contra os seus "aliados" na OTAN.
O DESPOTISMO IMPERIAL
Além de combater o "mal" e defender os valores cristãos e norte-americanos, a guerra contra o Iraque (não contando com outras guerras em perspectiva) pretende expandir a democracia por todo o mundo. Retomemos por um momento o jovem indochinês que em 1924 denunciava o linchamento de negros. Mais tarde regressou ao seu país e aí adoptou o nome pelo qual seria mundialmente conhecido: Ho Chi Minh. Durante os incessantes bombardeamentos norte-americanos no Vietnam, terá o dirigente vietnamita recordado os horrores perpetrados contra os negros pelos defensores da supremacia branca? Por outras palavras, a emancipação dos afro-norte-americanos e sua conquista dos direitos civis marcaram realmente uma mudança, ou continuam os Estados Unidos a ser uma Herrenvolk democracy, uma democracia de "Senhores", com a diferença de que agora os excluídos já não são os que estão dentro da mãe pátria, mas antes os que estão fora, como aconteceu no caso da "democracia" europeia?
Podemos examinar a questão numa perspectiva diferente, considerando a reflexão de Kant: "Oue é um monarca absoluto? É aquele que quando decide que deve haver guerra, há guerra". Kant não se referia aos Estados do Antigo Regime, mas sim à Inglaterra, no limiar do seu século de desenvolvimento liberal. [16] De acordo com a posição kantiana, o actual presidente dos Estados Unidos deveria ser considerado um déspota por dois motivos. Primeiro, devido ao surgimento, na última década, de uma "presidência imperial" que, quando embarca em acções militares, as apresenta frequentemente ao Congresso como um facto consumado. Mas estamos ainda mais interessados no segundo aspecto: é a Casa Branca que soberanamente determina quando as resoluções das Nações Unidas são vinculativas ou não; é a Casa Branca que soberanamente decide que países são "Estados delinquentes" e se é legal submete-los a embargos que irão causar o sofrimento de toda uma população, ou ao fogo infernal de bombas de fragmentação ou de urânio empobrecido. A Casa Branca decide soberanamente a ocupação militar desses países, pelo tempo que considerar necessário, condenando os seus dirigentes e os seus "cúmplices" a prolongadas penas de prisão. Contra estes e contra os "terroristas", chega a ser legitimado o "assassinato selectivo", ou melhor, um assassinato que é tudo menos selectivo, como o bombardeamento de um restaurante porque se pensava que Saddam Hussein podia estar lá. As garantias legais não se aplicam de todo aos "bárbaros" .
A tudo isto se junta a crescente intolerância que Washington manifesta para com os seus "aliados" ocidentais. Também a eles exige que sigam com humildade a vontade da nação eleita por Deus, cujo presidente se comporta como se fosse um soberano mundial, sem o controle de qualquer organismo internacional.
NOTAS
1. Wade, Wyn Craig. 1997. The Rery Cross: The Ku Klux Klan in America. New York and Oxford: Oxford University Press.
2. MacLean, Nancy. 1994. Behind the Mask 01 Chivalry: The Making of the Second Ku Klux Klan. New York and Oxford: Oxford University Press.
3. Rosenberg, Alfred. 1937. Der Mythus des 20. Jahrhunderts. Munich: Hoheneichen. Publicado pela primeira vez em 1930.
4. lbid.
5. Hitler, Adolf. 1939. Mein Kampf. Munich: Zentralverlag der NSDAP. Publicado pela primeira vez em 1925.
6. Ruge, Wolfgang, and Wolfgang Schumann (eds.). 1977. Dokumentezurdeutschen Geschichte. 1939-1942. Frankfurt a. M.: Radelberg.
7. Spengler, Oswald. 1933. Jahre der Entsche idung. Munich: Beck. 1980. Der Untergang des Abendlandes. Munich: Beck. Original 1918-23.
8. Hoffrnann, Géza voo. 1913. Die Rassenhygiene in den Vel'9inigt9n Staaten von Nordamerika. Munich: Lehmanns.
9. Günther, Hans S. R. 1934. Rassenkunde des deutschen Volkes. Munich: Lehmanns. Publicado pela primeira vez em 1922.
10. Fredrickson, George M. J. The Black Image in the White Mind: The Debate on Afro-American Character and Destiny, 1817-1914. Hanover, N.H.: Wesleyan University Press. Publicado pela primeira vez em 1971.
11. Spengler, op.cit.
12. Foner, Erich. 1998. The History of American Freedom. London: Picador.
13. McAllister Uno, Brian. 1989. The U. S. Army and Counterinsurgency in the Philippine War, 1899-1902. Chapel HiII and London: University of North Carolina Press.
14. Kissinger, Henry. 1994. Diplomacy. New York: Simon and Schuster.
15. Draper, Theodore. 1994. "Mission Impossible". New York Review of Books (6 October).
16. Kant, Immanuel. 1900. "Der Streit der Fakultaten". In Gesammelte Schriften. vai. 7. Berlin and Leipzig: Akademie-Ausgabe. Publicado pela primeira vez em 1798.
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resistir.info
O governo dos EUA ordenou o despacho de mais 3000 toneladas de armamento para Israel. O armamento está armazenado no porto grego de Astakos e será enviado em dois navios para o porto israelense de Ashdod, informou a Reuters dia 10. A ordem de serviço partiu do U.S. Navy's Military Sealift Command (MSC). Segundo o Prof. Chossudovsky, em 26 de Dezembro último os EUA já haviam entregue 2600 t de armamento a Israel.
The Guardian
Os abaixo assinantes somos todos de origem judia. Quando vemos os mortos e os ensanguentados corpos de meninos pequenos, os cortes de água, de electricidade e de comida, recordamos o assédio do Ghetto de Varsovia. Quando Dov Weisglass, assessor do premiê israelense, falou de pôr aos habitantes de Gaza "a dieta" e o vice-ministro de Defesa, Matam Vilnai, falou de que os palestinos iam experimentar "umha maior shoah" (holocausto), isso nos recorda ao governador geral Hans Frank na Polónia ocupada polos nazistas que falou de "morte por fome".
O verdadeiro motivo do ataque a Gaza é que Israel só deseja tratar com os colaboracionistas. O principal crime de Hamas nomo é o terrorismo, senom sua negativa a se converter num fantoche em maos do regime de ocupaçom israelense em Palestina.
A decisom tomada no mês passado polo Conselho da União Europa de melhorar a categoria de suas relaçons com Israel, sem nenhuma condiçom específica sobre direitos humanos, alentou umha maior agressão israelense. O tempo de aplacar a Israel passou faz tempo. Como primeiro passo, Grã-Bretanha dever retirar ao embaixador britânico de Israel e, como com o apartheid de África do Sul, se embarcar num programa de boicote, desinvestimento e sançoes.
