BLOGADO ?S 04:03:39
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Caros amigos regionalistas:
Este mapa, inocentemente, acaba por mostrar bem aquilo em que alguns querem transformar a Regionalização.
Ainda que haja uma evolução clara em relação ao monocentralismo vigente de Lisboa, este “país normalizado", acaba por ser mais do mesmo. Há uma pequena descentralização, mas as “ondas centralistas” continuam lá. A única diferença é que, em vez de 1, haveria 5 pólos centralistas.
Quais são as consequências deste modelo de “pseudo-regionalização” que nos está a ser implementado à força?
-Positivas para as regiões do Litoral, em particular para as urbes do Porto, Coimbra e Évora, que teriam tendência a desenvolver-se e a criar áreas suburanas em seu torno, atraindo população das áreas mais deprimidas das “regiões” que encabeçariam;
-Negativas para as outras regiões, em particular para o Interior, que continuaria subjugado aos interesses do Litoral, que reteria, como se pode ver, mais uma vez, todos os meios, programas, vontade política e fundos que são necessáros para se modernizar o país.
Há uns tempos atrás, prometi falar sobre os possíveis cenários para a evolução económica e social das diferentes regiões portguesas. Pois bem. Tendo pesquisado bastante sobre o assunto (o que não é difícil, já que qualquer manual escolar de Geografia do Ensino Secundário nos fala destes problemas), verifiquei que os Geógrafos (que, continuo a dizê-lo, estão a ser esquecidos por todos, e já deviam ter sido ouvidos neste processo de Regionalização, em vez de se dar tanta voz aos interessados do costume- políticos e economistas), traçam o seguinte retrato da situação urbana portuguesa:
-Em primeiro lugar, Portugal está marcado por uma tendência de bicefalia, ou seja, uma parte muito grande da população e dos grupos económicos e serviços está desigualmente concentrada em torno das cidades de Lisboa e Porto. Citando os autores de um manual de Geografia para o 11º ano, “Esta tendência de concentração apresenta (…) desvantagens, sendo responsável não apenas por assimetrias perturbadoras na coesão territorial mas também por exageradas pressões urbanísticas sobre áreas ambientalmente sensíveis". Esta é, neste momento, a tendência mais problemática existente em Portugal.
-Em segundo lugar, não se deve ignorar que a população de Lisboa quase dobra a do Porto, pelo que a rede urbana portuguesa se pode considerar macrocéfala e monocêntrica, ou seja, todo o país está dependente e centralizado em Lisboa. Este tipo de distribuição é caso raro na Europa, bastando ver exemplos claros da situação contrária, como os casos da Holanda, da Espanha e da Suíça, entre muitos outros.
-Por outro lado, a tendência mais importante na evolução demográfica e sócio-económica de Portugal é a concentração excessiva e cada vez maior da população nos centros urbanos que estão concentrados na faixa litoral entre Viana do Castelo e Setúbal, e no Algarve. Esta excessiva litoralização provoca um extremo desequilíbrio no nosso país, já que, com o interior desertificado, deixam de estar disponíveis os recursos que lhe são adjacentes, indispensáveis à evolução económica do país (minas, explorações agrícolas e florestais, estâncias turísticas…)
-Por último, tem-se verficado uma grande incapacidade de crescimento das cidades médias: as do litoral não conseguem polarizar as áreas urbanas envolventes nem articular-se com Lisboa e Porto; as do Interior e, particularmente, das zonas raianas, estão numa situação de fragilidade e de perda demográfica, incapazes de estabelecer relações equilibradas com outras cidades interiores.
Deste modo, os geógrafos estabelecem três cenários para Portugal a médio-prazo:
1- Rede monocêntrica. A tendência da concentração de pessoas, empregos e serviços em torno de Lisboa acentuar-se-á, sendo que se registárá um despovoamento quase total do Interior do país, e uma diminuição acentuada da população nas cidades do Litoral, em particular o Porto e as cidades do Minho e Douro Litoral, Coimbra, Aveiro, Viseu, Leiria, Santarém e inclusive das cidades algarvias, em contraste com migrações de massas para os subúrbios de Lisboa;
2-Divisão Norte/Sul. Rede bipolar. A população concentra-se cada vez mais em Lisboa, Porto e respectivos subúrbios, afastando-se das zonas litorais e interiores das Beiras em direcção a uma dessas cidades. Esta rede penaliza fundamentalmente as cidades médias do Litoral e do Interior, particularmente Coimbra, Leiria, Aveiro, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Bragança e Chaves.
