CONSULTA
Olá! Desejo saber se existem tempos verbais compostos em galego, como existem em português. É estranho ver no paradigma verbal do galego oficial não aparecerem tempos como o pretérito perfeito (tenho cantado) ou o condicional composto (teria cantado). Assumindo que vocês utilizam o mais-que-perfeito simples (eu cantara), como exprimem os outros tempos? Trata-se duma menor riqueza verbal do galego face ao português? (Isso não seria nenhuma tragédia; há línguas românicas que têm simplificado muito o seu sistema verbal, por exemplo o francês e o romeno). No caso de vocês utilizarem tempos compostos, gostaria de saber que verbo utilizam como auxiliar (ter ou haver) e em que tipo de frases. Agradeceria muito me resolverem a minha dúvida.
RESPOSTA DA COMISSOM LINGÜÍSTICA:
Antes de mais, diga-se que para nós nom se trata de umha questom de gramática do galego face «ao português», mas antes de umha questom gramatical da variedade galega (do galego-português) em comparaçom com a variedade lusitana e com a variedade brasileira. Diga-se também à partida que a Comissom Lingüística da AGAL ainda nom se tem pronunciado de forma explícita e específica sobre a codificaçom gramatical ou morfossintática da variedade galega do galego-português (como si o tem feito nos campos da ortografia, da morfologia, do léxico), embora sim podamos oferecer agora umhas orientaçons gerais sobre a matéria por que se interessa o nosso consulente.
A resposta da CL-AGAL à questom posta é simples: se bem que no galego espontáneo, popular (multissecularmente sujeito a estagnaçom e erosom expressivas), os tempos verbais compostos, também designáveis como perífrases verbais aspetuais de estrutura «ter + particípio», sejam raros, a língua formal, culta, deve incorporá-los abertamente, conforme o modelo luso-brasileiro, para enriquecer a sua expressividade. Nomeadamente, polo que di respeito aos seguintes valores (consultem-se, a este respeito, as pág. 495?500 da segunda ediçom do Manual de Galego Científico, de Garrido e Riera [2011]):
? Perífrase aspetual perfectivo-reiterativa e atualizadora (de estrutura «ter [como presente do indicativo] + particípio»): «A nossa equipa de investigaçom tem feito a experiência com diversos animais de laboratório sem obter qualquer resultado significativo.»; «Como tés estado? Tenho estado muito mal, tenho estado doente.»
? Perífrase aspetual (puramente) perfectiva «ter + particípio»: «É curioso que nom tenham sido descobertos mais depósitos»; «Pensa-se terem sido os orientais os primeiros povos verdadeiramente entendidos na confeçom de medicamentos.».
Apenas duas restriçons, nom absolutas, à incorporaçom destes tempos verbais compostos, ou perífrases verbais aspetuais, ao galego formal: a) pola grande vitalidade e expressividade que mostra em galego o pretérito mais-que-perfeito (eu cantara), poderá limitar-se ou evitar-se na nossa variedade lingüística o uso da perífrase aspetual perfectiva «ter + particípio» em que o auxiliar surge em pretérito imperfeito. Assim, enunciados lusitanos ou brasileiros do tipo «Nunca antes tinha assistido a um congresso de Geofísica», em galego estám bem formulados, também na língua formal, com enunciados do tipo «Nunca antes assistira a um congresso de Geofísica»; b) a perífrase aspetual perfectiva pode construir-se em lusitano e em brasileiro com o auxiliar haver, em vez de ter, possibilidade realizada com certa freqüência na expressom formal; em galego, polo risco de tal proceder ficar associado a umha castelhanizaçom expressiva, recomendamos limitar ao mínimo, e sempre dentro da língua mais formal ou literária, essa possibilidade.
Categoria(s): Morfossintaxe
|
|