Assinantes:
Ben Birnberg, Prof Haim Bresheeth, Deborah Fink, Bela Freud, Tony Greenstein, Abe Hayeem, Prof Adah Kay, Yehudit Keshet, Dr Lhes Levidow, Prof Yosefa Loshitzky, Prof Moshe Machover, Miriam Margolyes, Prof Jonathan Rosenhead, Seymour Alexander, Ben Birnberg, Martin Birnstingl, Prof. Haim Bresheeth, Ruth Clark, Judith Cravitz, Mike Cushman, Angela Dá-lhe, Merav Devere, Greg Dropkin, Angela Eden, Sarah Ferner, Alf Filer, Mark Findlay, Sylvia Finzi, Bela Freud, Tessa vão Gelderen, Claire Glasman, Ruth Hall, Adrian Hart, Alain Hertzmann, Abe Hayeem, Rosamene Hayeem, Anna Hellmann, Selma James, Riva Joffe, Yael Kahn, Michael Kalmanovitz, Ros Kane, Prof. Adah Kay, Yehudit Keshet, Mark Krantz, Bernice Laschinger, Pam Laurance, Dr Lhes Levidow, Prof. Yosefa Loshitzky, Prof. Moshe Machover, Beryl Maizels, Miriam Margolyes, Helen Marks, Martine Mel, Diana Neslen, Ou Neumhann, Susan Pashkoff, Hon. Juliet Peston, Renate Prince, Roland Rance, Sheila Robin, Ossi Rum, Manfred Ropschitz, John Rose, Prof. Jonathan Rosenhead, Leon Rosselson, Michael Sackin, Ian Saville, Amanda Sebestyen, Sam Semoff, Prof. Ludi Simpson, Viv Stein, Inbar Tamari, Ruth Tenne, Norman Traub, Eve Turner, Tirza Waisel, Karl Walinets, Renee Walinets, Stanley Walinets, Philip Ward, Naomi Wimborne-Idrissi, Ruth Williams, Jay Woolrich, Ben Young, Myk Zeitlin, Androulla Zucker, John Zucker
Os abaixo assinantes, Catedráticos de Direito Penal das diferentes Universidades Espanholas, horrorizados polas notícias que hora a hora nos chegam desde Gaza, queremos denunciar o genocídio, detalhadamente planificado, que as autoridades do Estado de Israel estám a cometer sobre os palestinos, a quem arrebata, a quem está a despojar ante nossos olhos, nom só a vida senom até suas mínimas expressons culturais. As imagens dos corpos de meninos rebentados polas explosons unem-se à contemplaçom da Universidade bombardeada e destruída, os feridos que morrem nos Hospitais por falta de medicinas, as infra-estruturas ?que com tanto sacrifício foram levantadas- assoladas, os homens e as mulheres gritando de desespero. Enquanto as autoridades nacionais e internacionais limitam-se a vás telefonemas à contençom, ao arranjo entre as partes, ao alto o fogo, mas sem tomar nenhuma medida efectiva contra os agressores, contra os genocídas; dantes ao invés, às vítimas converte-lhas em verdugos, e nem sequer respeita-se-lhes sua capacidade, sua vontade soberana, à hora de eleger a seus governantes.
Queremos efectuar, desde nossa limitadas forças mas com todo o poder moral que nos outorga nossa condiçom de seres humanos, um apelo às autoridades espanholas e da Uniam Europeia para que tomem medidas eficazes contra o Estado de Israel, chamando aos embaixadores próprios a consulta, expulsando do território nacional aos de Israel, congelando os acordos de intercâmbio de todo tipo com aquele Estado, e lhe submetendo a isolamento em tanto nom observe um alto o fogo e desenvolva as iniciativas necessárias para acabar com este drama que dura já sessenta anos; e desde depois, que se requeira a Israel para que cumpra as resoluçons de Naçons Unidas que tantos anos leva ignorando, e cuja falta de observância está na origem do conflito,
Assd.. Javier Álvarez García (Universidade Carlos III); Nicolás García Rivas (Universidade de Castilla-A Mancha); Guillermo Portilla Contreras (Universidade de Jaén); Enrique Gimbernat Ordeig (Universidade Complutense); Manuel Cancio Meliá (Universidade Autónoma de Madri); José Luis Díez Ripollés (Universidade de Málaga); Luis Rodríguez Ramos (UNED); Juan Carlos Carbonell Matéu (Universidade de Valencia); Carlos Martínez-Buján Pérez (Universidade da Corunha); Francisco Muñoz Conde (Universidade Pablo de Olavide); Javier Boix Reig (Universidade de Valencia); María Luisa Maqueda Abreu (Universidade de Granada); José Manuel Paredes Castañón (Universidade do País Basco); Juan Terradillos Basoco (Universidade de Cádiz);
Por Alfredo Jalife Rahme
La Jornada
O oleoduto Baku-Tiflis-Ceyhan, dominado por British Petroleum (BP) com 30.1 por cento das acções (não diz que BP se encontra sob a férula da célebre dinastia dos banqueiros hebreus, os Rothschild), "mudou em forma dramática a geo-política na costa oriental do mar Mediterráneo
O solvente director de Réseau Voltaire (25-07-06), Thierry Meyssan, judeu francês muito crítico dos militares de Israel, afirma que a "ofensiva do exército israelense contra Líbano, planificada desde faz muito, é supervisionada pelo Pentágono". Abunda sobre o "caos construtivo" dos "neoconservadores adeptos de Leio Strauss", cujas teorias permitem que "se enredem os interesses imperiais de Estados Unidos com o Estado judeu". Trata-se de um "operativo de EU executado por Israel".
As doutrinas seriadas Wolfowitz-Huntington-Netanyahu-Perle-Kristol-Bush-Halutz estão a ser implementadas pelas duplas Cheney-Rumsfeld em EU e Netanyahu-Olmert em Israel, em conjunçom com os centros ultra-radicais israelenses-estadunidenses IASPS-PNAC-AEI (por suas siglas em inglês; ver Sob a Lupa(*), 23-07-06). Em México, seus aliados são os antidemócratas e filoplutócratas Krauze (pai e filho, Enrique e León) e os meio-irmãos Gutman (Rozental e Castañeda), quem se desvivem para entregar o petróleo, o água e o urânio às trasnacionais anglosajonas-israelenses mediante a presidência espúria de Calderón.
A aplicação das seriadas doutrinas israelenses-estadounidenses vai de vento em popa como se observa nas cotações das acções petroleiras anglosajonas que romperam todos os recordes ao recente trimestre (Bloomberg, 27-07-06).
O célebre comentarista Ted Koppel afirma num editorial que "EU se encontra já em guerra contra Irão", mas que "pelo momento a batalha se livra por conduto de sub-rogados" (New York Times, 22-07-06).