3- Litoralização. Com o avanço da Regionalização com base nas 5 regiões-plano, verificar-se-ia uma concetração das populações, serviços e agentes económicos em torno das cidades do Porto, Coimbra e Lisboa, sendo que as duas primeiras atrairiam a população de cidades médias do Interiore até do Litoral, onde se registaria uma diminuição da população, face a este “tricentrismo". O Interior ficaria profundamente desertificado, sendo que as suas populações teriam uma grande tendência para se deslocar para Espanha, fazendo com que Trás-os-Montes e a Beira Interior passassem a interligar-se com as regiões espanholas da Galiza e Castilla y León, formando novas “Euro-Regiões".
4-Modelo Policêntrico. Segundo os geógrafos e professores de Geografia, é no reforço deste modelo que reside um futuro mais harmonioso e equilibrado para Portugal. A população distribuir-se-ia mais uniformemente entre o Litoral e o Interior, criando-se eixos urbanos de cooperação entre cidades, que têm como base as 7 Regiões:
*Entre-Douro e Minho:
Área Metropolitana do Porto-Braga-Viana do Castelo-Penafiel;
*Trás-os-Montes e Alto Douro:
Vila Real-Régua-Lamego (Douro)
Chaves-Mirandela-Bragança (Alto Trás-os-Montes;
*Beira Litoral:
Aveiro-Ílhavo-Vagos (Baixo Vouga)
Coimbra-Figueira da Foz-Cantanhede-vilas da Serra da Lousã (Baixo Mondego)
Tondela-Viseu-Mangualde (Dão)
*Beira Interior:
Guarda-Belmonte-Covilhã-Fundão-Castelo Branco
*Estremadura e Ribatejo:
Área Metropolitana de Lisboa-Península de Setúbal
Caldas da Rainha-Peniche (Oeste)
Abrantes-Tomar-Entroncamento (Médio Tejo)
Santarém-Cartaxo-Almeirim (Ribatejo)
*Alentejo
Portalegre
Elvas
Évora
Beja
Sines-Santiago do Cacém
*Algarve
Portimão-Lagoa
Faro-Loulé-Olhão-São Brás de Alportel
Enquanto que os cenários 1 e 2 serão consequência natural da continuação da situação centralista e bicéfala actual, e levarão ao acentuar dos desequilíbrios entre as diferentes regiões do país, e a uma morte anunciada do Interior, o cenário 3
levará a uma litoralização excessiva da população, particularmente em torno das 3 maiores cidades do país, pelo que os desequilíbrios continuarão a existir e a acentuar-se as desigualdades entre o Litoral desenvolvido e o Interior desertificado, que, esquecido por Portugal, se tenderia a articular com a Espanha autonomizada, enquanto que o cenário 4 levaria ao atenuar dos desequilíbrios existentes no nosso país, contribuindo para uma coesão entre as diferentes regiões, do Norte, Sul, Litoral e Interior.
Está nas mãos dos portugueses e dos políticos em particular, esta opção: ou continuam a teimar com o centralismo; ou cedem aos interesses do Porto e avançam com esta regionalização de fantoches, ou então apostam a sério em Portugal e têm a coragem necessária para fazer o que é necessário: dividir o país em 7 regiões, com serviços distribuídos pelas suas cidades médias, e dar-lhes um grau de autonomia que lhes possibilite decidir realmente o seu futuro, sem estarem dependentes de pólos centralistas para tal. Haja coragem.
(comentário publicado em www.regioes.blogspot.com)
PS: Vivi durante alguns anos em Paços de Ferreira. Acho inadmissível a introdução de portagens na A42 e A41 sem que haja alternativas dignas desse nome. É incrível a lata destes governantes, que só têm coragem de mexer no que não lhes afecta. E se metessem portagens no IC19??
antes de mais, obrigado pela visita. apenas um ou dois apontamentos. a concentração da população em certas zonas do teritório é natural e sempre existiu. A Suíça (principalmente a zona alemã) é a zona dos Alpes mais populosa. há, na Áustria, zona muito grandes sem população expressiva. assim como na Suíça. bem, ninguém quer morar nos cumes cheios de neve. na Holanda, igual. devo lembrar que o país chamado de Holanda se chama Netherlands, e que ‘Holanda’ é apenas a zona onde mora a maior parte da população. no resto das ‘Netherlands’ a população é muito menor. na Espanha, nas zonas mais áridas do centro, as cidades principais são grandes, é certo, mas não têm nada à volta. apenas nas zonas temperadas existe densidade populacional. voltando a Portugal, não é lógico esperar que grande parte da população more em Trás-Os-Montes. naturalmente, a população acumula-se nas zonas temperadas. lamento mas é assim em todos os países.
e só mais isto: o Norte de Portugal tem mais de um terço da população portuguesa. até quando continuaremos subjugados?