AUTHOR: CL TITLE: Terminaçom -vel BASENAME: terminacom-lemg-vell-emg DATE: Wed, 16 Dec 2015 16:59:21 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Ortografia CATEGORY: Fonética TAGS: , , , , ----- BODY:

CONSULTA:

Pergunto-me, na minha ignoráncia das questons etimológicas e ortográficas, por que é que os adjetivos derivados de -bilis latino se escrevem com v na ortografia galego-portuguesa. Quer dizer: por que horrível e nom horríbel. Obrigado!

Casdeiro

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A ortografia galego-portuguesa di-se que é histórico-etimológica, porque a sua fundamentaçom é dupla: por um lado, ela baseia-se, como norma, na etimologia, polo que, na maior parte dos casos, o modo de escrever hoje as palavras reflete a grafia que as suas antecessoras tinham (em latim), mas, por outro lado, a grafia de algumhas palavras galego-portuguesas atuais aparta-se da grafia primitiva, presente no étimo latino, por causa de alteraçons sofridas ao longo da história da língua vernácula. Este é, de facto, o caso do sufixo -´vel, morfema que, proveniente do étimo latino -bilis, escrito com bê, se escreve em galego-português com uvê (pronunciado hoje como [v] nos padrons lusitano e brasileiro, e como [b] no padrom galego), por tal elemento ter sofrido tal mutaçom na fase medieval da língua (já no séc. XIII se abonam as formas estável e móvel, e no século XIV, durável e possível).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: De novo sobre castelhano e castelao BASENAME: title-815 DATE: Sun, 29 Nov 2015 20:26:03 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: castelao, casteleiro, castelhano, cavaleiro, cavalheiro, faina, grade, labor, reixa ----- BODY:

CONSULTA:

Por que na normativa nom se utiliza a forma castelám para designar a língua originada em Castela, cando a palavra é usada em certas zonas da Galiza? Já sei que há umha palavra que se escreve igual mas tem outro significado, mas esta tem outras variantes (casteleiro). Quer dizer, poderiam usar-se as duas formas, e no contexto de que o senhor do castelo seja de origem castelá, escrever casteleiro como substantivo.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Transcrevemos a seguir um trecho de O Modelo Lexical Galego, da Comissom Lingüística da AGAL (2012: 84-85), onde se trata a questom posta polo amável consulente:

Os castelhanismos aditivos coordenados enriquecem o léxico galego-português ao estabelecerem em relaçom com certas palavras patrimoniais (as quais eles nom venhem a substituir, mas a complementar) umha matizaçom ou especializaçom semántica útil, polo que também se revela de grande interesse proceder a incorporá-los ao léxico galego normativo. Assim, por exemplo, de harmonia com os padrons lusitano e brasileiro, em galego utilizará-se, por um lado, a voz patrimonial castelao (séc. XIII), sujeita a substituiçom na atual Galiza, para denotar ?o senhor de um castelo?, e, por outro lado, a voz de origem castelhana castelhano (incorporada ao luso-brasileiro no séc. XV) para denotar ?o natural de Castela? ou ?a língua de Castela?.

Outros casos similares som os seguintes:


A este trecho, também acrescentamos, como resposta ao nosso amável consulente, o facto de a voz casteleiro -a, de natureza adjetival, designar, nom o senhor de um castelo, mas ?relativo a castelo?.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Cenoira ou cenoura; lavadoiro ou lavadouro? BASENAME: cenoira-ou-cenoura-lavadoiro-ou-lavadouro DATE: Sun, 29 Nov 2015 19:42:21 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: ancoradoiro, bebedoiro, casadoiro, cenoira, cenoura, comedoiro, embarcadoiro, escondedoiro, fervedoiro, lavadoiro, matadoiro, miradoiro, oiro, ouro, paradoiro, respiradoiro, sumidoiro, varredoiro, vindoiro ----- BODY:
Outro exemplo da histórica alternáncia dos ditongos oi (oiro) e ou (ouro) em Portugal, ainda hoje instáveis

CONSULTA:

Como deveríamos dizer na língua culta, cenoura e lavadoiro, cenoira e lavadoiro, ou cenoura e lavadouro? Muito obrigado!

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Na variedade galega do galego-português, deve utilizar-se a forma lavadoiro e, de preferência, cenoura, ainda que também seja correta a variante cenoira. Para justificar estas escolhas, temos de considerar as alternativas lavadoiro ~ lavadouro, por um lado, e cenoira ~ cenoura, por outro.

Quanto ao primeiro caso, diga-se que, como derivado patrimonial da terminaçom latina ?orius (-oria, -orium), presente em adjetivos, ou como derivado de nomes latinos provindos de particípios de futuro (tipo nasciturus, -a, -um ?o que irá nascer?), surge em galego-português, entre os séc. XIII e XV, o sufixo ?doiro, que forma substantivos que indicam o local onde se realiza a açom expressa polo verbo (ex.: lavadoiro ?local onde se lava (roupa)?) ou adjetivos que indicam a noçom de particípio de futuro (ex.: casadoiro ?que está na idade de casar, que casará?). Posteriormente ao séc. XV, nas variedades lusitana e brasileira da língua, mas nom, em geral, na galega, o sufixo ?doiro passa a ser substituído, em larga medida, pola forma ?douro. Portanto, na variedade galega do galego-português, temos hoje, em geral, unicamente -doiro (exceto no extremo SO da Galiza, onde si se produziu a passagem de -doiro para -douro), enquanto que em lusitano e em brasileiro predomina ?douro sobre ?doiro (em paralelo com coiro [Gz] / couro [Pt+Br]): ancoradoiro, bebedoiro, casadoiro, comedoiro, embarcadoiro, escondedoiro, fervedoiro, matadoiro, miradoiro, paradoiro, respiradoiro, sumidoiro, varredoiro, vindoiro? e, também, lavadoiro.

Já o caso de cenoura ~ cenoira é diferente, porque o étimo é, agora, árabe, e porque a naturalizaçom da palavra em galego-português só se produz no século XV ou XVI, quando o galego inicia os Séculos Obscuros e já nom tem capacidade efetiva para incorporar neologismos de forma autónoma. Portanto, a denominaçom vernácula da planta Daucus carota temos de a habilitar agora em galego por via erudita, e, naturalmente, de harmonia com o lusitano e com o brasileiro, e a forma mais prática de o fazermos é adotando em galego a variante principal, mais habitual, em lusitano e em brasileiro, que é cenoura (embora a variante cenoira também seja admitida).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Galhas, galhos e bugalhos BASENAME: galhas-galhos-e-bugalhos DATE: Sun, 29 Nov 2015 19:01:36 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: bugalho, , galha, galho, noz de galha ----- BODY:
Galho de carvalho cheio de bugalhos, também conhecidos por cecídios ou (nozes de) galhas na linguagem especializada

CONSULTA:

Como se diria em galego o port. galha, ing. gall, cast. agalla (formaçom grossa nas raízes das plantas produzida por parasitas), aposta a bugalho, excrescência das folhas produzida também por parasitas, tendo em conta que galha em galego comum da Galiza é ?ramo, póla?. Obrigado!

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Para denominar as neoformaçons de tecido vegetal que apresentam aspeto variado, mas freqüentemente esférico e engrossado, causadas pola açom de organismos parasitas, como bactérias, fungos, insetos, etc., o galego-português dispom de um termo de especialidade de origem grega: cecídio. Para designar em concreto o cecídio globular induzido por parasitas no carvalho, pode também utilizar-se o vocábulo culto noz de galha, simplificável em galha, e o vocábulo popular (supradialetal) bugalho (galha também se pode aplicar, informalmente, a qualquer cecídio). Em todo o caso, no modelo de galego culto e especializado que patrocina a Comissom Lingüística da AGAL, o uso da voz galha com o sentido de ?cecídio (do carvalho)? nom colide com galha ?ramo de árvore?, dado que, nesse modelo lexical culto, galha ?ramo de árvore? é conceituado, de harmonia com os padrons lexicais lusitano e brasileiro, como elemento dialetal, frente ao supradialetal galho ?ramo de árvore?.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: O uvê de haver BASENAME: o-uve-de-lemghaverl-emg DATE: Thu, 15 Oct 2015 08:51:31 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Fonética CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Cal é a causa etimológica de que haver se escreva com v?

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A ortografia galego-portuguesa di-se que é histórico-etimológica, porque a sua fundamentaçom é dupla: por um lado, ela baseia-se, como norma, na etimologia, polo que, na maior parte dos casos, o modo de escrever hoje as palavras reflete a grafia que as suas antecessoras tinham (em latim), mas, por outro lado, a grafia de algumhas palavras galego-portuguesas atuais aparta-se da grafia primitiva, presente no étimo latino, por causa de alteraçons sofridas ao longo da história da língua vernácula. Este é, de facto, o caso de haver, voz que, proveniente do étimo latino habere, escrito com bê, se escreve em galego-português com uvê (pronunciado hoje como [v] nos padrons lusitano e brasileiro, e como [b] no padrom galego), por a palavra ter sofrido tal mutaçom na fase medieval da língua (já em 1012 se abona a forma avemus, e no século XIII, haver).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Galiza ou Galiça? BASENAME: galiza-ou-galica DATE: Thu, 15 Oct 2015 08:30:19 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Ortografia CATEGORY: Fonética TAGS: consoante xorda, , fricativa, iode, , razom, , sazom ----- BODY:

CONSULTA:

Nom é mais ajeitado dizer Galiça que Galiza? Já que o "ç" é produto da uniom de c + i, e na evoluçom desta palavra o que está a ocorrer é:

Callaecia / Gallaecia > Gallicia > Galiça

Sei que Galiza aparece em certos documentos medievais, mais nom é suficiente para justificar o termo, já que em muitas ocasions as palavras que aparecem nestes hoje escrevem-se diferente.

Obrigado

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A forma Galiza responde ao resultado esperado da evoluçom c ou t + iode em posiçom intervocálica em galego-português: fiducia > fiúza; iudicio > juízo; ratione > razom; satione > sazom, etc.

É verdade que, em circunstáncias aparentemente similares, pudo surgir umha consoante xorda (ratione > raçom), mas nom é o caso da forma que nos ocupa. A prática unanimidade dos registos medievais (e nom só) junto com a sobrevivência daquela forma, com fricativa sonora, na variante portuguesa, nom deixam lugar para dúvidas.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: «Vir a fazer» ou «vir fazer»? BASENAME: lvir-a-fazerr-ou-lvir-fazerr DATE: Thu, 08 Oct 2015 09:57:04 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Considera-se a construçom «vir + infinitivo» umha perífrase? Na documentaçom sobre perífrases nom a atopo. Si aparece a perífrase «vir + a + infinitivo», com carácter terminativo («Expressa umha acçom que se achega ao seu final»). Em qualquer caso, é aceitável o uso da forma com preposiçom a (vir + a + infinitivo) co mesmo valor que «vir + infinitivo»? Hai algumha norma ou documentaçom em que se basear para defender o uso correcto? Obrigado.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Umha das perífrases aspetuais do galego-português é a terminativa «vir + a + INFINITIVO», que apresenta umha açom como conclusom ou desfecho, enquanto que a construçom «vir + INFINITIVO» nom tem caráter perifrástico e, nela, o verbo vir funciona como verbo pleno, conservando o seu valor semántico de movimento. Considerem-se, entom estes dous exemplos:

«Esse estado cristalino nom se manifesta apenas nas substáncias que, nas condiçons do ambiente,
existem já em fase sólida, mas também naquelas que, existindo em fase líquida ou gasosa, nessas
mesmas condiçons, podam vir a solidificar [= ?acabar por solidificar?: perífrase terminativa].» (Cadernos de Iniciação Científica: 103)

«A casa que os Maias vieram [= Gz. vinhérom] habitar em Lisboa, no outono de 1875 [vinhérom habitar: deslocárom-se a Lisboa para a habitarem], era conhecida na vizinhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o Bairro das Janelas Verdes, pela [= Gz. pola] ?casa do Ramalhete?, ou simplesmente o ?Ramalhete?.» (Oraçom de início de Os Maias, de Eça de Queirós)

No entanto, tenha-se em conta que, quando na construçom nom perifrástica «vir + INFINITIVO» o verbo vir apresenta um valor figurado, no sentido de umha cousa ter surgido ou ter sido introduzida num dado ámbito, o significado global da construçom nom fica muito afastado do da perífrase supracitada, como testemunham os dous exemplos seguintes:

«Esta noçom, cuja validade é reafirmada polas novas conquistas da medicina, tem vindo revolucionar
certas ideias que pareciam definitivas sobre o comportamento terapêutico em face de afeçons
malignas, perante as quais todo o nossso empenho era de intervençom rápida, fosse qual fosse o estádio da sua evoluçom.» (Deuses e Demónios da Medicina: 38)

«Até à segunda metade do século XX, quase todas as crianças tinham tido estas doenças [sarampo, papeira]. A imunização veio alterar [= Gz. véu alterar] esta situação.» (Enciclopédia Médica da Família: 288)

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Além BASENAME: alem DATE: Sun, 20 Sep 2015 12:59:59 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Morfossintaxe TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Bom dia.

Queria saber qual é a origem da palavra além. É uma palavra árabe? Muito obrigado.

Nunes

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A voz galego-portuguesa além (como a sua forma-irmá castelhana allende), apesar de começar por al-, nom provém do árabe, mas do latim, nomeadamente do étimo illinc 'dali, de acolá'.

Como se sabe, o rendimento em galego-português de além é muito alto, já que, ademais do seu valor semántico locativo (enquanto advérbio), a voz também pode funcionar como substantivo, com o significado de 'o mundo dos espíritos' (o além; cf. além-túmulo) e fai parte das locuçons além de e para além de, de valor somativo.

Assim, por exemplo, além apresenta valor locativo em «A província romana da Gallaecia estendia-se (mais) além da cidade de Leom»; valor somativo em «(Para) além de inteligente, é pessoa de grande cultura».

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Topónimos de Salzeda de Caselas BASENAME: toponimos-de-salzeda-de-caselas DATE: Thu, 13 Aug 2015 11:20:06 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Ortografia CATEGORY: Fonética TAGS: ----- BODY:
Restos do antigo Castelo de Toronha em Entença

CONSULTA:

Venho por este meio solicitar algumas informações no que diz respeito aos nomes das freguesias do Concelho onde moro actualmente, dada a confusão que ainda existe. Os nomes são: Entenza, Parderrubias, a Picoña, San Xurxo, Budiño e Soutelo.

Obrigado desde já pela resposta.

Sérxio

RESPOSTA DA COMISSOM LINGUÍSTICA:

A ortografia correta desses topónimos (entendemos que o consulente está a perguntar em relaçom à forma como devem escrever-se), estabelecida pola CL da AGAL através do programa informático TOPOGAL (atualmente indisponível on-line), é a seguinte: Entença, Parderrúvias, Piconha (a), Sam Jurjo, Budinho e Soutelo.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Tempos compostos BASENAME: title-799 DATE: Wed, 22 Jul 2015 12:35:16 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: , , , , presente do indicativo, ----- BODY:

CONSULTA

Olá! Desejo saber se existem tempos verbais compostos em galego, como existem em português. É estranho ver no paradigma verbal do galego oficial não aparecerem tempos como o pretérito perfeito (tenho cantado) ou o condicional composto (teria cantado). Assumindo que vocês utilizam o mais-que-perfeito simples (eu cantara), como exprimem os outros tempos? Trata-se duma menor riqueza verbal do galego face ao português? (Isso não seria nenhuma tragédia; há línguas românicas que têm simplificado muito o seu sistema verbal, por exemplo o francês e o romeno). No caso de vocês utilizarem tempos compostos, gostaria de saber que verbo utilizam como auxiliar (ter ou haver) e em que tipo de frases. Agradeceria muito me resolverem a minha dúvida.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Antes de mais, diga-se que para nós nom se trata de umha questom de gramática do galego face «ao português», mas antes de umha questom gramatical da variedade galega (do galego-português) em comparaçom com a variedade lusitana e com a variedade brasileira. Diga-se também à partida que a Comissom Lingüística da AGAL ainda nom se tem pronunciado de forma explícita e específica sobre a codificaçom gramatical ou morfossintática da variedade galega do galego-português (como si o tem feito nos campos da ortografia, da morfologia, do léxico), embora sim podamos oferecer agora umhas orientaçons gerais sobre a matéria por que se interessa o nosso consulente.
A resposta da CL-AGAL à questom posta é simples: se bem que no galego espontáneo, popular (multissecularmente sujeito a estagnaçom e erosom expressivas), os tempos verbais compostos, também designáveis como perífrases verbais aspetuais de estrutura «ter + particípio», sejam raros, a língua formal, culta, deve incorporá-los abertamente, conforme o modelo luso-brasileiro, para enriquecer a sua expressividade. Nomeadamente, polo que di respeito aos seguintes valores (consultem-se, a este respeito, as pág. 495?500 da segunda ediçom do Manual de Galego Científico, de Garrido e Riera [2011]):

? Perífrase aspetual perfectivo-reiterativa e atualizadora (de estrutura «ter [como presente do indicativo] + particípio»): «A nossa equipa de investigaçom tem feito a experiência com diversos animais de laboratório sem obter qualquer resultado significativo.»; «Como tés estado? Tenho estado muito mal, tenho estado doente.»

? Perífrase aspetual (puramente) perfectiva «ter + particípio»: «É curioso que nom tenham sido descobertos mais depósitos»; «Pensa-se terem sido os orientais os primeiros povos verdadeiramente entendidos na confeçom de medicamentos.».

Apenas duas restriçons, nom absolutas, à incorporaçom destes tempos verbais compostos, ou perífrases verbais aspetuais, ao galego formal: a) pola grande vitalidade e expressividade que mostra em galego o pretérito mais-que-perfeito (eu cantara), poderá limitar-se ou evitar-se na nossa variedade lingüística o uso da perífrase aspetual perfectiva «ter + particípio» em que o auxiliar surge em pretérito imperfeito. Assim, enunciados lusitanos ou brasileiros do tipo «Nunca antes tinha assistido a um congresso de Geofísica», em galego estám bem formulados, também na língua formal, com enunciados do tipo «Nunca antes assistira a um congresso de Geofísica»; b) a perífrase aspetual perfectiva pode construir-se em lusitano e em brasileiro com o auxiliar haver, em vez de ter, possibilidade realizada com certa freqüência na expressom formal; em galego, polo risco de tal proceder ficar associado a umha castelhanizaçom expressiva, recomendamos limitar ao mínimo, e sempre dentro da língua mais formal ou literária, essa possibilidade.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Fulmar BASENAME: title-797 DATE: Thu, 09 Jul 2015 10:30:02 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: aves, fulmarus, pardela, , pombalete, ----- BODY:
Fulmar-boreal, também conhecido por pardela-branca e pombalete nalguns pontos da Galiza e Portugal respetivamente

CONSULTA

Em galego-português usa-se às vezes a forma fulmar, com origem no inglês (a partir de falas nórdicas das ilhas Hébridas), para designar umha ave marinha que nom cria na Galiza mas que é comum no Gram-Sol. Recentemente o português recuperou a voz pombalete, usada em documentos dos bacalhoeiros na Terranova. Em galego conhece-se a denominaçom pardela-branca em vários portos da costa Norte. Qual deveria ser a voz recomendada na norma galega (no Brasil a espécie similar é chamada pardelão-prateado). Obrigado!

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

As pardelas ou procelariídeos do género Fulmarus som, em larga medida, exóticos em relaçom ao território galego, pois a espécie meridional, Fulmarus glacialoides, nidifica em volta da Antártida ?embora faga incursons em latitudes mais setentrionais?, e a espécie setetrional, Fulmarus glacialis, nidifica em regions subárticas ?embora faga incursons em latitudes mais meridionais?, polo que a sua designaçom vernácula calha, em princípio, no ámbito da estagnaçom e da suplência castelhanizante padecidas polo léxico galego. A esse respeito, a informaçom fornecida polo consulente de em território galego (ocasionalmente visitado polo Fulmarus glacialis) se registar a denominaçom vernácula popular pardela-branca é deveras interessante, mas achamos que, pola escassa difusom desse nome na Galiza, e pola sua natureza popular (nom erudita), ela nom refuta o que se acaba de dizer, nem invalida a reflexom que a seguir se expom.
Para combatermos a estagnaçom e suplência castelhanizante padecidas polo léxico galego, procedemos, por via de regra, a coordenar o galego com as suas variedades lusitano e brasileiro. Assim, neste caso, vemos que tanto em lusitano como em brasileiro, como denominaçom vernácula das espécies do género Fulmarus, a soluçom mais estendida e tradicional (na bibliografia) é fulmar, de caráter erudito (incorporada ao galego-português a partir de umha língua nórdica através do inglês), e menos estendidas som as soluçons vernáculas populares pombalete (lusitana) e pardelão-prateado (brasileiro) (embora pombalete seja usado, em referência a Fulmarus glacialis, nalgum guia de aves editado em Portugal [o de Svensson, Mullarney e Zetterström], e pardelão-prateado, em relaçom a Fulmarus glacialoides, por exemplo, na Lista das aves do Brasil editada em 2014 polo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos).
Nestas circunstáncias, o mais aconselhável parece ser designarmos em galego as aves do género Fulmarus com a denominaçom vernácula (erudita) que é comúm aos ámbitos lusitano e brasileiro, que é neles mais tradicional (ainda hoje largamente utilizada em todo o tipo de publicaçons) e que harmoniza com as soluçons doutras línguas próximas (ingl. fulmar, fr. pétrel fulmar, cast. fulmar, cat. fulmar). Assim, portanto, em galego recomendamos utilizar as denominaçons vernáculas fulmar-boreal, para denotarmos Fulmarus glacialis, e fulmar-austral para Fulmarus glacialoides.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Pataca-doce BASENAME: pataca-doce DATE: Wed, 01 Jul 2015 00:18:06 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: batata, pataca ----- BODY:

CONSULTA:

Existe um projeto para produzir biocombustíveis em Bergantinhos baseado na produçom daquilo que em textos galegos de jornais digitais se chama batata, mas qual seria o nome desta espécie para diferenciá-la da batata (pataca em galego doutras zonas)? Obrigado!

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A resposta à pergunta do amável consulente é pataca-doce.

Na norma lexical da variedade galega do galego-português definida pola Comissom Lingüística da AGAL, o tubérculo comestível da solanácea Solanum tuberosum recebe a denominaçom pataca (planta: pataqueira), correspondente à voz lusitana e brasileira batata (planta: batateira) (cf. O Modelo Lexical Galego: 209). Por outro lado, a planta convolvulácea Ipomoea batatas, por cuja designaçom vernácula galega se interessa o nosso consulente, originária dos Andes e produtora de raízes tuberosas de alto teor em açúcar, utilizadas na alimentaçom e na produçom de álcool, designa-se nas variedades lusitana e brasileira da nossa língua por batata-doce (também batata-da-terra, batata-da-ilha, jatica e jetica). Esta denominaçom luso-brasileira da Ipomoea batatas, também aplicada ao seu tubérculo comestível, baseia-se, evidentemente, na similitude deste com a pataca (luso-br. batata).

Como a designaçom galega da planta Ipomoea batatas e do seu tubérculo calham dentro do ámbito da estagnaçom e da suplência castelhanizante padecidas polo léxico galego (conceito chegado à Europa com posterioridade ao início na Galiza dos Séculos Obscuros, séc. XVI), para habilitarmos em galego a correspondente denominaçom vernácula, adotamos a estratégia da coordenaçom com o léxico luso-brasileiro (cf. O Modelo Lexical Galego: 140-145). Deste modo, a denominaçom lusitana e brasileira batata-doce serve de modelo para a denominaçom galega pataca-doce, por nós recomendada (cf. al. Süßkartoffel, fr. patate douce, ingl. sweet potato).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Norma da AGAL BASENAME: norma-da-agal DATE: Fri, 05 Jun 2015 11:57:43 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Ortografia CATEGORY: Fonética CATEGORY: Morfossintaxe TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Ultimamente observo que algum reintegracionista escreve o galego incorporando à norma da AGAL a terminaçom -ão de forma constante (por exemplo: capitão, canção). Que opiniom tem sobre este assunto a Comissom Lingüística da AGAL? Obrigado.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A propósito da questom posta polo amável consulente, a Comissom Lingüística da AGAL (CL-AGAL) deseja fazer constar, em primeiro lugar, o seu respeito e consideraçom por todas as pessoas que fam do galego o seu veículo expressivo e de cultura, com independência da norma em cada caso adotada, e, com mais razom ainda, por todas aquelas pessoas que, também com independência das opçons gráficas concretas por elas realizadas, pautam os seus usos (escritos) do galego --contra vento e maré, nesta Galiza ainda dominada pola intoleráncia normativa-- conforme a filosofia reintegracionista, a mais comprometida com a emancipaçom da língua autóctone da Galiza.
Ora, dito o anterior, a CL-AGAL também deve manifestar que, no quadro dos usos escritos de sinal reintegracionista, nom acha conveniente, antes, polo contrário, suscitador de confusom, o comportamento gráfico descrito polo nosso consulente, ou seja, incorporar ao modelo gráfico da CL-AGAL, por iniciativa individual, a terminaçom -ão de forma irrestrita, ou, por outras palavras, «misturar» nalgum grau (variável conforme o utente concreto) a norma galega da CL-AGAL com a norma lusitana (ou brasileira).
A CL-AGAL acha tal proceder inconveniente, em primeiro lugar, porque ele pode suscitar confusom e desorientaçom em muitos utentes da língua, já que a realizaçom de tais escolhas gráficas individuais e improvisadas pode transmitir a falsa ideia de que o galego reintegrado, a variedade galega do galego-português, em claro contraste com o lusitano, com o brasileiro e com o castelhano, nom dispom hoje de referência normativa estável, de uns usos (gráficos) bem codificados, e pode grafar-se segundo o parecer de cada utente. Por isso, devemos exortar os utentes reintegracionistas do galego-português da Galiza a manterem, em benefício da eficácia comunicativa, umha mínima disciplina ou lealdade normativa, com a razoável perspetiva de que entre a norma galega da CL-AGAL e a norma lusitana (também utilizada por galegos para grafarem na Galiza a nossa língua) nom deve surgir umha confusa pluralidade de «passos intermédios» individualmente improvisados.
Em segundo lugar, a CL-AGAL acha conveniente refletir na escrita a realizaçom diferencial que na generalidade dos falares galegos se regista entre a terminaçom -ám (ex.: capitám) e a terminaçom -om (ex.: cançom) --e também -ao: irmao [*]--, pois é expediente plenamente legítimo, perfeitamente natural e, na atualidade, o mais pedagógico e estratégico (v. infra).

1. Com efeito, refletirmos na escrita do galego-português da Galiza o contraste nele existente entre a terminaçom -ám (ex.: capitám) e a terminaçom -om (ex.: cançom) é legítimo porque tal fenómeno, de natureza morfológica, está presente em todos os falares galegos e nom é devido à interferência do castelhano, mas à manutençom da situaçom originária, já plasmada graficamente no galego-português medieval. Por seu turno, em lusitano e em brasileiro, a partir da situaçom original de contraste descrita, no século XVI produziu-se umha confluência na realizaçom fónica dessas terminaçons, para [ãw], o que véu a refletir-se numha representaçom gráfica comum, a terminaçom -ão (capitão, canção)*.
2. Refletirmos na escrita do galego-português da Galiza o contraste nele existente entre a terminaçom -ám (ex.: capitám) e a terminaçom -om (ex.: cançom) --e também -ao: irmao-- é o mais natural porque este traço contrastivo, que é de caráter morfológico (nom puramente gráfico), tem considerável entidade, e nom o refletirmos na escrita do galego acarreta incoerência interna. É verdade que a relaçom entre fonemas e grafemas nom tem de ser necessariamente de tipo 1:1 (biunívoca) e que, de facto, a norma galega da CL-AGAL, em benefício da coordenaçom galego-portuguesa, já apresenta casos de relaçom 1:2 (assim, o facto de o fonema [s], conforme os casos [e de acordo com a etimologia!], se representar por esse simples e por esse duplo) e, mesmo, de relaçom 2:1 (assim, os fonemas e e o abertos e fechados detenhem a mesma representaçom escrita, respetivamente, e e o), mas estes casos nom determinam qualquer incoerência interna, como si o fai grafar em galego do mesmo modo, segundo o modelo luso-brasileiro, as terminaçons -ám e -om (como -ão):

norma galega da CL-AGAL: A JULGARMOS POLO SOM, SOM SAM PEDRO E SAM PAULO.
norma lusitana aplicada ao galego: A JULGARMOS POLO SOM, SÃO SÃO PEDRO E SÃO PAULO.

