Kevin Pina
As recentes operações militares da ONU em Cite Soleil revelam uma estratégia soterrada que se baseia numa série de falsos supostos que vêm sendo propagados pelos responsáveis políticos da administração Bush através da embaixada dos Estados Unidos em Haiti.
O Estado espanhol tem unidades da Guarda Civil, como sempre baixo ditados dos USA
O argumento para tal estratégia é o seguinte:
1. Aristide fomentou e armou a redes de quadrilhas com o fim de acossar à oposição e manter-se no poder.
2. O que temos agora são os restos dessas mesmas quadrilhas que controlam o maior bairro de favelas de Haiti, e que seguem recebendo apoio de Aristide.
3. Essas quadrilhas estão por trás das grandes manifestações que seguem se levando a cabo em apoio a Aristide e a seu movimento Lavalas.
4. Se as quadrilhas fossem expulsadas, as manifestações cessariam.
Os generais brasileiros, que lideram a campanha militar da ONU em Haiti, combinaram esta estratégia com tácticas que desenvolveram para fazer frente a seus próprios problemas de quadrilhas nas favelas de Rio e São Paulo. Isto é o que deu a luz a um meio onde o dono de ?maquilas? Andy Apaid, membro da coalizão anti-Lavalas de entidades da sociedade civil chamada Grupo 184, pôde apoiar às bandas paramilitares como uma força de contraposição nas favelas da capital de Haiti onde o apoio a Aristide segue forte.
Foi esta amalgama de tácticas brasileiras com estratégias estadunidenses a que permitiu que a banda Labanye pudesse prover-se de armamentos em Cite Soleil em 2004, e também a subsiguiente constituição pela polícia haitiana do tristemente célebre Exército Pequeno Machete em 2005. A ONU também deu refúgio a conhecidos bandidos que ajudaram a derrocar a Aristide e que actualmente governam a quarta maior cidade de Haiti, Gonaives. Também não conseguiram desarmar ao antigo e brutal exército de Haiti, e de fato premiaram-no com uma recompensa de 29,5 milhões de dólares. A estratégia política da ONU foi a de propiciar, com a ajuda de eleições, a lavagem da bem merecida reputação que esses indivíduos têm como violadores dos direitos humanos. Apesar de que se acha que esses grupos estão momentaneamente dormentes e/ou que foram suficientemente cooptados, a longa busca da ONU da estabilidade política tem relegado às futuras gerações ao carrossel da instabilidade política.
Enquanto a ONU implementou fielmente a estratégia da administração Bush de desmembrar o movimento Lavalas de Aristide, este foi infiltrado também pelas opulentas elites de Haiti, que foi a verdadeira força por trás do que os grandes meios informativos proclamaram como o levantamento popular que derrocou a Aristide em fevereiro de 2004. Pode-se dizer que foi a forma de fazer negócio da reduzida elite adinheirada o que acabou criando um abismo enorme entre ela e grande parte da maioria haitiana desesperadamente pobre, o que historicamente deu origem a Aristide e a seu movimento Lavalas.
As massas de pobres marginados viam a Aristide e ao movimento Lavalas como a única força política que jamais tenha representado seus interesses em toda a história de Haiti. Por este motivo somente resistiram à violência patrocinada pelo Estado e às perseguições políticas levadas a cabo durante o regime de Gerardo Latortue, instalado pelos Estados Unidos e provista de legitimidade sob a égida de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Seguem até hoje arriscando a vida em manifestações de apoio a Aristide e a Lavalas, apesar do preço tão alto que tiveram que pagar por sua confiança em Lavalas, cujo princípio primordial era de que as massas pobres tinham direito a jogar um papel na determinação do futuro de Haiti, e portanto do futuro de seus filhos.
As multitudinarias manifestações de 7 de fevereiro ao longo do país, exigindo a volta do derrocado presidente Jean-Bertrand Aristide, passaram em sua maior parte desapercibidas pelos grandes meios informativos, em contraste à avalanche de informações dois dias mais tarde quando as forças das Nações Unidas, conhecidas pelo acrónimo MINUSTAH, lançaram outra de uma longa série de operações militares no bairro costeiro de favelas Cite Soleil. Apesar de que o objectivo da incursão foi teoricamente livrar ao bairro das quadrilhas, seguiu umha pauta que apontava à estratégia central adoptada pela administração Bush.
Com anterioridade a esta última ofensiva militar da ONU no bairro de baiucas mais desesperado da capital de Haiti, já se tinha estabelecido um padrom entre as expressões de apoio ao presidente derrocado e as operações militares da ONU. Em 16 de dezembro passado vimos a outra grande manifestação de apoio a Aristide que começou em Cite Soleil, e seis dias mais tarde a ONU levaria a cabo um assalto mortífero que os residentes e grupos de defesa dos direitos humanos dizem que ocasionou uma grande matança de vítimas inocentes. Não membros de quadrilhas como a ONU diria mais tarde, se não residentes desarmados que tentavam fugir dos disparos que segundo eles vinham fundamentalmente das forças de paz da ONU.
O 22 de dezembro de 2006 teve o que seria chamado um segundo massacre perpetrado pelas forças da ONU em Cite Soleil, parecida às acusações anteriores provocadas pela operação militar de 6 de julho de 2005. Na matança produzida em 6 de julho de 2005, a ONU sustentava que somente seis bandidos tinham sido morridos, ao passo que organizações locais de defesa dos direitos humanos e activistas comunitários alegavam que uns 70 residentes desarmados poderiam ter caído ante os disparos da ONU. A ONU foi ainda mais longe e asseverou que, apesar de que não estavam em condições de precisar o número exacto de mortos, se tivessem residentes entre os mortos isto se deveu à acção dos as quadrilhas em vingança contra aqueles que eles achavam que tinham aplaudido as operações militares da ONU. Para os partidários do presidente derrocado, a incursão do 6 de julho de 2005 foi vista principalmente como um ataque preventivo da ONU e das elites opulentas de Haiti para asfixiar o impacto dos protestos que estavam programadas para o dia do aniversário de Aristide, que teria lugar nove dias após o 15 de julho. O paralelismo entre os dois acontecimentos é inegável, e a maior vergonha é que nenhuma organização internacional de direitos humanos, inclusive Amnistia Internacional, jamais quis levar a cabo uma investigação séria sobre essas acções militares da ONU, apesar das petições dos sobreviventes e das famílias das vítimas.
As manifestações exigindo a volta de Aristide e justiça para o movimento político Lavalas não cessarão apesar das operações militares da ONU contra as quadrilhas que eles erroneamente acham que está por trás deles. Apesar da propaganda de parte de jornalistas bem situados, que alimentam a imagem de Lavalas como a de um grupo constituído exclusivamente por fanfarrões, a imensa maioria do movimento está composta pelos mesmos representantes das maiorias pobres de Haiti que estão a ser assassinados pelas balas da ONU.
Enquanto muitos nos grandes meios informativos descrevem a realidade da população de Cite Soleil como formada por duas categorias de pessoas, a primeira composta por residentes indefesos surpreendidos pelo fogo cruzado, e a segunda por pandilheiros, há uma terceira força que não vai desaparecer. Trata-se de gente consciente e inteligente que se opõe à ocupação de seu país pela ONU. Não têm nenhum tipo de armas mais que a convicção de que são Aristide e Lavalas os que representam a eles e a um futuro melhor para seus filhos. Os partidários de Aristide e de Lavalas acham que têm o direito de manifestar publicamente suas convicções. Desafortunadamente, a ONU já demonstrou qual é sua postura em relação ao direito de expressão reivindicados pelos seguidores de Aristide e seu movimento Lavalas.
Onde está Amnistia Internacional e demais ONG?
Por: Carlos Taibo (CCS)
A aliança militar só pode se acatar se se aceitam ao mesmo tempo as regras do jogo que os grandes do Norte impõem.
A Aliança Atlántica é a principal das alianças militares fornecidas pelos países ricos. Não é mais que o braço armado do projecto económico que aqueles defendem: a globalização capitalista, com suas sequelas de especulação, concentração da riqueza, desregulaçom e deslocalizaçom. Assim, à OTAN, por sua especificidade guerreira, lhe corresponde tanto peso como ao Fundo Monetário, ao Banco Mundial e à Organização Mundial do Comércio.
Num segundo degrau, a Aliança Atlántica é o instrumento principal dos desígnios que avaliam os governantes norte-americanos do momento. Faz nuns dias um analista político vinculado com a direita mais pro-norteamericana sustentava que esta ideia tão só a defende hoje a esquerda europeia mais rância. Não parece que seja assim: todos os dados convidam a concluir que Estados Unidos dita as regras do jogo às que deve se ajustar a OTAN, na que não consta que tenha emergido nenhum sinal de contestaçom da política norte-americana. Ainda que não faltaram os membros da Aliança que expressaram circunstanciais distensões com respeito às querenças de Washington - ali estiveram França e Alemanha contra a agressão estadunidense em Iraque a princípios de 2003- nunca tivemos conhecimento de que a OTAN tenha manifestado dissidência alguma.
Um dos indicadores da submissom ao ditado da Casa Branca é a expansão do área de acções militares da Aliança, que parece não aceitar nenhuma limitação. A OTAN é um poderoso estímulo para o crescimento do gasto militar e começou a mover seus peças numa região vital para os desígnios imperiais de Estados Unidos, como é o Oriente Próximo entendido em sentido amplo. A maioria dos projectos que apontam a melhorar as prestações da Aliança nascem precisamente do desígnio de perfilar instrumentos de emprego rápido nessa conflictiva região. O encovar de cerviz da OTAN à estratégia norte-americana é tal que seus responsáveis acataram sem dizer nem chis o que nuns casos -Afeganistão- foram demandas de franca imbricaçom e em outros -Iraque- chamativas e unilaterais decisões de marginaçom.
A principal fórmula de legitimaçom da Aliança Atlántica é a que oferece o intervencionismo intitulado humanitário. As acções da OTAN obedecem à defesa dos interesses mais tradicionais e mesquinhos, e isso por muito que se adobem com a ideia de que por trás delas brota o desígnio de liberar a povos acossados ou restaurar direitos conculcados. Se a OTAN deseja que seus críticos engulham tal mitologia que fagam, por exemplo, o despregue dos seus soldados em Gaza e Cisjordânia, para exigir a rápida evacuação do exército israelense, ou no Kurdistán, para reclamar o próprio dos militares turcos. Não parece, no entanto, que na agenda da Aliança Atlántica se vislumbrem tais objectivos.
