Cenoira ou cenoura; lavadoiro ou lavadouro?

Cenoira ou cenoura; lavadoiro ou lavadouro?

29-11-2015

Outro exemplo da histórica alternáncia dos ditongos oi (oiro) e ou (ouro) em Portugal, ainda hoje instáveis

CONSULTA:

Como deveríamos dizer na língua culta, cenoura e lavadoiro, cenoira e lavadoiro, ou cenoura e lavadouro? Muito obrigado!

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Na variedade galega do galego-português, deve utilizar-se a forma lavadoiro e, de preferência, cenoura, ainda que também seja correta a variante cenoira. Para justificar estas escolhas, temos de considerar as alternativas lavadoiro ~ lavadouro, por um lado, e cenoira ~ cenoura, por outro.

Quanto ao primeiro caso, diga-se que, como derivado patrimonial da terminaçom latina ?orius (-oria, -orium), presente em adjetivos, ou como derivado de nomes latinos provindos de particípios de futuro (tipo nasciturus, -a, -um ?o que irá nascer?), surge em galego-português, entre os séc. XIII e XV, o sufixo ?doiro, que forma substantivos que indicam o local onde se realiza a açom expressa polo verbo (ex.: lavadoiro ?local onde se lava (roupa)?) ou adjetivos que indicam a noçom de particípio de futuro (ex.: casadoiro ?que está na idade de casar, que casará?). Posteriormente ao séc. XV, nas variedades lusitana e brasileira da língua, mas nom, em geral, na galega, o sufixo ?doiro passa a ser substituído, em larga medida, pola forma ?douro. Portanto, na variedade galega do galego-português, temos hoje, em geral, unicamente -doiro (exceto no extremo SO da Galiza, onde si se produziu a passagem de -doiro para -douro), enquanto que em lusitano e em brasileiro predomina ?douro sobre ?doiro (em paralelo com coiro [Gz] / couro [Pt+Br]): ancoradoiro, bebedoiro, casadoiro, comedoiro, embarcadoiro, escondedoiro, fervedoiro, matadoiro, miradoiro, paradoiro, respiradoiro, sumidoiro, varredoiro, vindoiro? e, também, lavadoiro.

Já o caso de cenoura ~ cenoira é diferente, porque o étimo é, agora, árabe, e porque a naturalizaçom da palavra em galego-português só se produz no século XV ou XVI, quando o galego inicia os Séculos Obscuros e já nom tem capacidade efetiva para incorporar neologismos de forma autónoma. Portanto, a denominaçom vernácula da planta Daucus carota temos de a habilitar agora em galego por via erudita, e, naturalmente, de harmonia com o lusitano e com o brasileiro, e a forma mais prática de o fazermos é adotando em galego a variante principal, mais habitual, em lusitano e em brasileiro, que é cenoura (embora a variante cenoira também seja admitida).

Categoria(s): Léxico
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