3. Além disso, refletirmos na escrita do galego-português da Galiza o contraste nele existente entre a terminaçom -ám (ex.: capitám) e a terminaçom -om (ex.: cançom) --e também -ao: irmao-- representa umha medida pedagógica, que nas atuais circunstáncias socioculturais da Galiza facilita a escrita e a leitura do galego-português e permite difundir eficazmente a realizaçom fónica correta de palavras perdidas ou nom surgidas em galego e que este deve hoje incorporar a partir do luso-brasileiro, como alçapom (nom *alçapám; luso-br. alçapão), leilám (nom *leilom; luso-br. leilão) e porao (nom *porám, nem *porom; luso-br. porão).

4. Por último, mas nom menos importante, refletirmos na escrita do galego-português da Galiza o contraste nele existente entre a terminaçom -ám (ex.: capitám) e a terminaçom -om (ex.: cançom) constitui umha medida de caráter vincadamente estratégico, importantíssima na atual conjuntura sociocultural, em que a sociedade galega, ainda na sua grande maioria instruída unicamente em galego-castelhano, continua em larga medida ignorante da unidade lingüística galego-portuguesa e alheada da proposta reintegracionista.

É verdade que numha Galiza em que a unidade lingüística galego-portuguesa for, para todos os efeitos, socialmente assumida poderá ser conveniente codificar a variedade galega da língua omitindo na escrita, em confluência com o lusitano e com o brasileiro, o contraste -ám/-om, mas, polas razons de peso acima aduzidas, parece claro que, nesta altura, esse forçamento nom se revela vantajoso. A este respeito, e para concluirmos, devemos ter em conta, por um lado, que a padronizaçom das variedades nacionais das línguas europeias pluricêntricas, como o galego-português (e o alemám, castelhano, inglês...), justifica hoje a plasmaçom escrita da peculiaridade morfológica galega aqui focalizada, e, por outro lado, e frente a interpretaçons ingénuas hoje bastante estendidas, que a recente aplicaçom em Portugal do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 --ao qual, por sinal, também se adaptou a codificaçom ortográfica da CL-AGAL-- em nada altera as consideraçons acima tecidas, pois, evidentemente, os sólidos fundamentos (filológicos e sociolingüísticos) que sustentam a codificaçom do galego-português da Galiza efetuada pola CL-AGAL (com inclusom do contraste gráfico entre as terminaçons -ám e -om!) em modo algum se vêem abalados ou enfraquecidos polo facto de em Portugal, e em virtude da aplicaçom de tal Acordo Ortográfico, a palavra actividade vir a ser escrita, agora, como atividade.

NOTA

(*) Na norma galega da AGAL, e sem alterar a pronúncia, as palavras de tipo irmao (cirurgiao, cristao, verao...) também se podem escrever com til (irmão, cirurgião, cristão, verão). Naturalmente, o que neste parecer da CL-AGAL se explica nom afeta o uso facultativo do til previsto na norma galega da AGAL (em casos como, além de irmão, corações, maçã, põe).

(**) Ilustraçom do que se acaba de dizer vê-se no provérbio português «Quem rouba um pão é ladrão; quem rouba um milhão é barão», o qual, dito em galego, fica um tanto desluzido pola perda de ligaçom fónica entre pam e ladrom (umha adaptaçom possível para o galego seria, entom, «Quem rouba um lacom é ladrom; quem rouba um milhom é barom»).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Trabalhar "a reu" BASENAME: trabalhar-a-reu DATE: Thu, 09 Apr 2015 08:49:45 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Fonética TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Acho no Estraviz a forma "arreio" como advérbio temporal ou modal com significado de "sucessivamente, em escolher, em fila, etc". No entanto, tal ortografia nom é abonada polo Houaiss e outros dicionários que apontam para "a réu", embora nom dêem etimologia certa. Nom seria razoável unificar critérios e optar pola proposta comum?

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A respeito da correta grafia em galego do advérbio ou locuçom adverbial arreio / arreu (~ arréu) ou a reio / a reu (~ a réu), com o significado de ?sem parar, sem interrupçom?, cumpre apontar o seguinte:

1.- Trata-se, em galego-português, de um elemento lexical de origem castelhana (com raízes no catalám), desconhecido na atualidade no Brasil, de uso marginal em Portugal e pouco freqüente no galego espontáneo. Por tal motivo, a Comissom Lingüística nom aconselha a sua potenciaçom em galego.

2.- O dicionário Houaiss e o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa grafam o elemento vocabular em foco como a réu, embora, conforme os dados de que dispomos, o e se realize na Galiza com timbre fechado. Procurando a máxima harmonizaçom gráfica possível entre o galego e as suas variedades geográficas, aconselhamos, entom, para a Galiza a grafia a reu.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Particularidades galegas da conjugaçom verbal BASENAME: particularidades-galegas-da-conjugacom-verbal-3 DATE: Sun, 15 Mar 2015 13:54:48 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: , comeche, comeste, comi, comim ----- BODY:

CONSULTA:

Gostava de fazer duas perguntas quanto ao modelo de flexom verbal proposto pola AGAL (Manual Galego de Língua e Estilo). A primeira é a respeito da acentuaçom grave ou esdúxula da primeira e segunda pessoas de plural dos pretéritos imperfeito (cantavamos, cantavades) e mais-que-perfeito (cantaramos, cantarades) de indicativo. Sei que em português o mais comum é a acentuaçom esdrúxula (cantávamos), ainda que no norte, sobretodo nas zonas rurais, tenho escuitado muito também a forma grave (cantavamos). Na Galiza, porém, a forma mais tradicional e comum, exceto no norte de Lugo e no norte e oeste da Corunha, é a acentuaçom grave (cantavamos), ainda que a cada vez se ouve mais cantávamos, estou seguro que por influência do castelhano. Vejo que a AGAL quer padronizar a acentuaçom esdrúxula. Eu e a minha família sempre dixemos cantavamos, o qual eu vejo como a forma mais correta e 'galega' (e primitiva - do latim 'cantavámus, cantavátis'). Igualmente, a AGAL padroniza a forma cantaste como segunda pessoa do pretérito perfeito. Embora seja esta a forma primitiva em galego (do latim 'cantavisti'), é nos dias de hoje mui minoritária (face a outras variantes como cantaches ou cantache). Quais som as razons para estas escolhas? Podia-se dizer que o motivo é a harmonizaçom com o luso-brasileiro, mas entom, porque se mantem o -m final em partim ou dixem, quando também existem (minoritariamente) as formas parti ou dixe na Galiza? Parece-me umha contradiçom.

En qualquer caso, suponho que a ideia atrás de todo isto é que umha cousa é a escrita e outra a fala e que nom se lê ou fala necessariamente da mesma maneira que se escreve.

Obrigado polo vosso trabalho!

Xosé Buxán

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Em primeiro lugar, deve dizer-se ao nosso amável consulente que o Manual Galego de Língua e Estilo, embora escrito na norma da Comissom Lingüística da AGAL, e por três dos seus atuais membros (os professores Beatriz Peres Bieites, Eduardo Sanches Maragoto e Maurício Castro Lopes), nom é um texto codificador da CL-AGAL, por mais que desempenhe com grande eficácia umha útil funçom orientadora. Na realidade, a codificaçom da CL-AGAL no ámbito da morfologia verbal está contida no Guia Prático de Verbos Galegos Conjugados (1989), atualizado em 2013 polo que di respeito ao verbo traguer ou trazer (v. quadro da conjugaçom de traguer ou trazer na secçom «Textos normativos» do espaço internético da CL-AGAL).

Já quanto às questons concretas que pom o nosso consulente, diga-se, em primeiro lugar, que a CL-AGAL inclui na sua codificaçom morfológica tanto as formas verbais do tipo «tu cantache» como as do tipo «tu cantaste»; em segundo lugar, ao padronizar como formas verbais únicas as esdrúxulas do tipo «nós cantávamos», «nós cantáramos», a CL-AGAL nom fai senom aplicar o natural e prático critério geral de harmonizaçom do galego com as variedades lusitana e brasileira do galego-português, quando as variantes galegas legítimas e comuns com o luso-brasileiro nom forem nos falares galegos contemporáneos extremamente raras. Neste caso, é claro que no galego contemporáneo as formas ecuménicas do tipo «nós cantávamos», «nós cantáramos» nom som ilegítimas nem raras. Polo contrário, as formas do tipo «eu comi» som muito raras, marginais, no galego contemporáneo (apenas se registam nos Ancares orientais, no concelho da Mesquita ? comarca do Bolo ?, em lugares dos concelhos de Entrimo e Lóvios ? Vale do Límia ? e nos concelhos de Porto, Ermisende, Luviám e Pias), no qual se revela quase constante a ocorrência das formas legítimas do tipo «eu comim», com fonema nasal final.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Ruivo e vermelho, roxo e violeta... BASENAME: ruivo-violeta DATE: Wed, 04 Mar 2015 20:14:17 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Fonética TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Gostaria de saber qual é o significado preferível de roxo em galego, já que aparece com várias aceçons dos dicionários. Por outra parte, ruivo (ant. rúbio) é igual a vermelho na língua standard? Mui obrigado.

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

No galego espontáneo contemporáneo nom interferido polo castelhano e no padrom lexical galego patrocinado pola Comissom Lingüística da AGAL (bem como nos padrons lexicais lusitano e brasileiro), a voz ruivo (variante dialetal freqüente: rúvio) designa a cor do sangue humano ou de um tomate maduro, polo que, junto com encarnado, funciona como sinónimo (secundário) de vermelho (cf. papo-ruivo ?páxaro da espécie Erithacus rubecula? [sinónimo supradialetal: pisco(-de-peito-ruivo)], rabirruivo ?páxaro do género Phoenicurus?); por extensom, a voz ruivo aplica-se ao cabelo cuja cor tende para o vermelho, de tonalidade avermelhada (= cast. pelirrojo, ingl. red-hair(ed)).

No galego espontáneo contemporáneo, a voz roxo apresenta os significados de ?vermelho, ruivo?, ?louro, amarelado? e ?castanho-avermelhado?. O primeiro dos valores semánticos mencionados, se bem que nom seja por completo alheio à história da língua galego-portuguesa (cf. o arcaísmo Mar Roxo do português de Portugal, hoje Mar Vermelho), na Galiza é claro que ficou muito reforçado pola presença do castelhano rojo ?vermelho?. Dado que na atualidade nas variantes lusitana e brasileira do galego-português a voz roxo designa a cor violeta, e dado que o uso de roxo no atual galego espontáneo está muito interferido polo castelhano e, em qualquer caso, remete para diversos valores cromáticos, a Comissom Lingüística da AGAL aconselha a evitar o uso da voz roxo no ámbito galego (cf. O Modelo Lexical Galego: 181).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Oficina BASENAME: oficina DATE: Sat, 27 Dec 2014 15:40:27 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: atelier, workshop ----- BODY:

CONSULTA:

Qual seria a palavra adequada em galego para o equivalente do inglês workshop ou castelhano taller? Mui Obrigado.

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

O conceito ?sessom ou curso prático sobre algumha atividade ou tema?, designado em inglês polo termo workshop, é posterior ao século XV, polo que a sua designaçom calha em galego dentro do ámbito da estagnaçom lexical (e eventual suplência castelhanizante). Por conseguinte, conforme a codificaçom lexical da Comissom Lingüística da AGAL (plasmada em O Modelo Lexical Galego), a correspondente denominaçom em galego deve ser habilitada através da eventual expurgaçom do correspondente castelhanismo suplente (cast. taller) e da coordenaçom com os léxicos lusitano e brasileiro (e no caso de se registar divergência entre as soluçons lusitana e brasileira, com escolha, em geral, da soluçom lusitana).

No presente caso, as denominaçons utilizadas em Portugal som o galicismo atelier e o anglicismo workshop, enquanto que no Brasil se usa o anglicismo workshop e o vernaculismo oficina. Dado que as soluçons lusitanas som estrangeirismos sem adaptar, para a designaçom em galego do conceito em causa, como exceçom, devemos adotar a soluçom vernácula utilizada no Brasil, oficina (cf. nota 145, pág. 143 e 144, de O Modelo Lexical Galego), se bem que também, como soluçons secundárias, nom descartemos os internacionalismos atelier e workshop (escritos em itálico).

Observe-se que a Comissom Lingüística da AGAL nom é partidária, neste caso, de ressuscitar a voz galego-portuguesa obradoiro, como proponhem outras fontes. A razom é que, umha vez que a voz obradoiro, com o sentido de ?local ou estabelecimento onde se exerce um ofício (manual)? nom está presente, de forma significativa, no galego espontáneo contemporáneo (arcaísmo), nom vale a pena restaurarmos o seu uso social em detrimento da voz oficina, que é a unanimemente utilizada hoje nas variedades socialmente estabilizadas da nossa língua no supracitado sentido tradicional (oficina de mecánica do automóvel, oficina gráfica, oficina de farmácia), e que, entom, facilmente pode adquirir, e adquire, o sentido mais recente e derivado por que se interessa o nosso consulente.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Os preços, com vírgula BASENAME: title-755 DATE: Wed, 05 Nov 2014 20:36:59 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Fonética CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Boa noite,

Como se dizem corretamente os preços em galego? Por exemplo, «17,50 ?» é «dezassete vírgula cinqüenta euros», «dezassete com cinqüenta euros», «dezassete cinqüenta»? Obrigada!?

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Em galego-português, o início das casas dos decimais marca-se com a palavra vírgula, de modo que é possível, com efeito, ler a expressom «17,50 ?» como «dezassete vírgula cinqüenta euros» (mas nom mediante a fórmula castelhana *«com cinqüenta»); além disso, também é válida a leitura «dezassete euros e cinqüenta cêntimos».

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Carvalhim (o) BASENAME: carvalhim-o DATE: Tue, 28 Oct 2014 11:22:33 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Fonética CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

Tanto na placa da estrada como na própria legenda de foto deveria aparecer só Carvalhim, que se usa com o no galego-português comum e com el no galego local

CONSULTA:

Boa noite,

Como é que devem escrever-se em galego reintegrado topónimos que têm o artigo El no galego local? Por exemplo El Carvalhim em Negueira... Como é que se fai a contraçom? Vou a El Carvalhim ou vou al Carvalhim?

Obrigado

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Muitos topónimos galegos levam artigo, mas nengum tem. Isto quer dizer que o nome da localidade sobre a qual somos consultados é Carvalhim e nom O Carvalhim ou El Carvalhim, ainda que num contexto frásico esse topónimo, como muitos outros do ámbito galego-português, leve artigo:

A Corunha é longe.
Vivo no Porto.

Da mesma maneira que os anteriores, há muitos outros topónimos que levam artigo: quase todos os países e regions do mundo (p. ex. Alemanha, Brasil, Andaluzia) e muitas localidades galego-portuguesas (p. ex. Figueira da Foz, Barqueiro) e lusófonas em geral (p. ex. Rio de Janeiro). Porém, sempre que estas localidades aparecem numha placa indicadora da estrada ou num mapa, nom vam acompanhadas de artigo, porque, como qualquer outra palavra, necessitam de contexto frásico para o levar.

Assim, à seguinte lista de topónimos, que poderiam aparecer em qualquer mapa ou placa indicadora da estrada, correspondem os seguintes exemplos em que esses mesmos topónimos aparecem em contextos frásicos:

Brasil: Quem dixo que o Brasil fosse pequeno?
Alemanha: Tu pensas que na Alemanha admitem isso?
Andaluzia, Estremadura: O território da Andaluzia é maior que o da Estremadura.
Carvalhinho: Concelho do Carvalhinho.
Carvalhim (Fonsagrada): O lugar do Carvalhim fica na comarca da Fonsagrada.

Ora bem, pode acontecer que umha pessoa deseje repeitar a morfossintaxe local e escreva ?El lugar del Carvalhim fica na comarca da Fonsagrada?, ou seja, respeitando a forma do masculino singular do artigo tam característica das comarcas mais norte-orientais galegas. Nesse caso, o artigo el nom deveria apenas preceder o topónimo, mas qualquer outro substantivo que o exigir. A nossa Comissom nada tem contra isso, obviamente, embora se deva admitir que a forma padrom do artigo masculino é o.

Tenha-se em conta, no entanto, que os topónimos de origem castelhana que tenhem artigo (agora sim, tenhem) devem ser respeitados tanto num contexto frásico como fora dele (ex.: «vivo em Las Palmas», «La Paz [Bolívia]»).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Conseguim graças a ti, obrigado BASENAME: conseguim-gracas-a-ti-obrigado DATE: Wed, 07 May 2014 12:09:03 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: , , obrigado ----- BODY:
O agradecimento costuma ser a palavra (ou expressom) mais emblemática de cada língua

CONSULTA:

Considerando que no galego-português medieval se regista o uso da interjeiçom (muitas) graças, e nom de (muito) obrigado/a, como fórmula de agradecimento, e que hoje aquela está plenamente vigente na Galiza, há necessidade de incorporarmos agora ao galego (muito) obrigado/a?

Jorge Luazes

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A Comissom Lingüística da AGAL é firme partidária de padronizar no galego-português da Galiza a fórmula interjetiva (muito) obrigado/a como expressom de agradecimento. Em favor de tal opçom, pode aduzir-se:

1.- Nom é verdade, como afirma o amável consulente, que hoje em dia esteja plenamente vigente em galego a fórmula interjetiva de agradecimento do galego-português medieval graças, mas si a atual fórmula castelhana gracias. Polo contrário, umha fórmula interjetiva de agradecimento autóctone que si ocorre no galego espontáneo contemporáneo é beiçom, mas esta apresenta caráter marcadamente dialetal, puramente residual.

2.- À vista das anteriores circunstáncias, nom vale a pena investirmos esforços na expurgaçom de um castelhanismo (gracias) só para obtermos soluçons (graças ou beiçom) que, ainda que historicamente genuínas, hoje nos isolam em relaçom às variedades socialmente estabilizadas do galego-português, nas quais se utiliza unanimemente a fórmula interjetiva obrigado/a. Esta, relacionada com a seqüência ficar obrigado/a, no decurso de umha evoluçom lingüística autónoma de que o galego foi privado, véu substituir a fórmula interjetiva graças, relegando-a à condiçom de arcaísmo.

3.- Além disso, tenha-se em conta que, dentro do léxico de umha língua, é muito conveniente que se registe homogeneidade nas fórmulas de agradecimento, as quais, como acontece com as fórmulas de saudaçom, representam elementos vocabulares fundamentais, pola sua alta freqüência e polo seu papel chave nas trocas comunicativas e no relacionamento social.

Por todo o dito, e em conclusom, somos firmes partidários da socializaçom na Galiza, em galego, da fórmula (muito) obrigado/a como interjeiçom denotadora de agradecimento, de harmonia com o uso hoje socialmente consagrado nas restantes variedades do galego-português. (Isto, naturalmente, nada obsta à autoctonia e correçom em galego-português de locuçons nom interjetivas que incorporam a palavra graças, como graças a ou dar graças a [um ente superior]).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Dá-me o corpo que esta expressom é popular, mas correta BASENAME: title-708 DATE: Tue, 08 Apr 2014 12:04:52 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Fonética TAGS: palpite, pressentimento ----- BODY:

CONSULTA:

Boa tarde,

gostaria de consultar a expressom «dar o corpo» ou «dar no corpo» como sinónimo de «intuir». Qual das duas é a expressom correta? Ou som as duas? Que origem tem?

Parabéns polo vosso labor.

Obrigado

Óscar

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Como refere o amável consulente, a expressom popular dar [a alguém] o corpo utiliza-se com o sentido de 'pressentir qualquer cousa', como em «Dava-me o corpo que, desta vez, ia superar a prova». No mesmo sentido, também se pode recorrer às expressons ter um palpite ou ter um pressentimento.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Empada e empadinha BASENAME: empada-e-empadinha DATE: Fri, 14 Feb 2014 22:40:12 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: , empanada, empanadilha ----- BODY:
Diferentes formas da empada no mundo lusófono: ao fundo, a mais comum no Brasil e em Portugal, parecida com a empadinha da Galiza; à frente, a conhecida empada galega

CONSULTA:

No dicionário aparece a distinçom entre empada e empanada; porém, na oralidade nunca ouvim.

No Brasil a nossa empada é o empadão. E empada a empanadilla. Como devemos denominar na Galiza as empanadas? E as empanadillas?

Obrigado!

Diego

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Embora os dicionários luso-brasileiros registem as formas empanada e empanadilha para designar duas especialidades culinárias bem populares na Galiza, em galego nom podemos aceitar tais denominaçons, por serem claramente castelhanas, e nom galego-portuguesas (repare-se nos castelhanos n intervocálico e sufixo -ilha dessas formas). Por conseguinte, para designarmos em bom galego-português da Galiza as especialidades culinárias galegas cujos nomes castelhanos som empanada e empanadilla, recorreremos, respetivamente, às formas genuínas galego-portuguesas empada e empadinha

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Pegar e apanhar BASENAME: pegar-e-apanhar DATE: Tue, 11 Feb 2014 10:40:02 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Fonética CATEGORY: TAGS: colar, colher, pilhagem, pilhar ----- BODY:
O famoso hit brasileiro nom tem, logicamente, conotaçom violenta, mas erótica: pegar (mais comum no Brasil) significa apanhar ou agarrar (mais comuns na Galiza e Portugal)

CONSULTA:

Há alguma equivalência de pegar no sentido de apanhar uma pessoa? Pilhar é próprio de registos coloquiais? Doutro lado, que palavra recomendam para pegar no sentido castelhano (agredir) que não seja esta, talvez demasiado culta? Obrigado.


RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Em bom galego, e de harmonia com o luso-brasileiro, deve priorizar-se o uso do verbo pegar com o sentido de 'prender, agarrar' (ex.: «pegou o lápis» ou «pegou no lápis», «pegou o ladrom polo pé»), e deve utilizar-se, com o sentido de 'aderir', o verbo colar (ex.: «colar cartazes na parede»). O verbo colher deve reservar-se, maiormente, para traduzir o sentido de 'extrair, tirar, (re)coletar, colheitar' (ex.: «colher flores e frutos»), enquanto que apanhar tem o sentido geral de 'tomar, capturar, recolher do chao, segurar, surpreender alguém a fazer umha cousa', em usos como «apanhar água de um poço», «apanhar lenha», «apanhar o lápis do chao», «apanhar um táxi», «apanhou-nos a roubar», «a noite apanhou-me ainda a caminho», etc. Por outro lado, pilhar é voz relacionada com pilhagem («os soldados pilhárom e incendiárom o povoado»), e, como equivalente do cast. pegar 'agredir', em galego utilizamos bater ou espancar (ex.: «bater o tapete para lhe tirar o pó», «bateu-lhe com o cinto», «bateu no filho com sanha»,«professor foi espancado por dous alunos»).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: «Cambio» ou «troca»? «Em troca» ou «no entanto»? BASENAME: lno-entantor-ou-lem-trocar DATE: Sun, 02 Feb 2014 19:44:39 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: , enquanto, , no entanto, ----- BODY:
Na ilustraçom de cima, umha troca de prendas; na de baixo, cámbio de diferentes moedas

CONSULTA:

É correto o uso de «en cámbio"? Exemplo: «Sempre transijo; em cámbio, ti tés que sair sempre com a tua.»

Joám

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Nom, nesse caso nom é correto o uso de cámbio. O uso da palavra cámbio, em galego-português, deve restringir-se àqueles enunciados relacionados com as divisas («cámbio dólar-euro», p. ex.). Por outro lado, quando a voz castelhana cambio tem o valor de permuta (p. ex., na locuçom a cambio de), em galego equivale a troca, e quando tem o valor de transformaçom, equivale em galego a mudança, (ou alteraçom). No entanto, na locuçom castelhana en cambio, cambio tem valor de contraste ou de oposiçom, de modo que aí equivale a umha conjuçom ou locuçom galega adversativa ou contrastiva, como no entanto, porém, enquanto (que), polo contrário... Por conseguinte, o exemplo proposto formula-se assim em bom galego: «Eu sempre transijo; polo contrário, tu tens sempre de levar a melhor!» ou «Eu sempre transijo; no entanto, tu tens sempre de levar a melhor!».

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Quer produzir e produz... BASENAME: quer-produzir-e-produz DATE: Sun, 26 Jan 2014 20:46:37 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: quer, val, vale ----- BODY:

CONSULTA:

Segundo o Manual de iniciaçom à língua galega, os verbos em -azer ou -uzir perdem a vogal temática na terceira pessoa do presente do indicativo: ele produz/praz/etc. Estas formas verbais dam-se na Galiza? Acontece o mesmo com querer e valer (ele quer/val)?

Ivám

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Conforme o Guia Prático de Verbos Galegos Conjugados da Comissom Lingüística da AGAL, a terceira pessoa do singular do presente do indicativo dos verbos findos em -azer e -uzir perde, com efeito, a vogal temática (jazer > jaz, conduzir > conduz), embora a conservem quando seguidos do pronome de complemento direto o, a, os, as (conduze-o(s), conduze-a(s)). É verdade que no galego espontáneo contemporáneo nom se registam estas formas, mas tal tem ficado a dever-se à postergaçom sociocultural que o galego padece desde o século XVI (início dos Séculos Obscuros), o que nuns casos determinou a erosom de unidades lexicais de cariz formal já existentes na fase medieval (como jazer > jaz) e, noutros, a estagnaçom e suplência castelhanizante (nunca chegárom a cristalizar de forma autónoma na Galiza conjugaçons de verbos «modernos» como os findos em -duzir: aduzir, conduzir, produzir, etc.).

Quanto aos verbos querer e valer, diga-se que as formas patrocinadas pola Comissom Lingüística da AGAL para a terceira pessoa do singular do presente do indicativo som, respetivamente, quer e vale. No galego espontáneo contemporáneo, as formas quer e val estám registadas, com efeito, em diversos pontos da geografia galega.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Traguer BASENAME: title-677 DATE: Wed, 04 Dec 2013 22:07:34 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: tragar, trager, trazer ----- BODY:

CONSULTA:

O modelo lexical galego incorporou ao padrom da CL_AGAL a forma verbal traguer. Qual é que seria, portanto, a conjugaçom completa deste verbo?

Parabéns polo vosso trabalho e muito obrigado,

Suso

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Traguer é a forma moderna do medieval trager que evoluiu na norma portuguesa para trazer. Na atual Galiza encontramos o verbo traguer distribuído por todo o território, embora conviva com outras variantes como traer, trair e trer. Estas últimas possivelmente se tenham gerado no próprio galego mas a sua vitalidade, nomeadamente no caso de traer, está claramente apoiada polo verbo com idêntica forma em espanhol, traer. Numha situaçom sem interferência alheia, dificilmente a forma traer poderia ter triunfado já que colidiria com o antigo verbo traer ?atraiçoar?. Só é no galego moderno quando, sob a pressom do espanhol, a forma traer com o significado de ?traguer?, triunfa, ao intervir o castelhano substituindo o galego traer/trair ?atraiçoar? pola versom alheia traicionar, e influindo, como língua modelo, na difusom de traer que, apesar de tudo, nunca conseguiu eliminar a conjugaçom com a raiz trag-. Esta última regista-se igualmente em numerosos pontos do norte de Portugal (no mínimo desde o Minho até as Beiras).
No galego atual registam-se várias conjugaçons diferentes deste verbo. Umha em que todo o tema de presente se conjuga de forma regular com a raiz trag-: trago, tragues, trague, traguemos, traguedes, traguem; traga, tragas, traga, tragamos, tragades, tragam; traguia, traguias...; traguerei, traguerás...; tragueria, traguerias...; traguido, traguendo.
Outra em que provavelmente se tenha imposto a analogia com outros verbos como fazer /faguer no Presente do Indicativo: trago, trás/trais, trai, traguemos, traguedes, tram/traem.
E, finalmente, partindo do infinitivo traer: traio, trais/trás, trai, traemos, traedes, traem/tram; traía...; traia, traias..; traerei...; traería.
Também se registam outras conjugaçons em que se misturam formas das anteriores.
As mais documentadas no galego médio e até época recente som a primeira e a segunda. A primeira continua viva, embora as formas mais usadas som as que nom colidem com as do espanhol tragar: traguer, traguia, traguerei, traguei, traguendo, traguido, etc.

