CONSULTA
Bom dia,
Quando é que devemos de usar a voz "carnaval" e quando "entruido". Som sinónimos em galego?Obrigado
Rudesindo
RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:
Para esclarecermos a distribuiçom de usos das vozes carnaval (ou Carnaval) e entruido (ou Entruido; nas variedades lusitana e brasileira, entrudo ou Entrudo), estudemos, a seguir, os muito eloqüentes verbetes correspondentes a essas entradas no dicionário Houaiss (apresentam-se aqui apenas as aceçons pertinentes, adaptadas à variedade galega):
carnaval (1.ª abonaçom: 1542) 1 HIST período anual de festas profanas, originadas na Antigüidade e recuperadas polo cristianismo, e que começava no dia de Reis (Epifania) e acabava na Quarta-Feira de Cinzas, às vésperas da Quaresma; constituía-se de festejos populares provenientes de ritos e costumes pagaos e caraterizava-se pola liberdade de expressom e movimento [tb. com inicial maiúscula]. 2 período de três dias anteriores à Quarta-Feira de Cinzas, dedicado a festejos, bailes, desfiles e folguedos populares (o que, no passado, equivalia ao entruido) <o c. este ano cai em março> <Fulano vai passar o c. numha ilha> [tb. com inicial maiúscula]. 3 conjunto de festejos, desfiles e divertimentos típicos dessa época do ano, nos quais os participantes tipicamente vestem fantasias e usam máscaras <o c. do Rio tem deslumbrantes desfiles de escolas de samba> 4 p.ext. infrm. alegria coletiva; folguedo, folia <depois do terceiro gol, a comemoraçom virou c.>
entruido (1.ª abonaçom: séc. XIII) 1 os três dias que precedem a entrada da Quaresma [tb. com inicial maiúscula] 2 HIST festa popular que acontecia nesses dias, em que os brincantes trocavam polas ruas arremessos de baldes de água, limons-de-cheiro, ovos, tangerinas, pastelons, luvas cheias de areia, esbordoavam-se com vassouras e colheres de pau, sujavam-se com farinha, gesso, tinta etc. [O folguedo vigorou até 1817 em Portugal e entrou em declínio no Brasil em 1854, por repressom policial, dando lugar ao moderno carnaval.] [tb. com inicial maiúscula] 3 p.ext. o carnaval e o divertimento dos dias de carnaval <a terça-feira de e.> [tb. com inicial maiúscula].
Por conseguinte, observa-se que, num uso laxo, as duas vozes, carnaval e entruido, som permutáveis em galego para designarmos o período festivo que precede a entrada da Quaresma. Ora, num uso estrito, ou específico, a voz entruido reserva-se para designar esse período festivo quando adscrito ao mundo tradicional (e rural), tal como ainda hoje ele surge na Galiza e Portugal, tipicamente, em vilas como Ginzo da Límia, Laça, Verim ou Lazarim (e como surgia de modo mais geral no passado em Portugal, no Brasil, etc.), enquanto que a voz carnaval se reserva para denotar tal período festivo quando ele se apresenta em moldes «modernos» (e urbanos), como, tipicamente, corresponde ao carnaval do Rio de Janeiro.
Categoria(s): Léxico
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CONSULTA:
Hai umha espécie de aguaneta, ave limícola, que é denominada narceja-galega em português. O adjectivo galego foi pejorativo em português popular com algumha frequência, daí que se aplique a espécies pequenas (pica-pau galego, mocho-galego...) Mas é apropriado isso na variante galega? Por outro lado, narceja nom se regista aparentemente nos falares galegos (embora apareça nalguns diciónarios e livros como tal, sendo, aparentemente, simples cópia da variante lusa do nosso idioma). Narceja deve ser variante morfológica de arcea, nome galego para outro género. Quê fazer quando as variantes portuguesa e brasileira divergem? Por exemplo caminheiro/petinha, para a ave conhecida como pica no Norte da Galiza? Obrigado, desculpen a extensom.