A OTAN foi e é elemento central de descrédito do sistema de Nações Unidas. Poucas vezes recorda-se que, quando a Aliança celebrou sua quinquagésimo aniversário, em 1999, aprovou uma declaração em virtude da qual assinalava que em adiante suas acções militares não teriam por que se ajustar a uma resolução específica do Conselho de Segurança da ONU. Quem pense que Estados Unidos violenta a legalidade internacional enquanto, em mudança, a OTAN se mostra escrupulosamente respeitosa faria bem em repassar seus conhecimentos.
Quando o presidente espanhol, Rodríguez Zapatero, defende seu projecto de uma Aliança de Civilizações, infelizmente separa de maneira artificial o mundo do cultural e o civilizatorio, por umha banda, e o mundo da economia e os fatos militares, pelo outro. E é por desgraça este segundo universo o que determina a maioria dos problemas e tensões no planeta contemporâneo. A Aliança Atlántica configura, nessa trama, um instrumento central para ratificar atávicas exclusões e desigualdades.
Resistir.info
Samir Amin
entrevistado por Giuliano Battiston
Um capitalismo de rosto humano? "Pura ilusão". Altermundialismo moderado? "Uma ingenuidade". Europa? "Ainda não existe". Longe da retórica cautelosa do politicamente correcto, incansável dinamizador de alternativas políticas e económicas ao dogma neoliberal dominante, o economista egípcio Samir Amin fez da linguagem franca, do rigor analítico e da paixão militante, os instrumentos de sua inveterada batalha para se considerar antes o homem e as suas necessidades do que o lucro. Partidário fervoroso da necessidade de acompanhar as reivindicações de justiça social, e de exercer a critica das desigualdades intrínsecas à globalização capitalista, e de uma radicalização da luta política capaz de unificar as diferentes energias dos movimentos altermundialistas, Samir Amin é um autor extremamente frutífero. Os seus textos são lidos e discutidos por todos os que pretendem transformar a heterogeneidade de "movimentos" num actor político colectivo, e pelos que temem as derivas politizadas dos mesmos
P. De acordo com uma certa "vulgata" liberal e conservadora, não só o mercado seria o único instrumento de regulação da sociedade, como a própria promoção e universalização dos direitos dependeria dos processos de globalização económica. Como se poderia articular a relação entre a globalização, na sua forma actual, e direitos fundamentais?
R. O discurso da ideologia dominante, que estabelece uma absoluta igualdade entre democracia e mercado, e baseando-se nesta premissa, sustenta que não há democracia sem mercado ? e que o próprio mercado crias as condições para o aprofundamento da democracia ?, é um discurso vulgar, puramente propagandístico, que não tem nada a ver com a realidade histórica nem com a sua análise científica. Pelo contrario, há uma contradição absolutamente fundamental nessa retórica dominante que, reduzindo a democracia à sua dimensão meramente política, e limitando-a à democracia representativa, a dissocia da questão social que se supõe ser regulável pelo funcionamento do mercado, ou melhor dizendo, de um mercado imaginário. A teoria do capitalismo imaginário dos economistas convencionais, para quem o mercado generalizado tenderia para o equilíbrio, supõe que a sociedade é simplesmente composta pelo conjunto dos indivíduos que a compõem, sem ter em conta as formas da organização social, a pertença à família, à classe social, à nacionalidade: esquecendo, pois, que para Marx era uma verdade natural ? a saber: que os valores económicos estão "incrustados" na realidade social.
P. Se existe uma contradição fundamental entre mercado global e direitos fundamentais, com que instrumentos poderia ser construída uma via que permitisse superar esta contradição?
R. Não tenho receitas, mas sugiro a abordagem do tema com a perspectiva de lançar estratégias de luta comum em torno de alguns pontos fundamentais, o primeiro dos quais assenta na ideia de que não pode haver democracia autêntica sem progresso social. É um objectivo que vai exactamente na direcção oposta ao discurso dominante, o qual, como se viu, dissocia ambos os termos, e anda afastado do pensamento dos bem-pensantes social-liberais e social-demócratas, que supõem que os efeitos negativos do capitalismo podem ser contidos por meio de uma regulação social parcial. Talvez fosse preferível esquecer o termo "democracia" e falar bastante mais de "democratização", entendida como um processo sem fim; e recordar que a necessidade de associar a democracia ao progresso social é um objectivo que diz respeito a todos os países do mundo. Também nos países chamados democráticos a democracia está em crise: precisamente porque, dissociada da questão social, fica reduzida à democracia representativa, e a solução dos problemas económicos e sociais é transferida para o mercado. É uma via muito perigosa: na Itália, como noutros lugares, você votou livremente (ou quase, dado que o voto está muito condicionado pelos media), e no entanto, muita gente se questiona: porquê votar, se o parlamento afirma que algumas decisões são impostas pelo mercado e pela globalização? Deste modo, a democracia vê-se deslegitimada, e corre-se o risco de se derivar para formas de neofascismo suave.
P. De acordo com a sua análise, sempre existiram o capitalismo e a globalização, mas depois da II Guerra Mundial teríamos iniciado uma nova fase na qual entra a estratégia dos EUA de estender a doutrina Monroe ao planeta inteiro. Quais são, em sua opinião, as características desta nova fase da globalização, e quais os objectivos prioritários da estratégia americana?
R. Esta nova fase assenta numa transformação da natureza do imperialismo (falo de imperialismo, e não de "império" como Toni Negri): se até final de II Guerra Mundial o imperialismo conjugava-se no plural, e as potências imperialistas estavam em permanente conflito entre si, então assistimos a uma transformação estrutural que deu à luz o imperialismo colectivo, a que chamo da "tríade": simplificando um pouco, EUA, Europa e Japão, quer dizer, o grupo dos segmentos dominantes do capital que têm interesses comuns na gestão do sistema mundial. Este sistema, que representa a forma do novo imperialismo frente a 85% da população mundial, "requer" a guerra. Este é precisamente o ponto em que se manifesta o projecto do establishment americano, e que reflecte a orientação da maioria da classe dominante norte-americana, disposta a controlar militarmente o planeta. Os EUA optaram por desencadear o primeiro ataque ao Médio Oriente por uma série de razões, mas por duas em particular: pelo petróleo e pelo controle militar das principais regiões petrolíferas do planeta, para exercer uma liderança incontestada, a fim de se constituir numa ameaça permanente para todos os potenciais concorrentes económicos e políticos. Mas também porque têm na região, aquilo a que eu defino de o seu porta aviões fixo: o Estado de Israel através do qual garantem um instrumento de pressão permanente, que é utilizado na ocupação da Palestina e, como se viu, é utilizado também na agressão ao Líbano.
P. Você sustenta que o militarismo agressivo do EUA não é tanto um sinónimo de força, mas bem mais, um meio de equilibrar a sua vulnerabilidade económica. Poderia explicar melhor o que quer dizer com isto?
R. De acordo com a teoria dominante, de que infelizmente é também vítima grande parte da opinião pública europeia, a supremacia militar dos EUA representaria a ponta do iceberg de uma superioridade em fase terminal baseada na eficácia económica e na hegemonia cultural. Mas a realidade é que os EUA estão numa posição de vulnerabilidade extrema, que se manifesta no enorme défice comercial com o estrangeiro, e dessa fragilidade deriva a opção estratégica da classe dirigente dos EUA que desemboca no uso da violência militar. Existem documentos do Pentágono que demonstram que os EUA consideraram possível uma guerra nuclear em que as vítimas pudessem chegar aos 600 milhões: como escreveu Daniel Ellsberg, cerca de 100 holocaustos.
P. Frente ao protagonismo dos EUA, a Europa parece ainda incapaz de articular um projecto político realmente alternativo. Que deveria a Europa fazer?
R. Por enquanto, e apesar de tantos europeus terem esperança nisso, não acredito que a Europa esteja em condições de chegar a ser um elemento alternativo à hegemonia do EUA. Teria que sair da NATO, romper a aliança militar com os EUA e emancipar-se do liberalismo. No entanto, actualmente, as forças políticas e sociais europeias parecem interessadas em tudo menos num projecto desse tipo, até ao ponto em que ? como fez um dia o velho PS italiano ? reforçaram melhor o atlantismo e o alinhamento com a NATO e o liberal-socialismo. Hoje não se vislumbra outra Europa. E neste sentido, a Europa não existe: o projecto europeu é simplesmente a face europeia do projecto norte-americano.
P. Porém, existe margem para construir "outra Europa", e foi você mesmo que falou do conflito de culturas políticas que opõe a Europa aos EUA.
R. As culturas políticas da Europa foram formadas no curso dos últimos séculos em torno da polarização entre a direito e a esquerda: quem estava a favor do Iluminismo, da revolução francesa, do movimento operário, da revolução russa, situava-se à esquerda; quem estava contra isso, situava-se à direita. A história da Europa é a história de culturas políticas do "não-consenso", que estendem o conflito para além da versão redutora da luta de classes. A cultura dos EUA tem uma outra história, e que se formou como uma cultura do consenso: consenso sobre o genocídio dos índios, sobre a escravatura, sobre o racismo. E sobre o capitalismo, que nos EUA não foi posto em questão, e se houver luta de classes, não haverá politização dessa luta. Na realidade, as sucessivas migrações, graças às quais se edificou o povo americano, substituíram a formação de uma consciência política por uma consciência comunitária. Assistimos hoje a uma intenção de "americanizar" a Europa, e de substituir a cultura do conflito por uma cultura do consenso: pretende-se que não haja já direita nem esquerda, que não hajam já cidadãos, mas apenas consumidores mais ou menos ricos.
P. O Fórum Social Mundial, de acordo com uma reconstrução superficial que alcançou algum eco, teria nascido no rastro das manifestações altermundialistas de Seattle. Porém, a história do Fórum tem uma orientação muito menos "ocidental" do que normalmente se pensa. Pode comentar?