É evidente que a grande vitalidade atual de traer se deve a influência do espanhol, o que se pode certificar observando como as formas castelhanas substituírom, principalmente, aquelas que colidiam com as do espanhol tragar, de modo que em lugares onde ainda se di traguer, traguía, traguerei, tragueria, traguendo, traguido, etc. encontramos traigo, traiga, traigas, etc. deslocando as tradicionais trago, traga, tragas... Dados que se podem verificar no Atlas Lingüístico Galego.

Portanto, é claro que, ao lado da de trazer (que pode ser consultada no Guia Prático de Verbos Galegos Conjugados e no Conjugal), a única conjugaçom recomendável para o verbo traguer é a que conserva a raiz trag- em todo o tema de presente de maneira regular, quer dizer, a primeira que assinalamos. No tema de perfeito a forma padrom apresenta a raiz troux-: trouxem, trouxera, trouxesse, trouxer...

Pode ser descarregado o quadro completo da conjugaçom deste ver na seguinte ligaçom.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Deslizar BASENAME: deslizar DATE: Wed, 04 Dec 2013 21:41:46 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: escorregar ----- BODY:

CONSULTA:

É correto o uso do verbo deslizar, por exemplo para desportos como o esqui, patinagem ou devem-se usar outros como escorregar? Se correto, é frequente o seu uso?

Obrigado

Leiro

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Às duas perguntas que nos fai o amável consulente devemos responder na afirmativa: é, com efeito, correto utilizarmos em galego-português o verbo deslizar (além de escorregar) para nos referirmos ao deslocamento sobre neve, gelo ou outra superfície lisa de esquiadores e patinadores, e trata-se de um uso vocabular freqüente. A este respeito, é de interesse notar que, em contraste com o que acontece em castelhano, deslizar se utiliza em galego-português como verbo nom pronominal (sem o pronome se): «Os esquiadores deslizárom montanha abaixo».

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Morfologia verbal galega BASENAME: morfologia-verbal-galega DATE: Mon, 04 Nov 2013 21:37:01 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: disse, dixo, esteve, estivo, teve, tivo ----- BODY:

CONSULTA:

Devemos usar em galego formas como ele/ela teve/esteve/disse ou tivo/estivo/dixo?

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Na variedade galega do galego-português, desde a etapa denominada do «galego médio» até à atualidade, as únicas formas que se registam da terceira pessoa do singular do pretérito perfeito dos verbos dizer, estar e ter som, respetivamente, dixo, estivo e tivo, em contraste com o que acontece nas variedades lusitana e brasileira da língua, nas quais tais formas som disse, esteve e teve. Dado que as formas galegas mencionadas som legítimas, a Comissom Lingüística da AGAL propujo-as para integrar o padrom galego do galego-português no seu documento de codificaçom morfológica Guia Prático de Verbos Galegos Conjugados, publicado em 1989.
Por conseguinte, a resposta ao nosso consulente é que, quando estiver a fazer uso do padrom galego do galego-português, utilize as formas galegas dixo, estivo e tivo, e nom as lusitanas ou brasileiras disse, esteve e teve. De resto, a realizaçom culta desta peculiaridade morfológica galega no seio da Lusofonia nom deve ver-se como contrária à unidade lingüística galego-portuguesa, mas, antes, como um fenómeno normal de variaçom em sistemas lingüísticos muito extensos (e pluricêntricos, com mais de um padrom), como, de facto, também acontece em espanhol (veja, a este respeito, no sítio internético da Real Academia Española, as tabelas de conjugaçom verbal do espanhol, que incluem, junto com formas castelhanas como «tú haces» e «vosotros hacéis», também as respetivas formas americanas «vos hacés» e «ustedes hacen»).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Bagagem de porao BASENAME: bagagem-de-porao DATE: Wed, 17 Jul 2013 22:56:31 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: chao ----- BODY:

CONSULTA:

O motivo da minha consulta é a bagagem de porão. Num contexto internacional, fica claro que as malas que vão no compartimento de carga das naves são chamadas bagagem de porão. Na minha vida escuitei a voz porão, mas também sou do interior e não estou afeito ao léxico da navegação. No dicionário Estraviz não achei uma correspondência com porom, porám ou porao, polo que fiquei coa dúvida de se o termo teria presença alguma na Galiza. Se não, existe alguma outra palavra que podamos empregar neste contexto e que também seja reconhecível internacionalmente? Qual a sugestão da Comissom para o padrão galego?

Obrigado, Daniel.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Dado que as vozes bagagem e porão som abonadas pola primeira vez em galego-português com posterioridade ao séc. XIV (nomeadamente, as duas, no séc. XVI), na Galiza elas calham dentro do período de estagnaçom lexical e suplência castelhanizante (cf. parte de prescriçom enunciativa de O Modelo Lexical Galego da CL-AGAL). Nestas circunstáncias, de acordo com a proposta realizada em O Modelo Lexical Galego, a CL-AGAL recomenda preencher a correspondente lacuna lexical registada em galego (e expurgar o correspondente castelhanismo suplente) mediante a incorporaçom ao galego-português da Galiza da respetiva soluçom luso-brasileira. No presente caso, dada a etimologia de porão (< lat . planus), a forma recomendável em galego é bagagem de porao (cf. gal. chao).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Toponímia de Cerdido BASENAME: toponimia-de-cerdido DATE: Thu, 06 Jun 2013 19:09:47 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Ortografia TAGS: abarqueira, abelheira, abrunheiros, , francoi, moutilhom, painceira, ranhoa, vespeira ----- BODY:
Igreja de Santo António da Abarqueira

CONSULTA:

Boas, chamo-me Brais e gostaria de que me ajudássedes (se podedes) na traduçom dos seguintes nomes do meu concelho: Abelleira, Abruñeiros, Rañoa, Moutillón, Francoi, Avispeira, Casanova, Paincieira. Muito obrigado, de verdade.

Saudaçons e um abraço!

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Em resposta ao amável consulente, a seguir resenhamos com a grafia correta os topónimos que correspondem a lugares habitados do concelho de Cerdido (destacando a negrito os mencionados na consulta), conforme o Dicionário de Toponímia Galega que tem em preparaçom o Prof. José-Martinho Monteiro Santalha (por sinal, ele próprio nativo do concelho de Cerdido!) e as regras gráficas que a Comissom Lingüística aplica aos topónimos (neste caso, por motivos pedagógicos, com anteposiçom do artigo aos topónimos que com ele som usados).
Note-se que todos os lugares mencionados polo consulente (com inclusom do monte Francoi) se encontram na freguesia da Abarqueira, e que a forma toponímica correta nom é a hoje habitual *A Barqueira, mas A Abarqueira (proveniente, com alta probabilidade, da voz comum abarca), como testemunha o documento histórico, encontrado por José-Martinho Monteiro Santalha, que em baixo transcrevemos (de facto, A Abarqueira era a pronúncia comum dos habitantes da zona até há alguns anos, e que ainda hoje alguns velhos conservam).

As três freguesias do concelho de Cerdido:

A Abarqueira [orago ou padroeiro: Santo António]: A Abarqueira Velha, A Abelheira de Baixo, A Abelheira de Riba, Os Abrunheiros, Aldar, Aulfe de Chao, Aulfe de Malados, Barbas, As Barbelas, As Cabanas, As Cancelas, A Casa Nova, A Casa Velha, Casaldaia de Riba, A Casilha, Os Castros, Corutelo, A Cruz Encarnada, A Cuqueira, Escote, O Espinho, O Feal, Felgosa, Guelhe, Lamigueiro Novo, Lamigueiro Velho, Lobeira, Moutilhom, Os Navalhos, A Painceira, A Paleira, Os Pereiros, O Pinhom, O Porto, A Poça d?Água, A Ranhoa, Rio Forcado, O Rio Velho, Seoane, Sete de Baixo, Sete de Riba, So-os-Loureiros, A Torre, As Travessas, A Vespeira.
Os Casás [Sam Joám]: Agreste, O Bordo, Boucido, Calmourel, A Calvela, Campo da Igreja, Os Campos, Os Carvalhás, A Casa Nova, O Covelo, A Fraga, As Mestas, O Outeiro, A Pedra Chantada, O Rego da Madeira, A Riba de Baixo, A Riba de Riba, O Seixidal.
Cerdido [Sam Martinho]: Os Angoeiros, Arom, Barreiros, A Barrosa, Bezerroi, A Branha, A Caleira, A Campeira, Carvalhal, O Carvalheiro, Casaldaia de Baixo, Casaldegonce, Casavide, Castrilhom, O Castro, A Chainha, Chao, O Corveiro, A Cruz dos Novás, Os Cubos, Díaz, Domende, A Felgueira, Fercoi, O Freis, A Gangoa, Gondredo, Jiao, A Lavandeira, As Mestas, O Noval, Paços, Pedre, A Pena, A Pena de Baixo, A Pena do Bico, Penso, O Picadeiro, O Pinheiro, Pontelhas, Rebordaos, Rediz, O Regueiro, Regueiro Longo, Riazom, A Rincha, O Rio, A Rocha, As Seixas, Socastro, Os Valados, A Várzea, A Vila da Igreja, Viladóniga, O Vilar, Vilarelhe, Vilela.

Transcriçom de documento do séc. XVIII que atesta a forma toponímica A Abarqueira (fonte: Arquivo Notarial de [Santa Marta de] Ortigueira, protocolo do notário António Fernández, ano 1705):

«Junto a la ermita de San Salba[do]r da Abarq[ueir]a, f[elig]r[esí]a de San \ Martín de Zerdido, a seis días del mes de agosto de mill si-\ etezientos y cinco años, delante de mí, ss[criba]no, pareció Alonso \ de Casa, vezino de la juri[sdi]z[i]on de Santa Marta, y me pedió \ le entregase la rreal proui[si]on de demanda con q[ue]. me auía requerido. \ Y luego se la entregué, con las citaciones y delix[enci]as echas con Greg[ori]o \ de Posada, Andrés Martínez, Fran[cis]co Martínez, Luys Antonio de \ Ramonde, Ju[an] Antonio da Armada, Alonso de Corral, Do\na Lorenza Pardo, y otros. Todo ello se lo entregué a pres[enci]a \ de Ygnacio de Orxales, v[e]z[in]o de la f[elig]r[esí]a de Santiago de Abade, \ y Ju[an] García de Luazes, vezino de la uilla de Zedeyra. \ De lo qual yo ss[criba]no doy fee =»

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Escória BASENAME: title-635 DATE: Wed, 05 Jun 2013 22:04:05 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: escoira, escoura, hulha ----- BODY:

CONSULTA:

Qual é a diferença entre estas três palavras: escória, escoira, escoura. Qual se deve usar em galego?

Obrigado.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A partir do latim scorĭa, surgem em galego-português, e ocorrem no galego espontáneo atual, as variantes escoira, escória e escoura. Como se postula em O Modelo Lexical Galego, da Comissom Lingüística da AGAL, para resolver no galego-português da Galiza casos de variaçom sem padronizaçom como este, o critério mais vantajoso é selecionar como forma supradialetal na Galiza aquela variante galega que já foi selecionada como tal no ámbito luso-brasileiro. Neste caso, portanto, utilizaremos como supradiletal a variante mais conservadora, escória, a qual apresenta diversos significados e usos (cf. dicionário Houaiss): 1 resíduo silicioso proveniente da fusom de certas matérias (p. ex., a hulha); 2 produto do vulcám que se assemelha a esse resíduo; 3 (derivaçom: sentido figurado) a parte mais desprezível. Ex.: essa gente é a e. da vida política nacional; 4 (derivaçom: sentido figurado) cousa ou indivíduo reles, desprezível. Ex.: esse sujeito é e., livre-se dele; 5 (Metalurgia) subproduto metalúrgico formado esp. por silicatos.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Meio de cultura BASENAME: meio-de-cultura DATE: Sun, 19 May 2013 21:56:04 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Fonética TAGS: caldo de cultura ----- BODY:

CONSULTA:

Qual uma expressão equivalente em galego para o espanhol caldo de cultivo? Encontrei meio de cultura mas não estou certo...

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Com efeito, meio de cultura é equivalente galego-português do cast. caldo de cultivo, e também caldo de cultura, expressons, estas, que denotam umha soluçom nutritiva utilizada para promover o crescimento de microrganismos ou de tecidos numha cultura (num laboratório).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Estacionamento proibido: passagem de veículos BASENAME: title-629 DATE: Sun, 19 May 2013 21:34:56 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: vau ----- BODY:

CONSULTA:

Qual seria a traduçom para galego do castelhano vado ?sinal situado nas portas das garagens, que indica autorizaçom municipal para nom autorizar o parque nessa entrada com o fim de deixar o acceso livre a dita garagem??. Obrigado.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A palavra galego-portuguesa etimológica e semanticamente aparentada com a castelhana vado é vau. Todavia, nas variedades lusitana e brasileira da língua, a voz vau é utilizada, fundamentalmente, com o seu sentido originário, comum também ao castelhano vado, isto é, o de setor raso de um rio, mar, lago ou lagoa por onde se pode passar a pé ou a cavalo, e ela nom adota o sentido derivado, presente no cast. vado, de ?direito de passagem de veículos sobre o passeio de umha via pública (em sentido transversal) para acederem a um prédio ou para o abandonarem?. Dado que nem em Portugal nem no Brasil se utiliza a palavra vau nesse sentido «urbano», em resposta à consulta feita, aconselhamos recorrer na Galiza à expressom passagem de veículos (no sentido de açom ou direito) ou à voz rampa (no sentido material).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Com a geminaçom véu a irmanaçom BASENAME: com-a-geminacom-veu-a-irmanacom DATE: Mon, 06 May 2013 12:24:09 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Fonética CATEGORY: TAGS: ----- BODY:
A cidade portuguesa de Matosinhos (na imagem) e a galega de Vila Garcia estám geminadas

CONSULTA:

Gostaria de saber qual seria a forma mais adequada para referir-se à ?série de atuaçons e colaboraçons entre cidades ou instituiçons (habitualmente duas) durante um período de tempo e com atividades diversas, com de fim de tornar mais intensos os laços que as unem?: geminaçom? irmandamento? irmanamento? Poderia dizer-se que as duas últimas som incorretas?

Obrigado.

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

O verbo irmanar(-se) (relacionado com irmao, e que dá o substantivo irmanaçom [*irmandamento é voz espúria, e *irmanamento é decalque indevido do cast. hermanamiento]) significa ?relacionar(-se) fraternalmente? (ex.: «O humanismo irmana as raças.») e ?igualar, unir, emparelhar? (ex.: «A Rosalia e Castelao irmana-os o amor pola terra galega.»). Por seu lado, o verbo geminar (relacionado com gémeo; substantivo: geminaçom) denota ?agrupar aos pares? e, a partir daí, adota diferentes aceçons especiais (p. ex., em lingüística, duplicaçom de consoantes), entre as quais, com efeito, a que aduz o amável consulente, a relativa ao estabelecimento protocolar de laços de cooperaçom política, económica e cultural entre duas cidades (ex.: «A cidade galega de Ourense está geminada com a portuguesa de Vila Real.»).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Qual a ortografia do galego? BASENAME: title-620 DATE: Fri, 26 Apr 2013 20:08:58 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Ortografia CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Por que o galego utiliza a ortografia do espanhol se ele é idioma mais próximo ao português?

Filipe Góis

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

O galego é umha variedade da língua galego-portuguesa (junto com o lusitano, o brasileiro...) que hoje é mairoitariamente (mas nom unanimemente) grafada com a ortografia castelhana por causa de umha deformaçom política (transferência das fronteiras políticas à realidade lingüística). Atuam nesta questom motivaçons similares àquelas que levárom a grafar o moldavo (variedade da língua romena) com a grafia cirílica do russo, e nom com a latina própria do romeno geral, enquanto a Moldávia fijo parte do estado soviético. Todavia, contra esta deformaçom lingüística que afeta o galego-português da Galiza posiciona-se o movimento reintegracionista galego, que cada vez goza de maior apoio social.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: A pés juntos BASENAME: title-619 DATE: Fri, 26 Apr 2013 19:53:36 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Qual seria a traduçom para galego do castelhano "a pie juntillas"?

Graças!

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A expressom galego-portuguesa equivalente da castelhana «[creer/negar...] a pie(s) juntillas», isto é, '[crer/negar...] sem qualquer dúvida' é «[crer/acreditar/negar...] a pés juntos».

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Carne de vitela BASENAME: carne-de-vitela DATE: Sat, 13 Apr 2013 22:40:47 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: bezerro, novilho, tenreiro, vitelo ----- BODY:

CONSULTA:

É correto o emprego em galego da voz tenreira para a carne de vitela? Devemos empregar em galego estándar da Galiza a voz novilha para denotar carne de vitela jovem?

Obrigado.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Com o sentido de ?carne da cria de vaca?, usaremos em galego, de harmonia com o que se fai em lusitano e em brasileiro, a expressom galega (carne de) vitela. Para designarmos em galego a cria de vaca, dispomos das vozes supradialetais vitelo, bezerro e tenreiro (as duas primeiras, comuns com os padrons lexicais lusitano e brasileiro; a terceira, presente também no norte de Portugal, dialetal ou regional em Portugal). Neste contexto, nom há necessidade de incorporarmos ao padrom lexical galego o castelhanismo (próprio dos padrons lexicais lusitano e brasileiro) novilho, de modo que, utilizando a notaçom e os critérios de O Modelo Lexical Galego, surge a seguinte configuraçom lexical galega: PLGz: vitelo > (bezerro = tenreiro). Portanto, como resposta à segunda pergunta colocada polo consulente, aconselhamos utilizar em galego a expressom carne de vitelo jovem, com as variantes antes assinaladas.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Obrigado! BASENAME: obrigado DATE: Sat, 13 Apr 2013 22:27:42 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: gracinhas, , ----- BODY:

CONSULTA:

Gostaria de saber se antigamente, quando na Galiza estava normalizado o galego (tempos aqueles!), consta na documentação a expressão obrigado para exprimir agradecimento, ou se, se polo contrário, é um dos muitos neologismos que não chegamos a desenvolver...
Também gostaria de conhecer a vossa opinião sobre a a expressão graças/gracinhas (no Priberam também se admitem como expressões de agradecimento).

Obrigado!

Xurxo

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Na Galiza, em galego, por causa dos longos séculos de subordinaçom sociocultural (cf. secçom sobre a estagnaçom e suplência castelhanizante em O Modelo Lexical Galego, da Comissom Lingüística da AGAL), nom cristalizou umha fórmula social genuína e uniforme para se exprimir agradecimento, polo que o mais coerente e prático é utilizarmos a forma galega que sim cristalizou unanimemente no resto da galecofonia ou lusofonia, isto é, obrigado (na boca de homes) e obrigada (na boca de mulheres). Por sua vez, graças deve utilizar-se, nom como fórmula social de agradecimento (o que constituiria indevido decalque da fórmula castelhana), mas como componente da locuçom conjuntiva graças a, sinónima de mercê de (ex.: «Graças à sua ajuda, conseguimos acabar o trabalho.»).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Lembrar e esquecer ou recordar e olvidar BASENAME: lembrar-e-esquecer-ou-recordar-e-olvidar DATE: Tue, 19 Feb 2013 22:04:29 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA

Pessoalmente tenho dúvidas em como e quando empregar o verbo esquecer ou olvidar? São eles totalmente sinónimos? Acontece-me o mesmo com lembrar/recordar.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA

Os verbos esquecer e olvidar som perfeitamente sinónimos entre si e o que os diferencia é apenas a pragmática e a freqüência de uso: o verbo esquecer (e o substantivo esquecimento) é de uso muito mais freqüente do que olvidar (e substantivo olvido), pois que a utilizaçom deste último fica confinada aos registos formais e, maiormente, ao ámbito literário.

Quanto aos verbos lembrar e recordar, diga-se que também som sinónimos entre si e que coincidem em larga medida na construçom, ainda que lembrar é bastante mais freqüente do que recordar. Assim, os dous verbos podem usar-se como transitivos diretos (ex.: Lembro/Recordo bem as férias de há cinco anos) e como transitivos pronominais (ex.: Isto lembra-me/recorda-me as férias de há cinco anos; Lembro-me/Recordo-me das férias de há cinco anos.).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Parelha, par e casal BASENAME: title-586 DATE: Fri, 08 Feb 2013 14:04:35 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Fonética TAGS: casalzinho ----- BODY:

CONSULTA:

Qual seria o equivalente em galego do castelhano pareja? Par ou casal? Ou parelha estará correto? O galego parelha tem um significado equivalente ao castelhano pareja ou, polo contrário, terá um significado mais restrito, referido exclusivamente a ?par de animais preferentemente de carga?, como aparece em dicionários portugueses (Priberam, Houaiss...)?

José Luís Valinha

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A respeito dos valores semánticos e pragmáticos das vozes galegas par, parelha e casal, diga-se que nom padrom lexical galego propugnado pola CL-AGAL (v. O Modelo Lexical Galego), eles som coincidentes com os presentes nas variedades lusitana e brasileira da língua, já que se entende que a situaçom de indefiniçom e de assimilaçom ao castelhano que mostra, a esse respeito, a atual fala espontánea se deve à atuaçom dos processos degradativos da estagnaçom e da suplência castelhanizante.

Portanto, a distribuiçom de usos que recomendamos em galego para as vozes par, parelha e casal é a que a seguir descrevemos. Par é a voz de significado mais geral, utilizada para indicar um conjunto ou associaçom de dous elementos (ex.: «a traduçom combina um par de línguas: a de partida e a de chegada») e também para denotar um dos elementos de um tal conjunto a respeito do outro (ex.: par de dança; «o seu par estava ausente»). Quando se trata de designar um par de pessoas que convivem ou um par de animais que se associam para a reproduçom, utiliza-se casal (ex.: «um casal de namorados»; «a espécie está em perigo de extinçom, pois que apenas restam 5 casais [reprodutores]; cf. «o casalzinho»: filho e filha de tenra idade [= cast. la parejita]). Finalmente, parelha deve utilizar-se, com efeito, para indicar apenas um par de animais usados na lavoura (ex.: «umha parelha de bois») ou para outras funçons similares (ex.: «carruagem puxada por umha parelha de cavalos»).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Entruido e Carnaval BASENAME: entruido-e-carnaval DATE: Tue, 15 Jan 2013 14:25:45 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: ----- BODY:
Entruidos tradicionais em Laça (Galiza, em baixo) e Podence (Portugal, em cima)

CONSULTA

Bom dia,

Quando é que devemos de usar a voz "carnaval" e quando "entruido". Som sinónimos em galego?

Obrigado

Rudesindo

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Para esclarecermos a distribuiçom de usos das vozes carnaval (ou Carnaval) e entruido (ou Entruido; nas variedades lusitana e brasileira, entrudo ou Entrudo), estudemos, a seguir, os muito eloqüentes verbetes correspondentes a essas entradas no dicionário Houaiss (apresentam-se aqui apenas as aceçons pertinentes, adaptadas à variedade galega):

carnaval (1.ª abonaçom: 1542) 1 HIST período anual de festas profanas, originadas na Antigüidade e recuperadas polo cristianismo, e que começava no dia de Reis (Epifania) e acabava na Quarta-Feira de Cinzas, às vésperas da Quaresma; constituía-se de festejos populares provenientes de ritos e costumes pagaos e caraterizava-se pola liberdade de expressom e movimento [tb. com inicial maiúscula]. 2 período de três dias anteriores à Quarta-Feira de Cinzas, dedicado a festejos, bailes, desfiles e folguedos populares (o que, no passado, equivalia ao entruido) <o c. este ano cai em março> <Fulano vai passar o c. numha ilha> [tb. com inicial maiúscula]. 3 conjunto de festejos, desfiles e divertimentos típicos dessa época do ano, nos quais os participantes tipicamente vestem fantasias e usam máscaras <o c. do Rio tem deslumbrantes desfiles de escolas de samba> 4 p.ext. infrm. alegria coletiva; folguedo, folia <depois do terceiro gol, a comemoraçom virou c.>

entruido (1.ª abonaçom: séc. XIII) 1 os três dias que precedem a entrada da Quaresma [tb. com inicial maiúscula] 2 HIST festa popular que acontecia nesses dias, em que os brincantes trocavam polas ruas arremessos de baldes de água, limons-de-cheiro, ovos, tangerinas, pastelons, luvas cheias de areia, esbordoavam-se com vassouras e colheres de pau, sujavam-se com farinha, gesso, tinta etc. [O folguedo vigorou até 1817 em Portugal e entrou em declínio no Brasil em 1854, por repressom policial, dando lugar ao moderno carnaval.] [tb. com inicial maiúscula] 3 p.ext. o carnaval e o divertimento dos dias de carnaval <a terça-feira de e.> [tb. com inicial maiúscula].

Por conseguinte, observa-se que, num uso laxo, as duas vozes, carnaval e entruido, som permutáveis em galego para designarmos o período festivo que precede a entrada da Quaresma. Ora, num uso estrito, ou específico, a voz entruido reserva-se para designar esse período festivo quando adscrito ao mundo tradicional (e rural), tal como ainda hoje ele surge na Galiza e Portugal, tipicamente, em vilas como Ginzo da Límia, Laça, Verim ou Lazarim (e como surgia de modo mais geral no passado em Portugal, no Brasil, etc.), enquanto que a voz carnaval se reserva para denotar tal período festivo quando ele se apresenta em moldes «modernos» (e urbanos), como, tipicamente, corresponde ao carnaval do Rio de Janeiro.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Galinholas, narcejas e picas BASENAME: title-542 DATE: Mon, 19 Nov 2012 13:30:54 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Fonética TAGS: agacha, aguaneta, arceia, , caminheiro, corredeira, galego, moucho, petinha ----- BODY:
A Galinhola (em cima) e a narceja (em baixo) pertencem à família Scolopacidae

CONSULTA:

Hai umha espécie de aguaneta, ave limícola, que é denominada narceja-galega em português. O adjectivo galego foi pejorativo em português popular com algumha frequência, daí que se aplique a espécies pequenas (pica-pau galego, mocho-galego...) Mas é apropriado isso na variante galega? Por outro lado, narceja nom se regista aparentemente nos falares galegos (embora apareça nalguns diciónarios e livros como tal, sendo, aparentemente, simples cópia da variante lusa do nosso idioma). Narceja deve ser variante morfológica de arcea, nome galego para outro género. Quê fazer quando as variantes portuguesa e brasileira divergem? Por exemplo caminheiro/petinha, para a ave conhecida como pica no Norte da Galiza? Obrigado, desculpen a extensom.

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

1. A Comissom Lingüística da AGAL, no seu texto codificador O Modelo Lexical Galego, de próxima publicaçom, proporá como denominaçom padrom galega da ave Scolopax rusticola (fam. Scolopacidae) a voz galinhola, comum à Galiza e a Portugal (deste modo, a denominaçom arceia passa, nesta proposta, para a condiçom dialetal, ou para o estatuto de «denominaçom nom preferente»); quanto às espécies dos géneros Gallinago e Lymnocryptes, da mesma família, e designados por narceja em Portugal, as denominaçons vernáculas registadas na Galiza que nos constam som agacha, aguaneta, arceúcha, becacina e cabra-do-ar (cf. Miguel A. Conde Teira. 1999. «Nomes galegos para as aves ibéricas: lista completa e comentada». Chioglossa, 1: 121?138). O ornitólogo Miguel A. Conde Teira propom no trabalho citado priorizarmos em galego a denominaçom becacina, como a mais estendida na Galiza atual, mas nós nom concordamos com tal proposta, já que, como o próprio autor reconhece (pág. 132 ibidem), tal nome «procede moi probablemente do francés becassine, a través do español becacina, por difusión entre cazadores». Perante esta circunstáncia, e dado que o resto de denominaçons vernáculas registadas na Galiza para Gallinago tenhem (muito) pouca difusom, em O Modelo Lexical Galego, conforme os critérios expostos no capítulo correspondente à variaçom geográfica sem padronizaçom, a Comissom Lingüística propom a introduçom em galego, por coordenaçom com a varieade lusitana, da denominaçom narceja. (Neste ponto, também cabe reconhecer como sugestivo, embora menos prático do que o recomendado, um esquema designativo em que arceia designasse Scolopax rusticola, e arceúcha, diminutivo de arceia, as espécies dos géneros Gallinago e Lymnocryptes).

