Fadistas novos (ou novos fadistas) vistos do Brasil

Fadistas novos (ou novos fadistas) vistos do Brasil

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Canto de fadas

Uma nova geração de fadistas renova o gênero português imortalizado pela diva Amália Rodrigues


Plantão | Publicada em 22/08/2011 às 08h32m
Luiz Felipe Reis (luiz.reis@oglobo.com.br)


A cantora Joana Amendoeira

RIO - A brisa que sopra do Tejo não é a única fonte de ar fresco a invadir as sinuosas ruelas do centro histórico de Lisboa. Nos arredores de Alfama, Madragoa, Chiado e Bairro Alto, entre o subir e o descer das ladeiras, no abrir e fechar das portas de clubes e casas noturnas, as arredondadas melodias do fado vêm circulando com outros contornos. Desafiando a crise econômica que acinzenta o ânimo do país, paira na capital e em outros cantos da terrinha uma aura de renovação e criatividade, sobretudo artística, através de uma nova geração de cantoras de fado.

Assim como no Brasil, em que vozes femininas surgem aos borbotões, são elas que dominam os lançamentos do gênero em Portugal, renovando uma cena alimentada também por vozes masculinas de destaque, como as de António Zambujo e Camané. Nomes como Ana Moura, Mafalda Arnauth, Joana Amendoeira, Katia Guerreiro, Cuca Roseta, Raquel Tavares e Ana Marta têm moldado suas carreiras por um olhar que moderniza o mais tradicional gênero musical português, sem deixar de lado sua essência. Elas rompem fronteiras pela experimentação lírica dos poemas musicados, pela escolha da instrumentação que colore os arranjos e pelo modo sutilmente menos dramático como interpretam o que chamam de "verdade da alma".

Sem negar a influência do ícone maior da música lusitana, Amália Rodrigues (1920-1999), e aproveitando o caminho aberto pelo sucesso de cantoras como Mariza e Mísia, as novas fadistas trazem assinatura própria, oferecem outras bossas ao gênero e vêm atingido novos públicos.

- Essa procura de sintonia com uma audiência mais diversificada ocorre depois da morte de Amália Rodrigues. É como se a sua morte tivesse aberto portas a toda uma geração que sentia o peso da sua sombra imponente - diz o crítico de música Vitor Benlaciano, do jornal "Público".

O jornalista enxerga pontos de contato entre essas vozes atuais do fado:

- A maioria aposta numa linguagem de continuidade clássica. Porém, mesmo uma música que parece fechada em si pode ter outros desenvolvimentos.

Mas como renovar um gênero que resguarda a tradição como seu maior trunfo?

- Essa é uma das grandes dúvidas e das mais problemáticas questões do fado. Algo que separa os puristas, que apenas valorizam e reconhecem os tradicionais, dos apoiadores da evolução e da modernidade - diz a cantora Joana Amendoeira, de 28 anos. - Mas a essência nunca morre, porque é adaptável ao tempo. Penso que existe um equilíbrio possível entre passado, presente e futuro. A prova está na história do fado.

A cantora lembra os sucessivos ataques que Amália Rodrigues sofreu quando passou a interpretar canções de Alain Oulman, que veio a se tornar um de seus mais importantes parceiros.

- Ele criou inúmeros fados que à época chamavam de óperas, e hoje são considerados grandes clássicos - explica Joana. - Ao longo dos últimos 150 anos, o gênero evoluiu em todos os níveis, no modo de tocar e cantar, nos temas.

Num gênero em que experiências do passado são ingredientes essenciais para se atingir a "verdade das emoções e sentimentos", mulheres na casa dos 20 e 30 anos teriam vivência suficiente para garantir integridade ao fado?

- É necessário maturidade para sentir a poesia e a intensidade do fado. Foi só a partir da adolescência que fui interiorizando cada ensinamento - conta Joana. - Antes, me apaixonava por melodias e certas letras descritivas, não compreendia outros tipos de poemas, para expressá-los com a verdade da alma tão necessária para que aconteça o fado. Um fadista canta sua vivência, e aos 40 anos com certeza terei muito mais para enriquecer meu canto, como tenho agora aos 28 em relação aos meus 18.

