Morreu João Ferreira Rosa (24.IX.2017)

Morreu João Ferreira Rosa (24.IX.2017)

Link: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Ferreira-Rosa


O EMBUÇADO
Gabriel de Oliveira e José Marques (fado natália)
(música do fado Tradição de Alcídia Rodrigues)

Noutro tempo a fidalguia
Que deu brado nas toiradas
Frequentava a Mouraria
E em muito palácio havia
Descantes e guitarradas

A história que vou narrar
Contou-ma certa velhinha
Um dia que fui cantar
Ao salão dum titular
Lá pra o paço da rainha

A esse salão doirado
De ambiente nobre e sério
Para ouvir cantar o fado
Ia sempre um embuçado
Personagem de mistério

Mas certa noite houve alguém
Que lhe disse, erguendo a fala
Embuçado, nota bem
Que hoje não fique ninguém
Embuçado, nesta sala

Ante a admiração geral
Descobriu-se o embuçado
Era el-rei de Portugal
Houve beija-mão real
E depois cantou-se o fado

João Ferreira Rosa: um defensor do fado tradicional


DIÁRIO DE NOTÍCIAS e Lusa

O fadista João Ferreira-Rosa, que morreu hoje aos 80 anos, foi um "irredutível defensor do fado tradicional", que construiu um repertório marcado pela "autenticidade", afirma a Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF).

João Ferreira-Rosa "foi um irredutível defensor do fado tradicional, que fez uma carreira de mais de 50 anos interpretando sempre fado tradicional, autor de vários poemas, como 'Triste Sorte', e também de melodias, sempre no veio tradicional, como os denominados Fado Alcochete e o Fado Pintéus", disse à Lusa Julieta Estrela de Castro, presidente da APAF.

A responsável realçou "a longa carreira com êxitos que são, hoje, incorporados nos repertórios de outros fadistas e, rapidamente, reconhecidos pelo grande público, casos do emblemático 'Embuçado', 'Triste Sorte', 'Acabou o Arraial' ou 'Fragata', este último que interpreta no fado Vianinha".

O criador de "Os Saltimbancos" (Isidoro Maria d'Oliveira/Fado Mouraria) "foi senhor de uma voz muito característica e uma divisão do verso perfeita, que entronca na mais legítima escola fadista, com uma interpretação autêntica, logo única, fator diferenciador e essencial no fado".

O fadista João Ferreira-Rosa, de 80 anos, morreu hoje de manhã no hospital de Loures, nos arredores de Lisboa, disse à agência Lusa fonte próxima do artista.

João Ferreira-Rosa nasceu em Lisboa, na freguesia de S. Mamede, em 16 de fevereiro de 1937, tendo-se estreado, profissionalmente, em 1961. O fadista foi casado com a pianista Maria João Pires e em segundas núpcias com a pintora Ana Maria Botelho (1936-2016).

24 DE SETEMBRO DE 2017

Morreu o fadista João Ferreira-Rosa, o eterno amador do Fado do Embuçado

O intérprete tinha 80 anos e do seu reportório fazem parte temas como Fado dos saltimbancos, Arraial e Fragata. "Canto quando me apetece", costumava dizer, e por isso resistia a espectáculos e discos.
PÚBLICO e com Lusa
24 de setembro de 2017

O fadista e letrista João Ferreira-Rosa, de 80 anos, um dos mais reconhecidos intérpretes do Fado do Embuçado, morreu este domingo de manhã no hospital de Loures, nos arredores de Lisboa, disse à agência Lusa fonte próxima do artista.

João Ferreira-Rosa era proprietário do Palácio de Pintéus, Loures, que pertencera à poetisa Maria Amália Vaz de Carvalho e que serviu de cenário a vários programas de fado transmitidos pela RTP, em que participaram os fadistas Alfredo Marceneiro, Maria do Rosário Bettencourt, Teresa Silva Carvalho e João Braga, e os músicos Paquito, José Pracana e José Fontes Rocha, entre muitos outros.