2. Naturalmente, no padrom lexical do galego-português da Galiza nom podemos dar cabimento ao adjetivo galego com o sentido de ?pequeno? nas denominaçons vernáculas de organismos. Portanto, recomendamos os seguinte nomes vernáculos para as espécies de aves (escolopacídeos) aqui analisadas:

Nome científico e nome vernáculo na Galiza (entre parênteses, o nome vernáculo em Portugal)

Scolopax rusticola: galinhola (galinhola)
Gallinago gallinago: narceja (narceja)
Gallinago media: narceja-real (narceja-real)
Lymnocryptes minimus: narceja-pequena (narceja-galega)

3. No caso da designaçom das aves do género Anthus (fam. Motacillidae), dado que a voz pica tem umha extensom na Galiza muito reduzida, propomos como denominaçom vernácula galega preferente a resultante de convergirmos com a soluçom lusitana, i. é, petinha, ficando relegada, entom, pica à condiçom de «denominaçom nom preferente» (na notaçom de O Modelo Lexical Galego, PLGz: petinha > pica). Neste contexto, diga-se que, no caso de divergência terminológica entre Portugal e o Brasil, preferiremos na Galiza, em geral, e aplicando um critério de proximidade geográfica, cultural e lingüística, a soluçom lusitana.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Póvoa BASENAME: povoa DATE: Sun, 11 Nov 2012 19:03:40 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Morfossintaxe TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:
Gostaria de conhecer a recomendaçom da Comissom sobre o topónimo Póvoa/Povra. Som das formas que o castelhano substitui na Galiza historicamente em nomes de vilas e que recentemente foram recuperadas como Pobra. As formas antigas eram Pobla, Proba e Pobra. Já que em Portugal hai topónimos menores Prova (Viseu) ou Quinta da Prova (Arcos de Valdevez), e na Galiza ainda hai algumha Póvoa, qual seria o topónimo correto? Póvoa do Brolhom? Prova? Povra? Obrigado!
Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A Comissom Lingüística, na sua lista toponímica (inclusa no Prontuário Ortográfico Galego), assinala como única forma recomendável Póvoa (Póvoa de Brolhom, Póvoa de Trives, Póvoa do Caraminhal, etc.). Ainda que na documentaçom medieval galega se registem ocasionalmente formas como Pobra (~ Povra) ou Proba (~ Prova), tais formas devem ser conceituadas como dialetais e arcaicas (e até possivelmente influídas polo castelhano), cujo registo ocasional nom deve empecer a utilizaçom contemporánea da voz galego-portuguesa genuína, de formaçom romance regular e caráter supradiletal Póvoa (coerente com as vozes romances povo, povoar e povoaçom). Da mesma maneira que hoje, num exemplo hipotético, nom duvidaríamos em oficializar a forma toponímica galega Cidade Real, com o componente genérico contemporáneo cidade, e nom a arcaica Cibdade Real, ou a arcaica-castelhanizante Cibdá Real (por muito que estas surgissem ocasionalmetne na documentaçom medieval), também hoje nós devemos canonizar unicamente na Galiza os topónimos com o formante Póvoa (em relaçom a esta questom toponímica, recomendamos a leitura do artigo «A prova, definitiva, do Caraminhal», de João Guisán Seixas, publicado no número 29, ano 1992, da revista Agália).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Dia das Bruxas BASENAME: dia-das-bruxas-1 DATE: Thu, 08 Nov 2012 13:53:45 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: halloween, samain, samhain ----- BODY:

CONSULTA:
Qual é a escrita recomendada em galego para o nome desta festa? O nome em irlandês antigo (Samain), o nome em irlandês moderno (Samhain) ou uma adaptação trocando o -n por um -m (Samaim/Samhaim)? Obrigado!
Jon Amil

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Para já, diga-se que, no caso de se querer celebrar o 31 de outubro, a véspera do dia de Santos, com ritos ou atividades como rondar ou dançar sob disfarce (de bruxa, de feiticeiro ou de outras personagens fantásticas?), esvaziar e esburacar abóboras para nelas colocar velas bruxuleantes, etc., nom fai falta invocar ou importar tradiçons alheias à Galiza: chega, simplesmente, com revitalizar as tradiçons (rurais) associadas ao dia e ao mês de Santos e aos magustos!
Ora, quanto à questom concreta posta polo amável consulente, a resposta é simples: trata-se, em galego, de estrangeirismos que ainda nom estám plenamente naturalizados, polo que devem ser reproduzidos, em tipo itálico, com a grafia original, quer seja esta Samain (irlandês antigo) ou Samhain (irlandês moderno) ou Halloween (inglês). De resto, a festa de raízes célticas conhecida e celebrada nos países anglo-saxónicos como Halloween, pode designar-se em galego-português, conveniente e castiçamente, polo nome de Dia das Bruxas.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Futuro do conjuntivo e infinitivo flexionado BASENAME: infinitivo-flexionado-e-futuro-do-conjuntivo DATE: Tue, 30 Oct 2012 00:09:44 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Olá! Nom tenho claros os usos do futuro do conjuntivo e do infinitivo conjugado. Mais do que umha explicaçom gramatical, agradecia algum tipo de regra fácil ou exemplo claro dos usos corretos. Muito obrigado e parabéns por este magnífico consultório!

Pascoal Gonçalves

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Dado que aqui nom dispomos de muito espaço para atender o pedido que nos fai o amável consulente, neste caso vamos proceder da seguinte maneira: em primeiro lugar, vamos recomendar-lhe umha série de obras de consulta (todas, em geral, de orientaçom didática), e as páginas correspondentes, em que poderá encontrar valiosa informaçom sobre os usos do infinitivo flexionado e do futuro do conjuntivo; em segundo lugar, vamos oferecer-lhe umha sinopse, muito concisa e baseada em exemplos, do uso do futuro do conjuntivo, por se tratar da forma verbal, entre as duas citadas, de uso mais facilmente sistematizável.
Em relaçom ao uso do infinitivo flexionado, será proveitosa a consulta, entre outras obras, da Nova Gramática para a Aprendizaxe da Lingua, de Xoán Xosé Costa Casas et al. (= NGAL), pág. 208?212; da Gramática da Lingua Galega. II Morfosintaxe, de Xosé Ramón Freixeiro Mato (= GLG), pág. 387?404; do Manual Galego de Língua e Estilo, de Maurício Castro, Beatriz Peres Bieites e Eduardo Sanches Maragoto (= MGLE), pág. 158?161; de Do Ñ para o NH, de Valentim R. Fagim (= Ñ-NH), pág. 68?70, e do Manual de Galego Científico (2.ª ed.), de Carlos Garrido e Carles Riera (= MGC), pág. 468?483.
Em relaçom ao uso do futuro do conjuntivo, será proveitosa a consulta, entre outras obras, da NGAL, pág. 202?203; da GLG, pág. 359?370; do MGLE, pág. 155?157; de Ñ-NH, pág. 64?67, e do MGC, pág. 448?453.

Vejamos, a seguir, umha breve exposiçom sobre o uso em galego do futuro do conjuntivo.

O futuro do conjuntivo denota umha açom nom real situada no futuro, a qual é anterior a um referendo situado também no futuro. O futuro do conjuntivo nom se usa nunca como forma autónoma, ocorrendo em oito tipos de cláusulas subordinadas (v. infra), de modo que ele aparece em correlaçom com verbos, situados na cláusula principal, em futuro ou em presente (do indicativo, do conjuntivo ou do imperativo) e nom pode utilizar se em oraçons puramente hipotéticas do tipo «Se a populaçom fosse constituída por um milhom de indivíduos, haveria 20.000 representantes do alelo no fundo génico», em que a correlaçom se estabelece entre o potencial (cláusula principal) e o pretérito do conjuntivo (cláusula subordinada).

Os oito tipos de cláusulas em que pode ocorrer o futuro do conjuntivo som:

cláusulas concessivas duplas, nas quais o futuro do conjuntivo surge associado ao presente do conjuntivo: «Seja como for, resolveremos o problema»;
cláusulas relativas: «Recomendamos que volte ao seu óptico para substituir as lentes de contacto na data que lhe indicar»;
cláusulas condicionantes: «Se quigerdes, reato a explicaçom»;
cláusulas circunstanciais temporais: «Quando vinher, mostra-lho»;
cláusulas circunstanciais locativas: «Situa o projetor onde ela che dixer»;
cláusulas circunstanciais modais: «Proceda conforme o técnico lhe indicar»;
cláusulas circunstanciais comparativas: «Grite tanto como puder», e
cláusulas circunstanciais intensificantes-proporcionais: «Quanto maior for o número de indivíduos AA, menor será a freqüência de a».

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Um sucesso da emigraçom galega BASENAME: um-sucesso-da-emigracom-galega DATE: Fri, 19 Oct 2012 09:54:13 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: logro, sucedido, ----- BODY:

CONSULTA:

É correta á frase «a construçom de escolas na Galiza foi um logro da emigraçom americana galega»? É pois aceitável logro como 'êxito' ou 'sucesso' em galego? É incorreto êxito?. A frase «fijo umha cousa bem lograda» pode ser considerada correta? Muito obrigado!

Em contraste com o que acontece em castelhano, a voz logro no galego-português atual significa 'engano, burla', de tal modo que as frases propostas polo consulente deveriam formular-se como «A construçom de escolas na Galiza foi umha realizaçom / um sucesso / um êxito da emigraçom galega na América» e como «Fijo umha cousa (muito) bem-sucedida». Aliás, é correto o uso da voz êxito como sinónimo de sucesso.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Plurais de -om e -am em galego BASENAME: title-532 DATE: Tue, 09 Oct 2012 15:35:33 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: ----- BODY:
Na Galiza oriental conservam-se os mesmos ditongos dos plurais portugueses atuais, embora maioritariamente sem nasalaçom

CONSULTA:

Por que grafar os plurais de -om e -am como -ons e -ans e nom -ões e -ães, que tenho visto na literatura medieval e acho que som mais representativos das soluções galegas atuais (-ôns, -ôs, -ôis)?

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A codificaçom ortográfica e morfológica da CL-AGAL inclui tanto a soluçom -ões/-ães como a soluçom -ons/-ans. O que justifica nesta proposta normativa as formas -ons/-ans é a sua aceitável correspondência com as realizaçons verificadas nos falares galegos atuais, a sua ocasional ocorrência na literatura galega medieval (e, mesmo, hoje em dia, nalguns falares dialetais luso-brasileiros), o seu freqüente emprego na literatura galega contemporánea e, de modo patente, o seu caráter estratégico na presente altura, pois tais formas vam ao encontro do hábito de muitos utentes atuais de galego, os quais, infelizmente, apenas conhecem a codificaçom isolacionista (i. é, as formas -ons/-ans contribuem para o valor estratégico ou pedagógico da norma AGAL, que assim se erige em pontífice, ou «construtora de pontes», entre o galego genuíno e o galego subordinado ao modelo castelhano).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Se por acaso precisares... BASENAME: se-por-acaso-precisares DATE: Sat, 22 Sep 2012 22:50:15 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: nom vaia ser o demo, ----- BODY:

CONSULTA:

Olá! Podiam-me dizer como seria a tradução em bom galego de "por si acaso": "por se acaso"?; "por se calhar"?; "porventura"?... Não sei. Há uma frase feita que reflecte muito bem o seu significado: "Não vaia ser o demo", mas não encontro nenhuma locução que se ajeite a este matiz. Muito obrigado!

Xurxo

RESPOSTA DA COMISSOM:

Como equivalentes funcionais galegos da locuçom castelhana por si acaso, podemos indicar os seguintes (informaçom retirada, em grande medida, do Dicionário Espanhol-Português da Porto Editora, dirigido polo lexicógrafo galego Álvaro Iriarte Sanromám):

a) Registo formal ou nom marcado:

1. cast. por si acaso [nom seguido por verbo] > gal. à cautela / polo si(m), polo nom. Ex.: cast. «Vamos a llevar paraguas, por si acaso» > gal. «Vamos levar guarda-chuva, à cautela.» / gal. «Polo si(m), polo nom, vamos levar guarda-chuva.»

2. cast. por si acaso + imperativo > gal. para o caso de precisares + imperativo / polo si(m), polo nom. Ex.: «Por si acaso, toma mi número de teléfono» > gal. «Para o caso de precisares, toma o meu número de telefone». / gal. «Polo si(m), polo nom, toma o meu número de telefone.».

3. cast. por si acaso + indicativo > gal. para o caso de + infinitivo / se por acaso + futuro do conjuntivo. Ex.: cast. «Es mejor llevar el bañador por si acaso vamos a la playa» > gal. «É melhor levarmos o fato de banho para o caso de irmos à praia.» / «É melhor levarmos o fato de banho se por acaso formos à praia.».

b) Registo popular ou coloquial: gal. nom vaia/vá ser o demo [+ que + pres. conj.]. Ex.: cast. «Vamos a llevar paraguas, por si acaso» > gal. «Vamos levar guarda-chuva, nom vaia/vá ser o demo.»

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Filhós e orelhas BASENAME: filhos-e-orelhas DATE: Wed, 01 Aug 2012 13:25:32 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: , orelha, pastel ----- BODY:
Em geral, as nossas orelhas som conhecidas por filhós em Portugal

CONSULTA

Só recentemente pudem descobrir que as filhós portuguesas e as galegas som doces diferentes. Qual seria o nome en galego do que em Portugal é umha filhó? E vice-versa? Por outro lado, qual seria a aceçom de "pastel" em galego?

Obrigadíssimo!

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA

Tanto polos seus ingredientes quanto pola sua preparaçom e aspeto, a especialidade culinária que em Portugal se denomina filhó corresponde à galega orelha (de Carnaval/Entruido); por seu turno, a filhó (ou filhoa) da cozinha galega equivale à filhó de leite portuguesa, quando aquela nom é de sangue. Por conseguinte, podemos estabelecer o seguinte esquema de equivalências:

Pt. filhó = Gz. orelha (de Carnaval/Entruido)
Gz. filhó (ou filhoa) = Pt. «filhó galega» / Pt. filhó de leite + «filhó de sangue»

Quanto à pergunta sobre o valor semántico de pastel em galego, diga-se que tal voz, no ámbito da culinária, pode empregar-se no sentido de 'massa de farinha de trigo, com recheio doce ou salgado, que se frite ou assa'.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Cotonete e zaragatoa BASENAME: cotonete-e-zaragatoa-1 DATE: Wed, 23 May 2012 08:29:45 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Fonética TAGS: aspirina, , erlenmeyer, , , , , volt ----- BODY:
Em cima, umha zaragatoa; em baixo, recipiente com cotonetes

CONSULTA:

Queria sabes qual é a palavra certa para designar em galego o utensílio com forma de pau e algodão nos extremos que usamos para a higiene dos ouvidos. Em Portugal acho que usam a palavra 'cotonete', mas esta deriva dum nome comercial.

Também quaria saber qual é o nome do utensílio que é igual ao anterior, mas estéril e usado para a toma de amostras no âmbito médico. Nos hospitais galegos usam o termo castelhano 'hisopo', na wikipédia lusófona usam as palavras 'zaragatoa' e 'suabe' e o Estraviz também dá como boa a palavra 'hissope'.

Muito obrigado polas vossas respostas.

Jon Amil

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Constituindo a conversom de um nome próprio em nome comum umha modalidade de neologia aceitável (ex.: umha aspirina [marca registada da Bayer], a heroína 'droga' [marca da Bayer], o rímel [marca de cosmético]; a dália [planta, de Anders Dahl], um erlenmeyer 'frasco de laboratório' [de E. R. A. C. Erlenmeyer], o germánio [elemento químico, de Germánia], um volt [de Alessandro Volta], etc.), recomendamos sem reservas a utilizaçom em galego, de harmonia com o luso-brasileiro, da voz cotonete para designar as hastes de plástico terminadas em bolas de algodom que se utilizam na higiene pessoal (dos ouvidos) e em cosmética; também de harmonia com as variedades socialmente estabilizadas do galego-português, recomendamos o emprego na Galiza da voz zaragatoa de 'utensílio de uso médico composto por umha haste terminada em bolas de algodom destinado à tomada de amostras e à aplicaçom de medicamentos'.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Esgoto, sarjeta e bueiro BASENAME: esgoto-sarjeta-e-bueiro DATE: Thu, 17 May 2012 16:41:38 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Fonética CATEGORY: TAGS: ----- BODY:
De cima para baixo: esgoto, sarjeta, bueiros e valeta

CONSULTA:

Gostava de saber se os três termos são sinónimos: sarjeta, bueiro e esgoto.

Obrigado!

Paulo

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Nom se trata de vocábulos estritamente sinónimos, polo menos quando referidos a um ámbito urbano, ou de obras públicas, atual (que supomos ser o foco de interesse do consulente). Assim, nesse contexto, o termo esgoto designa os canos ou condutas por onde correm líquidos, águas pluviais ou detritos de um aglomerado populacional (rede de esgoto(s)); por sua vez, o termo sarjeta refere-se a umha abertura situada no rebordo dos passeios das ruas ou das praças públicas para escoamento das águas da chuva; finalmente, bueiro denota um cano ou tubo que atravessa os muros ou paredes de sustentaçom de terreios ou estradas, para dar escoamento a águas pluviais, subterráneas ou de rios. Tenha-se em conta, além do mais, que valeta denota umha vala estreita e de pequena profundidade, de corte trapezoidal ou triangular, aberta em cada um dos lados das ruas ou das estradas para escoamento e drenagem das águas.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Soluço e soluçar BASENAME: title-494 DATE: Thu, 17 May 2012 16:27:40 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Fonética CATEGORY: TAGS: impo, , salouco ----- BODY:

CONSULTA:

Qual é o nome correto para designarmos a contração brusca do diafragma que causa um ruído caraterístico? Os dicionários portugueses e brasileiros dão como correta a forma soluço, mas o Estraviz regista também as formas salouco, impo, saluco, sotelo e salaio (parece que dando certa prioridade a salouco).

Obrigado.

Jon Amil

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Em O Modelo Lexical Galego, documento (de próxima publicaçom) codificador do léxico da variedade galega do galego-português, a Comissom Lingüística da AGAL proporá como variante supradialetal na Galiza, no sentido aduzido polo consulente, o substantivo soluço (e o verbo soluçar).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Creche com berçário BASENAME: title-479 DATE: Mon, 23 Apr 2012 20:47:00 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: ----- BODY:
Interior de umha creche (ou infantário ou jardim de infáncia) que dispom de um berçário ao fundo

CONSULTA:

Boas!

Queria saber qual é o modo certo de designar em galego o lugar onde vão as crianças antes de irem para a escola infantil. Isto é, o que a norma isolacionista chama de "gardaría". Procurando pola Internet dei com os termos 'berçário', 'infantário', 'creche' e 'jardim de infância', mas não encontrei a que se referia exatamente cada um desses nomes.

Obrigado!

Jon Amil

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Com o sentido de 'estabelecimento onde se deixam crianças de idade inferior à da primeira escolarizaçom, durante o dia, sob o cuidado de pesssoas especializadas que organizam atividades para estimular e desenvolver as suas capacidades motoras, intelectuais, etc.', podem utilizar-se em galego os sinónimos creche (empréstimo do fr. crèche), infantário e jardim de infáncia (decalque semántico do al. Kindergarten). Por sua vez, a voz berçário designa a dependência ou instalaçom de umha maternidade ou de umha creche (ou infantário ou jardim de infáncia) onde se encontram os berços dos recém-nascidos ou das crianças de colo, respetivamente.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Ordem de despejo BASENAME: ordem-de-despejo DATE: Mon, 23 Apr 2012 20:23:12 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Fonética TAGS: desafiuzar, despejar ----- BODY:

CONSULTA:

Olá, gostaria de saber a origem e a validez da palavra desafiuzamento que empregan os meios em galego para se referir à expulsom de alguém da sua morada por impagamento (em castelhano, desahucio ou desalojo). Procurei-na tanto no Estraviz como nos dicionários da RAG e até no Priberam, mas em nengum apareceu dita palavra. Obrigado e parabéns por este serviço, do qual deveriam aprender algumhas instituçons que cobram do erário público.

Adrián

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Infelizmente, nom é exata a informaçom de a voz desafiuzamento, com o sentido de ?desocupaçom compulsória de um imóvel alugado, por decisom judicial?, nom ocorrer no dicionário da RAG, pois que a mais recente ediçom dessa obra regista desafiuzar no sentido jurídico apontado. Trata-se, claramente, de um decalque do cast. desahuciar, que contribui para reforçar a subordinaçom formal e funcional do galego ao castelhano e para isolar o galego das suas variantes geográficas plenamente estabilizadas (lusitano e brasileiro).

Por isso, para reforçar a personalidade e a utilidade social do galego, e em benefício da eficácia e da coerência do seu léxico, neste caso (como, em geral, em todos os casos em que no léxico galego se verifica estagnaçom e suplência castelhanizante: conceitos de surgimento posterior ao séc. XIV), a Comissom Lingüística da AGAL recomenda decididamente (cf. O Modelo Lexical Galego, de próx. publ.) aplicar de modo constante a coordenaçom neológica com o luso-brasileiro, de modo a obtermos aqui, no sentido jurídico indicado, despejar e despejo (açom de despejo, ordem de despejo, etc.).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Autocarro BASENAME: autocarro DATE: Tue, 20 Mar 2012 13:42:27 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: carrito, , , , misto, ----- BODY:

CONSULTA:

Antes de mais queria-os parabenizar por tão boa ferramenta linguística! Bom, a minha consulta é sobre o porquê da defesa ou recomendação por parte da AGAL do uso da palavra autocarro e não de ônibus, já que esta última ainda continua viva nas falas da Galiza.

Obrigadinho.

Frã Varela

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

No caso de se registar divergência entre Portugal e o Brasil na designaçom de algum conceito de surgimento posterior, entre nós, ao século XV (atuaçom no galego-português da Galiza dos processos degradativos da estagnaçom e da suplência castelhanizante a partir do início dos Séculos Obscuros), a Comissom Lingüística da AGAL propom, em geral, e com muito poucas exceçons (cf. O Modelo Lexical Galego, texto de próxima publicaçom por parte da CL-AGAL, e Léxico Galego: Degradaçom e Regeneraçom, de Carlos Garrido), a adoçom na Galiza da soluçom lusitana, na procura da eficácia comunicativa (homogeneizaçom imediata na Galiza dos usos lexicais), e atendendo a um critério de (maior) proximidade (lingüística, cultural, geográfica, económica, política).

O caso concreto que coloca o consulente (Pt. autocarro / Br. ônibus, para designar um veículo automóvel de uso coletivo, com rotas ou carreiras urbanas prefixadas), achamos que nom deve constituir exceçom à regra enunciada, pois a eventual presença na Galiza de ômnibus, ?descartada aqui, evidentemente, a convergência neológica espontánea e autónoma com o Brasil, por nom existir na prática tal capacidade neológica na Galiza contemporánea? só caberá entendê-la por «aderência» a partir do castelhano (cast. ómnibus, voz sinónima do cast. autobús, as quais originam a forma castelhana informal bus). (Cf. a presença na Galiza contemporánea dos castelhanismos «desfasados» *misto ?fósforo? e *carrito ?autocarro?).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: "Ocasiom" é um cultismo BASENAME: ocasiom-e-um-cultismo DATE: Fri, 16 Mar 2012 18:52:35 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Fonética CATEGORY: Ortografia CATEGORY: Léxico CATEGORY: Morfossintaxe TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

A que se deve o uso da única exceçom nas terminações -çom/-som como é «ocasiom»? Nom é um pouco contraproducente o seu uso, sobretudo tendo em conta que no galego medieval já se tende a perder o «i» e mesmo poderia passar por castelanismo?

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

O latim OCCASIONE(M) deu como resultado popular "(o)cajom" na Idade Média. A partir do séc. XIV surge a latinismo "ocasiom", que pola data de entrada na língua e carácter erudito mantivo o "i". Nunca existiu *ocasom.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Arranjar cabides e porta-guarda-chuvas para o bengaleiro BASENAME: arranjar-cabides-e-porta-guarda-chuvas-para-o-bengaleiro DATE: Tue, 13 Mar 2012 19:34:10 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: resolver ----- BODY:
Cabide que incorpora um porta-guarda-chuvas

CONSULTA:

Antes de mais, obrigado pelas muitas dúvidas resolvidas; coloco mais duas: tenho entendido que bengaleiro é o lugar onde se pousam os guarda-chuvas, mas também aquele em que se penduram os sobretudos e peças de abrigo, e ainda nalgum lugar alargam o significado para o sítio em que, nos teatros e noutros lugares de cultura, se deixam as peças para recolhê-las depois da função. A outra dúvida é o verbo arranjar; tenho ouvido na RTP um funcionário falar de alguém que «arranjou inimigos», como sinónimo de apanhá-los. É possível entender que «arranjar problemas» seja precisamente o contrário de removê-los?

Mais uma vez, obrigado!

Paulo Mouteira.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

De harmonia com o luso-brasileiro, utilizaremos em galego a voz bengaleiro para denotarmos o departamento de um teatro, casa de espetáculos, edifício público ou residência onde se guardam as bengalas, guarda-chuvas, sobretodos, etc., dos espetadores ou visitantes (e também o empregado encarregado dessa guarda); em relaçom à peça de mobília dotada de ganchos e destinada a nela pendurar chapéus, roupas, bengalas, etc., utilizaremos cabide e, finalmente, para denotarmos a peça de mobília a modo de recipiente onde se depositam guarda-chuvas (e bengalas), recorreremos à voz porta-guarda-chuvas.

O verbo arranjar tem, com efeito, os significados de ?reparar ou consertar algum objeto ou dispositivo, de modo a que este recupere a sua integridade e funcionalidade? e o de ?conseguir, obter? (esta segunda aceçom de arranjar está ainda viva no galego espontáneo das comarcas da Límia e do Baixo Minho, polo menos). De harmonia com o luso-brasileiro, devemos promover em galego o uso de consertar, como alternativa a arranjar, e o de arranjar no segundo sentido enunciado. No exemplo concreto que aduz o consulente, «arranjar problemas», dificilmente poderá surgir ambigüidade, porque, com a palavra problemas, no sentido de removê-los, deve usar-se antes resolver do que arranjar.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Mapache, urso-lavador ou urso-lavadeiro BASENAME: mapache-urso-lavador-ou-urso-lavadeiro DATE: Tue, 13 Mar 2012 19:09:33 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: guaxinim, , , , zorrinho ----- BODY:

CONSULTA:

Como devem denominar-se em galego os mamíferos do género Procyon? Já procurei em diversos sítios mas nom dou atopado resultados satisfatórios nem no estraviz.org, nem nos materiais da Real Académia Galega (nom aparece nem no Volga nem no diccionario).

Hugo Martínez.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Dado que o conceito ?mamífero do género Procyon? é posterior (na Galiza e na Europa) ao século XV (espécies americanas, exóticas em relaçom à Galiza), a sua designaçom na Galiza está sujeita ao processo degradativo da estagnaçom(e suplência castelhanizante). Nesta circunstáncia, como medida para enriquecer o léxico galego, a Comissom Lingüística da AGAL prescreve, em geral, a coordenaçom com os padrons lexicais lusitano e brasileiro e, no caso de divergência designativa entre Portugal e o Brasil, a priorizaçom na Galiza da(s) soluçom(ns) lusitana(s) (cf. O Modelo Lexical Galego, de próxima publicaçom pola CL-AGAL; Léxico Galego: Degradaçom e Regeneraçom, de Carlos Garrido; Manual de Galego Científico, de Carlos Garrido e Carles Riera).