Marwan Hamadeh, ministro do que fica das telecomunicações em Líbano, aseveró que a ofensiva de Israel constituía uma "guerra por procuraçom" de EU contra Irã (An-Nahar, 29-07-06). Já vimos que parte da guerra global em processo comporta como corolario as "guerras do água", que compreendem a captura do rio Litani pelo Estado hebreu (ver Sob a Lupa, 26-07-06), bem como os rios vitais de Iraque e Síria.
Michel Chossudovsky (MC) , feroz economista canadense do Centro de Investigação da Globalização (globalresearch. com, 26-07-06), vincula a guerra israelense em Líbano com "a batalha pelo petróleo", em específico, com a recente inauguração o passado 13 de julho (em vésperas dos cruéis bombardeios hebreus) do oleoduto anglosajón Baku-Tiflis-Ceyhan (BTC), "principal oleoduto estratégico do mundo que canalizará mais de um milhão de barris ao dia aos mercados ocidentais". Comenta que à "recepção em Istambul para festejar a inauguração do oleoduto BTC assistiu Binyamin Ben-Eliezer, ministro de Energia e Infra-estrutura israelense, acompanhado de altos servidores públicos da governação Olmert, além do presidente anfitrião de Turquia, Ahmet Necdet Sezer, e os presidentes das principais trasnacionais petroleiras anglosajonas".
Destaca a colaboração militar de Israel com as governações de Turquia, Azerbaiyán e Georgia (estes dois últimos os cataloga de "protectorados de EU" mediante sua incorporação à OTAN): o Estado hebreu "possui interesses accionários nos depósitos petroleiros de Azerbaiyán, de onde importa quase 20 por cento, pelo que a abertura do oleoduto BTC melhorará em forma substancial as importações de Israel do mar Cáspio"; agrega que "outra dimensão que está relacionada à guerra em Líbano, onde Rússia foi debilitada", tem que ver com o "relevante papel estratégico que jogará Israel para 'proteger' o transporte e os corredores do oleoduto na costa oriental do mar Mediterráneo desde o porto turco de Ceyhan".
O oleoduto BTC, dominado por British Petroleum (BP) com 30.1 por cento das acções (não diz que BP se encontra sob a férula da célebre dinastia dos banqueiros hebreus, os Rothschild), "mudou em forma dramática a geopolítica na costa oriental do mar Mediterráneo, que se encontra agora vinculado à conca do mar Cáspio através do corredor energético". O oleoduto submarino de Ceyhan "conectar-se-á ao porto israelense de Ashkelon para se fusionar ao sistema principal de oleodutos no mar Vermelho" (com o porto israelense de Eilat).
Fica claro que a depredadora tripleta anglosajona-israelense procura o controle do triángulo do mar Cáspio, o golfo Pérsico e o mar Vermelho. De ali a invasão de Etiópia, apoiada pela mesma tripleta, a Somália, no corno de África em frente ao mar Vermelho e ao golfo de Adén, bem como a próxima abertura da frente em Sudão, sob o pretexto da montagem hollywoodense da "ajuda humanitária" a Darfur, para controlar o rio Nilo desde suas fontes e sitiar pela retaguarda a Egipto. Resulta que a misantropia necrófila condensada na tripleta anglosajona-israelense, que desde o 11 de setembro de 2001 devastou quatro países (Afganistão, Palestina, Iraque e Líbano), se preocupa agora por "os direitos humanos, a liberdade e a democracia" das tribos de Darfur.
Cita uma notícia, que mais bem parece aviso oportuno de The Jerusalem Post (porta-voz dos neomoabitas, neoconservadores straussianos), de faz quatro meses sobre quatro aquedutos, oleodutos e gasoductos submarinos de 400 quilómetros de extensão que "evitarão a costa de Síria e Líbano, para transportar água, electricidade, gás natural e petróleo"; este último "para ser exportado ao Longínquo Oriente". A onde? Não o di, mas nós podemos enriquecer sua teoria: a Índia, com quem em forma expedita e em pleno bombardeio de Líbano (aprovado por EU e Canadá, e calado por Fox, fantoche de Baby Bush, mais ocupado em defender os desfalcos de seus filhastros, os Bribiesca, que a condenar a catástrofe humanitária em Líbano perpetrada por seus sócios comerciais), a Câmara de Representantes aprovou o 26 de julho a colaboração energética do regime bushiano com Nova Delhi, a qual socava a contraproliferaçom e que com justa razão foi criticada por China (Stratfor, 28 e 29-07-06).
Graças às "guerras multidimensionais" da tripleta anglosajona-israelense, os oleodutos, gasoductos e aquedutos dariam uma grande volta desde o mar Cáspio para se conectar ao mar Vermelho e depois vincular-se ao mar Arábigo com Índia, passando pelo golfo de Adén na contigüidade onde se livra a guerra silenciosa entre Etiópia e Somália no corno de África.
A julgamento de MC, o esquema irredentista da tripleta anglosajona-israelense "tem a intenção de debilitar o papel energético de Rússia em Ásia central, impedir a conexão de China com os recursos energéticos, e isolar a Irão". Além do controle de Israel e Turquia das fontes dos rios Eufrates e Tigris em Anatolia, que afectariam a Síria e a Iraque, "o objectivo de Israel é abrir um corredor energético desde a fronteira com Líbano, passando por Síria, até Turquia". Não o di, mas em tais circunstâncias a balcanizaçom e as limpezas étnicas de Líbano e Síria em vários estados teológicos ao longo da costa oriental do Mediterráneo voltam-se uma necessidade imperativa.
A próxima vez abordaremos a guerra de EU (e sua apéndice Israel) contra Irão pela supremacia nuclear no golfo Pérsico.
por José Goulão. Le Monde Diplomatique
Para entender o que está a passar-se actualmente em Gaza é necessária muito mais informação do que a proporcionada pela chusma de comentadores instantâneos que invadem as rádios e televisões e pelos enviados ou residentes que, não conseguindo entrar na faixa invadida, se conformam em ser veículos bisonhos, acomodados e passivos da realidade fabricada no Estado-Maior israelita. Ao menos podiam dar conta de episódios das importantes manifestações internas israelitas contra a guerra, mas parece que isso poderia parecer uma perigosa dissonância. É natural concluir-se que, tal como a agressão militar tem vido a ser preparada há mais de seis meses, também a correspondente acção de propaganda foi montada durante o mesmo período.
A primeira vez que estive em Gaza foi em Fevereiro de 1988. A primeira Intifada começara pouco mais de dois meses antes precisamente naquele território ocupado, com uma dinâmica e persistência que surpreendeu a própria Resistência Nacional Palestiniana dirigida pela Organização de Libertação da Palestina (OLP).
