Stephen J. Rivelle, O Livro dos Dias, pp. 159-160

30-06-2007

GAMANÇOS, PROSA

Stephen J. Rivelle, O Livro dos Dias, pp. 159-160

Vivo praticamente só e isso agrada-me. Tenho a minha rotina: levantar-me para rezar a prima, exercitar-me no combate, almoçar, treinar os homens (Lord Raymond atribui-me dez recrutas de Marselha para formarem a minha comitiva), rezar a terça, exercitar-me no combate com os nobres, rezar a sexta, almoçar na cidade, montar e explorar o campo à tarde, rezar as nonas, manejo da espada e exercício físico, rezar as vésperas, cear com o meu senhor e os outros nobres, revista às tropas à tardinha, e depois vou para o meu pavilhão. Há uma oração geral nas completas, depois das quais escrevo neste livro e em seguida vou-me deitar.
É uma actividade agradável que me dá bastante satisfação, mas creio que estou ansioso por retomar a marcha. Todavia, serei sincero: sinto-me só. É uma solidão amarga que vem logo a seguir àquilo que outrora era tão apaixonado, tão intenso. Na verdade, não toquei numa mulher. Não toquei num ser humano excepto para matar num ano inteiro. Houve as raparigas do acampamento normando, mas foram prazeres sexuais; foi mais como mexer em carne do que paixão. E, quanto ao amor, não tinha o gosto suave. Excepto, claro, a doçura anónima que é sempre o sexo casual: a súbita descoberta de outra pessoa, o prazer na frescura dos membros, os odores, o ardor. A luta para me unir a ela, tão violenta, tão provocada pelo silêncio, tão certa que de manhã, à luz, será recordação e mais nada.
Mas quanto ao amor... É muito mais do que sexo. Dizei-lo a um jovem! É unicidade, é ser, não apenas viver. É sair de si mesmo, que é apenas jogo de sombra no sexo; mas no amor vive-se verdadeiramente no interior de outra pessoa, nos seus pensamentos, nos seus olhos, nas suas emoções. Ser-se amado, essa é a maior dádiva. Amar, esse é o maior sacríficio.

BLOGADO ?S 05:40:42

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