Rudesindo Bombarral
RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:
1. A Comissom Lingüística da AGAL, no seu texto codificador O Modelo Lexical Galego, de próxima publicaçom, proporá como denominaçom padrom galega da ave Scolopax rusticola (fam. Scolopacidae) a voz galinhola, comum à Galiza e a Portugal (deste modo, a denominaçom arceia passa, nesta proposta, para a condiçom dialetal, ou para o estatuto de «denominaçom nom preferente»); quanto às espécies dos géneros Gallinago e Lymnocryptes, da mesma família, e designados por narceja em Portugal, as denominaçons vernáculas registadas na Galiza que nos constam som agacha, aguaneta, arceúcha, becacina e cabra-do-ar (cf. Miguel A. Conde Teira. 1999. «Nomes galegos para as aves ibéricas: lista completa e comentada». Chioglossa, 1: 121?138). O ornitólogo Miguel A. Conde Teira propom no trabalho citado priorizarmos em galego a denominaçom becacina, como a mais estendida na Galiza atual, mas nós nom concordamos com tal proposta, já que, como o próprio autor reconhece (pág. 132 ibidem), tal nome «procede moi probablemente do francés becassine, a través do español becacina, por difusión entre cazadores». Perante esta circunstáncia, e dado que o resto de denominaçons vernáculas registadas na Galiza para Gallinago tenhem (muito) pouca difusom, em O Modelo Lexical Galego, conforme os critérios expostos no capítulo correspondente à variaçom geográfica sem padronizaçom, a Comissom Lingüística propom a introduçom em galego, por coordenaçom com a varieade lusitana, da denominaçom narceja. (Neste ponto, também cabe reconhecer como sugestivo, embora menos prático do que o recomendado, um esquema designativo em que arceia designasse Scolopax rusticola, e arceúcha, diminutivo de arceia, as espécies dos géneros Gallinago e Lymnocryptes).
2. Naturalmente, no padrom lexical do galego-português da Galiza nom podemos dar cabimento ao adjetivo galego com o sentido de ?pequeno? nas denominaçons vernáculas de organismos. Portanto, recomendamos os seguinte nomes vernáculos para as espécies de aves (escolopacídeos) aqui analisadas:
Nome científico e nome vernáculo na Galiza (entre parênteses, o nome vernáculo em Portugal)
Scolopax rusticola: galinhola (galinhola)
Gallinago gallinago: narceja (narceja)
Gallinago media: narceja-real (narceja-real)
Lymnocryptes minimus: narceja-pequena (narceja-galega)
3. No caso da designaçom das aves do género Anthus (fam. Motacillidae), dado que a voz pica tem umha extensom na Galiza muito reduzida, propomos como denominaçom vernácula galega preferente a resultante de convergirmos com a soluçom lusitana, i. é, petinha, ficando relegada, entom, pica à condiçom de «denominaçom nom preferente» (na notaçom de O Modelo Lexical Galego, PLGz: petinha > pica). Neste contexto, diga-se que, no caso de divergência terminológica entre Portugal e o Brasil, preferiremos na Galiza, em geral, e aplicando um critério de proximidade geográfica, cultural e lingüística, a soluçom lusitana.
CONSULTA:
Gostaria de conhecer a recomendaçom da Comissom sobre o topónimo Póvoa/Povra. Som das formas que o castelhano substitui na Galiza historicamente em nomes de vilas e que recentemente foram recuperadas como Pobra. As formas antigas eram Pobla, Proba e Pobra. Já que em Portugal hai topónimos menores Prova (Viseu) ou Quinta da Prova (Arcos de Valdevez), e na Galiza ainda hai algumha Póvoa, qual seria o topónimo correto? Póvoa do Brolhom? Prova? Povra? Obrigado!
Rudesindo Bombarral
RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:
A Comissom Lingüística, na sua lista toponímica (inclusa no Prontuário Ortográfico Galego), assinala como única forma recomendável Póvoa (Póvoa de Brolhom, Póvoa de Trives, Póvoa do Caraminhal, etc.). Ainda que na documentaçom medieval galega se registem ocasionalmente formas como Pobra (~ Povra) ou Proba (~ Prova), tais formas devem ser conceituadas como dialetais e arcaicas (e até possivelmente influídas polo castelhano), cujo registo ocasional nom deve empecer a utilizaçom contemporánea da voz galego-portuguesa genuína, de formaçom romance regular e caráter supradiletal Póvoa (coerente com as vozes romances povo, povoar e povoaçom). Da mesma maneira que hoje, num exemplo hipotético, nom duvidaríamos em oficializar a forma toponímica galega Cidade Real, com o componente genérico contemporáneo cidade, e nom a arcaica Cibdade Real, ou a arcaica-castelhanizante Cibdá Real (por muito que estas surgissem ocasionalmetne na documentaçom medieval), também hoje nós devemos canonizar unicamente na Galiza os topónimos com o formante Póvoa (em relaçom a esta questom toponímica, recomendamos a leitura do artigo «A prova, definitiva, do Caraminhal», de João Guisán Seixas, publicado no número 29, ano 1992, da revista Agália).
Categoria(s): Léxico, Morfossintaxe
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CONSULTA:
Qual é a escrita recomendada em galego para o nome desta festa? O nome em irlandês antigo (Samain), o nome em irlandês moderno (Samhain) ou uma adaptação trocando o -n por um -m (Samaim/Samhaim)? Obrigado!