Alçada a aposta após ter sido descoberta pelo compositor argentino Gustavo Santaolalla ("Diários de motocicleta" e "O segredo de Brokeback Mountain"), que acabou produzindo seu disco de estreia, "Cuca Roseta" (2011), a lisboeta Isabel "Cuca" Roseta, de 29 anos, concorda, mas aponta outros caminhos:

- Habituamo-nos desde pequenos a ver o fado cantado por pessoas mais adultas - diz. - Ele canta uma verdade emocional, um peso, uma experiência de vida. Descreve os sentimentos de um povo e traz uma cadência melancólica, notas em tom menor que carregam a cultura de um país junto ao mar, saudosista, fatalista. Mas, se o fado conta só as histórias da experiência, esse não é o fado que faz com que um jovem se identifique. Com o surgir de fadistas mais novos, surgem repertórios frescos, que atingem os jovens.

E o que fazer para seduzir novos ouvintes?

- Pensei em cantar uma Lisboa colorida de marchas, manjericos, amor e saudade - diz Cuca.

Navegando entre o fado clássico e peças recentes, buriladas por gente como o produtor e compositor Jorge Fernando, um dos mais requisitados do novo fado português, a cantora Ana Moura, que se apresenta no Rio na próxima sexta-feira, no festival Back2Black, acredita que a renovação em sua música vem dos arranjos tecidos pelos instrumentistas e dos versos de poetas e letristas sintonizados com o cotidiano.

- No último disco, resgatei a sonoridade das duas guitarras portuguesas em diálogo - diz a cantora, de 31 anos, tida como a mais importante fadista da atualidade. - Mas hoje os músicos têm uma abordagem diferente em relação ao instrumento, e é isso que torna a sonoridade contemporânea.

Ana Moura não enxerga uma pretensão consciente de atualizar o gênero. Nem entre as cantoras nem entre os poetas e letristas do novo fado.

- Essa aura moderna surge de letras que carregam naturalmente uma linguagem mais atual - explica. - Nós temos o fado como um modo de expressão da alma, então trazemos inconscientemente essa modernidade. Se os sentimentos não mudam ao longo dos tempos, a forma como lidamos com eles é diferente de geração para geração.

HomemLegal 22/08/2011 - 12h 39m

Amo o fado. O fado é alma de todos os Lusófonos (Brasileiros e Portugueses). Não é só a alma de Portugal, mas, também do Brasil (vide a música de raiz do Brasil - caipira). Viva o fado e sua beleza. O fado nunca morrerá!

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guifred - e-mail22/08/2011 - 10h 49m

Assisti a um show de Ana Moura em Lisboa. Quando ela canta fado, é impressionante. Tem uma força e uma emoção muito intensas. O problema é quando esbarra no repretório á la Ana Carolina. Aí fica puxado!!

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Cezar Augusto Miranda Guedes22/08/2011 - 10h 45m

O fado tem a ver com uma lógica que nos ultrapassa. Por isso não precisa de luzes e efeitos especiais. Uma mulher, dois ou três músicos e só. A partir disso, as amarras se soltam. Benvinda Joana!

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nordestina 22/08/2011 - 10h 13m

Amo o fado, em todas as suas versões.

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Luiz Felipe dos Santos22/08/2011 - 09h 50m

Muito boa a abordagem sobre esse tipo de canção, que é carregada de sentimentos em sua letras. Sou fã do "fado novo "nas vozes dessas interpretes citadas.Porem foram omitidos os nomes das duas principais interpretes desse novo fado...A CRISTINA BRANCO,o fado em alto nivel , em que no seu dvd interpreta Amalia, gravado ao vivo na Holanda, com otimos musicos e a guitarra de Jose Manoel Neto. E a maior revelação atual do fado que chama´-se CARMINHO, e quem a ouve credencia como a melhor

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Todos os comentários (5)

Fonte:
http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/08/21/uma-nova-geracao-de-fadistas-renova-genero-portugues-imortalizado-pela-diva-amalia-rodrigues-925173181.asp

Escrito em 25-08-2011, na categoria: Fadistas
Chuza!

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1 comentário

Comentário de: duarte de almeida [Visitante]
duarte de almeida

De entre as novas vozes capazes de abrir novos caminhos, sugiro que ouçam HELENA SARMENTO no seu primeiro trabalho, FADO AZUL. Alguns dos temas estão disponíveis em
http://www.myspace.com/ahelenasarmento
http://pt-br.facebook.com/helenasarmento

14-12-2011 @ 23:55
Bem pensado / Todos temos nosso fado / E quem nasce mal fadado / Melhor fado não terá

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