R. O FórumSocial Mundial é tanto uma criação ocidental que o primeiro encontro deu-se no Brasil; depois ? e não por casualidade ? os encontros seguintes deram-se em Bombaim, Bamako, Caracas e Carachi, e o Foro, que começa amanhã, escolheu como sede Nairobi. Convém não esquecer, para além disso, que em Seattle a Organização Mundial do Comércio foi paralisada, não pelos manifestantes norte-americanos, mas pelo voto da maioria dos países em desenvolvimento. Um dos primeiros encontros que deram vida ao FSM, foi o chamado "anti-Davos em Davos", uma manifestação ? pequena, mas de grande valor simbólico ? organizada em 1999 pelo Fó:rum Mundial das Alternativas, graças ao qual, os representantes das vítimas das políticas do capitalismo liberal puderam discutir a agenda oficial de Davos. Éramos poucos, mas representávamos grandes forças sociais: sindicatos hindus, coreanos, brasileiros, organizações de mulheres e camponeses, associações da África Ocidental, defensores dos direitos sociais, movimentos brasileiros. Dali nasceu a ideia de programar um novo encontro a uma escala maior.
22/Janeiro/2007
[*] Economista, presidente do Fórum Social realizado em Nairobi.
[**] Jornalista, de Il Manifesto.
Por: Carlos Taibo (CCS)
A aliança militar só pode se acatar se se aceitam ao mesmo tempo as regras do jogo que os grandes do Norte impõem.
A Aliança Atlántica é a principal das alianças militares fornecidas pelos países ricos. Não é mais que o braço armado do projecto económico que aqueles defendem: a globalização capitalista, com suas sequelas de especulação, concentração da riqueza, desregulaçom e deslocalizaçom. Assim, à OTAN, por sua especificidade guerreira, lhe corresponde tanto peso como ao Fundo Monetário, ao Banco Mundial e à Organização Mundial do Comércio.
Num segundo degrau, a Aliança Atlántica é o instrumento principal dos desígnios que avaliam os governantes norte-americanos do momento. Faz nuns dias um analista político vinculado com a direita mais pro-norteamericana sustentava que esta ideia tão só a defende hoje a esquerda europeia mais rância. Não parece que seja assim: todos os dados convidam a concluir que Estados Unidos dita as regras do jogo às que deve se ajustar a OTAN, na que não consta que tenha emergido nenhum sinal de contestaçom da política norte-americana. Ainda que não faltaram os membros da Aliança que expressaram circunstanciais distensões com respeito às querenças de Washington - ali estiveram França e Alemanha contra a agressão estadunidense em Iraque a princípios de 2003- nunca tivemos conhecimento de que a OTAN tenha manifestado dissidência alguma.
Um dos indicadores da submissom ao ditado da Casa Branca é a expansão do área de acções militares da Aliança, que parece não aceitar nenhuma limitação. A OTAN é um poderoso estímulo para o crescimento do gasto militar e começou a mover seus peças numa região vital para os desígnios imperiais de Estados Unidos, como é o Oriente Próximo entendido em sentido amplo. A maioria dos projectos que apontam a melhorar as prestações da Aliança nascem precisamente do desígnio de perfilar instrumentos de emprego rápido nessa conflictiva região. O encovar de cerviz da OTAN à estratégia norte-americana é tal que seus responsáveis acataram sem dizer nem chis o que nuns casos -Afeganistão- foram demandas de franca imbricaçom e em outros -Iraque- chamativas e unilaterais decisões de marginaçom.
A principal fórmula de legitimaçom da Aliança Atlántica é a que oferece o intervencionismo intitulado humanitário. As acções da OTAN obedecem à defesa dos interesses mais tradicionais e mesquinhos, e isso por muito que se adobem com a ideia de que por trás delas brota o desígnio de liberar a povos acossados ou restaurar direitos conculcados. Se a OTAN deseja que seus críticos engulham tal mitologia que fagam, por exemplo, o despregue dos seus soldados em Gaza e Cisjordânia, para exigir a rápida evacuação do exército israelense, ou no Kurdistán, para reclamar o próprio dos militares turcos. Não parece, no entanto, que na agenda da Aliança Atlántica se vislumbrem tais objectivos.
A OTAN foi e é elemento central de descrédito do sistema de Nações Unidas. Poucas vezes recorda-se que, quando a Aliança celebrou sua quinquagésimo aniversário, em 1999, aprovou uma declaração em virtude da qual assinalava que em adiante suas acções militares não teriam por que se ajustar a uma resolução específica do Conselho de Segurança da ONU. Quem pense que Estados Unidos violenta a legalidade internacional enquanto, em mudança, a OTAN se mostra escrupulosamente respeitosa faria bem em repassar seus conhecimentos.
Quando o presidente espanhol, Rodríguez Zapatero, defende seu projecto de uma Aliança de Civilizações, infelizmente separa de maneira artificial o mundo do cultural e o civilizatorio, por umha banda, e o mundo da economia e os fatos militares, pelo outro. E é por desgraça este segundo universo o que determina a maioria dos problemas e tensões no planeta contemporâneo. A Aliança Atlántica configura, nessa trama, um instrumento central para ratificar atávicas exclusões e desigualdades.
Por: Carlos Taibo (CCS)
A aliança militar só pode se acatar se se aceitam ao mesmo tempo as regras do jogo que os grandes do Norte impõem.
A Aliança Atlántica é a principal das alianças militares fornecidas pelos países ricos. Não é mais que o braço armado do projecto económico que aqueles defendem: a globalização capitalista, com suas sequelas de especulação, concentração da riqueza, desregulaçom e deslocalizaçom. Assim, à OTAN, por sua especificidade guerreira, lhe corresponde tanto peso como ao Fundo Monetário, ao Banco Mundial e à Organização Mundial do Comércio.
Num segundo degrau, a Aliança Atlántica é o instrumento principal dos desígnios que avaliam os governantes norte-americanos do momento. Faz nuns dias um analista político vinculado com a direita mais pro-norteamericana sustentava que esta ideia tão só a defende hoje a esquerda europeia mais rância. Não parece que seja assim: todos os dados convidam a concluir que Estados Unidos dita as regras do jogo às que deve se ajustar a OTAN, na que não consta que tenha emergido nenhum sinal de contestaçom da política norte-americana. Ainda que não faltaram os membros da Aliança que expressaram circunstanciais distensões com respeito às querenças de Washington - ali estiveram França e Alemanha contra a agressão estadunidense em Iraque a princípios de 2003- nunca tivemos conhecimento de que a OTAN tenha manifestado dissidência alguma.
Um dos indicadores da submissom ao ditado da Casa Branca é a expansão do área de acções militares da Aliança, que parece não aceitar nenhuma limitação. A OTAN é um poderoso estímulo para o crescimento do gasto militar e começou a mover seus peças numa região vital para os desígnios imperiais de Estados Unidos, como é o Oriente Próximo entendido em sentido amplo. A maioria dos projectos que apontam a melhorar as prestações da Aliança nascem precisamente do desígnio de perfilar instrumentos de emprego rápido nessa conflictiva região. O encovar de cerviz da OTAN à estratégia norte-americana é tal que seus responsáveis acataram sem dizer nem chis o que nuns casos -Afeganistão- foram demandas de franca imbricaçom e em outros -Iraque- chamativas e unilaterais decisões de marginaçom.
A principal fórmula de legitimaçom da Aliança Atlántica é a que oferece o intervencionismo intitulado humanitário. As acções da OTAN obedecem à defesa dos interesses mais tradicionais e mesquinhos, e isso por muito que se adobem com a ideia de que por trás delas brota o desígnio de liberar a povos acossados ou restaurar direitos conculcados. Se a OTAN deseja que seus críticos engulham tal mitologia que fagam, por exemplo, o despregue dos seus soldados em Gaza e Cisjordânia, para exigir a rápida evacuação do exército israelense, ou no Kurdistán, para reclamar o próprio dos militares turcos. Não parece, no entanto, que na agenda da Aliança Atlántica se vislumbrem tais objectivos.
A OTAN foi e é elemento central de descrédito do sistema de Nações Unidas. Poucas vezes recorda-se que, quando a Aliança celebrou sua quinquagésimo aniversário, em 1999, aprovou uma declaração em virtude da qual assinalava que em adiante suas acções militares não teriam por que se ajustar a uma resolução específica do Conselho de Segurança da ONU. Quem pense que Estados Unidos violenta a legalidade internacional enquanto, em mudança, a OTAN se mostra escrupulosamente respeitosa faria bem em repassar seus conhecimentos.
Quando o presidente espanhol, Rodríguez Zapatero, defende seu projecto de uma Aliança de Civilizações, infelizmente separa de maneira artificial o mundo do cultural e o civilizatorio, por umha banda, e o mundo da economia e os fatos militares, pelo outro. E é por desgraça este segundo universo o que determina a maioria dos problemas e tensões no planeta contemporâneo. A Aliança Atlántica configura, nessa trama, um instrumento central para ratificar atávicas exclusões e desigualdades.
Resistir.info
Samir Amin
entrevistado por Giuliano Battiston
Um capitalismo de rosto humano? "Pura ilusão". Altermundialismo moderado? "Uma ingenuidade". Europa? "Ainda não existe". Longe da retórica cautelosa do politicamente correcto, incansável dinamizador de alternativas políticas e económicas ao dogma neoliberal dominante, o economista egípcio Samir Amin fez da linguagem franca, do rigor analítico e da paixão militante, os instrumentos de sua inveterada batalha para se considerar antes o homem e as suas necessidades do que o lucro. Partidário fervoroso da necessidade de acompanhar as reivindicações de justiça social, e de exercer a critica das desigualdades intrínsecas à globalização capitalista, e de uma radicalização da luta política capaz de unificar as diferentes energias dos movimentos altermundialistas, Samir Amin é um autor extremamente frutífero. Os seus textos são lidos e discutidos por todos os que pretendem transformar a heterogeneidade de "movimentos" num actor político colectivo, e pelos que temem as derivas politizadas dos mesmos
P. De acordo com uma certa "vulgata" liberal e conservadora, não só o mercado seria o único instrumento de regulação da sociedade, como a própria promoção e universalização dos direitos dependeria dos processos de globalização económica. Como se poderia articular a relação entre a globalização, na sua forma actual, e direitos fundamentais?
R. O discurso da ideologia dominante, que estabelece uma absoluta igualdade entre democracia e mercado, e baseando-se nesta premissa, sustenta que não há democracia sem mercado ? e que o próprio mercado crias as condições para o aprofundamento da democracia ?, é um discurso vulgar, puramente propagandístico, que não tem nada a ver com a realidade histórica nem com a sua análise científica. Pelo contrario, há uma contradição absolutamente fundamental nessa retórica dominante que, reduzindo a democracia à sua dimensão meramente política, e limitando-a à democracia representativa, a dissocia da questão social que se supõe ser regulável pelo funcionamento do mercado, ou melhor dizendo, de um mercado imaginário. A teoria do capitalismo imaginário dos economistas convencionais, para quem o mercado generalizado tenderia para o equilíbrio, supõe que a sociedade é simplesmente composta pelo conjunto dos indivíduos que a compõem, sem ter em conta as formas da organização social, a pertença à família, à classe social, à nacionalidade: esquecendo, pois, que para Marx era uma verdade natural ? a saber: que os valores económicos estão "incrustados" na realidade social.
