Traguer

04-12-2013

CONSULTA:

O modelo lexical galego incorporou ao padrom da CL_AGAL a forma verbal traguer. Qual é que seria, portanto, a conjugaçom completa deste verbo?

Parabéns polo vosso trabalho e muito obrigado,

Suso

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Traguer é a forma moderna do medieval trager que evoluiu na norma portuguesa para trazer. Na atual Galiza encontramos o verbo traguer distribuído por todo o território, embora conviva com outras variantes como traer, trair e trer. Estas últimas possivelmente se tenham gerado no próprio galego mas a sua vitalidade, nomeadamente no caso de traer, está claramente apoiada polo verbo com idêntica forma em espanhol, traer. Numha situaçom sem interferência alheia, dificilmente a forma traer poderia ter triunfado já que colidiria com o antigo verbo traer ?atraiçoar?. Só é no galego moderno quando, sob a pressom do espanhol, a forma traer com o significado de ?traguer?, triunfa, ao intervir o castelhano substituindo o galego traer/trair ?atraiçoar? pola versom alheia traicionar, e influindo, como língua modelo, na difusom de traer que, apesar de tudo, nunca conseguiu eliminar a conjugaçom com a raiz trag-. Esta última regista-se igualmente em numerosos pontos do norte de Portugal (no mínimo desde o Minho até as Beiras).
No galego atual registam-se várias conjugaçons diferentes deste verbo. Umha em que todo o tema de presente se conjuga de forma regular com a raiz trag-: trago, tragues, trague, traguemos, traguedes, traguem; traga, tragas, traga, tragamos, tragades, tragam; traguia, traguias...; traguerei, traguerás...; tragueria, traguerias...; traguido, traguendo.
Outra em que provavelmente se tenha imposto a analogia com outros verbos como fazer /faguer no Presente do Indicativo: trago, trás/trais, trai, traguemos, traguedes, tram/traem.
E, finalmente, partindo do infinitivo traer: traio, trais/trás, trai, traemos, traedes, traem/tram; traía...; traia, traias..; traerei...; traería.
Também se registam outras conjugaçons em que se misturam formas das anteriores.
As mais documentadas no galego médio e até época recente som a primeira e a segunda. A primeira continua viva, embora as formas mais usadas som as que nom colidem com as do espanhol tragar: traguer, traguia, traguerei, traguei, traguendo, traguido, etc.

É evidente que a grande vitalidade atual de traer se deve a influência do espanhol, o que se pode certificar observando como as formas castelhanas substituírom, principalmente, aquelas que colidiam com as do espanhol tragar, de modo que em lugares onde ainda se di traguer, traguía, traguerei, tragueria, traguendo, traguido, etc. encontramos traigo, traiga, traigas, etc. deslocando as tradicionais trago, traga, tragas... Dados que se podem verificar no Atlas Lingüístico Galego.

Portanto, é claro que, ao lado da de trazer (que pode ser consultada no Guia Prático de Verbos Galegos Conjugados e no Conjugal), a única conjugaçom recomendável para o verbo traguer é a que conserva a raiz trag- em todo o tema de presente de maneira regular, quer dizer, a primeira que assinalamos. No tema de perfeito a forma padrom apresenta a raiz troux-: trouxem, trouxera, trouxesse, trouxer...

Pode ser descarregado o quadro completo da conjugaçom deste ver na seguinte ligaçom.

tags: tragar, trager, trazer
Categoria(s): Morfossintaxe
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Deslizar

04-12-2013

CONSULTA:

É correto o uso do verbo deslizar, por exemplo para desportos como o esqui, patinagem ou devem-se usar outros como escorregar? Se correto, é frequente o seu uso?

Obrigado

Leiro

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Às duas perguntas que nos fai o amável consulente devemos responder na afirmativa: é, com efeito, correto utilizarmos em galego-português o verbo deslizar (além de escorregar) para nos referirmos ao deslocamento sobre neve, gelo ou outra superfície lisa de esquiadores e patinadores, e trata-se de um uso vocabular freqüente. A este respeito, é de interesse notar que, em contraste com o que acontece em castelhano, deslizar se utiliza em galego-português como verbo nom pronominal (sem o pronome se): «Os esquiadores deslizárom montanha abaixo».

tags: escorregar
Categoria(s): Léxico
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Morfologia verbal galega

04-11-2013

CONSULTA:

Devemos usar em galego formas como ele/ela teve/esteve/disse ou tivo/estivo/dixo?

