Descobri agora a existência de um Programa de Reintrodução da Língua Portuguesa em Timor. Gostaria de saber qual a relevância, na opinião do sr. ministro, de subsidiar a introdução (e não reintrodução, como aparece escrito) da língua portuguesa numa população que tem e sempre teve línguas próprias (Timor), esquecendo que os falantes de português na Galiza (os vulgarmente apelidados de ?galego-falantes?) são cada vez menos? O português da Galiza (galego) foi considerado uma língua em ?rápida extinção? (imagino que pela OCDE). Se temos falantes da nossa língua mesmo junto à nossa fronteira que precisam da nossa ajuda, qual o sentido de atribuir essa ajuda a populações do outro lado do globo que, muito provavelmente, têm necessidades mais prementes? Quando é que a neutralidade entre países esbarra na hipocrisia?
Grato pela atenção
Sem mais
Nuno Gomes Lopes
BLOGADO ?S 01:59:52
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Aqui temos uma questão deveras pertinente. E sem prejuízo da resposta do SR. Minstro, permito-me deixar um comentário. Ora, sucede que em Timor-Leste a língua oficial é o Português, conforme conta da respectiva Constituição, o que, tanto quanto julgo saber, não é o caso da Galiza. Por outro lado, a principal - digo principal porque coexistem várias - língua local de Timor é o Tétum. Se tiver ocasião de tomar contacto com o Tétum verificará tratar-se de uma língua que necessita de se ‘encostar’ a outra para poder cabelmente cumprir a sua função de apropriação da realidade. Manteve-se encostada ao Português até 1974, encostou-se posteriormente ao Bahasa Indonésio, e por fim, após a independência, em 2002, as autoridades timorenses optaram por retomar o Português, tendo, seguramente, em consideração o enraizamento da Língua Portuguesa na sua cultura, e por conseguinte, na sua identidade. Por esta razão, pediram as autoridades timorenses o envio de professores de Português para, precisamente, a reintroduzir a língua portuguesa, tendo estes por missão a formação de professores timorenses ´que por sua vez ensinam os estudantes do seu país. Não consta que as autoridades espanholas, ou galegas, tenham dirigido semelhante pedido às autoridades portuguesas. Não sendo ministro, nem político, permito-me, ainda assim, afirmar que as políticas devem partir de bases concretas, tais como a vontade expressa de atingir este ou aquele resultado. Dados os laços históricos que unem Portugal a Timor e sobretudo o pedido das autoridades timorenses, não se compreenderia que Portugal não respondesse a tal solicitação. Por fim, dado que não parece existir qualquer vontade expressa por parte das autoridades galegas, ou espanholas, não será de estranhar que o programa de re-introdução exista em Timor e não exista no país vizinho, e a existir dificilmente seria em termos idênticos aos de Timor, mas antes em termos semelhantes àqueles em que o espanhol é ensinado em Portugal, ou o Portuguê é ensinado em Espanha.
O ‘galego’ é considerado uma língua própria, separada do português, por questões políticas. Qualquer linguista / filólogo te dirá o mesmo. Em termos linguísticos não há diferenças que justifiquem 2 línguas. Faz parte da política de Madrid - dividir para reinar. Tens um caso semelhante - o do ‘valenciano’.
Quanto a Timor, nada do que me dizes é novidade para mim. Já falei do tema aqui no blogue. E nada do que escreveste invalida o que eu escrevi. Aliás, o ‘galego’ só saiu da lista da UNESCO das línguas em perigo pela sua ‘proximidade ao português’. Como o ‘galego’ é português e o português não está em perigo, saiu da lista.
um abraço