Em referência às espécies do género Procyon, as denominaçons utilizadas em Portugal som mapache e urso-lavador (ou urso-lavadeiro), enquanto no Brasil se usam as vozes guaxinim, mão-pelada e zorrinho. Por conseguinte, no galego-português da Galiza, usaremos mapache ou urso-lavador ou urso-lavadeiro.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Zicho, agulheta e aspersor BASENAME: zicho-agulheta-e-aspersor DATE: Thu, 26 Jan 2012 15:08:21 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: esguichar, esguicho ----- BODY:
De cima para baixo: zicho, agulheta e aspersor

CONSULTA:

Agulheta, esguicho, aspersor: são sinónimos?

Obrigado.

Paulo

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

As vozes agulheta, aspersor e esguicho (esta última, luso-brasileira, equivale a zicho no padrom lexical galego definido pola Comissom Lingüística da AGAL) som de significado próximo quando se utilizam para designar um dispositivo aplicado ao extremo de um tubo ou mangueira que serve para projetar com força um líquido (água). No entanto, ainda que de significado próximo, as três vozes nom denotam exatamente o mesmo dispositivo.

Assim, agulheta refere-se a umha peça de metal que se atarraxa na extremidade de saída das mangueiras de grande pressom (como as dos bombeiros!) para que o jacto de água jorre com força e poder ser mais facilmente dirigido; zicho (= esguicho em Pt e no Br), por seu turno, designa um dispositivo (de plástico, p. ex.) que se coloca na extremidade de um tubo ou de umha mangueira (de jardim, p. ex.) para fazer a água zichar (= esguichar em Pt e no Br), isto é, para fazer que a água saia a pressom; por último, um aspersor é um dispositivo, fixo ou giratório, que, no campo da agricultura, e aplicado ao extremo de um tubo ou mangueira, serve para projetar e borrifar (= aspergir, pulverizar, atomizar em gotículas) a água sobre plantas de cultura (método de irrigaçom).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Leilám BASENAME: leilam DATE: Tue, 17 Jan 2012 11:42:56 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

A minha dúvida é sobre a forma galega correta que se corresponde com o luso-brasileiro leilão ?poja?. Tenho visto leilom, que acho deve ser umha regaleguizaçom errónea; o Prof. Garrido cita no seu Léxico Galego a forma leilám e no Estraviz aparece leilão. Também no Dicionário de Dicionários aparece quase sempre leilán, mas também umha abonaçom da expressom andar ó leilao.
Pode ser entom umha palavra do tipo irmão (que coexista com a forma irmám) ou é decididamente umha palavra do tipo capitám (sem o correspondente na Galiza da forma capitão)? Ou, dito de outra maneira, na padronizaçom da AGAL seria leilao ou leilám (supondo que nom tenha de ser leilom!)?

Cumprimentos e obrigado.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

No galego (contemporáneo), com o sentido de ?venda pública de objetos a quem oferecer maior lance?, isto é, com o sentido de ?hasta, almoeda, arremataçom?, regista-se, com efeito, a forma leilám, harmónica com o correspondente étimo árabe (al-alam) e motivadora da forma de plural leiláns ou leilães, esta ainda hoje algumha vez registada, ao lado da esmagadoramente maioritária leilões, no ámbito luso-brasileiro. Por estes motivos, a forma padronizável na Galiza é leilám.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Os dias da semana em galego BASENAME: os-dias-da-semana-em-galego DATE: Tue, 10 Jan 2012 12:51:24 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: domingo, joves, luns, martes, , quarta-feira, quinta-feira, sabado, segunda-feira, sexta-feira, , venres ----- BODY:

CONSULTA:

Boa tarde,

Devo traduzir um calendário num programa informático e tenho
dous problemas cos dias da semana.

O primeiro é que se é mais normal e preferível em Galiza os
dias luns, martes, mércores, joves e venres ou segunda feira,
terça feira, quarta feira, quinta feira e sesta feira.

E o segundo, dependendo do primeiro, como acostumbram-se a
abreviar os dias, se L M X J V S e D ou d'outra manera.

Muito obrigado pela sua atençom,

David

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

As denominaçons de origem cristá dos dias da semana, coincidentes com as portuguesas, conservam-se hoje em dia só entre pessoas de muita idade, nomeadamente na metade ocidental do país. Porém, elas som as tradicionais no conjunto da Galiza desde os primórdios da língua: domingo, segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado.

O que observamos na documentaçom medieval é que o sistema de origem pagá (que usa os astros como referência) estava já quase totalmente substituído polo cristao. Salvo em pequenas áreas do nordeste galego, quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira já se tornaram sistemáticas, só sobrevivendo lûes e martes ao lado de segunda-feira e terça-feira. Este parece ser o retrato aproximado da situaçom medieval na Galiza e, segundo alguns dados, também em Portugal. Como noutros casos, por exemplo a adaptaçom da terminaçom -vel, estamos perante um processo que nom culminou, abortado pola interferência do castelhano.

Tampouco a distribuiçom dialetal dos restos das denominaçons cristás que ainda perduram nas diferentes falas galegas nos permitem duvidar quanto ao facto de serem os compostos com a palavra feira as formas galegas genuínas.

Porém, com a exceçom do primeiro (domingo) e do último (sábado) dia da semana (coincidentes em ambos os sistemas), todos os outros fôrom maioritariamente substituídos quer polas formas castelhanas (de origem pagá) quer, provavelmente, por adaptaçons morfológicas destas quando nom perduraram (como no caso do nordeste galego) desde a época medieval: lunes/luns/lus; martes; miércoles/mércoles/mércores; jueves/joves; viernes/vernes/venres.

Baseando-nos apenas no mapa dialetal galego, sabemos isto por três motivos:

1. As formas tradicionais que mais recuárom fôrom a segunda-feira e a terça-feira, empurradas ou substituídas polas formas lunes/luns/lus e martes respetivamente, isto é, aquelas da série castelhana que precisárom de menos transformaçons para se adaptarem ao sistema fonológico galego.

2. Das três restantes, quarta-feira (ou as suas variantes carta-feira/carta e corta-feira/corta) é a que chegou mais viva aos dias de hoje, sendo possível registá-la em todos os blocos dialetais galegos. No caso de quinta-feira (ou quinta), apesar de ter desaparecido em mais comarcas que a quarta-feira, a sua isoglossa nas zonas em que se conserva é idêntica à do quarto dia da semana, o que nos permite assegurar que outrora a extensom de ambas as denominaçons cristás teria sido semelhante ou idêntica.

3. Os três pontos em que se conserva a série completa dos dias tradicionais ficam em lugares tam afastados como o Baixo Minho, a Terra Chá e a Límia.

A origem híbrida das referidas adaptaçons morfológicas é provável nas comarcas em que as formas pagás tinham desaparecido completamente na Idade Média (a maior parte da Galiza), umha vez que numha mesma aldeia podem (ainda hoje) conviver as denominaçons tradicionais (nas pessoas mais velhas) com as adaptaçons morfológicas das formas castelhanas (entre pessoas menos velhas) e com as formas plenamente castelhanizadas (entre as pessoas mais novas). Nós próprios registamos isto em vários concelhos galegos mui afastados entre si: carta-feira > mércoles > miércoles (Ortigueira); sexta > vernes > viernes (Entrimo).

As adaptaçons morfológicas (luns/lus; mércores/mércoles; joves; vernes/venres) terám sido freqüentes na altura em que o galego contava com mais vitalidade (cf. ayuntamiento > ajuntamento). Porém, na língua contemporánea, até a incorporaçom do galego ao ensino, o mais habitual já era a penetraçom dos castelhanismos plenos (lunes, miércoles, jueves, viernes).

As abreviaçons mais usadas nos países lusófonos para a série completa dos dias da semana som: D, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e S, com a palavra feira seguindo, às vezes, os numerais ordinais.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: A 'gheada' BASENAME: a-gheada DATE: Mon, 09 Jan 2012 17:30:02 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Fonética CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Segundo tenho lido a origem gheada tem várias hipóteses. As hipóteses defendidas comummente polo isolacionismo som a dumha suposta origem prerrománica ou umha evoluçom interna da língua galega. No entanto, o reintegracionismo parece optar por explicá-lo como um influxo do espanhol.

Nas duas primeiras hipóteses, compreendo o processo e a identificaçom do 'gh' aspirado com o 'g' suave. Mas no caso da hipótese castelhanista nom acabo de compreender como o som do 'j' espanhol passa ao galego substituindo o fonema 'g' suave ('gato' -> 'ghato') em lugar de substituir o fonema 'sh' ('caixa' -> 'caigha') como pareceria natural.

Espero ter-me explicado bem. Entom a questom é essa, como se explica a origem da gheada se a considerarmos um castelhanismo?

Obrigado!

Jon Amil

RESPOSTA DA COMISSOM:

A gheada é um fenómeno que deveu abranger, de maneira irregular, o conjunto das falas galegas. Porém, só chegou a compactar-se na metade ocidental da Galiza, embora com diferentes realizaçons e nem sempre em todos os contextos fonéticos.

Segundo a teoria que comentas, teria origem na interferência do castelhano através de um processo que se repete com relativa freqüência nas variedades lingüísticas subordinadas (cf. ceceo andaluz; troca do bê polo vê do Norte de Portugal, etc.). O mecanismo que conduziria à substituiçom do fonema /g/ por outro com umha série de realizaçons que vam do [h] até o [k] mas cujo resultado final costuma ser o [x] da palavra castelhana mujer (mu[x]er) é aliás bem conhecido entre os professores de línguas estrangeiras, e a ele nos iremos remeter para facilitar a compreensom do surgimento da gheada galega segundo a tese que defende que houvo interferência do castelhano:

No ensino de línguas é habitual que as pessoas realizem aqueles fonemas mais 'difíceis' do novo código substituindo-os polos fonemas mais próximos da língua de partida. Por exemplo, para aprender o português lusitano, enquanto nom se domina o esse sonoro da palavra asa, o estudante galego costuma substituí-lo polo mesmo esse surdo que realiza habitualmente na sua língua materna. Numha segunda fase, após aprendido o novo fonema, também é habitual que os estudantes nom se limitem a pronunciá-lo na palavra asa, senom que o estendam a outras palavras (como assa) em que o esse deveria realizar-se surdo. Este mecanismo, chamado ultracorreçom, é considerado inevitável polo professorado de línguas estrangeiras e só é corrigido numha terceira fase da aprendizagem, nomeadamente quando existe um bom domínio da ortografia que serve de apoio à correta pronúncia.

A gheada seria o resultado de tentar incorporar ao sistema lingüístico galego o fonema /x/ do castelhano. Assim, numha primeira fase (provavelmente no século XVII ou XVIII), ao falarem espanhol ou ao tentarem espanholizar o seu galego, os falantes, incapazes de pronunciar o [x] do castelhano (por exemplo na palavra juventud) profeririam guventu, da mesma maneira que gato. Numha segunda fase, talvez já nas seguintes geraçons, aprendido o novo fonema, passariam a pronunciar [x]uventu, mas, por desconhecerem as regras de pronunciaçom da nova língua e até os limites ortográficos que elas imponhem, estenderiam a nova pronúncia a todas as palavras que antes pronunciavam com [g].

Este processo, que envolve confusons em duas direçons (gueada e gheada) tem sido identificado na documentaçom desde o século XVIII (e talvez XVII) e ainda na atualidade naquelas zonas em que a gheada nom está dialetalmente estável. Nestas, umha pessoa velha pode dizer garsei/guersei, bruga e gato enquanto umha nova [x]ersei/[x]arsei, bru[x]a e [x]ato, isto é, com umha pronúncia idêntica ou semelhante ao som que o espanhol representa com as letras jota ou, nalguns casos, guê.

Em muitos casos, a incorporaçom do novo fonema castelhano teria sido deficiente, dando por resultado umha enorme variedade de realizaçons do mesmo fonema que de qualquer modo praticamente todos os autores desde o século XVIII identificárom com o /x/ castelhano.

Na atualidade, o principal defensor desta tese é o gramático Xosé Ramón Freixeiro Mato, no volume dedicado à fonética e à fonologia da sua Gramática da Lingua Galega. Porém, historicamente, José Luís Pensado foi o lingüista que explicou esta teoria com mais detalhe.

Ao lado da gheada, como di o consulente, também teria havido outras tentativas de adaptar as incorporaçons de vocábulos do castelhano através de analogias do tipo:

caja > caixa
conejo > conexo

mujer > mulher
rodaja > rodalha

Estas adaptaçons podem ser mais antigas ou mais recentes (mesmo atuais), mas em princípio nom teriam nada a ver com o processo global que dá origem à gheada.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: O jogo do 'pai-filho-mae' BASENAME: o-jogo-do-pai-filho-mae-1 DATE: Mon, 09 Jan 2012 13:42:14 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Gostava de saber se é correta ou existe nalguma parte da Galiza ou da Lusofonia esta expressão para oa jogo que, em espanhol, chamam de "tres en raya".

Quando eu criança, no colégio, os alunos (curiosamente castelhanofalantes todos) davam este engraçado nome à brincadeira).

Obrigado de antemão (com esta fico à espera de respostas das que já perdi a conta, embora outras me foram de grande ajuda).

Bom ano.

Paulo

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Com efeito, o jogo que em castelhano de Espanha recebe o nome de tres en raya, denomina-se no Brasil jogo da velha; em Portugal, jogo do galo, e, na Galiza, pai-filho-mae (cf. Wikipédia).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: 'Mais (do) que' e 'Antes (do) que' BASENAME: mais-do-que-e-antes-do-que DATE: Tue, 27 Dec 2011 18:29:05 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Como se diz: «Mais do que bilingüe sou analfabeto» ou «mais que bilingüe sou analfabeto»?

RESPOSTA DA COMISSOM:

Com o valor de ?mais para umha cousa do que outra? ou ?de preferência, melhor?, deve utilizar-se em galego-português o advérbio antes. Assim, o exemplo aduzido polo nosso consulente pode construir-se da seguinte maneira: «Antes (do) que bilingue [ou bilíngüe], som [ou sou] analfabeto!».

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: 'Gostava de saber' ou 'Gostaria de saber'? BASENAME: gostava-de-saber-ou-gostaria-de-saber DATE: Mon, 26 Dec 2011 20:58:36 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Como se diz: > 3."Gostava mesmo de aprender" ou "Gostaria mesmo de aprender"?

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Gostava de aprender / Gostaria de aprender

Esta questom já foi respondida pola Comissom (?Gostaria de caminhar pola rua, mas algumha nom tem passeio?) [?som construçons sinónimas e igualmente válidas Gostaria de saber e Gostava de saber, sendo esta última menos formal do que primeira.]

Pode, porém, acrescentar-se o seguinte:

Um dos usos do modo condicional (seria) é atenuar umha afirmaçom ou a expressom de um desejo (condicional de cortesia). Exemplos:

Poderia ajudar-me?
Seria necessário vires mais cedo.
Gostaria de saber quem cho dixo.

Num registo corrente, o condicional de cortesia pode ser substituído polo imperfeito do indicativo (era), sendo nesse caso, a atenuaçom menor. Assim:

Podia ajudar-me?
Era necessário vires mais cedo.
Gostava de saber quem cho dixo.

O consulente poderá encontrar mais informaçom no Civerdúvidas da Língua Portuguesa: ?Imperfeito e condicional de cortesia?.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: 'Ter que sair' ou 'Ter de sair' BASENAME: ter-que-sair-ou-ter-de-sair DATE: Mon, 26 Dec 2011 20:47:25 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Como se diz: "Temos de arranjar isso" ou "Temos que arranjar isso"?

Temos de arranjar isso / Temos que arranjar isso

Ambas as locuçons verbais (ter de/que + infinitivo) som usadas e estám corretas. Todavia, é de notar que:

a) ter de é a construçom mais tradicional e castiça.
b) ter que sublinha mais a obrigaçom ou o propósito do que ter de.

De referir ainda a locuçom ter a + infinitivo, usada mormente com verbos como dizer para atenuar a intençom. Exemplo:

Tenho a dizer-vos que nom concordo convosco.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Futuro do Conjuntivo ou Imperfeito do Conjuntivo BASENAME: futuro-do-conjuntivo-ou-imperfeito-do-conjuntivo DATE: Mon, 26 Dec 2011 00:49:55 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Diz-se: «se for ele suspeito» ou «se fosse ele suspeito»?

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

«Se ele fosse suspeito» é umha cláusula condicional puramente hipotética, nucleada por um pretérito do conjuntivo (fosse) e que pode ocorrer em correlaçom com umha cláusula principal nucleada por um potencial ou forma verbal equivalente (como o pretérito imperfeito). Assim, por exemplo: «Se ele fosse suspeito, nom estaria tam alegre.» ou «Se ele fosse suspeito, nom estava tam alegre.». Em contraste, «Se ele for suspeito» é umha cláusula condicional, nucleada por um futuro do conjuntivo (for), que assinala um estado de cousas situado no futuro mas anterior a umha açom expressa polo verbo da cláusula principal correlacionada (o qual pode ser um futuro do indicativo ou, com valor de futuridade, também um presente do indicativo, um presente do conjuntivo ou um imperativo): «Se ele for suspeito, fugirá da cidade.». Comparem-se estes três tipos de cláusulas condicionais: «Se estudar, aprovará o exame!» (oxalá o faga!; condicional provável) / «Se estudasse, aprovaria o exame!» (mas parece que nom o vai fazer!; condicional improvável) / «Se tivesse estudado, teria aprovado o exame!» (mas, infelizmente, nom o fijo!; condicional impossível).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Daçom em pagamento BASENAME: dacom-em-pagamento DATE: Mon, 26 Dec 2011 00:34:03 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Como se di em galego correto "dación en pago", um termo que ultimamente aparece muito na imprensa espanhola e galega, mas... como se deve dizer em galego correto?

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

O castelhano «dación en pago» corresponde na nossa língua a daçom em pagamento ou também a daçom in solutum (em latim datio in solutum).

O Dicionário Houaiss define este termo jurídico como (1) ?pagamento com algum bem de uma dívida em dinheiro? ou (2) ?entrega polo mutuário de imóvel hipotecado ao agente financeiro, ou de devedor a credor, correspondente ao que deveria ser pago em moeda?.

Para informaçons mais pormenorizadas, remetemos o consulente para o verbete dação em pagamento da Wikipédia.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Tempos Compostos BASENAME: tempos-compostos DATE: Sat, 03 Dec 2011 19:22:36 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: , , ----- BODY:

CONSULTA:

É correto o uso dos chamados tempos compostos em galego? Obrigado.

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Embora a Comissom Lingüística da AGAL ainda nom se tenha manifestado especificamente sobre questons de morfossintaxe normativa, como a que aqui levanta o nosso consulente, nesta altura, de modo tentativo, e baseando-nos nas consideraçons tecidas no Manual Galego de Língua e Estilo (pág. 165?168) e na segunda ediçom do Manual de Galego Científico (pág. 496?500), podemos oferecer as seguintes orientaçons sobre o emprego em galego dos tempos verbais compostos.
Em primeiro lugar, leve-se em conta que na atual língua espontánea (meramente coloquial), os tempos compostos legítimos, genuínos, tenhem umha representaçom pequena, limitada basicamente à perífrase aspetual perfectivo-reiterativa ?ter [como presente do indicativo] + particípio?, que indica repetiçom de umha açom no passado (ex.: «O aviom tem chegado atrasado todos os dias.», «Tenho falado muito com ela.»), e à perífrase aspetual perfectiva ?ter [quase sempre como infinitivo] + particípio?, que indica umha açom única concluída no passado (ex.: «Nom fum a Ourense e sinto nom ter ido.»).
Ora, para ganharmos expressividade, eficácia comunicativa, na língua formal galega é necessário enriquecermos este quadro de usos dos tempos compostos, incorporando novos matizes semánticos e possibilidades combinatórias, através de um alargamento natural feito de harmonia com as variedades socialmente estabilizadas do galego (lusitano e brasileiro). Nesta linha, recomendamos para o galego culto o seguinte quadro de usos das formas verbais compostas:
1. Perífrase aspetual perfectivo-reiterativa e atualizadora ?ter [como presente do indicativo, como pretérito imperfeito do indicativo, como presente do conjuntivo ou como gerúndio] + particípio?. Para além do significado perfectivo-reiterativo (ex.: «A nossa equipa tem feito a experiência com diversos animais de laboratório sem obter qualquer resultado significativo.»), esta perífrase poderá também utilizar-se com um valor atualizador, i. é, para indicar processos ou estados iniciados no passado cuja duraçom ou cujos efeitos se prolongam até ao presente e ainda podem, porventura, continuar no futuro. De facto, em muitos casos, poderá verificar-se confusom de ambos os valores desta perífrase. Ex.: «O aviom tem estado parado.», «Como tens estado? Tenho estado muito mal, tenho estado doente.», «Ultimamente a resposta de hipersensibilidade tem sido considerada como exemplo da morte celular programada.», «O carvom tem sido empregado desde há muito tempo na geraçom de energia.».
2. Perífrase aspetual perfectiva ?ter [como infinitivo invariável ou flexionado / gerúndio / futuro do indicativo (com freqüente valor de hipótese sobre o passado) / pretérito imperfeito do indicativo (sobretodo na Galiza, em concorrência com o pretérito mais-que-perfeito) / pós-pretérito (com freqüente valor de hipótese sobre o passado) / pretérito do conjuntivo / futuro do conjuntivo / presente do conjuntivo] + particípio?, para indicar umha açom única concluída no passado. Exemplos: «Animais lentos e sem defesas eficazes, os megatérios podem ter sido abatidos polo home e por grandes carnívoros.», «Pensa-se terem sido os Orientais os primeiros povos verdadeiramente entendidos na confeçom de medicamentos.», «Tendo concluído a primeira fase da experiência, começárom a segunda.», «As altas temperaturas terám retardado a solidificaçom da lava.», «Nunca antes tinha assistido a um congresso de Geofísica.» (= «Nunca antes assistira a um congresso de Geofísica.»), «Os Chineses teriam realizado os primeiros foguetes em 1100.», «Se tivesses estudado, terias aprovado!», «Quando tu tiveres completado a primeira fase da investigaçom, eu já terei concluído a terceira!», «É curioso que nom tenham sido descobertos mais casos como esse.».

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Oxalá BASENAME: oxala DATE: Fri, 25 Nov 2011 15:44:32 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Nalguns escritos podemos ler "ogalhá" e noutros "oxalá". Qual é o motivo? A única forma correcta é a segunda, não é?

Saudações

Íria

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Ogalhá vs. oxalá.

É umha questom interessante, como se desprende do facto da existência na oralidade da forma ogalhá, tam galega aparentemente, e da escolha normativa unitária, em perspetiva reintegracionista e nom reintegracionista, em favor de oxalá, na origem fórmula de proveniência árabe equivalente a 'Queira Alá' (cfr. a forma utilizada no Brasil, e título de umha obra de Carlos Quiroga, Inxalá, com idêntico valor).

Ora, parece que oxalá se cunhou em galego-português numha época posterior à da queda do -l- intervocálico típica do nosso idioma ou é adaptaçom do próprio castelhano.

No entanto, ogalhá apresenta dous pormenores pouco encorajadores com vista a umha hipotética padronizaçom: as suas duas consoantes constitutivas. O "g" parece tomado do castelhano, com adaptaçom do som velar surdo [x] desta língua (ojalá) a umha pronúncia típica de "gueada" (v. gr. guefe, do esp. jefe); o "l" palatal, por sua vez, lembra variantes muito minoritárias tipo (a)galhopar (por galopar), nengumha das quais é recomendada como padrom, tendo o inconveniente, para mais, de ocultar o nome de Deus em árabe presente no étimo, que constitui umha singularidade digna de notar.

Assim sendo, e ainda por coerência com a escolha histórica luso-brasileira, o estándar recomendado deve ser, fora de dúvidas, oxalá.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: safar, fusilar e palhasso BASENAME: safar-fusilar-e-palhasso DATE: Fri, 25 Nov 2011 13:32:36 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Bom dia,

Gostaria de sebar cal é a ortografia recomendável em galego reintegracionista das seguintes palavras: zafar/safar, fusilar/fuzilar, palhaço/palhasso.

Obrigado
Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

De harmonia com os hábitos fónicos galegos, a grafia patrocinada em galego pola Comissom Lingüística da AGAL para as palavras propostas polo nosso consulente é safar (Pt.+Br. safar), fusilar (Pt.+Br. fuzilar) e palhasso (Pt.+Br. palhaço). (Cf. parágrafo 80 do Prontuário Ortográfico Galego, parágrafo 1. l. 32 do Manual Galego de Língua e Estilo e artigo de Elvira Souto no número 3 da revista Agália [pág. 332 e 333]).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Courel BASENAME: courel DATE: Fri, 25 Nov 2011 12:37:06 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: touro ----- BODY:
Paisagens diferentes na serra galega e na freguesia portuguesa com o mesmo nome: Courel

CONSULTA:

Qual é a forma correta deste topónimo, Courel ou Caurel? Penso que a primeira é a forma oficializada, mas tenho visto ambas em escritos em galego reintegrado.

Saudinha!

Jon Amil

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

A forma galega do topónimo é Courel, com ditongo -ou-. Em castelhano, onde aquele ditongo é praticamente desconhecido, di-se Caurel. Caurel é, portanto, castelhanismo em galego.

Provém de CAURELLUM, vocábulo no qual, como em muitos outros topónimos e palavras comuns, o ditongo latino -AU- evoluiu para -ou-: Touro < TAURUS. Tem-se dito que fai referência à profundidade dos seus vales, porque provavelmente o étimo significasse 'côncavo' ou 'covo'. No entanto, a orografia da freguesia do concelho de Barcelos com o mesmo nome, nada montanhosa, nom nos permite confirmá-lo.

Em espanhol, o resultado normal desse ditongo é -o-: CAURIA > Coria. Porém, no caso que nos ocupa foi diferente. Nesta língua, veiculada na Galiza através de pessoas ilustradas, nomeadamente em zonas afastadas dos centros urbanos como esta, trata-se de um cultismo. Quer dizer, as pessoas que monopolizavam a transmissom cultural, muito provavelmente eclesiásticas, teriam exercido influência para preservar ou restaurar umha forma próxima da antiga denominaçom latina desta serra.

A partir daqui a história é sobejamente conhecida. A forma Caurel teria sido adotada polas classes menos ilustradas até chegar a concorrer com a forma galega genuína: Courel.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Çoco e soco BASENAME: coco-e-soco DATE: Fri, 18 Nov 2011 11:55:22 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Ortografia CATEGORY: TAGS: ceceio, , , sanja, sesseio, soca, soqueiro, , ----- BODY:

CONSULTA:

Bom dia,
Gostaria de saber cal é a ortografia correta em galego e a denominaçom correta para o que na norma RAG-ILG é conhecido como "zoca"

Gracinhas

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Em contraste com o que acontece nas variedades lusitana e brasileira do galego-português, na variedade galega da língua, e de harmonia com o Prontuário Ortográfico Galego da Comissom Lingüística da AGAL (parágrafo 80), as palavras çoca, çoco e çoqueiro grafam-se com cê-cedilhado inicial (com esse inicial em lusitano e em brasileiro: soca, soco, soqueiro). Tal circunstáncia deve-se a que, na Galiza, a realizaçom do primeiro fonema dessas palavras (como também no caso de çanja) pode ser sigmatista (do grego, letra sigma: realizaçom com o fonema presente, por exemplo, no início da voz soar) ou tetacista (do grego, letra teta: realizaçom com o fonema inicial da voz inglesa think), e, para se reconhecer na escrita tais possibilidades, recorre-se ao grafema ç, que representa as duas realizaçons. Por outro lado, tenha-se em conta que çoco (com ó tónico aberto) também significa ?base, pedestal, peanha? (≈ cast. zócalo), enquanto soco (com ó tónico fechado) significa ?pancada dada com a mao fechada, punhada, murro?.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Despistar BASENAME: despistar-1 DATE: Tue, 15 Nov 2011 11:56:47 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: despistado, , esquecido ----- BODY:

CONSULTA:

Desejaria saber cal é o significado correto de despistar em galego. É correto empregá-lo como ?estar desorientado??