P. Se existe uma contradição fundamental entre mercado global e direitos fundamentais, com que instrumentos poderia ser construída uma via que permitisse superar esta contradição?
R. Não tenho receitas, mas sugiro a abordagem do tema com a perspectiva de lançar estratégias de luta comum em torno de alguns pontos fundamentais, o primeiro dos quais assenta na ideia de que não pode haver democracia autêntica sem progresso social. É um objectivo que vai exactamente na direcção oposta ao discurso dominante, o qual, como se viu, dissocia ambos os termos, e anda afastado do pensamento dos bem-pensantes social-liberais e social-demócratas, que supõem que os efeitos negativos do capitalismo podem ser contidos por meio de uma regulação social parcial. Talvez fosse preferível esquecer o termo "democracia" e falar bastante mais de "democratização", entendida como um processo sem fim; e recordar que a necessidade de associar a democracia ao progresso social é um objectivo que diz respeito a todos os países do mundo. Também nos países chamados democráticos a democracia está em crise: precisamente porque, dissociada da questão social, fica reduzida à democracia representativa, e a solução dos problemas económicos e sociais é transferida para o mercado. É uma via muito perigosa: na Itália, como noutros lugares, você votou livremente (ou quase, dado que o voto está muito condicionado pelos media), e no entanto, muita gente se questiona: porquê votar, se o parlamento afirma que algumas decisões são impostas pelo mercado e pela globalização? Deste modo, a democracia vê-se deslegitimada, e corre-se o risco de se derivar para formas de neofascismo suave.
P. De acordo com a sua análise, sempre existiram o capitalismo e a globalização, mas depois da II Guerra Mundial teríamos iniciado uma nova fase na qual entra a estratégia dos EUA de estender a doutrina Monroe ao planeta inteiro. Quais são, em sua opinião, as características desta nova fase da globalização, e quais os objectivos prioritários da estratégia americana?
R. Esta nova fase assenta numa transformação da natureza do imperialismo (falo de imperialismo, e não de "império" como Toni Negri): se até final de II Guerra Mundial o imperialismo conjugava-se no plural, e as potências imperialistas estavam em permanente conflito entre si, então assistimos a uma transformação estrutural que deu à luz o imperialismo colectivo, a que chamo da "tríade": simplificando um pouco, EUA, Europa e Japão, quer dizer, o grupo dos segmentos dominantes do capital que têm interesses comuns na gestão do sistema mundial. Este sistema, que representa a forma do novo imperialismo frente a 85% da população mundial, "requer" a guerra. Este é precisamente o ponto em que se manifesta o projecto do establishment americano, e que reflecte a orientação da maioria da classe dominante norte-americana, disposta a controlar militarmente o planeta. Os EUA optaram por desencadear o primeiro ataque ao Médio Oriente por uma série de razões, mas por duas em particular: pelo petróleo e pelo controle militar das principais regiões petrolíferas do planeta, para exercer uma liderança incontestada, a fim de se constituir numa ameaça permanente para todos os potenciais concorrentes económicos e políticos. Mas também porque têm na região, aquilo a que eu defino de o seu porta aviões fixo: o Estado de Israel através do qual garantem um instrumento de pressão permanente, que é utilizado na ocupação da Palestina e, como se viu, é utilizado também na agressão ao Líbano.
P. Você sustenta que o militarismo agressivo do EUA não é tanto um sinónimo de força, mas bem mais, um meio de equilibrar a sua vulnerabilidade económica. Poderia explicar melhor o que quer dizer com isto?
R. De acordo com a teoria dominante, de que infelizmente é também vítima grande parte da opinião pública europeia, a supremacia militar dos EUA representaria a ponta do iceberg de uma superioridade em fase terminal baseada na eficácia económica e na hegemonia cultural. Mas a realidade é que os EUA estão numa posição de vulnerabilidade extrema, que se manifesta no enorme défice comercial com o estrangeiro, e dessa fragilidade deriva a opção estratégica da classe dirigente dos EUA que desemboca no uso da violência militar. Existem documentos do Pentágono que demonstram que os EUA consideraram possível uma guerra nuclear em que as vítimas pudessem chegar aos 600 milhões: como escreveu Daniel Ellsberg, cerca de 100 holocaustos.
P. Frente ao protagonismo dos EUA, a Europa parece ainda incapaz de articular um projecto político realmente alternativo. Que deveria a Europa fazer?
R. Por enquanto, e apesar de tantos europeus terem esperança nisso, não acredito que a Europa esteja em condições de chegar a ser um elemento alternativo à hegemonia do EUA. Teria que sair da NATO, romper a aliança militar com os EUA e emancipar-se do liberalismo. No entanto, actualmente, as forças políticas e sociais europeias parecem interessadas em tudo menos num projecto desse tipo, até ao ponto em que ? como fez um dia o velho PS italiano ? reforçaram melhor o atlantismo e o alinhamento com a NATO e o liberal-socialismo. Hoje não se vislumbra outra Europa. E neste sentido, a Europa não existe: o projecto europeu é simplesmente a face europeia do projecto norte-americano.
P. Porém, existe margem para construir "outra Europa", e foi você mesmo que falou do conflito de culturas políticas que opõe a Europa aos EUA.
R. As culturas políticas da Europa foram formadas no curso dos últimos séculos em torno da polarização entre a direito e a esquerda: quem estava a favor do Iluminismo, da revolução francesa, do movimento operário, da revolução russa, situava-se à esquerda; quem estava contra isso, situava-se à direita. A história da Europa é a história de culturas políticas do "não-consenso", que estendem o conflito para além da versão redutora da luta de classes. A cultura dos EUA tem uma outra história, e que se formou como uma cultura do consenso: consenso sobre o genocídio dos índios, sobre a escravatura, sobre o racismo. E sobre o capitalismo, que nos EUA não foi posto em questão, e se houver luta de classes, não haverá politização dessa luta. Na realidade, as sucessivas migrações, graças às quais se edificou o povo americano, substituíram a formação de uma consciência política por uma consciência comunitária. Assistimos hoje a uma intenção de "americanizar" a Europa, e de substituir a cultura do conflito por uma cultura do consenso: pretende-se que não haja já direita nem esquerda, que não hajam já cidadãos, mas apenas consumidores mais ou menos ricos.
P. O Fórum Social Mundial, de acordo com uma reconstrução superficial que alcançou algum eco, teria nascido no rastro das manifestações altermundialistas de Seattle. Porém, a história do Fórum tem uma orientação muito menos "ocidental" do que normalmente se pensa. Pode comentar?
R. O FórumSocial Mundial é tanto uma criação ocidental que o primeiro encontro deu-se no Brasil; depois ? e não por casualidade ? os encontros seguintes deram-se em Bombaim, Bamako, Caracas e Carachi, e o Foro, que começa amanhã, escolheu como sede Nairobi. Convém não esquecer, para além disso, que em Seattle a Organização Mundial do Comércio foi paralisada, não pelos manifestantes norte-americanos, mas pelo voto da maioria dos países em desenvolvimento. Um dos primeiros encontros que deram vida ao FSM, foi o chamado "anti-Davos em Davos", uma manifestação ? pequena, mas de grande valor simbólico ? organizada em 1999 pelo Fó:rum Mundial das Alternativas, graças ao qual, os representantes das vítimas das políticas do capitalismo liberal puderam discutir a agenda oficial de Davos. Éramos poucos, mas representávamos grandes forças sociais: sindicatos hindus, coreanos, brasileiros, organizações de mulheres e camponeses, associações da África Ocidental, defensores dos direitos sociais, movimentos brasileiros. Dali nasceu a ideia de programar um novo encontro a uma escala maior.
22/Janeiro/2007
[*] Economista, presidente do Fórum Social realizado em Nairobi.
[**] Jornalista, de Il Manifesto.
Animal número 64
Prensa latina/ inSurGente.- A Governação do ex presidente José María Aznar enviou polícias a Guantánamo a interrogar a prisioneiros quando Federico Trillo era ministro de Defesa e Angel Acebes de Interior. Os servidores públicos do Corpo Nacional de Polícia foram a Guantánamo entre o 21 e o 26 de julho de 2002 a interrogar, sem autorização de nenhum juiz espanhol, a uma veintena de presos. Os servidores públicos espanhóis viajaram desde Madri em companhia de agentes da CIA para pesquisar a marroquinas. Era a segunda viagem a Guantánamo. No primeiro pessoal da embaixada em Washington viajou para identificar a possíveis detentos hispanos.
Entre estes últimos encontrava-se Hamed Abderramán (Hmido), ceutí detento em Afeganistão, e outros cidadãos marroquinos, segundo fontes oficiais não reveladas.
A operação foi coordenada por Rafael Gómez Menor, um chefe da Unidade Central de Informação Exterior, a qual pesquisava à célula do sírio Abu Dahdah, suposto chefe da o Qaeda em Espanha.
Interrogaram a 20 pessoas, entre elas ao ceutí Hamed Abderramán, e a Lahcen Ikassrien, marroquino residente em Espanha, detido em 2001 em Afeganistão e enviado a Guantánamo com uma pulsera com a inscrição "animal número 64".
Ikassrien revelou que lhe pediram permissão "para gravar o interrogatório e lhes disse que fizessem o que quisessem. Contei-lhes minha verdade, mas eles queriam que lhes dissesse que era um terrorista e que me treinei em Afeganistão, algo que não era verdade". Ikassrien assegura que lhes disse aos polícias espanhóis que ele era marroquino e não lhe podiam interrogar.
"Eles respondiam que queriam me ajudar e eu lhes disse: Cada vez que vindes me torturam os americanos?. O então preso em Guantánamo -agora vive livre em Madrid- sustenta que os polícias espanhóis lhe ofereceram dinheiro e lhe prometeram que dar-lhe-iam a condição de testemunha protegida se colaborava com eles.
Teve uma terceira viagem, que se produziu do 20 ao 24 de janeiro de 2003, quando servidores públicos da embaixada hispana em Washington visitaram ao cidadão espanhol Hamed Abderrahaman Ahmed para gestionar seu translado a Madrid.
