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O EMBUÇADO
Gabriel de Oliveira e José Marques (fado natália)
(música do fado Tradição de Alcídia Rodrigues)
Noutro tempo a fidalguia
Que deu brado nas toiradas
Frequentava a Mouraria
E em muito palácio havia
Descantes e guitarradas
A história que vou narrar
Contou-ma certa velhinha
Um dia que fui cantar
Ao salão dum titular
Lá pra o paço da rainha
A esse salão doirado
De ambiente nobre e sério
Para ouvir cantar o fado
Ia sempre um embuçado
Personagem de mistério
Mas certa noite houve alguém
Que lhe disse, erguendo a fala
Embuçado, nota bem
Que hoje não fique ninguém
Embuçado, nesta sala
Ante a admiração geral
Descobriu-se o embuçado
Era el-rei de Portugal
Houve beija-mão real
E depois cantou-se o fado
João Ferreira Rosa: um defensor do fado tradicional
DIÁRIO DE NOTÍCIAS e Lusa
O fadista João Ferreira-Rosa, que morreu hoje aos 80 anos, foi um "irredutível defensor do fado tradicional", que construiu um repertório marcado pela "autenticidade", afirma a Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF).
João Ferreira-Rosa "foi um irredutível defensor do fado tradicional, que fez uma carreira de mais de 50 anos interpretando sempre fado tradicional, autor de vários poemas, como 'Triste Sorte', e também de melodias, sempre no veio tradicional, como os denominados Fado Alcochete e o Fado Pintéus", disse à Lusa Julieta Estrela de Castro, presidente da APAF.
A responsável realçou "a longa carreira com êxitos que são, hoje, incorporados nos repertórios de outros fadistas e, rapidamente, reconhecidos pelo grande público, casos do emblemático 'Embuçado', 'Triste Sorte', 'Acabou o Arraial' ou 'Fragata', este último que interpreta no fado Vianinha".
O criador de "Os Saltimbancos" (Isidoro Maria d'Oliveira/Fado Mouraria) "foi senhor de uma voz muito característica e uma divisão do verso perfeita, que entronca na mais legítima escola fadista, com uma interpretação autêntica, logo única, fator diferenciador e essencial no fado".
O fadista João Ferreira-Rosa, de 80 anos, morreu hoje de manhã no hospital de Loures, nos arredores de Lisboa, disse à agência Lusa fonte próxima do artista.
João Ferreira-Rosa nasceu em Lisboa, na freguesia de S. Mamede, em 16 de fevereiro de 1937, tendo-se estreado, profissionalmente, em 1961. O fadista foi casado com a pianista Maria João Pires e em segundas núpcias com a pintora Ana Maria Botelho (1936-2016).
24 DE SETEMBRO DE 2017
Morreu o fadista João Ferreira-Rosa, o eterno amador do Fado do Embuçado
O intérprete tinha 80 anos e do seu reportório fazem parte temas como Fado dos saltimbancos, Arraial e Fragata. "Canto quando me apetece", costumava dizer, e por isso resistia a espectáculos e discos.
PÚBLICO e com Lusa
24 de setembro de 2017
O fadista e letrista João Ferreira-Rosa, de 80 anos, um dos mais reconhecidos intérpretes do Fado do Embuçado, morreu este domingo de manhã no hospital de Loures, nos arredores de Lisboa, disse à agência Lusa fonte próxima do artista.
João Ferreira-Rosa era proprietário do Palácio de Pintéus, Loures, que pertencera à poetisa Maria Amália Vaz de Carvalho e que serviu de cenário a vários programas de fado transmitidos pela RTP, em que participaram os fadistas Alfredo Marceneiro, Maria do Rosário Bettencourt, Teresa Silva Carvalho e João Braga, e os músicos Paquito, José Pracana e José Fontes Rocha, entre muitos outros.
Figura assídua das galas anuais Carlos Zel, no Casino Estoril, do seu repertório constam, entre outros, o Fado dos saltimbancos, Arraial, Fragata, Portugal verde encarnado, O meu amor anda em fama, Mansarda e Os lugares por onde andámos.
Escrevendo letras para si e para outros intérpretes, João Ferreira-Rosa, foi autor, por exemplo, do poema Triste sorte, que gravou no Fado Cravo, de Marceneiro.
Tal como Amália Rodrigues e Manuel de Almeida, Alfredo Marceneiro é, aliás, uma das grandes referências deste fadista nascido em Lisboa e convictamente monárquico, que sempre resistiu a gravar (são poucos os discos da sua longa carreira).
?Eu sou um fadista amador?, disse numa entrevista a Baptista-Bastos publicada no livro Fado Falado (Ediclube, 1999). ?Eu canto quando me apetece.?
Uma casa de fados de reis e presidentes
João Ferreira-Rosa nasceu em Lisboa em Fevereiro de 1937 e cedo começou a cantar entre familiares e amigos. Aos 13 anos, já como aluno da Escola Agrícola de Santarém, deu o seu primeiro espectáculo, no Teatro Rosa Damasceno, naquela cidade ribatejana, em que cantou, entre outros temas, Fado Hilário. A sua estreia como intérprete coincidiu com o início da actividade como letrista, algo que haveria de marcar o seu percurso. ?Carreira?, lembrava muitas vezes, era palavra que não gostava de ver aplicada à sua actividade como fadista não-profissional.
Mais adepto do fado espontâneo, que nasce num jantar ou numa tertúlia à volta da mesa, do que do trabalho de estúdio ou de palco, Ferreira-Rosa tem uma discografia limitada que começa em 1964, ano em que grava o seu tema mais famoso, o Embuçado (letra de Gabriel de Oliveira e música do Fado Tradição, da cantadeira Alcídia Rodrigues), o mesmo que haveria de dar nome à casa que inaugura em 1966, no coração de Alfama.
Pela Taverna do Embuçado, lembrou na mesma entrevista a Baptista-Bastos, passaram grandes nomes do fado ? Amália, Teresa Silva Carvalho, João Braga? ?, mas também artistas plásticos, escritores e chefes de Estado. ?Não havia ninguém de fora que viesse, príncipe ou rei ou Presidente, que não tivesse de ir. Diziam até que era obrigatório ir ao Embuçado e era realmente?, disse ao jornalista.
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Homem do fado, mas também dos toiros e dos cavalos, era um feroz opositor à República e esteve, de início, ligado ao Partido Popular Monárquico (PPM), afastando-se com a saída dos seus fundadores, Gonçalo Ribeiro Telles e Henrique Barrilaro Ruas. No centenário da República, aliás, aceitou o desafio de uns amigos para explicar por que razão a monarquia lhe parecia preferível como sistema de governo, numa entrevista que está hoje disponível online (Diálogos com João Ferreira-Rosa sobre a arte de continuar a ser Português no ano do centenário da República).
Quanto ao afastamento do PPM, e para que não restassem dúvidas em relação às suas motivações, justificava-o assim: ?A monarquia devia ser um movimento, uma ideia, e nunca um partido. Porque alinhar com a Assembleia da República, a mim, já me parece mal.?
Da curta discografia de João Ferreira-Rosa fazem ainda parte títulos como Ontem e Hoje (1996) e No Wonder Bar do Casino do Estoril (2004). Em 2003 participou no álbum Encantamento, num dueto com Mafalda Arnauth, uma das intérpretes da actual geração de fadistas que mais admirava.
Escrito em 24-09-2017,
na categoria: Fadistas
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