Obrigado.

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Em galego-português, despistar tem, como significado primário, o de ?des-pistar?, quer dizer, sair da pista, ou caminho certo, um automóvel, e, entom, di-se que tal automóvel sofreu um despiste ou despistamento (ex.: «o óleo na estrada despistou o carro»; «formou-se umha longa fila de automóveis na autoestrada devido ao despiste de um camiom»). Secundariamente, despistar também pode significar ?fazer perder ou perder o rumo ou caminho certo?: «o fugitivo conseguiu despistar os seus perseguidores»; «despistámo-nos, por as ruas serem todas iguais». Finalmente, num uso similar ao do castelhano despistar, também é possível utilizarmos em galego-português despistar no sentido de ?desorientar?, despiste, no de ?falta de atençom ou de concentraçom?, e despistado -a, no de «pessoa distraída, com dificuldade em se concentrar? (ex.: «tem aquele ar despistado, mas nada lhe escapa»), se bem que, com este último sentido, em galego-português sejam mais freqüentes as vozes distraído -a e esquecido -a.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Escritório e escrivaninha BASENAME: escritorio-e-escrivaninha DATE: Tue, 15 Nov 2011 11:19:50 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: , escrivaninha, gabinete, oficina ----- BODY:
Escrivaninha ou secretária num escritório

CONSULTA:

«Escritório» pode-se usar como móvel atual, ou o único recomendável é empregar «escrivaninha» como no português e brasileiro? Som o mesmo móvel ou hai algumha diferença entre eles?

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Para designar umha mesa própria para escrever, tipicamente provida de gavetas para guardar documentos, devem utilizar-se em galego, de harmonia com o lusitano e o brasileiro, as vozes secretária e escrivaninha. Ainda que a voz escritório também poda referir-se a esse tipo de mesa, em geral ela deve reservar-se para designar a sala ou gabinete em que se administram negócios ou se recebem clientes (= cast. oficina). A esse respeito, tenha-se em conta que em galego-português o vocábulo oficina, de harmonia com o significado que o étimo tinha em latim, denota o lugar onde se elabora, fabrica ou conserta algo (ex.: oficina de mecánica de automóveis).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: No outro dia, ao outro dia BASENAME: no-outro-dia-ao-outro-dia DATE: Tue, 15 Nov 2011 11:04:08 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: dias ----- BODY:

CONSULTA:

Na televisom galega usam muito a expressom "ao outro dia" como significado de "no dia seguinte". Procurando pola Internet, vim que o comum no resto de variantes da nossa língua é usar "no outro dia" com sentido de "dias atrás".

Entom, qual é a forma correta, "ao outro dia" ou "no outro dia"? E qual o significado, futuro ou passado?

Obrigado!

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

As locuçons adverbiais no outro dia e ao outro dia tenhem, via de regra, significados diferentes. A primeira quer dizer 'recentemente, num dia indeterminado do passado próximo de hoje'. A segunda fai referência ao dia seguinte a outro qualquer, quer passado quer futuro. Equivale a para o outro dia:

No outro dia nom vinheste e ao outro dia chegaste tarde.

Sirva esta resposta para lembrar que, em geral, os complementos adverbiais de tempo que usamos para indicar em que momento aconteceu qualquer cousa, levam preposiçom tanto no galego tradicional como nas diferentes variedades do português no mundo. Ainda hoje em dia, a ausência da mesma delata um galego castelhanizado:

No domingo vim-te.
Naquele dia vim-te.
Na semana passada vim-te.
No verao vou-te ver.

No caso concreto dos dias da semana, estes também podem ir precedidos pola preposiçom a, quando usados para indicar umha açom habitual, ou sem preposiçom nem artigo, quando usados para indicar umha açom pontual:

No domingo vim-te. = Domingo vim-te.
Ao sábado nom passa o butano. = Aos sábados nom passa o butano.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Soto, cave e porom BASENAME: soto-cave-e-porom-3 DATE: Fri, 21 Oct 2011 10:44:04 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: faiado, , ----- BODY:

CONSULTA:

Qual é o significado da voz "soto" ou "sótao" em galego? Qual das duas formas é correta e porquê?

Muito obrigado

RESPOSTA DA COMISSOM:

A Comissom Lingüística da AGAL, mediante a próxima publicaçom de O Modelo Lexical Galego, proporá como unidades pertencentes ao padrom lexical galego com o significado de ?andar subterráneo de um edifício? as vozes cave, porom e soto; enquanto cave e porom som comuns às variantes galega, lusitana e brasileira da nossa língua, já a palavra soto, no sentido apontado, é peculiar da Galiza. Por outro lado, em Portugal e no Brasil, mas nom na Galiza, a voz sótão concorre com desvão para denotar o compartimento de umha casa que se acha imediatamente abaixo do telhado; nesse sentido, a Comissom Lingüística da AGAL padroniza em galego as vozes faiado e desvao, esta com menor peso normativo do que aquela. Na notaçom empregada em O Modelo Lexical Galego:

?andar subterráneo de um edifício?
PLGz: cave = porom = soto
PLPt: cave = porão

?compartimento de umha casa imediatamente abaixo do telhado?
PLGz: faiado > desvao
PLPt: desvão = sótão

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Pronúncia da palavra 'Portugal' BASENAME: pronuncia-da-palavra-portugal DATE: Sat, 01 Oct 2011 20:04:41 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Fonética CATEGORY: TAGS: ele velar, , ----- BODY:

CONSULTA:

Como é se pronuncia Portugal em galego? Portugal ou Purtugal (com l velar?)

Graças

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM:

À espera de futuros trabalho de codificaçom prosódica que prevê realizar a Comissom Lingüística da AGAL, podemos adiantar que a pronúncia genuína da palavra Portugal é [portugáɫ], com o fechado pré-tónico e, efetivamente, ele velar final.

O chamado ele velar é um som que fecha a sílaba, tanto a sílaba final da palavra como sílabas no início ou no meio da palavra: assim, o som do ele em [máɫ] e [aɫtúra] é diferente do do ele em [lár]. A distinçom clara destes sons está em regressom no galego moderno, nomeadamente no urbano, que tem o castelhano como modelo de pronúncia correta.

Quanto à pronúncia [u] que o Rudesindo indica para o ó pré-tónico em Portugal, ela existe na Galiza, mas é minoritária ao lado da pronúncia [o] (ó fechado), muitíssimo mais freqüente. Ambas existem também em Portugal, ao lado da total desapariçom da vogal, mas a tendência contemporánea, e padrom, é pronunciar [u]. Entre ambas as pronúncias existe pouca distáncia auditiva, por se darem na posiçom átona, mais fraca do que a tónica. Porém, muito provavelmente por interferência do espanhol, a tendência do galego urbano é igualar o timbre das vogais átonas e tónicas, de maneira que a pronúncia do ó gráfico em palavras como Portugal, conhecer, podia ou carro soa hoje muito 'aberta' aos ouvidos de umha pessoa portuguesa ou galega de origem rural.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Atender e atentar BASENAME: atender-e-atentar DATE: Fri, 23 Sep 2011 10:44:04 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: atender, atendimento, atentado, atentar, ----- BODY:

CONSULTA:

Qual é a diferença entre "atender" e o uso transitivo de "atentar".

Obrigado.

Pedro Bravo López

RESPOSTA DA COMISSOM:

Os verbos atender e atentar convergem no significado de ?dar ou prestar atençom a? (ex.: «Atente nas / Atenda às instruçons que lhe derem») e divergem nas suas outras aceçons, de modo que atender significa também ?cuidar?, ?receber ou dedicar tempo a umha pessoa?, ?dar satisfaçom a umha solicitaçom?, etc., e atentar, também, ?cometer um crime contra umha pessoa?, ?cometer ofensa?, etc. O substantivo que corresponde ao primeiro significado mencionado é atençom («Atençom, perigo!», p. ex.); atendimento é a açom de atender no sentido de ?receber ou dedicar tempo a umha pessoa? (horário de atendimento [aos alunos] de um professor, p. ex.), e atentado corresponde a ?cometer um crime contra umha pessoa? ou ?cometer ofensa? (ex.: «atentado contra a vida do monarca»; «atentado contra a inteligência»).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Segurança BASENAME: seguranca DATE: Fri, 23 Sep 2011 10:07:48 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: adoecer, doente, , enfermagem, enfermar, enfermaria, enfermidade, , , , , seguridade ----- BODY:

CONSUTA:

Na Veiga de Valcarce, Oencia, Carracedelo... a xente dice seguranza. Tamén a forma oficial do llionés e do Asturiano ie seguranza. En portugués ie segurança. Pero na Galiza solo se usa seguridade en todo o que ie oficial i tamén en textos de reintegracionistas vin seguridade.
Cual a forma correcta no galego?
De onde ven ese seguridade, seria como o navidade do meu pai?
Si ie asi, porque é o oficializado?

RESPOSTA DA COMISSOM:

A coordenaçom do galego culto com os padrons lexicais lusitano e brasileiro, decididamente patrocinada polo Reintegracionismo e pola Comissom Lingüística da AGAL, tem a virtude, entre outras muitas vantagens, de nos orientar sobre as freqüências relativas de uso que as palavras de um dado conjunto ou série (de sinónimos, p. ex.) devem mostrar em galego, o que é muito importante, porque tais freqüências costumam surgir hoje em galego (espontáneo) interferidas polo castelhano. Assim, sendo os dous sinónimos que nos propom o consulente, segurança e seguridade, legítimos, em princípio, em galego-português, o modelo luso-brasileiro faculta-nos a indispensável informaçom de que é segurança, dos dous sinónimos, aquele que, de longe, deve usar-se em galego com mais freqüência (trata-se, de facto, da forma mais antiga, largamente documentada no galego medieval). Assim, ainda que a forma seguridade seja registada nos dicionários lusitanos e brasileiros como sinónimo de segurança, aquela voz só em raros casos é de facto utilizada na nossa língua, constituindo a expressom seguridade social, habitual no Brasil, a única exceçom importante ao dito (mas, em Portugal, utiliza-se segurança social, forma também preferível na Galiza).

Do mesmo modo, na concorrência, por exemplo, entre as séries sinonímicas doença - doente - adoecer e enfermidade - enfermo - enfermar, ao contrário do que acontece no atual castelhano (em que enfermedad predomina sobre dolencia), o luso-brasileiro assinala-nos que devemos priorizar o uso de doença - doente - adoecer (com as exceçons de enfermeiro -a, enfermaria e enfermagem). Por outro lado, tenha-se em conta que, com o sentido de ?sofrer o defeito de?, se o castelhano recorre ao verbo adolecer, o galego-português utiliza enfermar, umha vez que este verbo fica ?libertado? do sentido ?cair doente? polo predomínio de adoecer (ex.: «exposta ao vírus, logo adoeceu»; «este texto enferma de prolixidade»).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: O sufixo diminutivo -ito em galego BASENAME: o-sufixo-diminutivo-ito-em-galego DATE: Sun, 18 Sep 2011 16:47:41 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: bonito, cabrito, favorito, palito ----- BODY:

CONSULTA:

Olá!

No padrom de Portugal (penso que no do Brasil também) existem os sufixos diminutivos ?ito e ?zito (para além de ?inho e -zinho). Tenho várias dúvidas com relaçom a isto:

1- Som os sufixos ?ito e ?zito castelhanismos como parecem?
2- No padrom que a AGAL está a elaborar vam ser admitidos estes sufixos diminutivos, como em Portugal? Quer dizer, já sei que os sufixos nom fam parte do léxico (acho que fam parte da morfologia), mas, em qualquer caso, som admitidas já ou vam ser admitidas na próxima codificaçom estes dous sufixos diminutivos? Quais as razons de serem/nom serem admitidos?

Obrigado

Juliám

RESPOSTA DA COMISSOM:

Na variedade galega do galego-português, a ocorrência produtiva do sufixo -ito como diminutivo é marginal, muito rara, e o sufixo diminutivo usual é -inho (ex.: rapazinho) Enquanto na variedade brasileira da língua acontece o mesmo que na Galiza, na variedade lusitana, em Portugal, o emprego do diminutivo -ito, embora menos freqüente que o de -inho, nom é raro, e o sufixo apresenta umha conotaçom afetiva positiva ou negativa (ex.: rapazito). No quadro da codificaçom do galego, polas razons expostas, a Comissom Lingüística da AGAL inclina-se a recomendar o uso habitual em galego, como sufixo diminutivo produtivo, de -inho, se bem que, como acontece no Brasil, também nom se censure um uso ocasional, e marcado, de -ito, na eventual procura de umha conotaçom afetiva (positiva ou negativa) «lusitanizante» (cf. dicionário Houaiss s.v. ?-ito?).

Por último, tenha-se em conta que, diferentemente do sufixo -ito produtivo, utilizado livremente polo utente da língua (em Portugal) para formar diminutivos, o galego-português, em todas as suas variedades, também apresenta alguns casos do sufixo -ito lexicalizado, com pouca ou nula consciência do sufixo, como nas palavras bonito, cabrito, favorito, palito (neologismo incorporável ao galego para se evitar o castelhanismo suplente *palillo), etc.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Maior e menor ou mais pequeno BASENAME: maior-e-menor-ou-mais-pequeno DATE: Sun, 18 Sep 2011 16:31:07 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: idoso, lar de idosos, maior, mais grande, mais pequeno, menor ----- BODY:

CONSULTA:

Vejo que no galego de Portugal e do Brasil nom é comum utilizar o superlativo composto "mais grande".

O normal é dizer "maior". Porém, sim utilizam "mais pequeno".

É correto no padrom lusitano "mais grande"? E no padrom galego?

RESPOSTA DA COMISSOM:

Em galego-português, em contraste com o que acontece em castelhano, maior e menor som comparativos de tamanho, nom de idade (em bom galego deve dizer-se, portanto, «a irmá mais velha / mais nova», «Quando for crescido/grande, quero ser médico» [= cast. «Cuando sea mayor, ...»] e «O elefante-africano é o maior mamífero terrestre»). Como comparativo de grande, nas variedades lusitana e brasileira do galego-português, socialmente estabilizadas, a forma *mais grande é considerada incorreta, polo que cumpre, do mesmo modo, excluí-la do galego culto; polo contrário, como comparativo de pequeno, admite-se tanto a forma sintética menor como a analítica mais pequeno.

Como conseqüência do perfil semántico que acabamos de atribuir a maior, tenha-se em conta que esta voz também pode utilizar-se em sentido ponderativo com o significado de ?importante? («Ernst Mayr foi um dos maiores biólogos do séc. XX»), e para indicar que umha pessoa atingiu a maioridade ou maioria de idade («Eu já som maior e podo entrar sozinho nos bares»), mas nom, como em castelhano, como eufemismo empregado para evitar a voz velho(s) (cast. «persona mayor», «hogar para mayores»); neste último sentido, em galego devemos utilizar idoso («pessoa idosa / idoso/a», «lar de idosos»).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Camisa, camisola, camiseta BASENAME: camisa-camisola-camiseta DATE: Tue, 16 Aug 2011 23:45:50 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Fonética TAGS: camisa, camiseta, camisola, , , , t-shirt ----- BODY:

CONSULTA:

Qual a diferença, diferenças, ou similitudes entre camiseta, camisola, camisa e casaco/casaquinho?

Para além disso queria aprobeitar para esclarecer uma outra dúvida no que diz respeito aos nomes da roupa: Qual o sinónimo em galegoportuguês da palavra espanhola ''sudadera'' e, para denominar o ''jersei'' qual a palavra nossa mais ajeitada para usarmos?

Com os melhores cumprimentos.

Muito Obrigado.

Fran

RESPOSTA DA COMISSOM:

O léxico das peças de roupa está naturalmente mui castelhanizado. Trata-se de um ámbito em que existe umha enorme diversidade de termos específicos, vulgarizados modernamente através da linguagem comercial, em geral por lojas, revistas e publicidade. Para além dessa grande diversidade de vocábulos específicos, também existem termos genéricos que costumam englobá-los, mais usados na linguagem corrente. É especialmente destes últimos que fala Fran e neles nos vamos centrar.

Umha vez que se trata de um ámbito onde as falas galegas que chegárom aos nossos dias pouco podem fornecer, levaremos em conta o uso atual em Portugal, ainda admitindo que existam diferenças importantes em relaçom ao Brasil, que nom deixaremos de referir em ocasions pontuais. Quanto à Galiza, é verdade que ainda há quem use palavras como calças ou peúgos, mas a convergência com o castelhano é praticamente absoluta para a maioria dos utentes.

A palavra casaco denomina umha série de peças de roupa que se vestem sobre outras e que se abrem por diante, até a cintura, por exemplo o 'de malha' ou o que fai parte do fato. Comercialmente, os tipos de casaco, com os seus diferentes nomes, som numerosos, mas popularmente costuma usar-se a palavra genérica que os engloba todos, quase sempre traduzível para castelhano por chaqueta. Casaquinho é o diminutivo de casaco.

Camisola é o termo genérico que abrange suéteres, pulôveres, T-shirts e quaisquer outras peças de roupa que se vestem pola cabeça e cobrem o tronco e, muitas vezes, os braços, inclusive as que em castelhano se conhecem como jerséis e como sudaderas. Quanto às últimas, coloquialmente, o normal é denominar camisola ou camisola com capuz o que nas lojas também se vende como suéter desportivo (com/sem capuz). Isto é, tanto som camisolas as de lá de inverno como as interiores que vam coladas ao corpo, como as usadas para fazer desporto, quer jogging quer futebol ou basquetebol, por exemplo.

Isto quer dizer que nas falas portuguesas nom penetrou o anglicismo jersey, conservando-se camisola com essa aceçom. Polo contrário, além Minho alastrou outro anglicismo que o espanhol nom trouxo até nós: T-shirt. Este último termo refere-se às camisolas geralmente de manga curta, por isso com forma de T, que normalmente tenhem um desenho publicitário ou reivindicativo à frente. Com este valor, a palavra usada no Brasil é camiseta.

Nom existem divergências entre o uso de camisa em galego e em castelhano.

Em resumo, em galego temos as seguintes possibilidades:

Camisa: em geral, peça de roupa aberta por diante com botons de tecido leve.
Casaco: em geral, peça de poupa aberta por diante usada sobre outras peças de roupa, sobretodo camisas.
Camisola: em geral, qualquer peça de roupa vestida pola cabeça que cobre o tronco, designadamente as de lá e algodom usadas sobre T-shirts.
Camiseta ou T-shirt: em geral, tipo de camisola vestida pola cabeça, de tecido mais leve que a camisola, que costuma levar um desenho publicitário ou reivindicativo pola frente.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Indentaçom BASENAME: indentacom DATE: Mon, 25 Jul 2011 10:39:50 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: basquetebol, , , omeleta, ----- BODY:

CONSULTA:

Gostaria de saber cal é o termo em tipografia mais correto prò que se conhece em português como indentação (do inglês) e sangría (do castelão?) na norma ILG-RAG.

Ivám

RESPOSTA DA COMISSOM:

Em primeiro lugar, o consulente deve saber que, em galego, os usos do vocabulário moderno, culto e especializado, felizmente, nom estám regulados polas Normas Ortográficas e Morfolóxicas do Idioma Galego, do ILG e da RAG, e, a esse respeito, a única estratégia natural, económica e funcional ?também, de facto, proclamada na «Introdución» daquele texto normativo? é a coordenaçom lexical galego-portuguesa.
Dado que o conceito (do ofício tipográfico) por cuja designaçom em galego se interessa o consulente surge com posterioridade ao século XIV e, portanto, ao início na Galiza dos Séculos Obscuros, ele corresponde a esse amplo setor do léxico (moderno, culto, especializado) que, nunca surgido na Galiza em galego, deve ser agora habilitado em galego, e de harmonia com as variantes socialmente estabilizadas do galego, o lusitano e o brasileiro. Neste caso, de harmonia com o uso português, esse espaço inicial que se deixa no início de um parágrafo pode denominar-se recolhido, avanço ou indentaçom.

Para findarmos esta resposta, um pequeno comentário sobre as vozes de origem estrangeira. Se quiger evitar umha voz de origem inglesa, o nosso consulente fará muito bem em deixar de parte a soluçom indentaçom e em priorizar, com o sentido indicado, recolhido ou avanço. Ora, nom polo mero facto de umha voz galego-portuguesa provir de umha língua estrangeira já tem de ser rejeitada. Por exemplo, seguindo a estratégia habilitadora acima explicada, nom devemos rejeitar em galego a incorporaçom a partir do luso-brasileiro das vozes basquetebol ou omeleta, de proveniência inglesa ou francesa, pois elas som plenamente funcionais (sem alternativa eficaz) no luso-brasileiro atual e venhem a preencher umha lacuna designativa em galego que por agora só fora preenchida polo deturpador castelhano. De resto, isto é também o que se verifica em castelhano, já que, por exemplo, os falantes dessa língua nom rejeitam as vozes mítin nem water-polo, também de origem inglesa (e cujos equivalentes em galego-português, curiosamente, som patrimoniais: comício e pólo aquático, respet.).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Antano e hogano BASENAME: antano-e-hogano DATE: Sun, 24 Jul 2011 13:26:39 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Ortografia TAGS: antano, hogano ----- BODY:

CONSULTA:

Queria saber qual é a forma culta galega, se existir, para o antónimo de "antano", equivalente, por exemplo, do castelhano "hogaño". Agradecia também umha explicaçom sobre a sua etimologia, se possível.

RESPOSTA DA COMISSOM:

Datada, segundo o dicionário brasileiro Houaiss, no século XIII, a forma 'ogano' é formada do latim 'hoc anno' ('este ano') é considerada arcaica em português, ficando normalmente fora dos dicionários e carente de uso nos padrons brasileiro e lusitano.

Na Galiza, continua a registar-se como uso vivo e sobretodo literário nos séculos XIX, XX e até a atualidade, incluindo-se também nos dicionários e tanto na proposta normativa isolacionista, quanto na reintegracionista, se bem grafada com agá inicial etimológico (Estudo Crítico, 1982).

Quanto ao seu contrário, 'antano' (do latim 'ante annu', 'antes deste ano'), fica fora dos dicionários portugueses e brasileiros, que registam a forma 'antanho', castelhanismo incorporado a Portugal no século XVI e com um uso vigente nos padrões lusitano e brasileiro.

Na Galiza, a forma 'antano' tem mantido um uso paralelo ao seu antónimo, permanecendo hoje nos dicionários e nos padrons isolacionista e reintegracionista (Estudo Crítico, 1982).

Estamos, portanto, diante de duas formas adverbiais diferenciais galegas no ámbito galego-luso-brasileiro-africano de expressom portuguesa. Como tais, ambas som tidas por legítimas e o seu uso considerado correto.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Toural ou Toral? BASENAME: toural-ou-toral DATE: Sat, 02 Jul 2011 18:55:54 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Morfossintaxe TAGS: , , toral, toro, toural, touro ----- BODY:

Praça do Toural na cidade de Compostela

CONSULTA:

Em escritos reintegracionistas vejo às vezes Praça do Toural e outras Praça do Toral, na cidade de Compostela, eu pessoalmente sempre empreguei toural.
Eu conheço pola geografia galego-portuguesa vários Toural (Guimaraes, Fafe, etc.), e se procurarmos na net hai indicaçons de que existe noutros pontos este topónimo, polo que gostava de saber se é Toural ou Toral.

Aloia Fernández-Sampedro Carvalhido

RESPOSTA DA COMISSOM:

Toural ou Toral

O topónimo correto é Toural e portanto praça do Toural. O uso de Toral aplicado a esta praça compostelana deveu-se à já antiga castelhanizaçom da toponímia urbana, que o mantivo deturpado durante séculos.

No entanto, a consulta fai todo o sentido, porque é verdade que na altura em que muitos nomes de lugar galegos fôrom restituídos, produzírom-se algumhas resistências à plena galeguizaçom dos mesmos, representando este que nos ocupa umha delas, mas nom a única (cf. praça da Quintá, que continua, oficialmente, Quintana).

Segundo certo boato (desconhecemos a origem do mesmo) que ainda nom foi totalmente neutralizado, sendo a Galiza de cultura tam pouco taurina, nom faria sentido que umha praça central da sua capital figesse referência aos touros, explicando-se melhor que o topónimo remetesse para toro, 'tronco de árvore sem rama cortado transversalmente'. Desta maneira, o nome da praça poderia ficar como estava.

Nom obstante, a proposta alternativa (Toral) à felizmente hoje oficial (Toural) nom conta com documentaçom em galego que a abone e o próprio significado da palavra dá para desconfiar, havendo como há outra praça ponte-vedresa 'da Lenha', na qual se entende que era acumulada madeira para queimar, e nom apenas madeira cortada de umha forma mui determinada.

Porém, ainda há mais um argumento a favor de Toural, que pode ser aplicado como verdadeira 'regra de ouro' noutras dúvidas toponímicas. Tirando alguns nomes de lugar que se perdem nos primórdios da história ou na pré-história, qualquer topónimo galego costuma repetir-se, tanto na Galiza como em Portugal, umha cheia de vezes. Quando nom for assim, as nossas pesquisas poderám andar mal encaminhadas. Toural repete-se polo menos 16 vezes na nossa terra, e ainda se dá a relevante circunstáncia de dar nome a outra praça como a compostelana na cidade portuguesa de Guimarães, como indica a Aloia. Em ambas se terá vendido gado outrora, porque tanto os dicionários galegos como os portugueses ainda recolhem o termo toural com a seguinte definiçom: ?Lugar na feira onde se compra e vende gado?.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Venha, a ver se nos vemos... BASENAME: venha-a-ver-se-nos-vemos DATE: Tue, 21 Jun 2011 10:14:55 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: 'a ver', venha! ----- BODY:

CONSULTA:

Gostaria de saber qual é a forma galega da expressom, eu acho que espanhola, "a ver", em frases tais como: "a ver como fazemos", "a ver o que se passa", "vais ao cinema? a ver"...
E do famoso "venha", que é um decalque do espanhol, "Venha, vemo-nos depois", "Venha, falamos"... A forma substitutiva que eu tenho escuitado aos nossos velhotes é "ala", mas também me soa a espanholada. Aos portugueses nalguns casos, escuitei-lhes "força"...

Obrigado pola vossa resposta e ajuda.

Nunes

RESPOSTA DA COMISSOM:

A ver

A expressom 'a ver' tem origem em diversas formas conjugadas (vamos a ver, voy a ver...) da perífrase espanhola ir a ver (gal. ir ver), com o verbo auxiliar elidido. Isto vê-se bem em frases castelhanas em que o verbo auxiliar permanece a certa distáncia do resto da locuçom verbal, que parece ganhar independência para transmitir a ideia de desejo ou dúvida:

Vete hasta su habitación, a ver si ha venido (Vai ao quarto dele, (para) ver se véu.)

Convertida em bordom (apoio para falar sem funçom semántica ou morfossintática) introdutor do discurso nesta língua, facilmente entrou nas falas galegas (como nas bascas e nas catalás), junto com outras muletas de origem também claramente espanhola: bueno, vale, venga... Amiúde, todos estes bordons aparecem combinados:

Bueno, vale, venha, a ver se começamos a trabalhar.

Na língua viva, o galego já carece de bordons discursivos genuínos tam amplamente estendidos como os referidos, apesar de estes de origem castelhana serem de introduçom relativamente recente.

No primeiro caso que nos ocupa ('a ver'), a soluçom mais fácil, e decerto aplicada e aplicável em muitos casos, será a traduçom à letra da perífrase para o galego quando esta transmitir a ideia de desejo ou dúvida: vamos ver (que costuma ser reforçada pola partícula enfática além Minho: vamos lá ver):

Quero ler-vos um parágrafo deste livro. Vamos ver se gostades!
Vamos ver se temos sorte.
Vamos ver se acabamos cedo.
Vamos ver como fazemos.
Vamos ver o que se passa.