Nessa altura o Hamas não era mais do que um grupinho fundamentalista inspirado nos Irmãos Muçulmanos, organização fundada no Egipto em 1928, que se dedicava a agitação religiosa e alguma assistência social. Em 1988, porém, o Hamas foi ganhando fôlego, pretendendo distinguir-se pela chama revolucionária, decretando greves gerais e acções de resistência próprias que nunca convergiam com as desencadeadas pelas direcções da Intifada e da OLP. O Hamas actuava, visivelmente, como uma organização divisionista, potencialmente perturbadora da mobilização popular.
Hoje, apesar de o pudor ou o desconhecimento impedirem comentadores e enviados ou residentes de se debruçarem sobre tal facto, já não é novidade que os serviços secretos israelitas, a Mossad, tiveram um papel determinante no relançamento e engrandecimento do Hamas. Tal foi reconhecido mesmo por ex-ministros israelitas e está profusamente demonstrado por informação disponível na Internet. Nem dá muito trabalho.
Essa foi a génese do Hamas que hoje conhecemos. Como atingiu as dimensões actuais? Sempre à sombra da guerra e do boicote aos processos de negociações conduzido pelos governos de Israel e as administrações norte-americanas ? primeiro mediadoras do processo de Oslo e depois as cabeças de cartaz do falecido Quarteto (Estados Unidos, Rússia, União Europeia e Nações Unidas), que já nascera moribundo.
Quando se iniciou a Autonomia Palestiniana como processo transitório para um Estado independente e Yasser Arafat regressou à Palestina, no Verão de 1994, a voz do Hamas mal se ouvia. As populações palestinianas dos territórios estavam em festa e acreditavam no bom desfecho de todo o processo.
Shimon Peres, Benjamin Netanyahu, Ehud Barak, Ariel Sharon e Ehud Olmert, mais Bill Clinton e, sobretudo, George W. Bush foram inviabilizando paulatinamente as negociações israelo-palestinianas, assumissem as formas que assumissem, enquanto a Fatah (força dominante da OLP) e a Autoridade Palestiniana se foram enrodilhando na falta de alternativas estratégicas às negociações.
Essas foram assumidas pelo Hamas, que capitalizou gradualmente o descontentamento popular, mesmo de vastos sectores não religiosos ou religiosos não radicais, até se transformar na maior organização da Resistência e ganhar as eleições gerais palestinianas de 2006. O não reconhecimento do governo do Hamas pelos Estados Unidos, Israel e o mundo em geral ? nem mesmo em aliança com a Fatah ? poupou o movimento islâmico ao desgaste do exercício do poder e de ser forçado a actuar no terreno em vez de privilegiar a propaganda nas mesquitas e a mobilização paramilitar.
Quando a Fatah e o Hamas chegaram ao limiar da guerra civil, em 2007, o grupo islâmico assumiu o controlo de Gaza, enquanto Israel aproveitava a ocasião para impor um rigoroso bloqueio humano e de bens essenciais ao território. Em fase de plena construção do muro que fracciona a Cisjordânia em autênticos bantustões, a balcanização dos territórios palestinianos aprofundou-se.
A tomada de Gaza pelo Hamas terá surpreendido o mundo, mas não os dirigentes de Israel. Basta conhecer o Plano Dagan.
Meir Dagan é o chefe da Mossad, reconduzido por sucessivos governos israelitas desde o início do século. Ele idealizou uma estratégia de actuação que se tornou a cartilha de Ariel Sharon praticamente desde que este ressurgiu em força com a mediática invasão da Esplanada das Mesquitas em 2000, tolerada pelo então chefe do governo, Ehud Barak (o ministro que agora conduz a agressão a Gaza), e que inviabilizou a possibilidade iminente de palestinianos e israelitas se entenderem nas negociações de Taba, no Egipto.
Percorramos, em síntese, alguns passos previstos no Plano Dagan. A operação «Vingança Justificada» tinha como objectivo enfraquecer, tornar maleável ou mesmo destruir a Autoridade Palestiniana. Sahul Mofaz, enquanto ministro da Defesa, apresentou-a com o título «A destruição da Autoridade Palestiniana e o desarmamento de todas as forças armadas». Isso, contudo, não impediu Israel e os Estados Unidos de fornecerem armas à Fatah na fase em que incentivavam a guerra civil entre os dois principais movimentos palestinianos. Entretanto, Israel exige agora o desarmamento do Hamas como pressuposto para um cessar-fogo.
Outro ponto do Plano Dagan era o desaparecimento de cena de Yasser Arafat (um velho objectivo de Sharon desde a invasão do Líbano em 1980) e a sua substituição por uma direcção da Autoridade Palestiniana mais colaborante com Israel. Um objectivo como este mantém acesa a tese do assassínio do histórico dirigente palestiniano. A balcanização dos territórios palestinianos, o lançamento de vagas de terror contra as populações e o bloqueio de Gaza são outros aspectos do plano. Sem esquecer que, quando estava prestes a ser acordada a trégua de meados de 2008 em Gaza, Ehud Barak notificou as Forças Armadas para prepararem uma operação de grande envergadura contra este território para desencadear daí a alguns meses. Lendo o Plano Dagan não é de descartar que em alguma fase deste processo Israel abra uma «válvula de escape» em Gaza para que haja uma fuga em massa ? limpeza étnica é a expressão correcta ?, eventualmente para a Jordânia, atendendo ao comportamento actual do Egipto. Neste contexto é natural que venham à memória as conhecidas palavras de Ariel Sharon: «Não é necessário criar outro Estado palestiniano. A Jordânia é a Palestina».
Por JOSÉ GOULÃO *
* Jornalista. Resenha da intervenção proferida em 7 de Janeiro de 2009 na sessão pública organizada pelo MPPM ? Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente ? na Federação das Colectividades de Cultura e Recreio, em Lisboa.
IAR Notícias
Por Manuel Freytas
Há uma categoria central e um ponto de abordagem comum que guia os objectivos da manipulaçom mediática com a matança judia de palestinos em Gaza: Demonstrar que nesse país nom há um massacre militar cometida por Israel , senom um "conflito" entre Hamás e Israel nivelados na mesma capacidade de destruiçom e de poder de fogo, ainda que um seja uma organizaçom de guerrilha urbana e o outro uma superpotência militar com poder nuclear.
Isto a sua vez remete a uma segunda categoria:
Em Gaza nom há uma operaçom sistémica de extermínio militar por ar, por mar e por terra, de uma superpotência militar contra um país indefeso, senom uma guerra entre "iguais".
Equiparam-se a Israel e a Hamás na mesma capacidade de destruiçom militar e se omite mencionar quem é o atacante (o invasor) e quem o atacado (o invadido).