Figura assídua das galas anuais Carlos Zel, no Casino Estoril, do seu repertório constam, entre outros, o Fado dos saltimbancos, Arraial, Fragata, Portugal verde encarnado, O meu amor anda em fama, Mansarda e Os lugares por onde andámos.

Escrevendo letras para si e para outros intérpretes, João Ferreira-Rosa, foi autor, por exemplo, do poema Triste sorte, que gravou no Fado Cravo, de Marceneiro.

Tal como Amália Rodrigues e Manuel de Almeida, Alfredo Marceneiro é, aliás, uma das grandes referências deste fadista nascido em Lisboa e convictamente monárquico, que sempre resistiu a gravar (são poucos os discos da sua longa carreira).

?Eu sou um fadista amador?, disse numa entrevista a Baptista-Bastos publicada no livro Fado Falado (Ediclube, 1999). ?Eu canto quando me apetece.?
Uma casa de fados de reis e presidentes

João Ferreira-Rosa nasceu em Lisboa em Fevereiro de 1937 e cedo começou a cantar entre familiares e amigos. Aos 13 anos, já como aluno da Escola Agrícola de Santarém, deu o seu primeiro espectáculo, no Teatro Rosa Damasceno, naquela cidade ribatejana, em que cantou, entre outros temas, Fado Hilário. A sua estreia como intérprete coincidiu com o início da actividade como letrista, algo que haveria de marcar o seu percurso. ?Carreira?, lembrava muitas vezes, era palavra que não gostava de ver aplicada à sua actividade como fadista não-profissional.

Mais adepto do fado espontâneo, que nasce num jantar ou numa tertúlia à volta da mesa, do que do trabalho de estúdio ou de palco, Ferreira-Rosa tem uma discografia limitada que começa em 1964, ano em que grava o seu tema mais famoso, o Embuçado (letra de Gabriel de Oliveira e música do Fado Tradição, da cantadeira Alcídia Rodrigues), o mesmo que haveria de dar nome à casa que inaugura em 1966, no coração de Alfama.

Pela Taverna do Embuçado, lembrou na mesma entrevista a Baptista-Bastos, passaram grandes nomes do fado ? Amália, Teresa Silva Carvalho, João Braga? ?, mas também artistas plásticos, escritores e chefes de Estado. ?Não havia ninguém de fora que viesse, príncipe ou rei ou Presidente, que não tivesse de ir. Diziam até que era obrigatório ir ao Embuçado e era realmente?, disse ao jornalista.
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Homem do fado, mas também dos toiros e dos cavalos, era um feroz opositor à República e esteve, de início, ligado ao Partido Popular Monárquico (PPM), afastando-se com a saída dos seus fundadores, Gonçalo Ribeiro Telles e Henrique Barrilaro Ruas. No centenário da República, aliás, aceitou o desafio de uns amigos para explicar por que razão a monarquia lhe parecia preferível como sistema de governo, numa entrevista que está hoje disponível online (Diálogos com João Ferreira-Rosa sobre a arte de continuar a ser Português no ano do centenário da República).

Quanto ao afastamento do PPM, e para que não restassem dúvidas em relação às suas motivações, justificava-o assim: ?A monarquia devia ser um movimento, uma ideia, e nunca um partido. Porque alinhar com a Assembleia da República, a mim, já me parece mal.?

Da curta discografia de João Ferreira-Rosa fazem ainda parte títulos como Ontem e Hoje (1996) e No Wonder Bar do Casino do Estoril (2004). Em 2003 participou no álbum Encantamento, num dueto com Mafalda Arnauth, uma das intérpretes da actual geração de fadistas que mais admirava.

https://www.publico.pt/2017/09/24/culturaipsilon/noticia/morreu-joao-ferreirarosa-o-fadista-de-embucado-1786522

Escrito em 24-09-2017, na categoria: Fadistas
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