Porém, o valor desta expressom nem sempre é tam 'literal', aproximando-se da pura muleta em grande parte dos usos que tem. Daí que nem sempre dê jeito a mera adaptaçom proposta no parágrafo anterior. No português atual encontramos numerosas alternativas que nom se limitam ao simples decalque praticado por utentes modernos da língua na tentativa de evitarem esta construçom tam caraterística do espanhol: bem, bom, pronto... até a pura supressom da expressom, como vemos nos dous primeiros exemplos:

1. A ver se atendes, que assim nom aprendes nada> Atende! Que assim nom aprendes nada.
2. A ver se atendes, que assim nom aprendes nada> Era bom que atendesses, que assim nom aprendes nada.
3. A ver, quantas pessoas vinhérom?> Ora/Vamos ver/Vejamos, quantas pessoas vinhérom?
4. A ver, vou começar por dar os parabéns...> Bom/bem, vou começar por dar os parabéns...
5. A ver, já me estou a amolar> Pronto, já me estou a amolar.
6. Vais ao cinema? A ver...> Vais ao cinema? Há-se de ver./Logo se vê...

Nom se deve confundir a perífrase espanhola com a perífrase galega ocidental e padrom ir a ver (=ir vendo). Tampouco com 'a ver' com o valor de 'para ver' ou 'que ver', caraterístico do português lusitano contemporáneo:

Vamos a ver a paisagem pola janela do carro. = Vamos vendo a paisagem pola janela do carro.

Falei com ele a ver o que se pode fazer. = Falei com ele para ver o que se pode fazer.

Isso nom tem nada a ver com aquilo.=Isso nom tem nada que ver com aquilo.Fum eu a ver o aviom antes que ninguém.=Fum eu que vim o aviom antes que ninguém.

Venha!

Quanto à interjeiçom venha!, quando usada para encorajar ou apressar umha açom, tem igualmente origem espanhola recente (¡venga!), e ainda é desconhecida na fala das pessoas de certa idade, que usam outras expressons como vamos!, dá-lhe! ou, efetivamente, ala!, tam galegas como portuguesas.

Para além dessas, a voz força! também se usa em Portugal para encorajar umha açom, mas carece da mesma intensidade que as anteriores, podendo equivaler a umha simples resposta afirmativa:

Posso/Podo entrar? Podes. (Portugal e Galiza)
Posso entrar? Força. (Portugal)

No entanto, sem dúvida, a voz lusitana equivalente à forma espanhola venga! mais habitual é vá (lá)!, formada a partir do imperativo do verbo ir (repare-se que em castelhano se forma a partir do imperativo do verbo venir). Nas falas galegas, este português equivale formalmente a vaia, forma castelhanizada de terceira pessoa do presente do conjuntivo e do imperativo do verbo ir. Tendo em conta esta e outras cautelas, qualquer umha das alternativa apresentadas nos parece melhor que o uso do decalque moderno do espanhol venha!:

¡Venga, levántate ya!> Vá, levanta-te aginha!

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Demorar BASENAME: demorar DATE: Tue, 14 Jun 2011 17:27:44 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: demorar ----- BODY:

CONSULTA:

Olá! Queria saber se o verbo 'demorar' é ou nom pronominal. Como seria o correto?:

- A conferencia está a demorar/A conferencia está a demorar-se
- Vem direitinho à casa e nom demores/Vem direitinho à casa e nom te demores

E seria correto o seu uso como verbo transitivo (p.ex: Demorei-te e nom chegaste a tempo à escola)?

Obrigado!

RESPOSTA DA COMISSOM:

O verbo demorar pode usar-se como transitivo, intransitivo ou pronominal.

Como transitivo tem o valor de ?atrasar algumha cousa?:

Nom devemos demorar a resoluçom do problema.

Como intransitivo expressa a ideia de ?gastar mais tempo do habitual?:

Demorei a voltar porque estava longe.

Como pronominal tem o mesmo significado que atrasar-se:

Demorou-se porque nom encontrava as chaves.

Mesmo há casos duvidosos em que pode ser classificado como transitivo ou intransitivo, dependendo se consideramos o complemento que exprime a quantidade de tempo como direto ou circunstancial, isto é, se expressa a ideia de ?gastar/levar um determinado tempo? ou ?fazer esperar um determinado tempo?:

Demorou vários dias para tomar umha decisom.

Os casos propostos polo consulente estám todos corretos, contudo, o último deles é pouco habitual (Demorei-te e nom chegaste a tempo à escola). Neste último caso seria mais frequente utilizar o verbo atrasar:

Atrasei-te e nom chegaste a tempo à escola

ou entom expressons como fazer demorar:

Figem-te demorar e nom chegaste a tempo à escola.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Cambiar, mudar e trocar BASENAME: cambiar-mudar-e-trocar DATE: Fri, 10 Jun 2011 13:51:17 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: cambiar, , mudar, trocar ----- BODY:

CONSULTA:

Poderia-me alguém esclarecer as diferenças de uso e significado entre mudar, cambiar e trocar?. Cumprimentos.

RESPOSTA DA COMISSOM:

Cambiar / Mudar / Trocar

O mais simples e direto é começarmos por cambiar / cámbio.

[1] No aeroporto foi preciso cambiarmos reais por euros.

No uso comum cambiar é ?comprar moeda estrangeira?.

Em economia fala-se assim da taxa de cámbio.

Cambiar / cámbio tem portanto um sentido muito restrito: designa umha operaçom bancária.

Mudar é sinónimo de ?modificar?, ?transformar? ou ?alterar?:

[4] Resolvêrom mudar de estratégia [de planos, de costumes, de vida].

[5] A situaçom mudou para melhor.

[6] Ele nom muda, é sempre o mesmo.

[7] Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.

Quando tiramos umha roupa para vestir outra dizemos também mudar:

[8] Mudou de roupa para ir à praia.

O substantivo derivado é mudança (= alteraçom):

[9] Houvo mudança de planos.

Trocar usa-se no sentido geral de ?dar umha cousa por outra?, ?substituir?:

[10] Foi à tenda trocar a saia.

[11] Estivemos a conversar, a trocar ideias e impressons.

O substantivo é troco / troca:

[12] Figérom umha troca de reféns.

[13] As trocas comerciais entre esses dous países tenhem vindo a aumentar.

Quando trocamos dinheiro damos umha moeda maior por outra pequena:

[14] Podia trocar-me esta nota de 50 euros?

[15] Nom me arranjava trocos?

[16] Sinto, mas nom tenho trocado.

Por vezes usamos trocar no sentido de ?alterar? e entom é sinónimo de mudar, mas trocar vinca mais a ideia de ?confusom? ou ?perturbaçom?.

[18] Os tempos andam trocados (= mudados, alterados).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Castelhano e castelao BASENAME: castelhano-e-castelao DATE: Thu, 09 Jun 2011 14:36:48 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Fonética TAGS: cachalote, castelao, castelhano, cavaleiro, cavalheiro, chuvasco, cobra, jinete, , , , mermelada, ----- BODY:

CONSULTA:

Qual a razão para preferir "castelhano" e não "castelão"?. Pessoalmente eu cheguei a escutar na fala viva das terras de Curtis o termo "castelao" (sic), e não falo do extensamente difundido "castelám" pela norma oficial. Para mim não resulta muito fácil ter que aceitar o castelhanismo evidente "castelhano" por muito que ele seja o escolhido pelo padrão internacional.

RESPOSTA DA COMISSOM:

Castelhano para designar em galego o natural de Castela e a língua de Castela

Ainda que no galego-português medieval se empregasse a voz castelão com os sentidos ?natural de Castela? e ?língua de Castela? (além de ?senhor de castelo?), a voz sucessora castelám ~ castelao está hoje, na fala espontánea da Galiza, (praticamente) extinta. Por tal motivo, há de habilitar-se agora, para regenerar a língua na Galiza, a designaçom galega de ?natural de Castela/língua de Castela? e de ?senhor de castelo?. Como o faremos?

Nas variedades geográficas socialmente estabilizadas do galego (lusitano e brasileiro), o significado ?senhor de castelo? denota-se com a palavra patrimonial castelão, e ?natural de Castela/língua de Castela?, mediante castelhano, que é umha voz de origem castelhana adotada polo lusitano nos séculos xv-xvi, altura em que o galego (início dos Séculos Obscuros) já nom tinha capacidade para criar nem incorporar palavras novas.

Dado que o normal é que o galego culto, com efeitos enriquecedores e nom invasivos, mostre um número moderado de palavras de origem castelhana (como o castelhano também apresenta um número moderado palavras de origem galego-portuguesa: cachalote, chuvasco, cobra, mermelada, monzón... e até a própria palavra portugués!), e como a voz castelhano nom vem a substituir qualquer palavra galego-portuguesa legítima (pois ela incorpora-se à língua em convivência com castelao), parece conveniente estabelecer no padrom lexical galego, de harmonia com os padrons lexicais de Portugal e do Brasil, o esquema designativo em que a voz castelao denota ?senhor de castelo?, e a voz castelhano, ?natural de Castela/língua de Castela?.

Esta medida ou alvitre, que decidamente recomenda a Comissom Lingüística da AGAL para regenerar e potenciar o léxico galego, pode denominar-se incorporaçom de castelhanismos aditivos coordenados, já que se trata da adoçom (em número muito limitado) de vozes de origem castelhana, já harmonicamente integradas nos padrons lusitano e brasileiro, que nom venhem a substituir galeguismos legítimos, antes a estabelecer no léxico culto umha útil distribuiçom e especializaçom de usos. Outro exemplo desta medida padronizadora é o estabelecimento no galego culto do esquema designativo cavaleiro ?home que monta a cavalo? / cavalheiro ?senhor?, sendo cavaleiro a voz patrimonial galego-portuguesa (equivalente da castelhana jinete), e cavalheiro, palavra de origem castelhana convenientemente incorporada ao lusitano no séc. xvi.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Anteprojeto e pré-projeto BASENAME: anteprojeto-e-pre-projeto DATE: Mon, 16 May 2011 18:53:51 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Ola, por ser alguém me pode ajudar, preciso saber se é correcto usar o termo "pre-projecto" para se referir a um estudo previo que nao entre na categoria de "ante-projecto"?

Obrigada

María Xosé

RESPOSTA DA COMISSOM:

A palavra anteprojeto (de ante + projeto) refere-se ao esboço que serve de base para a elaboraçom de um projeto, usando-se sobretodo nos campos da política ou da arquitetura e da engenharia. Nestes últimos ámbitos, o anteprojeto, como estudo preliminar de um plano, costuma conter umha estimativa do custo do projeto.

O termo pré-projeto contém o elemento de formaçom pré-, que exprime anterioridade (antes do projeto), e nesse sentido, ainda que nom costume estar dicionarizado, pode usar-se com o mesmo valor que anteprojeto. Porém, aquele composto é menos usado do que este, aparecendo mais vinculado ao ámbito académico (p. ex. pré-projeto de monografia) do que a outros, como a política, em que a palavra mais usada é claramente anteprojeto (p. ex. anteprojeto de lei).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Ventim BASENAME: ventim DATE: Sat, 14 May 2011 11:16:12 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Ortografia CATEGORY: Morfossintaxe TAGS: bento, , valentim ----- BODY:

Rio Ventim

CONSULTA:

Tenho outra dúvida sobre topónimos modificados con pintura nos carteis na parroquia de Biduído (Vidoído, segundo vós), en Ames. Aparece trocado Bentín por Ventim e acho que nom é correcto, por proceder de maneira evidente na minha opiniom, do antropónimo Bento. Que me podedes dizer ao respeito? Obrigado.

Manoel

RESPOSTA DA COMISSOM:

A maior parte dos numerosos topónimos que possuem a terminaçom -im (Sendim, Marim, Lalim, Verim...), como outros acabados em -i (Sismundi), em -e (Urdilde) ou em -áns (Bertamiráns), tenhem origem em genitivos latinos aplicados a possessores de nome germánico ou galaico-romano na Alta Idade Média. Por exemplo, no caso de Sendim, é preciso supor umha forma antiga como (Vîllam) Sandîni, genitivo de Sandînus, que iria perder a primeira palavra ?Vila? posteriormente, e que traduzida à linguagem dos nossos dias significaria 'vila ou terras de Sandino'.

O topónimo Ventim também pertence ao grupo que tem origem num antropónimo, mas este relaciona-se com o atual Valentim e nom com Bento, devendo escrever-se portanto com v. De facto, assim aparece documentado já na época medieval repetidamente, altura em que também conheceu a forma prévia Vaentim/Vaintim, como mostramos abaixo num documento latino de 1156. Sem ser um topónimo freqüente, regista-se também, para além de Ames, nos concelhos de Fornelo de Montes, Muros, Maçaricos, Ribeira, Pol, Touro e Caniça.

1156, maio, 12.

Nuno Páez, juntamente com os seus filhos, vende ao mosteiro de Sam Justo [de Tojos-Outos] a sua propriedade (que é a duodécima parte, que herdou dos seus antepassados) do chamado «casal de Anaia», no lugar de Serres (da freguesia de Sam Joám [de Serres, no atual concelho de Muros]), por um potro de boa qualidade.

Tombo de Tojos-Outos
, fólios 54v-55r.

«Carta de Munio Pelaiz de hereditate de Serres».
In Dei nomine.
Ego Munio Pelaici et filii mei vobis senioribus Sancti Iusti, in Domino salutem.
Placuit michi et mea est voluntas ut facerem vobis kartam vendicionis de hereditate mea propria quam habeo de subcepcione avorum meorum et parentum in villa Serres, sub aula Sancti Iohannis, sub monte de Tixia et de Cavalengo, discurrente fluvio Sirria, et per terminos de Vaintim et de Peda Mala et per certos terminos antiquos de illa hereditate de illo casale de Serres supra nominato, qui apellatur «casale de Anaia».
Do vobis duodecimam partem, quietam et absque calumpnia, pro quo accepi de vobis unum poldrum obtimum; quod mihi et vobis bene complacuit, et de precio nichil remansit in debito. Habeatis eam, cum omnibus suis directuris, per ubi eam potueritis invenire, et faciatis de illa que vestra fuerit voluntas.
Sed si aliquis homo contra hanc scripturam venerit, vel venero, pariat illam hereditatem duplatam, et insuper solidos XXX.
Facta karta venditionis IIIIº idus maii, era Iª Cª LXLª IIIIª [= millesima centesima nonagesima quarta = era 1194 = ano 1156].
Ego Munio in hac karta manus.
Qui presentes fuerunt: Petrus, ts.; Pelagius, ts.
Munio qui notuit.

(Informaçom proporcionada por José Martinho Montero Santalha)

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Cantai e cantade BASENAME: cantai-e-cantade DATE: Sun, 08 May 2011 20:44:53 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: , imperativo, ----- BODY:

CONSULTA:

Tenho umha dúvida à hora de escrever, e tem a ver com os imperativos. Entre a forma mais conservadora em -de ("cantade") ou a comum a lusofonia em -i ("cantai"), ambas usadas na Galiza, qual recomendam que usemos? Eu utilizo habitualmente as formas em -de por serem as próprias da minha regiom, mas em ocasions tenho dúvidas de como proceder.

Obrigada.

Rosa

RESPOSTA DA COMISSOM:

A Comissom Lingüística da AGAL, no seu Guia Prático de Verbos Galegos Conjugados, admite as duas formas de construir o imperativo: cantade e cantai. Ora, umha vez que as formas do imperativo em -i apresentam na Galiza umha considerável extensom geográfica e que som as comuns às variedades lusitana e brasileira da língua, parece conveniente priorizá-las na língua formal, tal como propom, por exemplo, o Manual Galego de Língua e Estilo, de M. Castro Lopes, B. Peres Bieites e E. Sanches Maragoto.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: "Gostaria de caminhar pola rua, mas algumha nom tem passeio" BASENAME: gostaria-de-caminhar-pola-rua-mas-esta-nom-tem-passeio DATE: Mon, 25 Apr 2011 18:51:28 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Morfossintaxe TAGS: beira-rua, gostar de, , ----- BODY:

CONSULTA:

Tenho entendido que "beira-rua" é umha palavra 'inventada' modernamente. Gostaria saber qual é a forma mais correcta em galego.

Por outra parte, e a raiz da frase minha anterior, é mais correcta em galego a expressom "gostaria saber" ou "gostava de saber"?

Obrigada.

Rosa

RESPOSTA DA COMISSOM:

1. Questom sobre beira-rua

Com efeito, a voz beira-rua foi inventada polo Instituto da Lingua Galega, entidade codificadora isolacionista, no decénio de 1980 para preencher umha lacuna designativa do galego. Ora, tal invençom é por completo desnecessária e prejudicial para a nossa língua, dado que se revela antieconómico termos de aprender umha palavra nova, inventada, cujo uso acarreta isolamento a respeito das variantes geográficas socialmente normalizadas do galego, isto é, a respeito do lusitano e do brasileiro. Se tanto em galego como em lusitano e brasileiro se di rua, o lógico é que o galego coincida também com as suas variantes na designaçom do espaço lateral da rua destinado aos peons, isto é o passeio.

A norma geral, de senso comum, natural e económica para o galego que o Reintegracionismo e a Comissom Lingüística da AGAL proponhem aplicar a casos como este, em que se devem designar conceitos cuja apariçom é posterior ao início na Galiza dos Séculos Obscuros (séc. XV), consiste na coordenaçom lexical constante com os padrons lusitano e brasileiro e na simultánea expurgaçom dos castelhanismos suplentes (neste caso, *acera). No caso de se registar divergência lexical entre Portugal e o Brasil, como norma geral, e até nom se atingir umha efetiva unificaçom lexical, a Comissom Lingüística, atendendo à maior proximidade geográfica e sociocultural existente entre a Galiza e Portugal, propom adotar em galego a soluçom conhecida em Portugal.

Para findarmos o tratamento da questom relativa a *beira-rua, diga-se que esta voz inventada polo ILG, apesar de ter sido concebida num ?laboratório?, nom se revela plenamente compatível com o léxico galego, já que nom se amolda bem ao modelo representado pola voz patrimonial galego-portuguesa beira-mar (ou, também, beira-rio). Observe-se, a este respeito, que a beira-mar nom fai parte do mar, mas o passeio sim fai parte da rua, polo que, se tivesse sido bem formada, a voz inventada teria adotado a forma beira-calçada! Em qualquer caso, por motivos de clara economia comunicativa e de solidariedade intrassistémica, sempre deveremos preferir em galego o uso de passeio.

2. Questom sobre o verbo gostar

O uso correto de gostar inclui a preposiçom de. Exemplos: Nom gosto de gelados. Gosto muito de ir à praia. Por outro lado, som construçons sinónimas e igualmente válidas Gostaria de saber e Gostava de saber, sendo esta última menos formal do que primeira.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Contrato chave na mao BASENAME: contrato-chave-na-mao DATE: Tue, 19 Apr 2011 19:01:54 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: , ----- BODY:

CONSULTA

Ola!

A minha duvida é sobre como dizer o que em espanhol se conhece como "contrato llave en mano", e dizer, aquele contrato no que o contratista se obriga fronte ao cliente a construir e pôr em andamento uma obra que ele próprio projetou.

Saudinha e muito obrigado!

Ângelo

RESPOSTA DA COMISSOM

Diz-se contrato chave na mao, à semelhança doutras línguas románicas: ?contratto chiavi in mano?, ?contrat clefs en main? ou ?contrato llave en mano?.

Um contrato chave na mao é, com efeito, aquele em que um empreiteiro assume responsabilidade polo projeto, a construçom e o arranque da obra.

Em textos portugueses a locuçom ocorre com freqüência ligada por hífens: contrato chave-na-mão, tal como mão-de-obra ou fim-de-semana, por exemplo. No entanto, doravante, conforme a adaptaçom galega do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990:

«Além de alguns nomes vernáculos de grupos de animais, vegetais e fungos, as únicas vozes que apresentam mais de duas palavras ligadas por hífen som os termos limpa-para-brisas e mais-que-perfeito e os topónimos cujos elementos estám vinculados por artigo: Sobre-os-Moínhos, Trás-os-Montes, etc.» (nota 26, pág. 50 da Atualizaçom da Normativa Ortográfica da Comissom Lingüística da AGAL conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990)

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Mais sobre o trema BASENAME: mais-sobre-o-trema DATE: Sun, 03 Apr 2011 20:44:01 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Ortografia CATEGORY: TAGS: padrom oral, , , trema ----- BODY:

CONSULTA:

Não entendo o porquê de se manter o trema no título, acima, do Consultório: Linguístico, não Lingüístico, em conformidade com o Acordo ortográfico que une os países de Língua Oficial Portuguesa. Por que não tirar ele daí??

Julio

RESPOSTA DA COMISSOM:

A esmagadora maioria dos falantes de galego-português que vivem na atual Galiza, culturalmente subordinados ao castelhano, proferem mal, à castelhana, todas aquelas seqüências galego-portuguesas integradas por gê mais u e por quê mais u que se revelam divergentes a respeito do castelhano, como, por exemplo, anguiforme (por eles pronunciada /gi/), delinquir (por eles pronunciada /ki/), equidade (por eles pronunciada /ki/), equino ?relativo ao cavalo? (por eles pronunciada /ki/), tranquilo (por eles pronunciada /ki/); essas pessoas, além disso, ignoram a pronúncia de tal seqüência quando ocorre em eruditismos galego-portugueses que nom existem em castelhano, como liquefazer.

Para fazer face a este problema, com intuito pedagógico, a Comissom Lingüística da AGAL decidiu manter na sua norma ortográfica, após a sua incorporaçom ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, a utilizaçom do trema (como que a ?prorrogar? na Galiza o que foi feito no Brasil até 2010: cf., p. ex., dicionário Houaiss). Deste modo, os galegos ficam mais facilmente a saber, quando lem um texto escrito com esta ortografia galego-portuguesa, que o u deve soar, por exemplo, em angüiforme, delinqüir, eqüidade, eqüino e tranqüilo, mas nom em liquefazer.

De resto, como já explicámos numha resposta anterior (q.v.), tal alvitre gráfico, peculiar da Galiza, nom levanta qualquer obstáculo significativo à unidade ortográfica galego-portuguesa.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Tenho vontade de ir correr BASENAME: tenho-vontade-de-ir-correr DATE: Tue, 29 Mar 2011 23:29:24 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Morfossintaxe TAGS: , , , tarda-me, tenho gana de, tenho ganas, tenho saudades, tenho vontade de ----- BODY:

CONSULTA:

Queria saber se no galego está bem dito dizer "tenho ganas de ir correr" ou se pola contra é um cas-telhanismo e deveriamos usar coma no português a forma "ter vontade de"

Obrigada

RESPOSTA DA COMISSOM:

A origem castelhana da palavra "gana/s" é umha realidade admitida sem controvérsia, seguindo o que afirma Corominas: "GANA, palabra propia del castellano". De facto, se fosse um termo galego-português seria hoje "gá/gam/gã" (gót. GANON).

Nos dicionários (luso-brasileiros) ocorre com o significado de "GRANDE apetite ou desejo VEEMENTE de algo ou de fazer mal", e é com esse significado restrito que ocorre, só em tempos recentes -nom se conhecem exemplos antigos-, em Portugal e no Brasil. Por esta razom, nom consideramos oportuno banir tal uso entre nós, embora recomendemos com força o emprego de outras possibilidades.

Em definitivo, sendo óbvio que a expressom "ter gana/s de" com os mesmo valores do espanhol resulta da interferência desta última língua, pensamos que a alternativa à mesma mais adequada na nossa língua é, na maioria dos contextos, como afirma a consulente, "ter vontade de" (Tenho vontade de ir ao cinema; Tenho vontade de ir correr).

Porém, existem outras expressons com significado semelhante que amiúde traduzem melhor a força desta frase genuinamente espanhola:

Tenho vontade de ver-te.

Tenho saudades de ti/tuas.

Tarda-me ver-te.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Fura-greves BASENAME: fura-greves DATE: Wed, 09 Mar 2011 23:21:23 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: greve, ----- BODY:

CONSULTA:

Como poderia traduzir o termo inglês "scab" como sustantivo e também verbo?. Sendo aquele trabalhador, em sentido pejorativo, que não apoia a realização duma greve e se coloca do lado do chefe. Topei "fura-greves" mas não sei se é muito popular.

Xavier

RESPOSTA DA COMISSOM:

Para já, é preciso esclarecer que este consultório nom pretende ser um serviço de traduçom. Ora bem, neste caso a consulta indiretamente pergunta se é correta em galego a palavra "fura-greves".

A resposta é sim, é correta, até porque nom temos outra para exprimir essa realidade.

Antes de mais devemos dizer que a palavra constante da consulta "scab" é na realidade "slang" (gíria) e mesmo pejorativa, pois o significado comum é o de "ferida com crosta" e o verbo "curar dessa ferida com crosta". Para a mesma realidade, na língua padrom, está a palavra "strikebreaker" (a mesma "fura-greves"). O verbo correspondente a agir ou fazer de fura-greves é "furar" como nom poderia ser doutro jeito. De maneira que nos contextos das greves, "furar" é "ir trabalhar em vez de participar na greve".

Quanto a ser ou nom "muito popular" é questom que facilmente se pode explicar por razons sociolingüísticas e doutra índole. Tenha em conta que pode ser tam popular como a própria palavra "greve".

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Peixeiras e redeiras BASENAME: peixeiras-e-redeiras-1 DATE: Wed, 02 Mar 2011 11:44:06 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: atadora, , rede, regateira ----- BODY:
Peixeira, conhecida por regateira em alguns pontos da Galiza e Portugal

CONSULTA:

A minha dúvida é se chamar-lhe "regateiras" ás mulheres que vendem o peixe, como sempre ouvim na minha vila, ou, há outro modo...
Ainda, gostaria de saber se, às mulheres que fazem as malhas para os "aparelhos" (redes), se lhes pode chamar de "atadoras", maneira como se conhecem em muitos locais das Rias Baixas.

Maria Fontám

RESPOSTA DA COMISSOM:

Quanto à primeira parte da consulta, pode evidentemente continuar a lhes chamar "regateiras", é palavra bem galega. Ora bem, deve saber também que:

1. O significado geral em todo o território da nossa língua, quer em masculino quer em feminino, é por um lado o de "pessoa que regateia", que discute o preço.

2. Daí por extensom semántica o de "pessoa que discute muito, de forma pouco delicada, bruta, mesmo chegando a utilizar expressons grosseiras". Portanto, depende o tom em que se diga e outras circunstáncias, pode vir a ter um significado ou outro (aqui é equivalente à expressom do esp. "verdulero/verdulera").

3. Um outro significado também comum a quase todo o território da nossa língua é o da mulher (na forma em feminino) que vende qualquer mercadoria pela rua ou na praça, nom unicamente peixe.

4. Finalmente, um significado neutro sem qualquer outro matiz, e comum a todo o território, que pode ser utilizado em lugar de "regateira" com esse significado que se diz na consulta, é o de "peixeiro/peixeira".

Quanto à segunda parte da consulta, a explicaçom é muito parecida com a anterior. Muitos dos significados venhem associados apenas à forma em feminino porque referem trabalhos que por tradiçom eram realizados preferentemente por mulheres.

Indo diretos ao assunto, "atadora" é palavra também correta na nossa língua e designa a mulher que fai as peças de rede para a pesca. Nada nos impede utilizar também a forma em masculino se for um homem a realizar esse trabalho.

Já a palavra "redeira", mais espalhada por todo o território, designa a mulher que fai ou que repara as redes de pesca (e também nada impede de utilizar a forma em masculino), mas também designa o relativo às redes ou à fabricaçom de redes (empresa redeira, barco redeiro...).

Finalmente, para além doutros significados conhecidos da palavra "rede" (nos desportos, para o cabelo...) está o que designa essa espécie de malha que se coloca suspensa de duas hastes ou ramos de árvore para descansar.

Redeiras, conhecidas por atadoras ou atadeiras em muitas localidades das Rias Baixas
----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Lagarta BASENAME: lagarta DATE: Thu, 24 Feb 2011 00:24:58 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: eiruga, lagarta, , , ----- BODY:

CONSULTA:

A fase da vida das bolboretas prévia à fase adulta, em que o seu corpo adquire uma forma geralmente alongada e cilíndrica como é que deve denominar-se em galego, lagarta ou eiruga, e porquê? Graças.