O que gera uma terceira categoria:
Em Gaza, tanto Israel como Hamás, som culpados da violência e da morte. Tanto Israel como Hamás matam por igual e nas mesmas condições.
Se omite (esconde-se), em primeiro lugar, a avaliaçom e discriminaçom das cifras oficiais dos mortos causados por Israel, baixo a classificaçom genérica de "mortos causados pelo conflito" em Gaza.
Em 15 dias de ataques por mar, por ar e por terra, Israel matou a mais de 830 palestinos, feriu ou mutilou a mais de 3.550, um 80% civis, incluídos 220 meninos assassinados e outros 1.100 feridos.
Quando se difunde o total de mortos nom se aclara (se esconde) que Israel com seu bombardeios nom só matou e feriu a milhares de civis senom que ademais destruiu a infra-estrutura e milhares de moradias em Gaza, criando com o bloqueio uma situaçom de catástrofe humanitária que envolve a um milhom e médio de pessoas.
E nom se precisa que Hamás, com seus ataques às tropas invasoras e os disparos de foguetes artesanais, em proporçom só matou a 5 civis e 8 soldados israelenses, sem meninos entre as vítimas, e sem destruiçom em massa das cidades judias e suas infra-estruturas.
E esta nom diferenciaçom entre atacante e atacado, e a nom discriminaçom dos emergentes da destruiçom (quanto, como e porquê mata a cada um) conduz a uma quarta categoria:
Nom há que parar o massacre de Israel em Gaza, senom que há que parar o "processo de violência em Gaza" gerado por Israel e Hamás.
Este conceito manipulado (de "violência de ambos lados") é o que utilizam tanto EEUU, a Uniom Europeia ou seus "sócios árabes" para propor um cesse ao fogo tampando a condiçom de invasor e a autoria militar de Israel no massacre.
As quatro categorias enumeradas (simultâneas e interactivas), conduzem a uma conclusom:
Em Gaza nom há um massacre militar e um genocídio económico (por médio do bloqueio) perpetrado pelo Estado de Israel, senom um "processo de violência irracional" que envolve tanto a Israel como a Hamás, com responsabilidade compartilhada por ambas partes.
Em resumem, a manipulaçom gera um resultante:
A) O desaparecimento do papel de potência atacante e invasora de Israel em Gaza (o que lhe exime de ser acusado e condenado por crimes de lesa humanidade).
B.- O desaparecimento da superioridade abrumante de seu poder militar respeito de Hamás (que faz possível que se qualifique como "guerra" o que claramente é um massacre militar unilateral).
C) O desaparecimento da responsabilidade e autoria de Israel na matança em massa de civis, na destruiçom física de Gaza e na condenaçom a seu povo a padecer fome e desespero pela crise humanitária produto do bloqueio.
Ilustremos estes três níveis com um título, da quinta-feira passada, da CNN (a corrente insígnia que lidera a manipulaçom no "mundo hispano-americano"): "Israel desobedeceu à ONU, e continua sua guerra com Hamás. Os mortos já ascendem a 773".
Em síntese, os 830 mortos palestinos (80% civis) nom foram produzidos por catorze dias consecutivos de bombardeios judeus indiscriminados por ar, por mar e por terra sobre Gaza e sua populaçom, senom pela "guerra" entre Israel e Hamás.
Títulos deste tenor, reproduzem-se por milhões e a diário no resto das outras correntes mediáticas internacionais (televisivas e escritas), que ao mesmo tempo som "copiadas" pelas correntes e meios locais nos cinco continentes que se convertem em "repetidoras" das grandes centrais sionistas da "informaçom".
Em consequência, e a modo de "produto final", o que fica no cérebro manipulado do televidente ou leitor em massa (integrado) que se "informa" pela TV e os diários do sistema é:
"Em Gaza há uma guerra. E na guerra mata-se e morrem pessoas, de ambos lados".
Desta maneira, as grandes correntes e suas "repetidoras" locais a nível planetário converteram ao extermínio militar de Israel em Gaza (um genocídio impune a e cara descoberta, inédito na história da humanidade), numa notícia "burocrática" que se repete num título, num texto de 20 palavras, e sem análises nem comentários, a cada trinta minutos, e misturada (sem nenhuma valorizaçom) com os "destacados" diários sobre farândola, desportos e a vida dos ídolos.
O extermínio militar de Israel de Gaza, que já leva 15 dias consecutivos de bombardeio sobre populações civis, nom figura como "informaçom principal" relevante das grandes correntes, senom como um "agregado noticiário" no grande pacote da informaçom diária.
Conquanto está em todos os segmentos de notícias, nom conta com a relevância e a dinâmica de uma cobertura com corresponsais ao vivo nos diferentes teatros dos factos, com opiniões de testemunhas, protagonistas do massacre, relatando a tragédia ao vivo e ao vivo.
Mediante a deformaçom significante dos factos e a descontextualizaçom da linguagem (chamar "conflito" ao que na realidade é um massacre) as correntes alteram o entendimento do que está a suceder em Gaza e reduzem seu impacto na psicologia do televidente em massa.
Em seus titulares as correntes e os meios locais substituem as palavra massacre ou invasom (o que em realidade está a suceder) por "conflito", "confronto" ou "guerra", lhe tirando a Israel seu carácter de potência agressora.
De igual forma substituem a palavra "assassinato" (o que realmente está a executar Israel em Gaza) por "morte de pessoas", o que lhe tira o significante real ao genocídio militar israelense realizado sobre populações civis desarmadas.
Desta maneira, o Estado nazista de Israel e as comunidades sionistas do mundo podem dizer (sem que ninguém rodeie suas embaixadas, ou boicote e bloqueie seus bancos e empresas no planeta) que "Israel só se está a defender do terrorismo em Gaza".
09 de janeiro 2009. - Um relatório da ONU revelou que Israel bombardeou umha moradia na que previamente tinha refugiado a uns 110 civis, a metade deles meninos, e causou a morte de ao menos umha trintena de pessoas.
O documento, baseado em declaraçons de testemunhas, indica que soldados de infantaria israelenses evacuaram aos palestinos e os refugiaram numha moradia residencial, lhes advertindo que deviam "ficar adentro". Umhas 24 horas mais tarde, as forças hebreias "bombardearam a casa repetidamente". Ocorreu no domingo passado na zona de Zeitun, na cidade de Gaza.
A Cruz Vermelha Internacional afirmou que nom teve acesso à zona até a quarta-feira. Ao chegar, os cooperantes encontraram vários cadáveres e pessoas agonizando, incluindo meninos. O organismo condenou a Israel por violar a legislaçom internacional ao negar às equipas médicas acesso ao lugar.