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Na variedade galega do galego-português, desde a etapa denominada do «galego médio» até à atualidade, as únicas formas que se registam da terceira pessoa do singular do pretérito perfeito dos verbos dizer, estar e ter som, respetivamente, dixo, estivo e tivo, em contraste com o que acontece nas variedades lusitana e brasileira da língua, nas quais tais formas som disse, esteve e teve. Dado que as formas galegas mencionadas som legítimas, a Comissom Lingüística da AGAL propujo-as para integrar o padrom galego do galego-português no seu documento de codificaçom morfológica Guia Prático de Verbos Galegos Conjugados, publicado em 1989.
Por conseguinte, a resposta ao nosso consulente é que, quando estiver a fazer uso do padrom galego do galego-português, utilize as formas galegas dixo, estivo e tivo, e nom as lusitanas ou brasileiras disse, esteve e teve. De resto, a realizaçom culta desta peculiaridade morfológica galega no seio da Lusofonia nom deve ver-se como contrária à unidade lingüística galego-portuguesa, mas, antes, como um fenómeno normal de variaçom em sistemas lingüísticos muito extensos (e pluricêntricos, com mais de um padrom), como, de facto, também acontece em espanhol (veja, a este respeito, no sítio internético da Real Academia Española, as tabelas de conjugaçom verbal do espanhol, que incluem, junto com formas castelhanas como «tú haces» e «vosotros hacéis», também as respetivas formas americanas «vos hacés» e «ustedes hacen»).

Categoria(s): Morfossintaxe
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Bagagem de porao

18-07-2013

CONSULTA:

O motivo da minha consulta é a bagagem de porão. Num contexto internacional, fica claro que as malas que vão no compartimento de carga das naves são chamadas bagagem de porão. Na minha vida escuitei a voz porão, mas também sou do interior e não estou afeito ao léxico da navegação. No dicionário Estraviz não achei uma correspondência com porom, porám ou porao, polo que fiquei coa dúvida de se o termo teria presença alguma na Galiza. Se não, existe alguma outra palavra que podamos empregar neste contexto e que também seja reconhecível internacionalmente? Qual a sugestão da Comissom para o padrão galego?

Obrigado, Daniel.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Dado que as vozes bagagem e porão som abonadas pola primeira vez em galego-português com posterioridade ao séc. XIV (nomeadamente, as duas, no séc. XVI), na Galiza elas calham dentro do período de estagnaçom lexical e suplência castelhanizante (cf. parte de prescriçom enunciativa de O Modelo Lexical Galego da CL-AGAL). Nestas circunstáncias, de acordo com a proposta realizada em O Modelo Lexical Galego, a CL-AGAL recomenda preencher a correspondente lacuna lexical registada em galego (e expurgar o correspondente castelhanismo suplente) mediante a incorporaçom ao galego-português da Galiza da respetiva soluçom luso-brasileira. No presente caso, dada a etimologia de porão (< lat . planus), a forma recomendável em galego é bagagem de porao (cf. gal. chao).

tags: chao
Categoria(s): Léxico
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Toponímia de Cerdido

06-06-2013

Igreja de Santo António da Abarqueira

CONSULTA:

Boas, chamo-me Brais e gostaria de que me ajudássedes (se podedes) na traduçom dos seguintes nomes do meu concelho: Abelleira, Abruñeiros, Rañoa, Moutillón, Francoi, Avispeira, Casanova, Paincieira. Muito obrigado, de verdade.

Saudaçons e um abraço!

