CONSULTA:
Alcaide, moleiro, palheira, papa-merda, cagote, gaivota-rapineira...
Qual considera a AGAL a forma estándar galega para as aves do gén. Stercorarius e porquê? Graças
Rudesindo Bombarral
RESPOSTA DA COMISSOM:
As aves do género Stercorarius (família Stercorariidae) presentes na Galiza (S. longicaudus, S. parasiticus, S. pomarinus e S. skua) tenhem hábitat pelágico, mas podem ver-se perto da costa nas migraçons de setembro e outubro. Como acontece com muitos outros animais, na língua popular costuma usar-se umha única denominaçom para abranger diversas espécies, ainda que esta denominaçom divirja muito de zona para zona: cagote, merdeiro, papa-merda e palheira som as mais estendidas na Galiza. A denominaçom genérica utilizada no padrom lexical de Portugal (na língua especializada dos ornitologistas portugueses) é moleiro, mas esta voz, no sentido aduzido, é desconhecida na Galiza. Por tal motivo, e porque a voz galega palheira tem umha difusom na fala espontánea contemporánea relativamente importante, carece de sentido escatológico e já é utilizada polos ornitologistas galegos, é palheira a denominaçom vernácula recomendável para designarmos no galego-português da Galiza as aves do género Stercorarius.
Se neste caso, como exceçom, e de modo justificado, recomendamos adotar em galego umha soluçom terminológica diferente da usual em Portugal como designaçom do género Stercorarius, já em relaçom à designaçom das espécies ibéricas a esse género subordinadas, a nossa recomendaçom é seguir o modelo adotado polos ornitologistas portugueses. Assim, palheira-de-cauda-comprida, para Stercorarius longicaudus; palheira-pomarina, para S. pomarinus; palheira-parasita, para S. parasiticus, e palheira-grande, para S. skua.
Categoria(s): Léxico
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CONSULTA:
1.- Qual é a palavra ou as palavras em galego do sul ou da outra beira do oceano equivalentes ao castelhano "tocallo"? (por economia da mensage utilizo o referente castelhano, que na minha vida corrente, moito didáctica e pedagógica até, seria o último a fazer).
2.- É correcta a frase: "como bom taful, marcou-se um novo bluff" (esta em itálico). Cheira-me a decalque, apesar do emprego de dous termos que acabo de conhecer.
Máis nada, saudaçons, e parabéns por este consultório sentimental.
alexandre
RESPOSTA DA COMISSOM:
A voz espanhola tocayo tem origem incerta nesta língua e nom é totalmente desconhecida na nossa (tocaio), onde teria penetrado, para além da Galiza, na zona de Trás-os-Montes (Portugal) e Rio Grande do Sul (Brasil). Mais para lá do Douro, usa-se outro termo com um sabor nom tam coloquial, que nós também conhecemos em registos menos informais: homónimo. No Brasil, porém, a palavra mais usada com este valor é xará.
Entre nós, a forma aconselhável para referir 'aquela pessoa que tem o mesmo nome de outra' é, com certeza, homónima. Ex.: É o teu homónimo, chama-se como tu.
Em relaçom à frase "como bom taful, marcou-se um novo bluff", nom se trata de um ditado ou expressom fixada da nossa língua. Parece antes fazer parte do génio lingüístico da pessoa que a proferiu, usando palavras que, em qualquer caso, costumam ser empregadas no ámbito do jogo.
Taful pode significar 'jogador ardilosos, batoteiro', ou ainda 'pessoa ridiculamente elegante'. Um bluff é umha 'burla' ou umha 'fanfarronice', e trata-se de um anglicismo de introduçom recente. Quanto à sintaxe da construçom ('marcar-se algo'), parece sim um decalque do espanhol, como observa o Alexandre, de maneira que deixamos ao seu critério a avaliaçom da correçom da frase que nos consulta, que de qualquer modo podia ter sido expressada de muitas outras formas: Como bom taful, usou um novo engano / Como bom taful, voltou a alardear.
Categoria(s): Léxico
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CONSULTA:
Na listagem de palavras da AGLP para incorporar ao vocabulário ortográfico comum da língua galego-portuguesa não aparece o termo "amorodo" e também não o termo "amorote". Porém, sim que estão incluidos no dicionário Estraviz.