"De acordo a vários depoimentos, o 4 de janeiro soldados de infantaria israelenses evacuaram aproximadamente a 110 palestinos a umha casa residencial em Zeitun, advertindo-lhes que permanecessem dentro", afirma o relatório de Naçons Unidas.
"Vinte e quatro horas depois, as forças israelenses bombardearam a moradia repetidas vezes, matando aproximadamente a 30 pessoas".
O incidente teve lugar nesta segunda-feira no bairro Zeitun da Cidade de Gaza, afirma o relatório.
O Escritório de Naçons Unidas para a Coordenaçom de Assuntos Humanitários (OCHA) denominou-o "um dos mais graves incidentes desde o começo das operaçons" polas forças israelenses em Gaza o 27 de dezembro.
"Aqueles que sobreviveram e podiam o fazer, caminharam dois quilómetros à estrada de Salah Ed Din dantes de ser transportados a um hospital em veículos civis, afirmou OCHA.
"Três meninos, o mais pequeno dos quais tinha cinco meses, morreram ao chegar ao hospital".
O exército israelense afirmou nesta sexta-feira que nom tinha conhecimento do incidente.
Feridos esperam
A organizaçom israelense de direitos humanos B'Tselem cita o depoimento de Meysa Fawzi ao Samuni, umha habitante de 19 anos, afirmando que os soldados lhe obrigaram a ela e a dúzias de pessoas a umha moradia que parecia um armazém dantes do ataque.
"Até onde eu sê, os feridos e mortos que estavam baixo as ruínas, seguem ali", afirmou.
Ibrahim Samuni, um menino de 13 anos que foi ferido numha perna e no peito, declarou que ele manteve a seus três irmãos menores com vida e tratou de ajudar aos adultos feridos que jaziam entre os mortos após que sua mãe fosse assassinada no incidente.
"Nom tinha água, nem pam, nada que comer", afirmou.
"Abu Salah morreu, sua mulher morreu. Abu Tawfiq morreu, seu filho morreu, sua esposa também morreu. Mohammed Ibrahim morreu, e sua mãe morreu. Ishaq morreu e Nasar morreu. A esposa de Nael Samouni morreu. Muita gente morreu".
Os trabalhadores de emergência do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICR) e a Média Lua Vermelha Palestina afirmaram que nom puderam chegar aos feridos durante quatro dias, porque Israel nom lho permitia.
Declararam que os meninos estavam a morrer de fome quando as equipas de resgate finalmente chegaram a eles, depois da "inaceitável" demora.
"Estavam demasiado débeis para pôr-se em pé por si mesmos. Também encontramos um homem com vida, demasiado débil para se pôr em pé. Ao todo tinha ao menos 12 cadáveres tendidos em colchons", afirmou o CICR.
Baixas civis
Pierre Wettach, o chefe do CICR para Israel e os Territórios Palestinos Ocupados, afirmou: "o exército israelense teve que estar ao tanto da situaçom, mas nom assistiu aos feridos".
"Também nom permitiram-nos a nós nem à Média Lua Vermelha Palestina assistir aos feridos".
"A partir das averiguaçons iniciais, nom temos conhecimento deste incidente. Iniciámos umha investigaçom mas ainda nom a conhecemos", declarou sobre o incidente do bombardeio denunciado Avital Leibovich, umha porta-voz militar israelense.
O Escritório de Coordenaçom dos Assuntos Humanitários (OCHA) da ONU destacou que a ofensiva israelense na Faixa provocou "o maior número de deslocados forçados palestinos desde 1967".
por Thierry Meyssan
Red Voltaire
A ofensiva israelense contra Gaza é uma opção preparada de longa data. A decisão de colocá-la em prática foi tomada em resposta às nomeações da administração Obama. As mudanças estratégicas em Washington são desfavoráveis às intenções expansionistas de Tel Aviv. Israel procurou então colocar a nova presidência estado-unidense ante o fato consumado para constrangê-la a agir segundo seus interesses. Porém, para organizar sua ofensiva, Israel teve de buscar o apoio de novos parceiros militares, a Arábia Saudita e o Egito, que constituem a partir de então um paradoxal eixo sionista muçulmano. Riyad financia as operações, ao passo que o Cairo organiza os paramilitares.
Desde sábado 27 de dezembro de 2008, às 11h30 (hora local), as forças armadas israelenses lançaram uma ofensiva contra a Faixa de Gaza, primeiramente aérea, e também terrestre a partir de 3 de janeiro de 2009, 18h30 (hora local).
As autoridades israelenses declararam visar exclusivamente as instalações do Hamas e tomar o máximo de precauções para poupar as vidas dos civis. Na prática, visar "as instalações do Hamas" significa destruir não somente os sítios deste partido político, mas também as habitações de seus afiliados, e, sobretudo, todos os edifícios oficiais.
Em outros termos, a operação atual visa a aniquilar toda forma de administração na Faixa de Gaza. O general Dan Harel, chefe-adjunto do Estado-Maior, afirmou: "esta operação é diferente das anteriores. Temos expectativas muito altas desta vez e vamos seguir nesta direção. Não estamos a combater unicamente os terroristas e os lança-foguetes, mas também o governo do Hamas em seu conjunto. Visamos os edificios oficiais, as forças de segurança, pretendemos responsabilizar o Hamas por tudo o que se passa, e não fazemos nenhuma distinção entre suas diferentes ramificações".
Aliás, a promessa de "fazer o possível para poupar a vida dos civis" consta como pura retórica e não tem nenhuma possibilidade de concretização: com cerca de 3.900 habitantes por quilômetro quadrado [1] , a Faixa de Gaza é um dos territórios de maior densidade populacional do mundo. É materialmente impossível atingir os alvos escolhidos sem destruir a um só tempo as habitações vizinhas.
As autoridades israelenses afirmam agir em legítima defesa. Segundo dizem, tiros de foguetes foram disparados contra o Estado judeu desde a ruptura unilateral do cessar-fogo pelo Hamas, em 19 de dezembro de 2008.
Ora, o Hamas não rompeu a trégua. Uma trégua de seis meses havia sido estabelecida entre Israel e o Hamas por intermédio do Egito. Israel havia-se comprometido em suspender o bloqueio à Faixa de Gaza; o Egito, em reabrir o terminal de Rafah; e o Hamas, em não disparar tiros de foguete contra Israel. Entretanto, Israel e Egito nunca chegaram a cumprir essas promessas. O Hamas interrompeu os tiros de foguete durante meses. Retomou-os em novembro logo após uma incursão mortífera das tropas israelenses. Fazendo o balanço da duplicidade de seus interlocutores, o Hamas julgou inútil renovar um acordo de mão única.
Desde 2001, tiros de foguete foram disparados contra Israel. Cerca de 2.500 tiros foram computados em 7 anos. Eles mataram um total 14 israelensess até o lançamento da atual ofensiva, e não fizeram nenhuma vítima entre o fim da trégua e o último ataque de Israel.
