Galinholas, narcejas e picas

Galinholas, narcejas e picas

19-11-2012

A Galinhola (em cima) e a narceja (em baixo) pertencem à família Scolopacidae

CONSULTA:

Hai umha espécie de aguaneta, ave limícola, que é denominada narceja-galega em português. O adjectivo galego foi pejorativo em português popular com algumha frequência, daí que se aplique a espécies pequenas (pica-pau galego, mocho-galego...) Mas é apropriado isso na variante galega? Por outro lado, narceja nom se regista aparentemente nos falares galegos (embora apareça nalguns diciónarios e livros como tal, sendo, aparentemente, simples cópia da variante lusa do nosso idioma). Narceja deve ser variante morfológica de arcea, nome galego para outro género. Quê fazer quando as variantes portuguesa e brasileira divergem? Por exemplo caminheiro/petinha, para a ave conhecida como pica no Norte da Galiza? Obrigado, desculpen a extensom.

Rudesindo Bombarral

RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:

1. A Comissom Lingüística da AGAL, no seu texto codificador O Modelo Lexical Galego, de próxima publicaçom, proporá como denominaçom padrom galega da ave Scolopax rusticola (fam. Scolopacidae) a voz galinhola, comum à Galiza e a Portugal (deste modo, a denominaçom arceia passa, nesta proposta, para a condiçom dialetal, ou para o estatuto de «denominaçom nom preferente»); quanto às espécies dos géneros Gallinago e Lymnocryptes, da mesma família, e designados por narceja em Portugal, as denominaçons vernáculas registadas na Galiza que nos constam som agacha, aguaneta, arceúcha, becacina e cabra-do-ar (cf. Miguel A. Conde Teira. 1999. «Nomes galegos para as aves ibéricas: lista completa e comentada». Chioglossa, 1: 121?138). O ornitólogo Miguel A. Conde Teira propom no trabalho citado priorizarmos em galego a denominaçom becacina, como a mais estendida na Galiza atual, mas nós nom concordamos com tal proposta, já que, como o próprio autor reconhece (pág. 132 ibidem), tal nome «procede moi probablemente do francés becassine, a través do español becacina, por difusión entre cazadores». Perante esta circunstáncia, e dado que o resto de denominaçons vernáculas registadas na Galiza para Gallinago tenhem (muito) pouca difusom, em O Modelo Lexical Galego, conforme os critérios expostos no capítulo correspondente à variaçom geográfica sem padronizaçom, a Comissom Lingüística propom a introduçom em galego, por coordenaçom com a varieade lusitana, da denominaçom narceja. (Neste ponto, também cabe reconhecer como sugestivo, embora menos prático do que o recomendado, um esquema designativo em que arceia designasse Scolopax rusticola, e arceúcha, diminutivo de arceia, as espécies dos géneros Gallinago e Lymnocryptes).

2. Naturalmente, no padrom lexical do galego-português da Galiza nom podemos dar cabimento ao adjetivo galego com o sentido de ?pequeno? nas denominaçons vernáculas de organismos. Portanto, recomendamos os seguinte nomes vernáculos para as espécies de aves (escolopacídeos) aqui analisadas:

Nome científico e nome vernáculo na Galiza (entre parênteses, o nome vernáculo em Portugal)

Scolopax rusticola: galinhola (galinhola)
Gallinago gallinago: narceja (narceja)
Gallinago media: narceja-real (narceja-real)
Lymnocryptes minimus: narceja-pequena (narceja-galega)

3. No caso da designaçom das aves do género Anthus (fam. Motacillidae), dado que a voz pica tem umha extensom na Galiza muito reduzida, propomos como denominaçom vernácula galega preferente a resultante de convergirmos com a soluçom lusitana, i. é, petinha, ficando relegada, entom, pica à condiçom de «denominaçom nom preferente» (na notaçom de O Modelo Lexical Galego, PLGz: petinha > pica). Neste contexto, diga-se que, no caso de divergência terminológica entre Portugal e o Brasil, preferiremos na Galiza, em geral, e aplicando um critério de proximidade geográfica, cultural e lingüística, a soluçom lusitana.

Categoria(s): Fonética, Léxico
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