CONSULTA:
Exemplos de mesóclise pronominal são os seguintes: Convidar-me-ão para a festa. Convidar-me-iam para a festa. Penso que maioritariamente, como fazem também no Brasil, optamos por outras fórmulas para estes tempos verbais: Vão me convidar para a festa (Brasil). Vão-me convidar para a festa. Vão convidar-me para a festa. Neste caso, que seria o mais correto?
Pablo César Galdo Regueiro
RESPOSTA DA COMISSOM:
Fora da linguagem escrita ou de estilos orais de algumha formalidade, a mesóclise pronominal está em boa medida ausente da oralidade portuguesa e já é totalmente desconhecida na do Brasil, estando praticamente ausente do galego contemporáneo, quer oral, quer escrito. No quadro da configuraçom de um modelo morfossintático culto, poderá ser conveniente a introduçom de pronomes mesoclíticos em galego, se bem que, à vista da diminuiçom do uso de tal estrutura em lusitano e brasileiro e do recuo de outros traços morfossintáticos fundamentais na língua hoje cultivada na Galiza (genuína colocaçom proclítica/enclítica dos pronomes átonos, infinitivo flexionado, futuro do conjuntivo, nexos das cláusulas de relativo...), à CL-AGAL nom pareça necessário prescrever nem promover em galego a colocaçom mesoclítica do pronome.
Categoria(s): Morfossintaxe
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CONSULTA:
No padrão português não existe diferenciação no número de destinatários de uma ação, enquanto nas variantes dialetais da Galiza esta diferenciação manifesta-se: Dar a ele ou ela: Dar-lho, dar-lha, dar-lhos, dar-lhas; dar a eles ou elas: dar-lhe-lo, dar-lhe-la, dar-lhe-los, dar-lhe-las; são corretas estas expressões que escrevi? Obrigado.
Pablo César Galdo Regueiro
RESPOSTA DA COMISSOM:
Conforme os falares galegos, a correspondente soluçom é lho ou lhe-lo. A CL-AGAL, no Estudo Crítico (p. 221), admite as duas soluçons, priorizando a forma comum com o lusitano e brasileiro (-lho).
Categoria(s): Morfossintaxe
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CONSULTA:
O trema ou diérese foi eliminado da escrita do português por causa do Acordo. Por que, então, na revisão da ortografia AGAL se decidiu manter e, porém, simplificar os grupos cultos -cc- e -ct-? Não teria sido mais efetivo um achegamento mais firme e decidido, embora se mantivesse a terminação -om? Muito obrigado!
RESPOSTA DA COMISSOM:
Com efeito, a recente aplicaçom no Brasil do Acordo Ortográfico de 1990 tem acarretado o desaparecimento do trema na ortografia da variedade americana do galego-português, a qual o mantinha tempo depois de ele ter sido suprimido da ortografia lusitana. No caso da variedade galega, a CL-AGAL decidiu manter o uso do trema por motivos pedagógicos, já que a utilizaçom deste sinal é importante na atual Galiza para fomentar a correta pronúncia de determinadas vozes de prosódia contrastante com o castelhano, ao mesmo tempo que tal uso nom representa umha quebra especialmente grave da unidade das convençons gráficas da Lusofonia. Assim, por exemplo, escrevermos na atual Galiza eqüino, sangüíneo ou tranqüilizante com tremas (frente a, p. ex., questom), em vez de equino, sanguíneo e tranquilizante, acarreta mais vantagens, no campo prosódico, do que desvantagens (no campo gráfico).
Por outro lado, é evidente que a incorporaçom da Galiza ao Acordo Ortográfico de 1990 patrocinada pola CL-AGAL deve incluir a simplificaçom gráfica de muitas seqüências consonánticas etimológicas -cc-, -ct-, -pc- e -pt-, polas claras vantagens a ela associada: fomenta notavelmente a coesom ortográfica no seio da Lusofonia e favorece (como acontece no caso do trema) a correta realizaçom fónica de numerosas vozes na atual Galiza. Quanto aos receios de algumhas pessoas no relativo à pretensa timidez da atualizaçom do padrom ortográfico da CL-AGAL conforme o Acordo Ortográfico de 1990, o amável consulente pode ficar tranqüilo, porque, na realidade, a adesom da CL-AGAL a tal processo unificador tem sido verdadeiramente decidida e, de facto, nalguns aspetos, mais coerente ou valente que a protagonizada em Portugal e no Brasil: veja, a esse respeito, como na Galiza se padronizam como formas únicas, no capítulo das seqüências consonánticas, as variantes prosódicas e ortográficas comuns a Portugal e ao Brasil, enquanto que nestes dous países nom se priorizam tais formas comuns.
Categoria(s): Ortografia
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CONSULTA:
Que palavra seria a mais correta para designar o instrumento que serve para apertar e afrouxar parafusos?
Na Wikipédia lusófona falam indistintamente de "chave de fenda" e "chave de parafusos", mas procurando pola Internet vejo que os termos "desaparafusador" e "desparafusador" não são estranhos fora da Galiza. Mesmo tenho visto usarem "aparafusadora" para falarem duma chave de parafusos elétrica.