Ora, a noção de legítima defesa supõe uma proporcionalidade de meios, o que, evidentemente, não é o caso. Tsahal pôs em atividade cerca de 60 bombardeiros e ao menos 20.000 homens superequipados face a resistentes armados de foguetes rudimentares e adolescentes munidos de pedras.
É impossível estimar efetivamente as perdas materiais e humanas. No décimo dia de bombardeios, os hospitais e serviços de urgência computaram 530 mortos. Esta cifra, entretanto, não leva em conta as vítimas mortas antes de chegar o socorro, cujos corpos são diretamente recuperados pelas famílias sem transitar pelos serviços de saúde.
Os feridos são milhares. Devido à falta de medicamentos, eles não poderão receber os cuidados necessários e a maioria deles será deficiente por toda a vida. As destruições materiais, por sua vez, também são consideráveis.
A operação foi lançada durante a festa de Hanoukka, um dia de shabbat. Ela foi denominada "Chumbo endurecido" em referência a uma canção de Haim Nahman Bialik que se entoa durante os oito dias de Hanoukka. Deste modo, Israel, que se proclama "Estado judeu", alça esta operação ao patamar de causa nacional e religiosa.
Hanoukka comemora o milagre do óleo: para agradecer a Deus, os judeus que haviam expulsado os gregos acenderam no templo um candeeiro a óleo sem que antes se houvessem purificado; mas embora o candeeiro contivesse óleo apenas para uma jornada, ele queimou durante oito dias. Ao ligar a operação militar atual ao milagre do óleo, as autoridades israelenses indicam à sua população que não é impuro matar os palestinos.
A guerra israelense suscitou protestos no mundo inteiro. As manifestações mais importantes tiveram lugar na Turquia, onde reuniram 700 mil pessoas. O Diretório Nacional de Informações, novo órgão de propaganda ligado aos serviços do primeiro ministro, mobilizou então os diversos líderes israelenses para que articulassem um outro argumento. A operação "Chumbo endurecido" seria uma batalha na "guerra mundial contra o terrorismo" declarada pelos Estados Unidos e sustentada pelo mundo ocidental. Com efeito, o Hamas é uma organização terrorista segundo os Estados Unidos, mesmo se não o é formalmente segundo a União européia. O governo israelense tenta relançar a temática, cara à administração Bush, do "choque de civilizações", ao passo que a administração Obama, que tomará posse dia 20 de janeiro, há claramente anunciado que abandonará essa diretriz.
Tal astúcia retórica deixa entrever as reais motivações da ofensiva, que devem ser procuradas tanto na natureza do enfrentamento quanto na particularidade da operação atual. A lógica do movimento sionista é de se apropriar desta terra através de uma limpeza étnica, ou, à falta disso, através de um sitema de apartheid. Os palestinos ficam então confinados em reservas que seguem o modelo dos bantustões sul-africanos: neste caso, porém, com a Cisjordânia de um lado, a Faixa de Gaza do outro. A cada 5 ou 10 anos, uma importante operação militar deve ser deflagrada para destruir as tentativas de resistência desta população. Desse ponto de vista, a operação "Chumbo endurecido" não é senão um massacre a mais, perpetrado por um Estado que goza de total imunidade há sessenta anos. De acordo com o jornal israelense Haaretz, o ministro da Defesa Ehud Barack aceitou a trégua de seis meses apenas com o intuito de impelir os combatentes do Hamas a sair da sombra. Favoreceu-se deste perído de trégua para cartografá-los com o propósito de aniquilá-los assim que a ocasião se apresentasse [2] .
Os novos ventos da administração Obama
Cumpre ainda considerar que esta operação ocorre durante o período de transição do governo norte-americano. Desde setembro de 2008, cientistas e especuladores previam que Barack Obama chegaria à Casa Branca graças ao apoio de uma coligação heteróclita abrangendo o complexo ecológico financeiro, o movimento sionista, os generais descontentes e os partidários da Comissão Baker-Hamilton. Por minha parte, eu havia anunciado este resultado desde o mês de maio.
Ora, esta coligação não tem posição definida no que tange ao Oriente Próximo. Os generais descontentes e os partidários da Comissão Baker-Hamilton consideram, assim como seu mestre e conselheiro, o general Brent Scowcroft, que os Estados Unidos estenderam demasiado as suas forças armadas e devem imperativamente limitar seus objetivos e reconstituir suas forças. Eles se opuseram a uma guerra contra o Irã, e afirmaram ao contrário a necessidade de obter a ajuda do Teerã para evitar a retirada das tropas americanas do Iraque. Eles deploram as tentativas de remodelagem do Grande Oriente Médio (isto é, de modificação das fronteiras) e conclamam a um período de estabilidade. Alguns deles chegam mesmo a preconizar que os Estados Unidos abandonem a política de isolamento contra a Síria e o Irã constrangendo Israel a restituir o Golã e a resolver parcialmente a questão palestina. Eles propõem que se conceda uma indenização aos Estados que naturalizarem os refugiados palestinos e que se invista maciçamente nos Territórios para torná-los economicamene viáveis. Esta perspectiva significa o fim do sonho de expansão sionista, assim como o fim de certos regimes árabes comandados à distância por Washington.
Por sua vez, os sionistas estado-unidenses que lançaram Barack Obama na política há apenas doze anos atrás, aos quais se juntaram os Clinton, desde que Hillary se converteu ao sionismo cristão e aderiu a Fellowship Foundation, sustentam a prossecução do projeto de apartheid. Seguindo o mesmo caminho da carta de George W. Bush a Ariel Sharon e da conferência de Annapolis, eles querem levar a termo a transformação dos Territórios em batustões. Um ou dois Estados palestinos seriam reconhecidos pelos Estados Unidos e por seus aliados, mas este ou estes Estados não seriam soberanos. Eles seriam desprovidos de forças armadas, e sua política externa e suas finanças permaneceriam sob controle israelense. Se Israel chegasse a erradicar toda a Resistência que aí se encontrasse, tais Estados se fundiriam completamente na paisagem tal qual se passou com as reservas indígenas nos Estados-Unidos.
Inquietos com seu futuro comum, as delegações egípcia, israelense e saudita reuniram-se no Egito em setembro e outubro de 2008. Segundo uma fonte da Resistência, ao final dessas negociações, foi acordado que, em caso de evolução desfavorável a Washington, Israel lançaria uma vasta operação militar em Gaza, financiada pela Arábia Saudita, ao passo que o Egito continuaria contribuindo com o envio paramilitares à região. Se, amiudadas vezes no passado, os governantes árabes deixaram o campo de atuação livre a Israel, esta é a primeira vez que eles participam do planejamento de uma guerra israelense, no que se constitui, desse modo, um eixo sionista muçulmano.