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Em resposta ao amável consulente, a seguir resenhamos com a grafia correta os topónimos que correspondem a lugares habitados do concelho de Cerdido (destacando a negrito os mencionados na consulta), conforme o Dicionário de Toponímia Galega que tem em preparaçom o Prof. José-Martinho Monteiro Santalha (por sinal, ele próprio nativo do concelho de Cerdido!) e as regras gráficas que a Comissom Lingüística aplica aos topónimos (neste caso, por motivos pedagógicos, com anteposiçom do artigo aos topónimos que com ele som usados).
Note-se que todos os lugares mencionados polo consulente (com inclusom do monte Francoi) se encontram na freguesia da Abarqueira, e que a forma toponímica correta nom é a hoje habitual *A Barqueira, mas A Abarqueira (proveniente, com alta probabilidade, da voz comum abarca), como testemunha o documento histórico, encontrado por José-Martinho Monteiro Santalha, que em baixo transcrevemos (de facto, A Abarqueira era a pronúncia comum dos habitantes da zona até há alguns anos, e que ainda hoje alguns velhos conservam).

As três freguesias do concelho de Cerdido:

A Abarqueira [orago ou padroeiro: Santo António]: A Abarqueira Velha, A Abelheira de Baixo, A Abelheira de Riba, Os Abrunheiros, Aldar, Aulfe de Chao, Aulfe de Malados, Barbas, As Barbelas, As Cabanas, As Cancelas, A Casa Nova, A Casa Velha, Casaldaia de Riba, A Casilha, Os Castros, Corutelo, A Cruz Encarnada, A Cuqueira, Escote, O Espinho, O Feal, Felgosa, Guelhe, Lamigueiro Novo, Lamigueiro Velho, Lobeira, Moutilhom, Os Navalhos, A Painceira, A Paleira, Os Pereiros, O Pinhom, O Porto, A Poça d?Água, A Ranhoa, Rio Forcado, O Rio Velho, Seoane, Sete de Baixo, Sete de Riba, So-os-Loureiros, A Torre, As Travessas, A Vespeira.
Os Casás [Sam Joám]: Agreste, O Bordo, Boucido, Calmourel, A Calvela, Campo da Igreja, Os Campos, Os Carvalhás, A Casa Nova, O Covelo, A Fraga, As Mestas, O Outeiro, A Pedra Chantada, O Rego da Madeira, A Riba de Baixo, A Riba de Riba, O Seixidal.
Cerdido [Sam Martinho]: Os Angoeiros, Arom, Barreiros, A Barrosa, Bezerroi, A Branha, A Caleira, A Campeira, Carvalhal, O Carvalheiro, Casaldaia de Baixo, Casaldegonce, Casavide, Castrilhom, O Castro, A Chainha, Chao, O Corveiro, A Cruz dos Novás, Os Cubos, Díaz, Domende, A Felgueira, Fercoi, O Freis, A Gangoa, Gondredo, Jiao, A Lavandeira, As Mestas, O Noval, Paços, Pedre, A Pena, A Pena de Baixo, A Pena do Bico, Penso, O Picadeiro, O Pinheiro, Pontelhas, Rebordaos, Rediz, O Regueiro, Regueiro Longo, Riazom, A Rincha, O Rio, A Rocha, As Seixas, Socastro, Os Valados, A Várzea, A Vila da Igreja, Viladóniga, O Vilar, Vilarelhe, Vilela.

Transcriçom de documento do séc. XVIII que atesta a forma toponímica A Abarqueira (fonte: Arquivo Notarial de [Santa Marta de] Ortigueira, protocolo do notário António Fernández, ano 1705):

«Junto a la ermita de San Salba[do]r da Abarq[ueir]a, f[elig]r[esí]a de San \ Martín de Zerdido, a seis días del mes de agosto de mill si-\ etezientos y cinco años, delante de mí, ss[criba]no, pareció Alonso \ de Casa, vezino de la juri[sdi]z[i]on de Santa Marta, y me pedió \ le entregase la rreal proui[si]on de demanda con q[ue]. me auía requerido. \ Y luego se la entregué, con las citaciones y delix[enci]as echas con Greg[ori]o \ de Posada, Andrés Martínez, Fran[cis]co Martínez, Luys Antonio de \ Ramonde, Ju[an] Antonio da Armada, Alonso de Corral, Do\na Lorenza Pardo, y otros. Todo ello se lo entregué a pres[enci]a \ de Ygnacio de Orxales, v[e]z[in]o de la f[elig]r[esí]a de Santiago de Abade, \ y Ju[an] García de Luazes, vezino de la uilla de Zedeyra. \ De lo qual yo ss[criba]no doy fee =»

Categoria(s): Ortografia, Léxico
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