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM:

Nos falares galegos contemporáneos, com o sentido de ?fase larvar vermiforme dos lepidópteros ou borboletas? (borboleta é a forma galega, comum com os padrons lusitano e brasileiro, que a CL-AGAL padronizará), registam-se as vozes eiruga e lagarta.

Esta última, lagarta, por ser comum aos padrons lusitano e brasileiro, é a que a CL-AGAL declarará como fazendo parte do padrom lexical da Galiza (e daí, também, lagarta no sentido de ?correia ou esteira articulada, de borracha ou de peças metálicas, que, em conexom com as rodas de um veículo pesado [trator, tanque], lhe permite transitar em terreio acidentado ou de pouca consistência?).

Lagartas num veículo todo-o-terreno
----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Palheira (nome das aves da família Stercorariidae) BASENAME: palheira-nome-das-aves-da-familia-stercoraridae DATE: Wed, 23 Feb 2011 17:01:01 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: aves, , , moleiro, palheira ----- BODY:
Palheira-pomarina

CONSULTA:

Alcaide, moleiro, palheira, papa-merda, cagote, gaivota-rapineira...

Qual considera a AGAL a forma estándar galega para as aves do gén. Stercorarius e porquê? Graças

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM:

As aves do género Stercorarius (família Stercorariidae) presentes na Galiza (S. longicaudus, S. parasiticus, S. pomarinus e S. skua) tenhem hábitat pelágico, mas podem ver-se perto da costa nas migraçons de setembro e outubro. Como acontece com muitos outros animais, na língua popular costuma usar-se umha única denominaçom para abranger diversas espécies, ainda que esta denominaçom divirja muito de zona para zona: cagote, merdeiro, papa-merda e palheira som as mais estendidas na Galiza. A denominaçom genérica utilizada no padrom lexical de Portugal (na língua especializada dos ornitologistas portugueses) é moleiro, mas esta voz, no sentido aduzido, é desconhecida na Galiza. Por tal motivo, e porque a voz galega palheira tem umha difusom na fala espontánea contemporánea relativamente importante, carece de sentido escatológico e já é utilizada polos ornitologistas galegos, é palheira a denominaçom vernácula recomendável para designarmos no galego-português da Galiza as aves do género Stercorarius.

Se neste caso, como exceçom, e de modo justificado, recomendamos adotar em galego umha soluçom terminológica diferente da usual em Portugal como designaçom do género Stercorarius, já em relaçom à designaçom das espécies ibéricas a esse género subordinadas, a nossa recomendaçom é seguir o modelo adotado polos ornitologistas portugueses. Assim, palheira-de-cauda-comprida, para Stercorarius longicaudus; palheira-pomarina, para S. pomarinus; palheira-parasita, para S. parasiticus, e palheira-grande, para S. skua.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Tocaio BASENAME: tocaio DATE: Mon, 21 Feb 2011 11:58:28 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: bluff, , , , , taful, tocaio, ----- BODY:

CONSULTA:

1.- Qual é a palavra ou as palavras em galego do sul ou da outra beira do oceano equivalentes ao castelhano "tocallo"? (por economia da mensage utilizo o referente castelhano, que na minha vida corrente, moito didáctica e pedagógica até, seria o último a fazer).

2.- É correcta a frase: "como bom taful, marcou-se um novo bluff" (esta em itálico). Cheira-me a decalque, apesar do emprego de dous termos que acabo de conhecer.

Máis nada, saudaçons, e parabéns por este consultório sentimental.

alexandre

RESPOSTA DA COMISSOM:

A voz espanhola tocayo tem origem incerta nesta língua e nom é totalmente desconhecida na nossa (tocaio), onde teria penetrado, para além da Galiza, na zona de Trás-os-Montes (Portugal) e Rio Grande do Sul (Brasil). Mais para lá do Douro, usa-se outro termo com um sabor nom tam coloquial, que nós também conhecemos em registos menos informais: homónimo. No Brasil, porém, a palavra mais usada com este valor é xará.

Entre nós, a forma aconselhável para referir 'aquela pessoa que tem o mesmo nome de outra' é, com certeza, homónima. Ex.: É o teu homónimo, chama-se como tu.

Em relaçom à frase "como bom taful, marcou-se um novo bluff", nom se trata de um ditado ou expressom fixada da nossa língua. Parece antes fazer parte do génio lingüístico da pessoa que a proferiu, usando palavras que, em qualquer caso, costumam ser empregadas no ámbito do jogo.

Taful pode significar 'jogador ardilosos, batoteiro', ou ainda 'pessoa ridiculamente elegante'. Um bluff é umha 'burla' ou umha 'fanfarronice', e trata-se de um anglicismo de introduçom recente. Quanto à sintaxe da construçom ('marcar-se algo'), parece sim um decalque do espanhol, como observa o Alexandre, de maneira que deixamos ao seu critério a avaliaçom da correçom da frase que nos consulta, que de qualquer modo podia ter sido expressada de muitas outras formas: Como bom taful, usou um novo engano / Como bom taful, voltou a alardear.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Morango BASENAME: morango DATE: Sun, 20 Feb 2011 21:51:31 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: amorodo, , morango ----- BODY:

CONSULTA:

Na listagem de palavras da AGLP para incorporar ao vocabulário ortográfico comum da língua galego-portuguesa não aparece o termo "amorodo" e também não o termo "amorote". Porém, sim que estão incluidos no dicionário Estraviz.
Qual é o critério da AGAL? São eles aceitados como sinónimos de "morango"? É preferida a voz "morango"?.

Airas


RESPOSTA DA COMISSOM:

A Comissom Lingüística da AGAL está a trabalhar nesta altura na elaboraçom de um documento codificador concebido para definir o padrom lexical do galego-português da Galiza. Por tal motivo, remetemos o amável consulente para esse texto normativo, quando estiver publicado, para aprofundar nos critérios da codificaçom lexical.

No entanto, já agora, em resposta à sua pergunta, podemos antecipar que a CL-AGAL declarará morango, enquanto voz presente nalguns falares galegos contemporáneos e pertecente aos padrons lexicais de Portugal e do Brasil, elemento do padrom lexical galego, com o significado de ?infrutescência da erva rosácea do gén. Fragaria?, e, correlativamente, declarará dialetalismos, com esse significado, vozes como amorodo, amorote, etc. (vozes, todas elas, hoje, infelizmente, globalmente recessivas na Galiza, frente ao castelhanismo substitutório *fresa).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: A grafia vido(ído) BASENAME: a-grafia-vido-ido DATE: Sat, 19 Feb 2011 21:49:32 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Ortografia CATEGORY: Léxico CATEGORY: Morfossintaxe TAGS: , sufixo abundancial, vidoeiro ----- BODY:

CONSULTA:

Teño visto pintado sobre os carteis de Biduído (Parroquia de Ames) "Vidoído". É a proposta da AGAL? Podo entender o da 'o' pero por que con V se ven supostamente de "Betu"?

Manoel

RESPOSTA DA COMISSOM:

O topónimo Vidoído consta da base vido- e do sufixo -ido. O componente vido- corresponde-se com as palavras da língua comum vidoeiro ou vido, que designam a árvore de casca branca, freqüente na Galiza, que os biólogos adscrevem ao género Betula. Aqui, o sufixo -ido (concorrente com -edo: vidoedo) é de caráter abundancial, de modo que Vidoído significa, etimologicamente, ?lugar de muitos vidoeiros ou vidos?.

As denominaçons vernáculas galego-portuguesas da árvore em causa, quando escritas com ortografia galego-portuguesa (nom com a castelhanizante da rag-ilg), levam, portanto, um uvê, apesar de o correspondente étimo (latino) começar por bê (betula). A razom para tal discordáncia gráfica com o étimo é que a ortografia galego-portuguesa nom é puramente etimológica, mas de índole mista, histórico-etimológica, de modo que, nalguns (poucos) casos, por causa da evoluçom interna das palavras, a grafia atual se separa daquela que mostrava o étimo correspondente.

Observe-se que grafarmos hoje em galego a palavra vido(eiro) com uvê nom acarreta qualquer desvantagem (nom se distorce a pronúncia galega, por exemplo), e sim, polo contrário, umha evidente vantagem: há cerca de douscentos milhons de pessoas no mundo que, chamando vidoeiro ao vidoeiro, hoje se reconhecem na grafia vidoeiro (e na de coruja, jeito, minhoca, etc.).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Saudaçom BASENAME: saudacom DATE: Sat, 19 Feb 2011 21:29:17 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: Morfossintaxe TAGS: , , ----- BODY:

CONSULTA:

Queria saber se na nossa normativa seria permitido o uso da forma "saúdo", nom existente no resto da lusofonia ou unicamente seria válida a forma saudaçons ou saudaçoes, dependendo da zona da Galiza.Por exemplo no final de umha missiva.
Cumprimentos e parabéns por este serviço tam útil e necessário.

Aniceto Pinilla Nunes

RESPOSTA DA COMISSOM:

A voz saúdo pertence ao ámbito da língua culta e forma parte das fórmulas de cortesia. Desde o século XVI a única língua que na Galiza se arrogou o direito de se chamar culta foi o castelhano e, portanto, qualquer expressom que manifestasse respeito devia de se fazer nessa língua, de tal maneira que as fórmulas de cortesia que se impugérom, mesmo falando galego, fôrom as castelhanas: grácias/graças, vostede/vostê/ostê, adiós, mi padre/mi madre, mi amo/mi senhor e, também, saúdo. Este último termo, ainda que morfologicamente se pudesse justificar como umha formaçom autóctone, é claro que deve o seu uso e ampla difusom ao castelhano, como o demonstra o facto de a voz saudaçom estar documentada desde o século XIII, e saúdo apenas no galego moderno.

Conseqüentemente, deve evitar-se o substantivo saúdo e utilizar no seu lugar saudaçom, saudaçons ou cumprimentos para nos referir à açom ou efeito de saudar.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Ao fim e ao cabo BASENAME: ao-fim-e-ao-cabo DATE: Wed, 16 Feb 2011 15:44:02 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: expressons ----- BODY:

CONSULTA:

Qual é a expressom galega que venha a cobrir a castelá "Al fin y al cabo"?

RESPOSTA DA COMISSOM:

No nosso idioma temos a mesma expressom "ao fim e ao cabo", que apresenta um reforço por redundáncia de "fim" e "cabo", pois significam o mesmo. Outras expressons mais ou menos sinónimas som "afinal de contas" e "no fim de contas".

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Agra-Fojo BASENAME: agra-fojo DATE: Wed, 16 Feb 2011 15:21:30 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Ortografia CATEGORY: Léxico CATEGORY: Morfossintaxe TAGS: agra-fojo, fojo, , topogal, ----- BODY:
Fojo para o lobo na serra da Peneda

CONSULTA:

Agrafoxo, Agrafojo, Agrafogo?

Este apelido é típico da zona da costa corunhesa, entre Noia e Ribeira, só que nom sei qual seria a forma escrita correta.

Aloia Fernández-Sampedro Carvalhido

RESPOSTA DA COMISSOM:

Como ocorre com outros muitos, Agrafojo é um apelido de origem toponímica, composto de dous elementos transparentes: agra + fojo.

A forma correta de grafar o segundo elemento é Fojo, substantivo que deriva do latim popular foveu (latim clássico fovea): ?cova, buraco, furna? (Cf. o castelhano «hoyo»).

Um fojo é (ou antes era) uma armadilha para apanhar lobos. Consistia numha cova funda e redonda tapada com ramos, amiúde parcialmente rodeada dum muro de calhaus. Muitas vezes no fundo do fojo era colocada uma infeliz ovelha tinhosa para que servisse de engodo à voracidade do lobo, como nos recorda Camilo Castelo Branco numha das suas célebres Novelas do Minho.

Como topónimo é abundante na Galiza e nas terras minhotas e trasmontanas, nom raro associado, como era de esperar, ao lobo: Fojo do Lobo, Fojo Lobal, etc.

Nota:
Enquanto topónimo, é melhor escrever "Agra-Fojo" (cf. apêndice toponímico do Prontuário Ortográfico Galego e o programa Topogal da CL-AGAL), grafia que torna clara a composiçom semántica da denominaçom e que harmoniza com o uso habitual em Portugal ("Vila Cova", por exemplo) e que, convenientemente, contraria o hábito espanhol hoje mimeticamente adotado na Galiza polas instituiçons galegas ("Vilaboa").

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Fui ou fum? BASENAME: fui-ou-fum DATE: Mon, 14 Feb 2011 12:41:20 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: dialetal, , , , , , , verbo ----- BODY:

CONSULTA:

Seria aceite na escrita, é só uma particularidade dialetal ou uma outra coisa?

Fui - Fum
Colhi - Colhim

Pablo César Galdo Regueiro

RESPOSTA DA COMISSOM:

Como é bem sabido, o galego perdeu de maneira muito maioritária a nasalaçom vocálica fonologicamente rendível que existiu na etapa medieval e que ainda existe em Portugal, Brasil e restantes países de língua portuguesa, ao ponto de ser considerado esse um traço caraterístico do português. Referimo-nos a formas como 'irmão', 'cães' ou 'canções'. Entretanto, na Galiza produziu-se também umha curiosa generalizaçom do traço consonántico nasal velar nas primeiras pessoas dos pretéritos perfeitos da segunda e terceira conjugaçons fracas e na mesma pessoa de todos os pretéritos perfeitos fortes, tal como se vê no exemplos colocados pola pessoa que nos fai esta consulta.

É verdade que existem ainda pontos no leste do nosso país (Portelas, Ancares...) onde se conserva a forma original nom anasalada. No entanto, é evidente o caráter muito maioritário da forma inovadora, provavelmente resultado da extensom analógica do -m presente noutras terminaçons do mesmo tempo. Esse fator, junto à inquestionável natureza endógena do fenómeno (o espanhol coincide aí com o resultado antigo galego e com o atual luso-brasileiro) tornam recomendável a padronizaçom das formas com nasalaçom, quer dizer, as segundas dos pares que figuram no enunciado da consulta. É isso que fam o Estudo Crítico e o Prontuário Ortográfico da AGAL desde as suas primeiras ediçons, de 1983 e 1985, respetivamente.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Acentuaçom das terminaçons -am e -om BASENAME: acentuacom-das-terminacons-am-e-om DATE: Sun, 13 Feb 2011 23:25:55 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Ortografia CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

Olá. Quisera saber qual é o critério para acentuar (em norma Agal) as palavras rematadas em -am (Alvám) e nom as em -om (cançom). Obrigado e parabéns pelo consultório.

Xico Bugueiro

RESPOSTA DA COMISSOM:

A resposta é muito fácil: o objetivo das regras de acentuaçom consiste em dar a conhecer ao leitor a vogal tónica de umha palavra, mediante o sistema de presença ou ausência dos acentos, tendo em vista geralmente aforrar acentos e a máxima coerência interna do sistema.

No caso em questom: levam acento as palavras agudas em -am para diferenciá-las das graves correspondentes (cantarám vs. cantaram); e escolhem-se as agudas para levar o acento porque, na nossa língua, som menores em número que as graves (pense-se só no verbo: "cantam", "cantavam", "cantaram", "cantariam" frente unicamente a "cantarám"). No caso das agudas em -om, acontece justamente o contrário: a imensa maioria acaba em -om agudo (particularmente nos substantivos: cançom, coraçom, satisfaçom...) e muito poucas som as graves em -om (pouco mais que, no verbo, 3ª pessoa de plural do pretérito perfeito simples: cantárom, comêrom, partírom). Como nom há agudas em -om no sistema verbal, poderia abolir-se este acento, mas assim faltaríamos à coerência do sistema, introduzindo um princípio novo, de ordem morfológica, alheios à base fonética sobre a qual se formulam as regras de acentuaçom. 

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Ervilha-forrageira BASENAME: ervilha-forrageira DATE: Sat, 12 Feb 2011 00:42:10 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: , ervilha-forrageira, , , ----- BODY:

CONSULTA:

A minha dúvida é em relaçom à palavra tirabeque. O estraviz.org recolhe-a como forma legítima galega. No dicionário priberam nom aparece. No Brasil, onde moro atualmente, nom conhecem esta forma. Como se deveria dizer na Galiza? Como é a forma portuguesa? Na definiçom do estraviz di que é o mesmo que ervilhas mas segundo entendo eu as ervilhas som sempre sem a vagem que as envolve entom o tirabeque espanhol seria o conjunto de ervilha mais o envoltório, quer dizer, as ervilhas e a vagem. Muito obrigado por partilhar a vossa sabedoria!!

Diego

RESPOSTA DA COMISSOM

A voz tirabeque, que designa umha variedade de ervilha (Pisum sativum), é, em galego, um castelhanismo, de origem catalá (cat. tirabec), ilegítimo. As correspondentes vozes legítimas em galego, comuns ao lusitano e ao brasileiro, som ervilha-forrageira e ervilha-miúda. A ervilha-forregeira ou ervilha-miúda (cujo nome científico varia algo conforme as fontes bibliográficas: Pisum sativum var. arvense, Pisum sativum convar. speciosum ou, mesmo, Pisum arvense) é umha planta cultivada principalmente para forragem (planta inteira), ainda que as suas sementes, escuras e freqüentemente maculadas de castanho-purpúreo, também se destinem à cozinha.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: A mesóclise BASENAME: a-mesoclise DATE: Fri, 11 Feb 2011 15:24:58 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: , , ----- BODY:

CONSULTA:

Exemplos de mesóclise pronominal são os seguintes: Convidar-me-ão para a festa. Convidar-me-iam para a festa. Penso que maioritariamente, como fazem também no Brasil, optamos por outras fórmulas para estes tempos verbais: Vão me convidar para a festa (Brasil). Vão-me convidar para a festa. Vão convidar-me para a festa. Neste caso, que seria o mais correto?

Pablo César Galdo Regueiro

RESPOSTA DA COMISSOM:

Fora da linguagem escrita ou de estilos orais de algumha formalidade, a mesóclise pronominal está em boa medida ausente da  oralidade portuguesa e já é totalmente desconhecida na do Brasil, estando praticamente ausente do galego contemporáneo, quer oral, quer escrito. No quadro da configuraçom de um modelo morfossintático culto, poderá ser conveniente a introduçom de pronomes mesoclíticos em galego, se bem que, à vista da diminuiçom do uso de tal estrutura em lusitano e brasileiro e  do recuo de outros traços morfossintáticos fundamentais na língua hoje  cultivada na Galiza (genuína colocaçom proclítica/enclítica dos pronomes átonos, infinitivo flexionado, futuro do conjuntivo, nexos  das cláusulas de relativo...), à CL-AGAL nom pareça necessário prescrever nem promover em galego a colocaçom mesoclítica do pronome.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: 'Já lhe-lo dixem' ou 'Já lho dixem'? BASENAME: ja-lhe-lo-dixem-ou-ja-lho-dixem DATE: Thu, 10 Feb 2011 08:37:54 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Morfossintaxe CATEGORY: TAGS: ----- BODY:

CONSULTA:

No padrão português não existe diferenciação no número de destinatários de uma ação, enquanto nas variantes dialetais da Galiza esta diferenciação manifesta-se: Dar a ele ou ela: Dar-lho, dar-lha, dar-lhos, dar-lhas; dar a eles ou elas: dar-lhe-lo, dar-lhe-la, dar-lhe-los, dar-lhe-las; são corretas estas expressões que escrevi? Obrigado.

Pablo César Galdo Regueiro

RESPOSTA DA COMISSOM:

Conforme os falares galegos, a correspondente soluçom é lho ou lhe-lo. A CL-AGAL, no Estudo Crítico (p. 221), admite as duas  soluçons, priorizando a forma comum com o lusitano e brasileiro  (-lho).

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: O Trema BASENAME: o-trema DATE: Wed, 09 Feb 2011 12:14:05 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Ortografia CATEGORY: TAGS: padrom oral, , , trema ----- BODY:

CONSULTA:

O trema ou diérese foi eliminado da escrita do português por causa do Acordo. Por que, então, na revisão da ortografia AGAL se decidiu manter e, porém, simplificar os grupos cultos -cc- e -ct-? Não teria sido mais efetivo um achegamento mais firme e decidido, embora se mantivesse a terminação -om? Muito obrigado!

RESPOSTA DA COMISSOM:

Com efeito, a recente aplicaçom no Brasil do Acordo Ortográfico de 1990 tem acarretado o desaparecimento do trema na ortografia da variedade americana do galego-português, a qual o mantinha tempo depois de ele ter sido suprimido da ortografia lusitana. No caso da variedade galega, a CL-AGAL decidiu manter o uso do trema por motivos pedagógicos, já que a utilizaçom deste sinal é importante na atual Galiza para fomentar a correta pronúncia de determinadas vozes de prosódia contrastante com o castelhano, ao mesmo tempo que tal uso nom representa umha quebra especialmente grave da unidade das convençons gráficas da Lusofonia. Assim, por exemplo, escrevermos na atual Galiza eqüino, sangüíneo ou tranqüilizante com tremas (frente a, p. ex., questom), em vez de equino, sanguíneo e tranquilizante, acarreta mais vantagens, no campo prosódico, do que desvantagens (no campo gráfico).

Por outro lado, é evidente que a incorporaçom da Galiza ao Acordo Ortográfico de 1990 patrocinada pola CL-AGAL deve incluir a simplificaçom gráfica de muitas seqüências consonánticas etimológicas -cc-, -ct-, -pc- e -pt-, polas claras vantagens a ela associada: fomenta notavelmente a coesom ortográfica no seio da Lusofonia e favorece (como acontece no caso do trema) a correta realizaçom fónica de numerosas vozes na atual Galiza. Quanto aos receios de algumhas pessoas no relativo à pretensa timidez da atualizaçom do padrom ortográfico da CL-AGAL conforme o Acordo Ortográfico de 1990, o amável consulente pode ficar tranqüilo, porque, na realidade, a adesom da CL-AGAL a tal processo unificador tem sido verdadeiramente decidida e, de facto, nalguns aspetos, mais coerente ou valente que a protagonizada em Portugal e no Brasil: veja, a esse respeito, como na Galiza se padronizam como formas únicas, no capítulo das seqüências consonánticas, as variantes prosódicas e ortográficas comuns a Portugal e ao Brasil, enquanto que nestes dous países nom se priorizam tais formas comuns.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Chave de parafusos BASENAME: chave-de-parafusos DATE: Mon, 07 Feb 2011 12:59:53 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Léxico CATEGORY: TAGS: chave de fendas, chave de parafusos, , , , ----- BODY:

CONSULTA:

Que palavra seria a mais correta para designar o instrumento que serve para apertar e afrouxar parafusos?
Na Wikipédia lusófona falam indistintamente de "chave de fenda" e "chave de parafusos", mas procurando pola Internet vejo que os termos "desaparafusador" e "desparafusador" não são estranhos fora da Galiza. Mesmo tenho visto usarem "aparafusadora" para falarem duma chave de parafusos elétrica.

A propósito, muitos parabéns polo consultório, já se vinha sentindo a falta de algo assim.

Saudinha!

RESPOSTA DA COMISSOM:

1. Infelizmente (porque se contraria a economia comunicativa), é grande o número de termos sinónimos que em galego-português designam a ferramenta que serve para apertar e afrouxar parafusos. Na internet registamos, por ordem alfabética, aparafusador, aparafusadora, chave de fenda(s), chave de parafuso(s), desandador e desaparafusador. Polo que di respeito à distribuiçom geográfica destes termos, cabe resenhar que desandador é exclusivo de Portugal e que, enquanto no Brasil se preferem, nos casos de chave de fenda(s) e chave de parafuso(s), as variantes que apresentam no singular o segundo componente nominal, em Portugal regista-se preferência polas que o apresentam no plural.

2. Ora, de todos esses termos, os únicos que, em geral, registam os dicionários lusitanos e brasileiros, tanto os da língua comum como os da língua especializada, som chave de fenda(s), chave de parafuso(s) e desandador. Umha consulta no motor de pesquisa internética ?Google? permite verificar que, tanto em Portugal como no Brasil, chave de parafuso(s) apresenta um uso algo mais freqüente que chave de fenda(s), ocupando desandador o terceiro posto em Portugal. Do resto de sinónimos supracitados, apenas aparafusadora apresenta um uso, conforme testemunha a internet, considerável. O termo aparafusadora usa-se em Portugal ?mas nom, em geral, no Brasil? como sinónimo (preferente) de chave de parafusos/fendas elétrica.

3. É importante termos em conta que, em sentido estrito, os termos chave de parafuso(s) e chave de fenda(s) nom som sinónimos entre si, já que chave de parafuso(s) é termo de significaçom mais ampla (hiperónimo) que chave de fenda(s) (hipónimo). Com efeito, chave de fendas designa apenas aquelas chaves de parafusos destinadas a apertar e afrouxar parafusos cuja cabeça apresenta umha fenda, existindo, no entanto, outros tipos de parafusos, que requerem de outros tipos de chaves de parafusos (por exemplo, os denominados parafusos Phillips som apertados e afrouxados com chaves de parafusos de estrela).

4. Se aceitarmos o critério geral exposto no Manual de Galego Científico de preferirmos para a Galiza as soluçons lusitanas nos casos de divergência terminológica entre Portugal e o Brasil, podemos adotar em galego o seguinte esquema designativo para significarmos a ferramenta que serve para apertar e afrouxar parafusos: priorizaremos decididamente chave de parafusos (ou, no seu caso, chave de fendas) sobre desandador e, em relaçom à chave de parafusos elétrica, junto com este termo, também utilizaremos aparafusadora.

----- -------- AUTHOR: CL TITLE: Pronúncia do cê(-cedilhado) e do zeta BASENAME: pronuncia-do-lz-c-c DATE: Tue, 01 Feb 2011 23:00:00 +0000 STATUS: publish PRIMARY CATEGORY: Fonética CATEGORY: TAGS: ceceio, padrom oral, , sesseio ----- BODY:

CONSULTA:

Antes de mais, gostaria de parabenizar a Comissom Lingüística da AGAL por se situar, mais umha vez, na vanguarda da filologia e a lingüística galega. A minha pergunta é de ordem fonética ou fonológica, mas espero que poda ser resolvida. Qual a opiniom que o Presidente da Comissom e o resto de membros tenhem acerca do sesseio e da pronúncia do c? Seria esta pronúncia do c um castelhanismo, já que nom existe no resto da lusofonia, ou seria um fonema legítimo? Com relaçom à anterior pergunta, gostaria de saber se a CL-AGAL tem pensado estabelecer no curto ou meio prazo um estándar fonético para a variedade galega (creio que é mui necessário tratar os aspetos orais, que acho ficárom um pouco abandonados pola AGAL), e além disso, se também tem pensado num futuro realizar qualquer tipo de estudo sobre as diferentes prosódias galegas nom castelhanizadas. Parabéns outra vez. Adiante CL-AGAL!!! Obrigado.

RESPOSTA DA COMISSOM:

A CL-AGAL agradece as amáveis palavras encorajadoras do consulente e a seguir expom com brevidade o seu parecer sobre a questom fonológica por ele formulada.
Com efeito, é desejo da CL-AGAL iniciar em breve prazo, após a publicaçom de um contributo de codificaçom lexical que agora está numha fase avançada de elaboraçom, trabalhos conducentes a oferecer orientaçom sobre certas questons de interesse para configurar um modelo prosódico culto na variedade galega do galego-português.
Entre as questons que abordará tal texto orientador da CL-AGAL, encontrará-se, sem dúvida, umha recomendaçom sobre a realizaçom fónica no galego culto da letra z e das seqüências ça, ce, ci, ço e çu. No entanto, a CL-AGAL nom pode antecipar nesta altura, antes de realizar os pertinentes estudos e deliberaçons, qual será a sua posiçom a esse respeito, se bem que ela poda manifestar agora, em resposta à pergunta do amável consulente, que a correspondente recomendaçom prosódica nom se identificará com o modelo de completo tetacismo que hoje, por influência do castelhano, predomina nos falares galegos. (Tetacismo: articulaçom com o fonema /θ/, o inicial da voz cinco no castelhano de Castela ou da voz think em inglês).

Exemplo de ausência de tetacismo (com pronúncia dental tanto de s/ss como de c/ç e z): ----- --------