Em fevereiro de 2004, Estados Unidos entregou a Hamed às autoridades espanholas, que o puseram a disposição judicial. O Tribunal Supremo declarou que os interrogatórios dos hispanos a Hamed se fizeram sem informação prévia de direitos, sem assistência letrada e sem autorização nem mandato da autoridade judicial espanhola competente.
A detenção em Guantánamo de pessoas sem cargos, garantias, controle nem limites custodiados pelo exército norte-americano, é um fato de impossível explicação e menos justificativa desde a realidade jurídica e política na que está enclavada, expressou o tribunal.
Que têm que ver os judeus com o lobby judeu?
Por Rodrigo Guevara y Manuel Freytas
IAR-Noticias
Israel não invadiu nem executou um genocídio militar em Líbano com a religião judia, senão com aviões F-16, mísseis, bombas ácio, helicópteros Apache, tanques Merkava, artilharia pesada, barcos, sistemas informatizados, e uma estratégia e um plano de ataque militar. O lobby judeu que controla Casa Branca e a Reserva Federal não reza nas sinagogas senão na Catedral de Wall Street. Um detalhe a ter em conta, para não confundir a realidade com o mito e o negócio.
A) O mito
O genocídio militar perpetrado por Israel em Líbano pôs novamente de moda a velha discussão sobre o "anti-semitismo" ou o "ódio racial" contra os judeus onde nem os considerados "anti-semitas" se põem de acordo sobre que é Israel e daí é "o povo judeu".
Como sempre, os pontos referenciais do "debate" giram ao redor da "raça" e da "religião" em termos "históricos", sem tocar para nada o envolvimento económico, social, política e cultural dos judeus como colectividade na realidade do mundo do presente.
Neste corte alienado e esnaquiçado da discussão, os próprios críticos de Israel terminam dividindo aos judeus entre "sionistas" e "não sionistas", como se a questão do sionismo fosse uma questão "racial" ou religiosa, e não um sistema de domínio imperial que abarca interactivamente o plano económico, político, social e cultural, superando a questão da raça ou das crenças religiosas.
E por outro lado, e em forma prática, nesta sociedade capitalista de valores individualistas quem se baseia na religião ou na raça para tomar decisões ou conviver em sociedade?
Hezbolá, por exemplo, não lhe propinou uma derrota militar a Israel com a religião islâmica, senão com uma guerra assimétrica, proposta com armas, logística, estruturas operativas, tácticas e estratégias de combate executadas no teatro de operações de Líbano
Israel não invadiu nem executou um genocídio militar em Líbano com a religião judia, senão com aviões F-16, mísseis, bombas ácio, helicópteros Apache, tanques Merkava, artilharia pesada, barcos, sistemas informatizados, e uma estratégia e um plano de ataque militar.
Então Que têm que ver Israel e Hezbolá com uma discussão racial e religiosa?
O curioso, é que são as próprias organizações religiosas islâmicas ("pacifistas" por natureza) que andam "explicando" desde o preconceito religioso que não são "anti-semitas" nem "anti judias, como se as sinagogas judias (e não um sistema mundial de poder que se expressa no económico, no político, no cultural e no militar) fossem o centro do mundo.
Com sozinho olhar com lógica e sentido comum os acontecimentos económicos, políticos e sociais a nível planetário, pode-se comprovar facilmente que o mundo não se maneja com religião senão com pragmatismo realista de causa e efeito.
Em era-a informática, em era-a das comunicações, em era-a da ciência aeroespacial, da robótica e da bio-genética, à religião já não a praticam nem os judeus, cuja maioria só a tem como referência vadia de seu pertence religioso como a têm os católicos, cuja maioria já nem frequenta as igrejas.
Então De que falam quando falam de "anti-semitismo" ou de "anti-judaismo religioso? Em que parámetros referenciais se baseia a condição de "anti-semita"? Quem é anti-semita? Quem critica aos judeus por sua religião ou por sua raça nas sociedades do mundo?
No máximo, aos judeus, como está provado na realidade social de qualquer país, não lhos critica por sua religião ou condição racial senão por sua apego excessivo ao status do dinheiro (também cultivado por outras colectividades) e a integrar estruturas ou hierarquias de poder dentro de um sistema injusto de opressom e de exploração do homem pelo homem, como é o sistema capitalista.
Historicamente, mais que por sua religião, em todos os países e sociedades da terra o judeu sempre esteve identificado na figura do "usureiro" e não do rabino, questão que se reflecte em massa nos chistes de judeus contados até pelos próprios judeus.
Isto é, aos judeus habitualmente não lhos critica por sua religião ou sua raça, senão por seus valores excessivamente "materialistas" que os leva rapidamente a escalar pirámides de poder dentro do sistema capitalista, o que lhes construiu o mito (alentado pelos próprios judeus) de "inteligência superior".
Salvo os grupos minoritários de fanáticos e racistas que só se representam a si mesmos, nas sociedades (salvo o nazismo alemão e algumas excepções) quase nunca teve "perseguição religiosa" do judeu, se não que teve uma associação do judeu com a "pior cara do capitalismo", representada no sistema económico-financeiro especulativo.
Quantos são os grupos de nazistas e fanáticos que perseguem "racialmente" aos judeus pelo mundo, em relação ao conjunto da humanidade? Atingem os dedos de uma mão para contá-los.
É mais, os "nazistas" que ficam, nem sequer são nazistas com "pureza doctrinaria", são lúmpenes, marginales alienados do sistema capitalista, uma espécie de "tribo" urbana insignificante e idiota, que não representam um perigo para ninguém, e que habitualmente são utilizados para manter vivo o mito da "perseguição" e o "antisemitismo
Em definitiva o mito da "perseguição religiosa", só serviu para gerar o mito do "antisemitismo" como falsa corrente em massa, com a finalidade de tampar o que grupos minoritários de origem judia fazem em realidade: controlar e manejar os resortes estratégicos do sistema capitalista que governa o mundo por meio do poder económico
O negócio
Quando alguém ejercita uma investigação e uma análise estrutural do lobby judeu (e sua rede interactiva de lobbys locais em todos os países), não pesquisa nem analisa as sinagogas, senão os centros de planejamento e de decisão mundial do sistema capitalista que controla as estruturas económico-productivas em todos os países da terra.
O lobby judeu não controla o mundo com a religião: maneja-o com bancos, trasnacionales, mercados, controle de preços e demanda, monopólio e hegemonía sobre os sistemas económicos-productivos, controle sobre os recursos naturais, controle da rede informativa e de manipulação social, manejo dos valores sociais através da publicidade, a cultura e o consumo estandarizado e globalizado pelos meios de comunicação, e controle financeiro mediante o dólar (a moeda patrón de todas as transacções comerciais e financeiras) etc.
O coração do lobby judeu estadounidense é o poderoso sector financeiro de Wall Street que tem directa implicancia e participação na nomeação de servidores públicos finques da governação de EEUU e dos órgãos de controle de política monetária e instituições crediticias (nacional e internacional) com sede em Washington e Nova York.
As principais instituições financeiras do lobby (Goldman Sachs, Morgan Stanley , Lehman Brothers,entre as primeiras cinco) e os principais bancos (Citigroup, JP Morgan and Merrill Lynch, entre os primeiros cinco), influem decisivamente para a nomeação dos titulares da Reserva Federal, o Tesouro, e a secretaria de Comércio, além dos directores do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional.
Um exemplo desta ligazón é a nomeação, no 2005, de Paul Wolfowitz, ex subsecretario de Defesa, considerado o "cérebro" do lobby judeu de Washington, como titular do Banco Mundial. Outro exemplo destacado, foi a recente nomeação de Henry Paulson, presidente executivo de Goldman Sachs como titular do Tesouro estadounidense.
O ex presidente da Reserva Federal, Alan Greenspan, como seu actual presidente, Ben Bernanke, foram impostos pelo lobby nova-iorquino dos grandes bancos, financeiras e corporaciones trasnacionales que se aglutinan no chamado Consenso de Washington, um foro de existência quase invisível desde o qual se lembram normas económicas-financeiras e políticas de regulação de mercados que trascienden as fronteiras de EEUU.
Por meio da utilização política de seu poder financeiro, de sua estratégica posição nos centros de decisão, os grupos financeiros do lobby judeu exercem influência decisiva na política interna e externa de EEUU, além de seu papel dominante no financiamento dos partidos políticos, dos candidatos presidenciais e dos congressistas.
À reunião anual do AIPAC, a mais poderosa instituição sionista do lobby (e não obstante que os judeus só representam menos de 5% dos votos em EEUU) assistem a maioria dos líderes do Congresso, os principais membros da Governação e mais da metade de todos os integrantes do Congresso, que identificam os interesses de Israel com os de EEUU.
Em definitiva, o lobby judeu não representa a nenhuma sinagoga nem expressão racial, senão que é a estrutura que maneja o poder mundial através do controle sobre os centros económicos-financeiros e de decisão estratégica do sistema capitalista expandido como civilização "única".
Denantes que pela religião e a raça, o lobby e suas redes se movem por uma ideologia política funcional: o sionismo capitalista-imperial que antepone o mercado, a concentração de riqueza, a "política de negócios", a qualquer filosofia que roce as noções do "bem" ou do "mal" entendidos dentro de parámetros sociais.
O lobby judeu que controla Casa Branca e a Reserva Federal não reza nas sinagogas senão na Catedral de Wal Street, onde a suprema religião são o dólar e os negócios entrelazados por todo o planeta. Em Wall Street, o templo supremo do dinheiro sem fronteiras, não se reza senão que se cotam anualmente títulos, bonos e acções por mais de 12 biliões de dólares . Quase o equivalente a 2 vezes o PBI anual de 180 países em via de desenvolvimento.
É dinheiro volátil. Reproduzindo-se e concentrando-se a escala planetaria. Mas com um ponto de regresso e refúgio preciso: a Reserva Federal norte-americana controlada por grupos minoritários judeus. O capitalismo não tem fronteiras. Mas o dólar, sua moeda patrón, só atende em EEUU, mais precisamente em Nova York, onde reside o patriciado financeiro judeu que sai nos ranking de Forbes ou de Fortune.
Os três principais bancos e as três primeiras instituições financeiras do lobby receberão uma taxa de benefícios superior aos 50.000 milhões de dólares em 2006, equivalente a mais de 35 orçamentos anuais de um país como Bolívia.