Qual é o critério da AGAL? São eles aceitados como sinónimos de "morango"? É preferida a voz "morango"?.Airas
RESPOSTA DA COMISSOM:
A Comissom Lingüística da AGAL está a trabalhar nesta altura na elaboraçom de um documento codificador concebido para definir o padrom lexical do galego-português da Galiza. Por tal motivo, remetemos o amável consulente para esse texto normativo, quando estiver publicado, para aprofundar nos critérios da codificaçom lexical.
No entanto, já agora, em resposta à sua pergunta, podemos antecipar que a CL-AGAL declarará morango, enquanto voz presente nalguns falares galegos contemporáneos e pertecente aos padrons lexicais de Portugal e do Brasil, elemento do padrom lexical galego, com o significado de ?infrutescência da erva rosácea do gén. Fragaria?, e, correlativamente, declarará dialetalismos, com esse significado, vozes como amorodo, amorote, etc. (vozes, todas elas, hoje, infelizmente, globalmente recessivas na Galiza, frente ao castelhanismo substitutório *fresa).
Categoria(s): Léxico
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CONSULTA:
Teño visto pintado sobre os carteis de Biduído (Parroquia de Ames) "Vidoído". É a proposta da AGAL? Podo entender o da 'o' pero por que con V se ven supostamente de "Betu"?
Manoel
RESPOSTA DA COMISSOM:
O topónimo Vidoído consta da base vido- e do sufixo -ido. O componente vido- corresponde-se com as palavras da língua comum vidoeiro ou vido, que designam a árvore de casca branca, freqüente na Galiza, que os biólogos adscrevem ao género Betula. Aqui, o sufixo -ido (concorrente com -edo: vidoedo) é de caráter abundancial, de modo que Vidoído significa, etimologicamente, ?lugar de muitos vidoeiros ou vidos?.
As denominaçons vernáculas galego-portuguesas da árvore em causa, quando escritas com ortografia galego-portuguesa (nom com a castelhanizante da rag-ilg), levam, portanto, um uvê, apesar de o correspondente étimo (latino) começar por bê (betula). A razom para tal discordáncia gráfica com o étimo é que a ortografia galego-portuguesa nom é puramente etimológica, mas de índole mista, histórico-etimológica, de modo que, nalguns (poucos) casos, por causa da evoluçom interna das palavras, a grafia atual se separa daquela que mostrava o étimo correspondente.
Observe-se que grafarmos hoje em galego a palavra vido(eiro) com uvê nom acarreta qualquer desvantagem (nom se distorce a pronúncia galega, por exemplo), e sim, polo contrário, umha evidente vantagem: há cerca de douscentos milhons de pessoas no mundo que, chamando vidoeiro ao vidoeiro, hoje se reconhecem na grafia vidoeiro (e na de coruja, jeito, minhoca, etc.).
CONSULTA:
Queria saber se na nossa normativa seria permitido o uso da forma "saúdo", nom existente no resto da lusofonia ou unicamente seria válida a forma saudaçons ou saudaçoes, dependendo da zona da Galiza.Por exemplo no final de umha missiva.
Cumprimentos e parabéns por este serviço tam útil e necessário.Aniceto Pinilla Nunes
RESPOSTA DA COMISSOM:
A voz saúdo pertence ao ámbito da língua culta e forma parte das fórmulas de cortesia. Desde o século XVI a única língua que na Galiza se arrogou o direito de se chamar culta foi o castelhano e, portanto, qualquer expressom que manifestasse respeito devia de se fazer nessa língua, de tal maneira que as fórmulas de cortesia que se impugérom, mesmo falando galego, fôrom as castelhanas: grácias/graças, vostede/vostê/ostê, adiós, mi padre/mi madre, mi amo/mi senhor e, também, saúdo. Este último termo, ainda que morfologicamente se pudesse justificar como umha formaçom autóctone, é claro que deve o seu uso e ampla difusom ao castelhano, como o demonstra o facto de a voz saudaçom estar documentada desde o século XIII, e saúdo apenas no galego moderno.
Conseqüentemente, deve evitar-se o substantivo saúdo e utilizar no seu lugar saudaçom, saudaçons ou cumprimentos para nos referir à açom ou efeito de saudar.
Categoria(s): Léxico, Morfossintaxe
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