Jon Amil
RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:
Para já, diga-se que, no caso de se querer celebrar o 31 de outubro, a véspera do dia de Santos, com ritos ou atividades como rondar ou dançar sob disfarce (de bruxa, de feiticeiro ou de outras personagens fantásticas?), esvaziar e esburacar abóboras para nelas colocar velas bruxuleantes, etc., nom fai falta invocar ou importar tradiçons alheias à Galiza: chega, simplesmente, com revitalizar as tradiçons (rurais) associadas ao dia e ao mês de Santos e aos magustos!
Ora, quanto à questom concreta posta polo amável consulente, a resposta é simples: trata-se, em galego, de estrangeirismos que ainda nom estám plenamente naturalizados, polo que devem ser reproduzidos, em tipo itálico, com a grafia original, quer seja esta Samain (irlandês antigo) ou Samhain (irlandês moderno) ou Halloween (inglês). De resto, a festa de raízes célticas conhecida e celebrada nos países anglo-saxónicos como Halloween, pode designar-se em galego-português, conveniente e castiçamente, polo nome de Dia das Bruxas.
Categoria(s): Léxico
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CONSULTA:
Olá! Nom tenho claros os usos do futuro do conjuntivo e do infinitivo conjugado. Mais do que umha explicaçom gramatical, agradecia algum tipo de regra fácil ou exemplo claro dos usos corretos. Muito obrigado e parabéns por este magnífico consultório!
Pascoal Gonçalves
RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:
Dado que aqui nom dispomos de muito espaço para atender o pedido que nos fai o amável consulente, neste caso vamos proceder da seguinte maneira: em primeiro lugar, vamos recomendar-lhe umha série de obras de consulta (todas, em geral, de orientaçom didática), e as páginas correspondentes, em que poderá encontrar valiosa informaçom sobre os usos do infinitivo flexionado e do futuro do conjuntivo; em segundo lugar, vamos oferecer-lhe umha sinopse, muito concisa e baseada em exemplos, do uso do futuro do conjuntivo, por se tratar da forma verbal, entre as duas citadas, de uso mais facilmente sistematizável.
Em relaçom ao uso do infinitivo flexionado, será proveitosa a consulta, entre outras obras, da Nova Gramática para a Aprendizaxe da Lingua, de Xoán Xosé Costa Casas et al. (= NGAL), pág. 208?212; da Gramática da Lingua Galega. II Morfosintaxe, de Xosé Ramón Freixeiro Mato (= GLG), pág. 387?404; do Manual Galego de Língua e Estilo, de Maurício Castro, Beatriz Peres Bieites e Eduardo Sanches Maragoto (= MGLE), pág. 158?161; de Do Ñ para o NH, de Valentim R. Fagim (= Ñ-NH), pág. 68?70, e do Manual de Galego Científico (2.ª ed.), de Carlos Garrido e Carles Riera (= MGC), pág. 468?483.
Em relaçom ao uso do futuro do conjuntivo, será proveitosa a consulta, entre outras obras, da NGAL, pág. 202?203; da GLG, pág. 359?370; do MGLE, pág. 155?157; de Ñ-NH, pág. 64?67, e do MGC, pág. 448?453.
Vejamos, a seguir, umha breve exposiçom sobre o uso em galego do futuro do conjuntivo.
O futuro do conjuntivo denota umha açom nom real situada no futuro, a qual é anterior a um referendo situado também no futuro. O futuro do conjuntivo nom se usa nunca como forma autónoma, ocorrendo em oito tipos de cláusulas subordinadas (v. infra), de modo que ele aparece em correlaçom com verbos, situados na cláusula principal, em futuro ou em presente (do indicativo, do conjuntivo ou do imperativo) e nom pode utilizar se em oraçons puramente hipotéticas do tipo «Se a populaçom fosse constituída por um milhom de indivíduos, haveria 20.000 representantes do alelo no fundo génico», em que a correlaçom se estabelece entre o potencial (cláusula principal) e o pretérito do conjuntivo (cláusula subordinada).
Os oito tipos de cláusulas em que pode ocorrer o futuro do conjuntivo som:
cláusulas concessivas duplas, nas quais o futuro do conjuntivo surge associado ao presente do conjuntivo: «Seja como for, resolveremos o problema»;
cláusulas relativas: «Recomendamos que volte ao seu óptico para substituir as lentes de contacto na data que lhe indicar»;
cláusulas condicionantes: «Se quigerdes, reato a explicaçom»;
cláusulas circunstanciais temporais: «Quando vinher, mostra-lho»;
cláusulas circunstanciais locativas: «Situa o projetor onde ela che dixer»;
cláusulas circunstanciais modais: «Proceda conforme o técnico lhe indicar»;
cláusulas circunstanciais comparativas: «Grite tanto como puder», e
cláusulas circunstanciais intensificantes-proporcionais: «Quanto maior for o número de indivíduos AA, menor será a freqüência de a».
Categoria(s): Morfossintaxe
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