As três principais correntes televisivas de EEUU (CNN, ABC, NBC e Fox) , os três principais diários (The Wall Street Journal, The New York Times e The Washington Pós) estão controlados e gerenciados (através de pacotes accionarios ou de famílias) por grupos do lobby judeu, principalmente nova-iorquino.
Assim mesmo como as mais três influentes revistas (Newsweek, Time e The New Yorker), e consórcios hegemónicos de Internet como Time-Warner (fusionado com América on Line) ou Yahoo, estão controlados por gerenciamiento e capital judeu que opera a nível de redes e conglomerados entrelazados com outras empresas.
Colosos do cinema de Hollywood e do espectáculo como The Walt Disney Company, Warner Brothers, Columbia Pictures, Paramount, 20th Century Fox, entre outros, fazem parte desta rede interactiva do capital sionista imperialista.
Consequentemente, o sector maioritário hegemónico da informação, a cultura e o espectáculo difundidos a escala em massa (que marcam tendências e valores sociais, e são finques para o controle ideológico e o direccionamiento de conduta colectiva) estão em mãos do lobby judeu que, a sua vez, controla os resortes básicos do poder económico e político do Império estadounidense.
A combinação do superpoder militar de Estados Unidos com o superpoder económico-financeiro de Wall Street em mãos do lobby judeu, deu como resultante o Império único , cujo rádio de influência e domínio directo abarca a 121 países nos quais Estados Unidos tem presença directa ou influência militar, ou no resto dos países controlados a partir do apoderamiento de seus sistemas económico-productivos.
Tanto as "quatro grandes" contratistas do complexo militar-industrial (Lockheed Martin, Boeing, Raytheon, General Dynamics ), como as "quatro irmãs" ( Exxon-Mobil, Chevron-Texaco, Royal Dutch Shell e BP) que monopolizan a extracção e comercialización do petróleo a escala mundial, não falam de religião nem de sinagogas, senão de negócios e de acções que se capitalizan na carteira de Wall Street.
Citigroup, Goldman Sachs, IBM, Microsoft, Coca-Bicha, por exemplo, não falam de religião nem de sinagogas: falam de mercados, valores, negócios e utilidades.
Desde Homero Simpson a Spielberg, desde Bill Gates à CNN, desde a mega-indústria da música e o espectáculo de Hollyvood, ao templo mundial das finanças de Wall Street, desde Exxon a Locked Martin, tudo o que se respira no mundo está regulado e controlado pela exclusiva família do lobby judeu ramificada pelo planeta.
Não trata-se de uma afirmação meramente analítica, senão de uma realidade estatística, verificable, e comprobable.
Quando se pesquisa a fundo qualquer sistema económico productivo de qualquer país da terra, em seu sistema económico-financeiro, nas câmaras industriais, comerciais e de serviços, nos grandes consórcios da comunicação e da cultura, no negócio do entretenimento, quase sempre dominam pacotes accionarios controlados por judeus, quem ademais ocupam os postos finques de decisão e gerenciamiento.
Quando falamos de lobby judeu, não falámos de religião ou de sinagoga senão de um poder mundial controlado em seus resortes decisivos por grupos minoritários de origem judia, e conformado por uma estrutura de estrategas e tecnócratas que operam as redes industriais, tecnológicas, militares, financeiras e mediáticas do capitalismo trasnacional estendido pelos quatro pontos cardinales do planeta
Quando falamos de lobby judeu, falámos de um desenho estratégico de poder mundial , interactivo e totalizado, que se concreta mediante uma rede infinita de associações e vasos comunicantes entre o capital financeiro, industrial e de serviços que converte aos países e governações em gerencias de enclave.
Quando falamos de lobby judeu falámos de um poder mundial sionista imperialista que é o dono do Estado de Israel tanto como do Estado norte-americano, e do resto dos Estados com seus recursos naturais e sistemas económico-productivos, singelamente porque controla o capital e os meios de produção que movem a esses países.
O complexo entramado de "vasos comunicantes" entre o capitalismo financeiro, tecnológico, industrial, de serviços, informático e comunicacional (controlado maioritariamente por grupos do lobby judeu) revela um grau incrível de concentração, diversificación, e interesses comuns das megacorporaciones multinacionais que se dividem o planeta como um grande mercado.
A redes do sistema capitalista globalizado, cujas filiais e casas matrices podem estar em Europa, Ásia, ou em qualquer continente, têm seu terminal em Wall Street ou no Complexo militar-industrial de EEUU, controlado pelo lobby judeu desde Washington e Nova York.
O que queira o comprovar, não tem nada mais que pesquisar a composição accionaria, os níveis gerenciales, e os vasos comunicantes empresariais dos bancos, financeiras, empresas, meios de comunicação (os famosos "monopólios"), que hegemonizan a actividade económico-productiva da maioria dos países do mundo.
E como sucedeu sempre no sistema capitalista, o que controla o sistema económico de um país (a infra-estrutura), também controla à governação e a suas ferramentas administrativas (a superestructura).
O lobby não somente está na Casa Branca senão que abarca todos os níveis das operações do capitalismo trasnacional, cujo desenho estratégico está na cabeça dos grandes charmans e executivos de bancos e consórcios multinacionais que se sentam no Consenso de Washington e se repartem o planeta como se fosse um pastel.
Quando falámos do lobby judeu, não falámos de religião senão do sistema capitalista, cuja existência e modus operandi de exploração do homem pelo homem escondem os meios de informação, comunicação e cultura, em mãos do lobby judeu, cuja existência se pode verificar em cada país sozinho com pesquisar os pacotes accionarios e os níveis gerenciales das empresas que monopolizan o sistema económico-productivo. Em resumem Que querem dizer com isso da perseguição racial e religiosa dos judeus?
Por Rodrigo Guevara y Manuel Freytas
IAR-Noticias
Israel não invadiu nem executou um genocídio militar em Líbano com a religião judia, senão com aviões F-16, mísseis, bombas ácio, helicópteros Apache, tanques Merkava, artilharia pesada, barcos, sistemas informatizados, e uma estratégia e um plano de ataque militar. O lobby judeu que controla Casa Branca e a Reserva Federal não reza nas sinagogas senão na Catedral de Wall Street. Um detalhe a ter em conta, para não confundir a realidade com o mito e o negócio.
A) O mito
O genocídio militar perpetrado por Israel em Líbano pôs novamente de moda a velha discussão sobre o "anti-semitismo" ou o "ódio racial" contra os judeus onde nem os considerados "anti-semitas" se põem de acordo sobre que é Israel e daí é "o povo judeu".
Como sempre, os pontos referenciais do "debate" giram ao redor da "raça" e da "religião" em termos "históricos", sem tocar para nada o envolvimento económico, social, política e cultural dos judeus como colectividade na realidade do mundo do presente.
Neste corte alienado e esnaquiçado da discussão, os próprios críticos de Israel terminam dividindo aos judeus entre "sionistas" e "não sionistas", como se a questão do sionismo fosse uma questão "racial" ou religiosa, e não um sistema de domínio imperial que abarca interactivamente o plano económico, político, social e cultural, superando a questão da raça ou das crenças religiosas.
E por outro lado, e em forma prática, nesta sociedade capitalista de valores individualistas quem se baseia na religião ou na raça para tomar decisões ou conviver em sociedade?
Hezbolá, por exemplo, não lhe propinou uma derrota militar a Israel com a religião islâmica, senão com uma guerra assimétrica, proposta com armas, logística, estruturas operativas, tácticas e estratégias de combate executadas no teatro de operações de Líbano
Israel não invadiu nem executou um genocídio militar em Líbano com a religião judia, senão com aviões F-16, mísseis, bombas ácio, helicópteros Apache, tanques Merkava, artilharia pesada, barcos, sistemas informatizados, e uma estratégia e um plano de ataque militar.
Então Que têm que ver Israel e Hezbolá com uma discussão racial e religiosa?
O curioso, é que são as próprias organizações religiosas islâmicas ("pacifistas" por natureza) que andam "explicando" desde o preconceito religioso que não são "anti-semitas" nem "anti judias, como se as sinagogas judias (e não um sistema mundial de poder que se expressa no económico, no político, no cultural e no militar) fossem o centro do mundo.
Com sozinho olhar com lógica e sentido comum os acontecimentos económicos, políticos e sociais a nível planetário, pode-se comprovar facilmente que o mundo não se maneja com religião senão com pragmatismo realista de causa e efeito.
Em era-a informática, em era-a das comunicações, em era-a da ciência aeroespacial, da robótica e da bio-genética, à religião já não a praticam nem os judeus, cuja maioria só a tem como referência vadia de seu pertence religioso como a têm os católicos, cuja maioria já nem frequenta as igrejas.
Então De que falam quando falam de "anti-semitismo" ou de "anti-judaismo religioso? Em que parámetros referenciais se baseia a condição de "anti-semita"? Quem é anti-semita? Quem critica aos judeus por sua religião ou por sua raça nas sociedades do mundo?
No máximo, aos judeus, como está provado na realidade social de qualquer país, não lhos critica por sua religião ou condição racial senão por sua apego excessivo ao status do dinheiro (também cultivado por outras colectividades) e a integrar estruturas ou hierarquias de poder dentro de um sistema injusto de opressom e de exploração do homem pelo homem, como é o sistema capitalista.
Historicamente, mais que por sua religião, em todos os países e sociedades da terra o judeu sempre esteve identificado na figura do "usureiro" e não do rabino, questão que se reflecte em massa nos chistes de judeus contados até pelos próprios judeus.
Isto é, aos judeus habitualmente não lhos critica por sua religião ou sua raça, senão por seus valores excessivamente "materialistas" que os leva rapidamente a escalar pirámides de poder dentro do sistema capitalista, o que lhes construiu o mito (alentado pelos próprios judeus) de "inteligência superior".
Salvo os grupos minoritários de fanáticos e racistas que só se representam a si mesmos, nas sociedades (salvo o nazismo alemão e algumas excepções) quase nunca teve "perseguição religiosa" do judeu, se não que teve uma associação do judeu com a "pior cara do capitalismo", representada no sistema económico-financeiro especulativo.
Quantos são os grupos de nazistas e fanáticos que perseguem "racialmente" aos judeus pelo mundo, em relação ao conjunto da humanidade? Atingem os dedos de uma mão para contá-los.
