* Primeira irritação: Miguel Sousa Tavares. Claro que alguém de quem se diz ter feito carreira sendo ?politicamente incorreto? (e disso se orgulha), é tudo menos isso. A partir de certa altura, o ?politicamente incorreto? deixa de ser desalinhado (se é que alguma vez o foi, no caso de MST) e passa a ser reacionário. E chato. Imagino muitos dos leitores a reverem-se naquela ideia do rapaz que luta contra um poder eternamente maior do que ele e com armas consideravelmente menores, mas com uma considerável bravura. O ato em si é sempre por todos louvado, mas nunca ninguém espera que David vença o gigante.
MST, que nunca prima pela coerência (mas antes por um refinado contrário, uma espécie de incoerência militante e muito, muito arrogante), passeia-se pelos nossos jornais com colunas de página inteira e erros que, no seu caso, duram anos. Para MST as gravuras do Vale do Côa nunca foram paleolíticas, e não interessa o que dizem os especialistas (à semelhança do Stephen Colbert, que dizia, sobre Bush, 'eu sei que me vão dizer que é mentira. que viram em livros. não me interessa o que dizem os livros.'), MST estará sempre na mó de cima. Ninguém detém tamanho protagonismo para o contradizer, e ninguém escreve livros e articula em vários jornais e ainda vai à televisão.
Quanto às leis (caducas, irreais), eles chama-as quando vê o litoral alentejano, e chora as suas lágrimas muito particulares por verificar a impunidade de quem lá constrói, ou de quem é corrupto e enriquece com isso. Quando essas leis são violadas, MST acha mal. Como todas as leis, essas também zelam pelo interesse de todos nós. Assim como leis rodoviárias ou de saúde pública. Mas, no caso dessas, existe primeiro o 'interesse MST' e só depois o interesse comum. MST fica escandalizado quando vê esses injustiçados condutores que são multados por apenas estacionarem o carro sobre o passeio, ou que são multados apenas por conduzirem em excesso de velocidade. E, ele próprio, fica chateadinho (íssimo) por não poder fumar onde quer.
Um de cada vez, então. Não se pode estacionar sobre os passeios porque os passeios são para os peões. Foram criados para isso. Não se pode andar mais rápido que o permitido por questões de segurança rodoviária, ruído e poluição. E não se pode fumar em recintos fechados para proteger a saúde de quem não fuma. Claro que qualquer uma destas leis idiotas não serve a MST, e por isso ele contesta-as vivamente. Mas se a lei que lhe garante uma vista incólume em Vila Nova de Milfontes é desrespeitada, MST é o primeiro a inchar o peito e a vociferar que 'está mal'. Eu sei o que 'está mal'. É Miguel Sousa Tavares.
* Segunda irritação: Laurinda Alves. Não posso discorrer no que me irrita nela porque, sinceramente, gasto pouco ou nenhum do meu escasso tempo a ler o que escreve. Mas sei das suas colunas no Público e da sua responsabilidade em coisas como a X. E basta-me. Sempre me pareceu daquelas entusiastas das 'ideias positivas', que mistura na mesma crónica a mão de uma velhinha que ela segurou enquanto ela lhe contava da pensão que não chegava, e no parágrafo seguinte espanta-nos com o espanto que sentiu com a cena final do último filme do Bertolluci. Tinha razões seguras para não gostar dela.
No fim de semana passado fui a Lisboa para uma conferência de V. S. Naipaul (continuo sem perceber como se pronuncia). Lá, na Gulbenkian, juntaram-se muitas das caras conhecidas da movida lisboeta. António Barreto e a sua Filomena, Marçal Grilo e mesmo Eduardo Lourenço (na cidade por uma conferência sobre Pessoa). E Laurinda Alves. Confesso que a mulher, e isto mesmo que não a conhecesse, me irritou logo. Insistia em furar a fila dos autógrafos para as fotos mais constrangedoras do escritor (que, dentro da sua timidez estudada, mostrava já alguma irritação com a fotógrafa amadora com a câmara perigosamente perto do seu nariz). Quase chegando a minha vez, Laurinda, a graciosa, furou definitivamente a fila para, com a câmara em cima de Naipaul lhe fazer uma muito simpática e inesperada entrevista. Naipaul, que se poupa ao normal comedimento dos famosos portugueses, respondeu rapidamente a uma das perguntas e despachou-a com um expedito 'that's enough for you'.
* Terceira e última irritação: Luís Pedro Nunes, diretor do Inimigo Público. No às vezes porreiro Eixo do Mal, LPN afirmava que ele, inefável defensor da correção, era uma pessoa irrepreensivelmente pontual. Irrepreeensivelmente. E continuava dizendo que achava uma tremenda falta de respeito quem desrespeitava assim uma tão básica regra de comportamento social. Concordo. O muito português 'chego às oito' é sempre, e isso é óbvio, pela hora dos Açores. Mas outra das regras que prezo é a de deixar falar quem fala e falar na nossa vez. Interromper ou tentar falar ao mesmo tempo é incrivelmente rude. Mas LPN, e também Clara Ferreira Alves, permitem-se discordar. Falando sobre nós.
BLOGADO ?S 18:12:26
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muito bom. tens de escrever crónicas. melhor que as da laurinda alves e que o mst, muito melhor. a sério, vê se arranjas uma coluna num jornal.
abraço.
boa, conseguiste juntar no mesmo texto (acutilante) três dos maiores idiotas que poluem a nossa imprensa