Informados em tempo real pelo chefe de gabinete Rahm Emanuel (que possui dupla nacionalidade israelo-estado-unidense e é oficial de ensino militar israelense) das relações de força no seio da equipe Obama, a troika Israel-Egito-Arábia Saudita foi informada sobre a repartição dos cargos.
Os postos importantes da secretária de Estado serão confiados a protegidos de Madeleine Albright e Hillary Clinton. Os dois secretários de Estado adjuntos, James Steinberg e Jacob Lew são sionistas convictos. O primeiro fora um dos redatores do discurso de Obama na AIPAC.
O Conselho de Seguridade Nacional fez chegar a partidários inquietos da OTAN [3] , o general Jones e Tom Donilon, o quanto as provocações israelenses perturbam o provimento energético do Ocidente. Jones, que estava encarregado de comparecer à conferência de Annapolis, exprimiu amiudadas vezes sua irritação frente ao recrudescimento das intenções sionistas.
O secretariado de defesa cabe a Robert Gates, um ex-adjunto de Scowcroft e membro da Comissão Baker Hamilton. Ele se prepara para exonerar os colaboradores que herdou de Donald Rusmfeld e os quais não pôde demitir mais cedo, como já havia feito com dois maníacos antiiranianos: o secretário da Força Aérea Michael Wynne e seu chefe de estado-maior, o general T. Michael Moseley. Além disso, Gates logrou colocar seu amigo Léon Panetta, também membro da Comissão Baker-Hamilton, na direção da CIA.
Em resumo, a troika pode sempre contar com o apoio diplomático dos Estados Unidos, não mais com sua massiva ajuda militar.
O Egito, a Arábia saudita e 10 mil paramilitares árabes com Israel
Esta é a novidade no Oriente Próximo. Pela primeira vez, uma guerra israelense não é financiada pelos Estados Unidos, mas pela Arábia Saudita. Riyad paga para que esmaguem o principal movimento político sunita que ele não logrou controlar: o Hamas. A dinastia dos Séoud sabe que, para se manter no poder, deve aniquilar toda alternativa sunita ao Oriente Próximo. Isso porque ela optou pelo sionismo muçulmano. O Egito teme, quanto a esta dinastia, uma extensão via os Irmãos muçulmanos da revolta social.
A estratégia militar permanece entretanto estado-unidense, como quando da guerra de 2006 contra o Líbano. Os bombardeios não são concebidos para eliminar os combatentes ? o que, como já foi dito acima, não faz sentido em meio urbano ?, mas antes para paralisar a sociedade palestina em seu conjunto. É a aplicação da teoria dos cinco anéis de John A. Warden III.
Sempre segundo o jornal Haaretz, Ehud Olmert, Ehud Barack e Tzipi Livni tomaram definitivamente a decisão da guerra em 18 de dezembro, isto é, na véspera da expiração do acordo de trégua.
O Diretório Nacional de Informação organizou uma simulação, em 22 dezembro, para preparar as mentiras que serviriam a justificar o massacre. A operação teve início em 27 de dezembro de maneira a evitar que a papidade pudesse interferir. Bento XVI, entretanto, em sua mensagem de Natal, aludiu a "um horizonte que parece se tornar novamente sombrio para os israelenses e palestinos".
Voltemos neste ponto ao teatro de operação. A aviação israelense preparou o terreno para uma penetração terrestre, que abre a via a paramilitares árabes. Segundo nossas informações, cerca de 10 mil homens estão atualmente acampados perto de Rafah.
Treinados no Egito e na Jordânia, eles estão sob o comando do ex-conselheiro de Segurança Nacional de Mahmoud Abbas, o general Mohammed Dahlan (o homem que organizou o envenenamento de Yasser Arafat para o benefício dos israelenses, segundo documentos tornados públicos há dois anos). Eles são chamados a desempenhar o papel que havia sido atribuído à milícia de Elie Hobeika em Beirute quando as tropas de Ariel Sharon cercaram os campos de refugiados de Sabra e Chatila.
No entanto, a troika sionista hesita em lançar seus "cães de guerra" enquanto a situação militar no interior da Faixa de Gaza permanece incerta. Há dois anos, muitos resistentes palestinos foram treinados com as técnicas de guerrilha do Hezbollah.
Por mais que, em teoria, eles sejam desprovidos das armas necessárias para este tipo de combate, ignora-se exatamente quais são as suas capacidades. Uma derrota no solo seria uma catástrofe política para Israel após a derrota em terra de seu exército no Líbano, em 2006, e de seus instrutores na Geórgia, em 2008. É sempre possível retirar rapidamente os tanques israelenses de Gaza, mas o mesmo não se aplica aos paramilitares árabes.
A União Européia conclamou a uma trégua humanitária. Israel respondeu que não era necessário, pois não havia nova crise humanitária desde o início dos bombardeios. Como prova de sua boa-fé, o auto-proclamado "Estado judeu" permitiu a entrada de algumas centenas de caminhões de ajuda alimentar e médica... para 1.400.000 habitantes.
Em cada uma das guerras que Israel perpetrou em violação do direito internacional, um proscênio diplomático foi organizado para que fosse possível ganhar tempo, enquanto os Estados Unidos bloqueavam todas as resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Em 2006, foi Romano Prodi e a conferência de Roma. Desta vez, foi o presidente francês Nicolas Sarkozy que tomou para si o encargo de distrair a opinião pública. Ele anunciou que consagraria dois dias de seu precioso tempo para regrar um problema em cuja tentativa de solução outros hão fracassado há 60 anos.
Não deixando mais dúvidas sobre sua parcialidade, Sarkozy recebeu no Palácio de Élysée a ministra israelense de Relações Exteriores, Tzipi Livni, e o líder sunita saudita-libanês Saad Hariri, e conversou por telefone com o presidente egípcio Hosni Moubarak, o presidente fantoche da Autoridade palestina Mahmoud Abbas, e o Primeiro ministro israelense Ehud Olmert.
06/Janeiro/2009
[1] A densidade populacional foi estimada pela ONU em 2005 como 3.823 hab/km². Ela teria aumentado a partir de então entre 12 e 16 por mil.
[2] "Disinformation, secrecy and lies : How the Gaza offensive came about", de Barak Ravid, publicado no jornal Haaretz em 31 de dezembro de 2008. Uma versão francesa deste artigo está disponível no sítio contreinfo.info.
[3] OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) ou NATO (North Atlantic Treaty Organization).
[*] Analista político, fundador do Réseau Voltaire. Última obra publicada: L'Effroyable imposture 2 (le remodelage du Proche-Orient et la guerre israélienne contre le Liban)