É mais, os "nazistas" que ficam, nem sequer são nazistas com "pureza doctrinaria", são lúmpenes, marginales alienados do sistema capitalista, uma espécie de "tribo" urbana insignificante e idiota, que não representam um perigo para ninguém, e que habitualmente são utilizados para manter vivo o mito da "perseguição" e o "antisemitismo
Em definitiva o mito da "perseguição religiosa", só serviu para gerar o mito do "antisemitismo" como falsa corrente em massa, com a finalidade de tampar o que grupos minoritários de origem judia fazem em realidade: controlar e manejar os resortes estratégicos do sistema capitalista que governa o mundo por meio do poder económico
O negócio
Quando alguém ejercita uma investigação e uma análise estrutural do lobby judeu (e sua rede interactiva de lobbys locais em todos os países), não pesquisa nem analisa as sinagogas, senão os centros de planejamento e de decisão mundial do sistema capitalista que controla as estruturas económico-productivas em todos os países da terra.
O lobby judeu não controla o mundo com a religião: maneja-o com bancos, trasnacionales, mercados, controle de preços e demanda, monopólio e hegemonía sobre os sistemas económicos-productivos, controle sobre os recursos naturais, controle da rede informativa e de manipulação social, manejo dos valores sociais através da publicidade, a cultura e o consumo estandarizado e globalizado pelos meios de comunicação, e controle financeiro mediante o dólar (a moeda patrón de todas as transacções comerciais e financeiras) etc.
O coração do lobby judeu estadounidense é o poderoso sector financeiro de Wall Street que tem directa implicancia e participação na nomeação de servidores públicos finques da governação de EEUU e dos órgãos de controle de política monetária e instituições crediticias (nacional e internacional) com sede em Washington e Nova York.
As principais instituições financeiras do lobby (Goldman Sachs, Morgan Stanley , Lehman Brothers,entre as primeiras cinco) e os principais bancos (Citigroup, JP Morgan and Merrill Lynch, entre os primeiros cinco), influem decisivamente para a nomeação dos titulares da Reserva Federal, o Tesouro, e a secretaria de Comércio, além dos directores do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional.
Um exemplo desta ligazón é a nomeação, no 2005, de Paul Wolfowitz, ex subsecretario de Defesa, considerado o "cérebro" do lobby judeu de Washington, como titular do Banco Mundial. Outro exemplo destacado, foi a recente nomeação de Henry Paulson, presidente executivo de Goldman Sachs como titular do Tesouro estadounidense.
O ex presidente da Reserva Federal, Alan Greenspan, como seu actual presidente, Ben Bernanke, foram impostos pelo lobby nova-iorquino dos grandes bancos, financeiras e corporaciones trasnacionales que se aglutinan no chamado Consenso de Washington, um foro de existência quase invisível desde o qual se lembram normas económicas-financeiras e políticas de regulação de mercados que trascienden as fronteiras de EEUU.
Por meio da utilização política de seu poder financeiro, de sua estratégica posição nos centros de decisão, os grupos financeiros do lobby judeu exercem influência decisiva na política interna e externa de EEUU, além de seu papel dominante no financiamento dos partidos políticos, dos candidatos presidenciais e dos congressistas.
À reunião anual do AIPAC, a mais poderosa instituição sionista do lobby (e não obstante que os judeus só representam menos de 5% dos votos em EEUU) assistem a maioria dos líderes do Congresso, os principais membros da Governação e mais da metade de todos os integrantes do Congresso, que identificam os interesses de Israel com os de EEUU.
Em definitiva, o lobby judeu não representa a nenhuma sinagoga nem expressão racial, senão que é a estrutura que maneja o poder mundial através do controle sobre os centros económicos-financeiros e de decisão estratégica do sistema capitalista expandido como civilização "única".
Denantes que pela religião e a raça, o lobby e suas redes se movem por uma ideologia política funcional: o sionismo capitalista-imperial que antepone o mercado, a concentração de riqueza, a "política de negócios", a qualquer filosofia que roce as noções do "bem" ou do "mal" entendidos dentro de parámetros sociais.
O lobby judeu que controla Casa Branca e a Reserva Federal não reza nas sinagogas senão na Catedral de Wal Street, onde a suprema religião são o dólar e os negócios entrelazados por todo o planeta. Em Wall Street, o templo supremo do dinheiro sem fronteiras, não se reza senão que se cotam anualmente títulos, bonos e acções por mais de 12 biliões de dólares . Quase o equivalente a 2 vezes o PBI anual de 180 países em via de desenvolvimento.
É dinheiro volátil. Reproduzindo-se e concentrando-se a escala planetaria. Mas com um ponto de regresso e refúgio preciso: a Reserva Federal norte-americana controlada por grupos minoritários judeus. O capitalismo não tem fronteiras. Mas o dólar, sua moeda patrón, só atende em EEUU, mais precisamente em Nova York, onde reside o patriciado financeiro judeu que sai nos ranking de Forbes ou de Fortune.
Os três principais bancos e as três primeiras instituições financeiras do lobby receberão uma taxa de benefícios superior aos 50.000 milhões de dólares em 2006, equivalente a mais de 35 orçamentos anuais de um país como Bolívia.
As três principais correntes televisivas de EEUU (CNN, ABC, NBC e Fox) , os três principais diários (The Wall Street Journal, The New York Times e The Washington Pós) estão controlados e gerenciados (através de pacotes accionarios ou de famílias) por grupos do lobby judeu, principalmente nova-iorquino.
Assim mesmo como as mais três influentes revistas (Newsweek, Time e The New Yorker), e consórcios hegemónicos de Internet como Time-Warner (fusionado com América on Line) ou Yahoo, estão controlados por gerenciamiento e capital judeu que opera a nível de redes e conglomerados entrelazados com outras empresas.
Colosos do cinema de Hollywood e do espectáculo como The Walt Disney Company, Warner Brothers, Columbia Pictures, Paramount, 20th Century Fox, entre outros, fazem parte desta rede interactiva do capital sionista imperialista.
Consequentemente, o sector maioritário hegemónico da informação, a cultura e o espectáculo difundidos a escala em massa (que marcam tendências e valores sociais, e são finques para o controle ideológico e o direccionamiento de conduta colectiva) estão em mãos do lobby judeu que, a sua vez, controla os resortes básicos do poder económico e político do Império estadounidense.
A combinação do superpoder militar de Estados Unidos com o superpoder económico-financeiro de Wall Street em mãos do lobby judeu, deu como resultante o Império único , cujo rádio de influência e domínio directo abarca a 121 países nos quais Estados Unidos tem presença directa ou influência militar, ou no resto dos países controlados a partir do apoderamiento de seus sistemas económico-productivos.
Tanto as "quatro grandes" contratistas do complexo militar-industrial (Lockheed Martin, Boeing, Raytheon, General Dynamics ), como as "quatro irmãs" ( Exxon-Mobil, Chevron-Texaco, Royal Dutch Shell e BP) que monopolizan a extracção e comercialización do petróleo a escala mundial, não falam de religião nem de sinagogas, senão de negócios e de acções que se capitalizan na carteira de Wall Street.
Citigroup, Goldman Sachs, IBM, Microsoft, Coca-Bicha, por exemplo, não falam de religião nem de sinagogas: falam de mercados, valores, negócios e utilidades.
Desde Homero Simpson a Spielberg, desde Bill Gates à CNN, desde a mega-indústria da música e o espectáculo de Hollyvood, ao templo mundial das finanças de Wall Street, desde Exxon a Locked Martin, tudo o que se respira no mundo está regulado e controlado pela exclusiva família do lobby judeu ramificada pelo planeta.
Não trata-se de uma afirmação meramente analítica, senão de uma realidade estatística, verificable, e comprobable.
Quando se pesquisa a fundo qualquer sistema económico productivo de qualquer país da terra, em seu sistema económico-financeiro, nas câmaras industriais, comerciais e de serviços, nos grandes consórcios da comunicação e da cultura, no negócio do entretenimento, quase sempre dominam pacotes accionarios controlados por judeus, quem ademais ocupam os postos finques de decisão e gerenciamiento.
Quando falamos de lobby judeu, não falámos de religião ou de sinagoga senão de um poder mundial controlado em seus resortes decisivos por grupos minoritários de origem judia, e conformado por uma estrutura de estrategas e tecnócratas que operam as redes industriais, tecnológicas, militares, financeiras e mediáticas do capitalismo trasnacional estendido pelos quatro pontos cardinales do planeta
Quando falamos de lobby judeu, falámos de um desenho estratégico de poder mundial , interactivo e totalizado, que se concreta mediante uma rede infinita de associações e vasos comunicantes entre o capital financeiro, industrial e de serviços que converte aos países e governações em gerencias de enclave.
Quando falamos de lobby judeu falámos de um poder mundial sionista imperialista que é o dono do Estado de Israel tanto como do Estado norte-americano, e do resto dos Estados com seus recursos naturais e sistemas económico-productivos, singelamente porque controla o capital e os meios de produção que movem a esses países.
O complexo entramado de "vasos comunicantes" entre o capitalismo financeiro, tecnológico, industrial, de serviços, informático e comunicacional (controlado maioritariamente por grupos do lobby judeu) revela um grau incrível de concentração, diversificación, e interesses comuns das megacorporaciones multinacionais que se dividem o planeta como um grande mercado.
A redes do sistema capitalista globalizado, cujas filiais e casas matrices podem estar em Europa, Ásia, ou em qualquer continente, têm seu terminal em Wall Street ou no Complexo militar-industrial de EEUU, controlado pelo lobby judeu desde Washington e Nova York.
O que queira o comprovar, não tem nada mais que pesquisar a composição accionaria, os níveis gerenciales, e os vasos comunicantes empresariais dos bancos, financeiras, empresas, meios de comunicação (os famosos "monopólios"), que hegemonizan a actividade económico-productiva da maioria dos países do mundo.
E como sucedeu sempre no sistema capitalista, o que controla o sistema económico de um país (a infra-estrutura), também controla à governação e a suas ferramentas administrativas (a superestructura).
O lobby não somente está na Casa Branca senão que abarca todos os níveis das operações do capitalismo trasnacional, cujo desenho estratégico está na cabeça dos grandes charmans e executivos de bancos e consórcios multinacionais que se sentam no Consenso de Washington e se repartem o planeta como se fosse um pastel.
