«Vir a fazer» ou «vir fazer»?

«Vir a fazer» ou «vir fazer»?

08-10-2015

CONSULTA:

Considera-se a construçom «vir + infinitivo» umha perífrase? Na documentaçom sobre perífrases nom a atopo. Si aparece a perífrase «vir + a + infinitivo», com carácter terminativo («Expressa umha acçom que se achega ao seu final»). Em qualquer caso, é aceitável o uso da forma com preposiçom a (vir + a + infinitivo) co mesmo valor que «vir + infinitivo»? Hai algumha norma ou documentaçom em que se basear para defender o uso correcto? Obrigado.

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

Umha das perífrases aspetuais do galego-português é a terminativa «vir + a + INFINITIVO», que apresenta umha açom como conclusom ou desfecho, enquanto que a construçom «vir + INFINITIVO» nom tem caráter perifrástico e, nela, o verbo vir funciona como verbo pleno, conservando o seu valor semántico de movimento. Considerem-se, entom estes dous exemplos:

«Esse estado cristalino nom se manifesta apenas nas substáncias que, nas condiçons do ambiente,
existem já em fase sólida, mas também naquelas que, existindo em fase líquida ou gasosa, nessas
mesmas condiçons, podam vir a solidificar [= ?acabar por solidificar?: perífrase terminativa].» (Cadernos de Iniciação Científica: 103)

«A casa que os Maias vieram [= Gz. vinhérom] habitar em Lisboa, no outono de 1875 [vinhérom habitar: deslocárom-se a Lisboa para a habitarem], era conhecida na vizinhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o Bairro das Janelas Verdes, pela [= Gz. pola] ?casa do Ramalhete?, ou simplesmente o ?Ramalhete?.» (Oraçom de início de Os Maias, de Eça de Queirós)

No entanto, tenha-se em conta que, quando na construçom nom perifrástica «vir + INFINITIVO» o verbo vir apresenta um valor figurado, no sentido de umha cousa ter surgido ou ter sido introduzida num dado ámbito, o significado global da construçom nom fica muito afastado do da perífrase supracitada, como testemunham os dous exemplos seguintes:

«Esta noçom, cuja validade é reafirmada polas novas conquistas da medicina, tem vindo revolucionar
certas ideias que pareciam definitivas sobre o comportamento terapêutico em face de afeçons
malignas, perante as quais todo o nossso empenho era de intervençom rápida, fosse qual fosse o estádio da sua evoluçom.» (Deuses e Demónios da Medicina: 38)

«Até à segunda metade do século XX, quase todas as crianças tinham tido estas doenças [sarampo, papeira]. A imunização veio alterar [= Gz. véu alterar] esta situação.» (Enciclopédia Médica da Família: 288)

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Categoria(s): Morfossintaxe
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