A propósito, muitos parabéns polo consultório, já se vinha sentindo a falta de algo assim.Saudinha!
RESPOSTA DA COMISSOM:
1. Infelizmente (porque se contraria a economia comunicativa), é grande o número de termos sinónimos que em galego-português designam a ferramenta que serve para apertar e afrouxar parafusos. Na internet registamos, por ordem alfabética, aparafusador, aparafusadora, chave de fenda(s), chave de parafuso(s), desandador e desaparafusador. Polo que di respeito à distribuiçom geográfica destes termos, cabe resenhar que desandador é exclusivo de Portugal e que, enquanto no Brasil se preferem, nos casos de chave de fenda(s) e chave de parafuso(s), as variantes que apresentam no singular o segundo componente nominal, em Portugal regista-se preferência polas que o apresentam no plural.
2. Ora, de todos esses termos, os únicos que, em geral, registam os dicionários lusitanos e brasileiros, tanto os da língua comum como os da língua especializada, som chave de fenda(s), chave de parafuso(s) e desandador. Umha consulta no motor de pesquisa internética ?Google? permite verificar que, tanto em Portugal como no Brasil, chave de parafuso(s) apresenta um uso algo mais freqüente que chave de fenda(s), ocupando desandador o terceiro posto em Portugal. Do resto de sinónimos supracitados, apenas aparafusadora apresenta um uso, conforme testemunha a internet, considerável. O termo aparafusadora usa-se em Portugal ?mas nom, em geral, no Brasil? como sinónimo (preferente) de chave de parafusos/fendas elétrica.
3. É importante termos em conta que, em sentido estrito, os termos chave de parafuso(s) e chave de fenda(s) nom som sinónimos entre si, já que chave de parafuso(s) é termo de significaçom mais ampla (hiperónimo) que chave de fenda(s) (hipónimo). Com efeito, chave de fendas designa apenas aquelas chaves de parafusos destinadas a apertar e afrouxar parafusos cuja cabeça apresenta umha fenda, existindo, no entanto, outros tipos de parafusos, que requerem de outros tipos de chaves de parafusos (por exemplo, os denominados parafusos Phillips som apertados e afrouxados com chaves de parafusos de estrela).
4. Se aceitarmos o critério geral exposto no Manual de Galego Científico de preferirmos para a Galiza as soluçons lusitanas nos casos de divergência terminológica entre Portugal e o Brasil, podemos adotar em galego o seguinte esquema designativo para significarmos a ferramenta que serve para apertar e afrouxar parafusos: priorizaremos decididamente chave de parafusos (ou, no seu caso, chave de fendas) sobre desandador e, em relaçom à chave de parafusos elétrica, junto com este termo, também utilizaremos aparafusadora.
Categoria(s): Léxico
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CONSULTA:
Antes de mais, gostaria de parabenizar a Comissom Lingüística da AGAL por se situar, mais umha vez, na vanguarda da filologia e a lingüística galega. A minha pergunta é de ordem fonética ou fonológica, mas espero que poda ser resolvida. Qual a opiniom que o Presidente da Comissom e o resto de membros tenhem acerca do sesseio e da pronúncia do c? Seria esta pronúncia do c um castelhanismo, já que nom existe no resto da lusofonia, ou seria um fonema legítimo? Com relaçom à anterior pergunta, gostaria de saber se a CL-AGAL tem pensado estabelecer no curto ou meio prazo um estándar fonético para a variedade galega (creio que é mui necessário tratar os aspetos orais, que acho ficárom um pouco abandonados pola AGAL), e além disso, se também tem pensado num futuro realizar qualquer tipo de estudo sobre as diferentes prosódias galegas nom castelhanizadas. Parabéns outra vez. Adiante CL-AGAL!!! Obrigado.
RESPOSTA DA COMISSOM:
A CL-AGAL agradece as amáveis palavras encorajadoras do consulente e a seguir expom com brevidade o seu parecer sobre a questom fonológica por ele formulada.
Com efeito, é desejo da CL-AGAL iniciar em breve prazo, após a publicaçom de um contributo de codificaçom lexical que agora está numha fase avançada de elaboraçom, trabalhos conducentes a oferecer orientaçom sobre certas questons de interesse para configurar um modelo prosódico culto na variedade galega do galego-português.
Entre as questons que abordará tal texto orientador da CL-AGAL, encontrará-se, sem dúvida, umha recomendaçom sobre a realizaçom fónica no galego culto da letra z e das seqüências ça, ce, ci, ço e çu. No entanto, a CL-AGAL nom pode antecipar nesta altura, antes de realizar os pertinentes estudos e deliberaçons, qual será a sua posiçom a esse respeito, se bem que ela poda manifestar agora, em resposta à pergunta do amável consulente, que a correspondente recomendaçom prosódica nom se identificará com o modelo de completo tetacismo que hoje, por influência do castelhano, predomina nos falares galegos. (Tetacismo: articulaçom com o fonema /θ/, o inicial da voz cinco no castelhano de Castela ou da voz think em inglês).
Categoria(s): Fonética
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