Quando falámos do lobby judeu, não falámos de religião senão do sistema capitalista, cuja existência e modus operandi de exploração do homem pelo homem escondem os meios de informação, comunicação e cultura, em mãos do lobby judeu, cuja existência se pode verificar em cada país sozinho com pesquisar os pacotes accionarios e os níveis gerenciales das empresas que monopolizan o sistema económico-productivo. Em resumem Que querem dizer com isso da perseguição racial e religiosa dos judeus?
Resistir.info
Samir Amin
entrevistado por Giuliano Battiston
Um capitalismo de rosto humano? "Pura ilusão". Altermundialismo moderado? "Uma ingenuidade". Europa? "Ainda não existe". Longe da retórica cautelosa do politicamente correcto, incansável dinamizador de alternativas políticas e económicas ao dogma neoliberal dominante, o economista egípcio Samir Amin fez da linguagem franca, do rigor analítico e da paixão militante, os instrumentos de sua inveterada batalha para se considerar antes o homem e as suas necessidades do que o lucro. Partidário fervoroso da necessidade de acompanhar as reivindicações de justiça social, e de exercer a critica das desigualdades intrínsecas à globalização capitalista, e de uma radicalização da luta política capaz de unificar as diferentes energias dos movimentos altermundialistas, Samir Amin é um autor extremamente frutífero. Os seus textos são lidos e discutidos por todos os que pretendem transformar a heterogeneidade de "movimentos" num actor político colectivo, e pelos que temem as derivas politizadas dos mesmos
P. De acordo com uma certa "vulgata" liberal e conservadora, não só o mercado seria o único instrumento de regulação da sociedade, como a própria promoção e universalização dos direitos dependeria dos processos de globalização económica. Como se poderia articular a relação entre a globalização, na sua forma actual, e direitos fundamentais?
R. O discurso da ideologia dominante, que estabelece uma absoluta igualdade entre democracia e mercado, e baseando-se nesta premissa, sustenta que não há democracia sem mercado ? e que o próprio mercado crias as condições para o aprofundamento da democracia ?, é um discurso vulgar, puramente propagandístico, que não tem nada a ver com a realidade histórica nem com a sua análise científica. Pelo contrario, há uma contradição absolutamente fundamental nessa retórica dominante que, reduzindo a democracia à sua dimensão meramente política, e limitando-a à democracia representativa, a dissocia da questão social que se supõe ser regulável pelo funcionamento do mercado, ou melhor dizendo, de um mercado imaginário. A teoria do capitalismo imaginário dos economistas convencionais, para quem o mercado generalizado tenderia para o equilíbrio, supõe que a sociedade é simplesmente composta pelo conjunto dos indivíduos que a compõem, sem ter em conta as formas da organização social, a pertença à família, à classe social, à nacionalidade: esquecendo, pois, que para Marx era uma verdade natural ? a saber: que os valores económicos estão "incrustados" na realidade social.
P. Se existe uma contradição fundamental entre mercado global e direitos fundamentais, com que instrumentos poderia ser construída uma via que permitisse superar esta contradição?
R. Não tenho receitas, mas sugiro a abordagem do tema com a perspectiva de lançar estratégias de luta comum em torno de alguns pontos fundamentais, o primeiro dos quais assenta na ideia de que não pode haver democracia autêntica sem progresso social. É um objectivo que vai exactamente na direcção oposta ao discurso dominante, o qual, como se viu, dissocia ambos os termos, e anda afastado do pensamento dos bem-pensantes social-liberais e social-demócratas, que supõem que os efeitos negativos do capitalismo podem ser contidos por meio de uma regulação social parcial. Talvez fosse preferível esquecer o termo "democracia" e falar bastante mais de "democratização", entendida como um processo sem fim; e recordar que a necessidade de associar a democracia ao progresso social é um objectivo que diz respeito a todos os países do mundo. Também nos países chamados democráticos a democracia está em crise: precisamente porque, dissociada da questão social, fica reduzida à democracia representativa, e a solução dos problemas económicos e sociais é transferida para o mercado. É uma via muito perigosa: na Itália, como noutros lugares, você votou livremente (ou quase, dado que o voto está muito condicionado pelos media), e no entanto, muita gente se questiona: porquê votar, se o parlamento afirma que algumas decisões são impostas pelo mercado e pela globalização? Deste modo, a democracia vê-se deslegitimada, e corre-se o risco de se derivar para formas de neofascismo suave.
P. De acordo com a sua análise, sempre existiram o capitalismo e a globalização, mas depois da II Guerra Mundial teríamos iniciado uma nova fase na qual entra a estratégia dos EUA de estender a doutrina Monroe ao planeta inteiro. Quais são, em sua opinião, as características desta nova fase da globalização, e quais os objectivos prioritários da estratégia americana?
R. Esta nova fase assenta numa transformação da natureza do imperialismo (falo de imperialismo, e não de "império" como Toni Negri): se até final de II Guerra Mundial o imperialismo conjugava-se no plural, e as potências imperialistas estavam em permanente conflito entre si, então assistimos a uma transformação estrutural que deu à luz o imperialismo colectivo, a que chamo da "tríade": simplificando um pouco, EUA, Europa e Japão, quer dizer, o grupo dos segmentos dominantes do capital que têm interesses comuns na gestão do sistema mundial. Este sistema, que representa a forma do novo imperialismo frente a 85% da população mundial, "requer" a guerra. Este é precisamente o ponto em que se manifesta o projecto do establishment americano, e que reflecte a orientação da maioria da classe dominante norte-americana, disposta a controlar militarmente o planeta. Os EUA optaram por desencadear o primeiro ataque ao Médio Oriente por uma série de razões, mas por duas em particular: pelo petróleo e pelo controle militar das principais regiões petrolíferas do planeta, para exercer uma liderança incontestada, a fim de se constituir numa ameaça permanente para todos os potenciais concorrentes económicos e políticos. Mas também porque têm na região, aquilo a que eu defino de o seu porta aviões fixo: o Estado de Israel através do qual garantem um instrumento de pressão permanente, que é utilizado na ocupação da Palestina e, como se viu, é utilizado também na agressão ao Líbano.
P. Você sustenta que o militarismo agressivo do EUA não é tanto um sinónimo de força, mas bem mais, um meio de equilibrar a sua vulnerabilidade económica. Poderia explicar melhor o que quer dizer com isto?
R. De acordo com a teoria dominante, de que infelizmente é também vítima grande parte da opinião pública europeia, a supremacia militar dos EUA representaria a ponta do iceberg de uma superioridade em fase terminal baseada na eficácia económica e na hegemonia cultural. Mas a realidade é que os EUA estão numa posição de vulnerabilidade extrema, que se manifesta no enorme défice comercial com o estrangeiro, e dessa fragilidade deriva a opção estratégica da classe dirigente dos EUA que desemboca no uso da violência militar. Existem documentos do Pentágono que demonstram que os EUA consideraram possível uma guerra nuclear em que as vítimas pudessem chegar aos 600 milhões: como escreveu Daniel Ellsberg, cerca de 100 holocaustos.
P. Frente ao protagonismo dos EUA, a Europa parece ainda incapaz de articular um projecto político realmente alternativo. Que deveria a Europa fazer?
R. Por enquanto, e apesar de tantos europeus terem esperança nisso, não acredito que a Europa esteja em condições de chegar a ser um elemento alternativo à hegemonia do EUA. Teria que sair da NATO, romper a aliança militar com os EUA e emancipar-se do liberalismo. No entanto, actualmente, as forças políticas e sociais europeias parecem interessadas em tudo menos num projecto desse tipo, até ao ponto em que ? como fez um dia o velho PS italiano ? reforçaram melhor o atlantismo e o alinhamento com a NATO e o liberal-socialismo. Hoje não se vislumbra outra Europa. E neste sentido, a Europa não existe: o projecto europeu é simplesmente a face europeia do projecto norte-americano.
P. Porém, existe margem para construir "outra Europa", e foi você mesmo que falou do conflito de culturas políticas que opõe a Europa aos EUA.
R. As culturas políticas da Europa foram formadas no curso dos últimos séculos em torno da polarização entre a direito e a esquerda: quem estava a favor do Iluminismo, da revolução francesa, do movimento operário, da revolução russa, situava-se à esquerda; quem estava contra isso, situava-se à direita. A história da Europa é a história de culturas políticas do "não-consenso", que estendem o conflito para além da versão redutora da luta de classes. A cultura dos EUA tem uma outra história, e que se formou como uma cultura do consenso: consenso sobre o genocídio dos índios, sobre a escravatura, sobre o racismo. E sobre o capitalismo, que nos EUA não foi posto em questão, e se houver luta de classes, não haverá politização dessa luta. Na realidade, as sucessivas migrações, graças às quais se edificou o povo americano, substituíram a formação de uma consciência política por uma consciência comunitária. Assistimos hoje a uma intenção de "americanizar" a Europa, e de substituir a cultura do conflito por uma cultura do consenso: pretende-se que não haja já direita nem esquerda, que não hajam já cidadãos, mas apenas consumidores mais ou menos ricos.
P. O Fórum Social Mundial, de acordo com uma reconstrução superficial que alcançou algum eco, teria nascido no rastro das manifestações altermundialistas de Seattle. Porém, a história do Fórum tem uma orientação muito menos "ocidental" do que normalmente se pensa. Pode comentar?
R. O FórumSocial Mundial é tanto uma criação ocidental que o primeiro encontro deu-se no Brasil; depois ? e não por casualidade ? os encontros seguintes deram-se em Bombaim, Bamako, Caracas e Carachi, e o Foro, que começa amanhã, escolheu como sede Nairobi. Convém não esquecer, para além disso, que em Seattle a Organização Mundial do Comércio foi paralisada, não pelos manifestantes norte-americanos, mas pelo voto da maioria dos países em desenvolvimento. Um dos primeiros encontros que deram vida ao FSM, foi o chamado "anti-Davos em Davos", uma manifestação ? pequena, mas de grande valor simbólico ? organizada em 1999 pelo Fó:rum Mundial das Alternativas, graças ao qual, os representantes das vítimas das políticas do capitalismo liberal puderam discutir a agenda oficial de Davos. Éramos poucos, mas representávamos grandes forças sociais: sindicatos hindus, coreanos, brasileiros, organizações de mulheres e camponeses, associações da África Ocidental, defensores dos direitos sociais, movimentos brasileiros. Dali nasceu a ideia de programar um novo encontro a uma escala maior.
22/Janeiro/2007
[*] Economista, presidente do Fórum Social realizado em Nairobi.
[**] Jornalista, de Il Manifesto.