Às vezes vida
sangrando na
palavra interior
das cosmologias,
ardendo na língua
extensa deste amor
que habita no vazio
e descobre a sua
densidade perfeita.
Somos verso sem
olhos alçando-se
em silêncio até
destruir as casas
feridas pelo medo,
extraviados dos
nossos corpos
como no início
de uma música
entre a luz e a
noite, infinita.
Contra a língua de borracha das vacas e as mãos lavradoras dos homens
os cardos espicaçam o ar do verão
ou crepitam ao abrirem-se sob a pressão azul-escura.
Cada um deles um rebento vingativo
de ressurreição, um molho colhido
de armas estilhaçadas e gelo islandês atirado para cima
da sombra soterrada de um viking apodrecido.
São como o cabelo pálido ou o som gutural dos dialectos.
Cada um deles maneja uma pena de sangue.
Depois crescem a se tornar cinzentos, como os homens.
Ceifados, é uma batalha. Os seus filhos aparecem
rijos e armados, voltando para lutar no mesmo campo.
(Ted Hughes)
No grande, espalmado, olho dormido da montanha
O urso é o brilho na pupila
Pronto para acordar
E focar num instante.
O urso está a fitar
Começando a acabar
Com fita de ossos de pessoas
No seu sonho.
O urso está a escavar
No seu sonho
Através do Muro do universo
Com um fémur de homem.
O urso é um poço
Demasiado fundo para brilhar
Em que o teu grito
Está a ser digerido.
O urso é um rio
Em que as pessoas que se chegam para beber
Se veem a si próprias mortas.
O urso dorme
Num reino de muros
Numa aranheira de rios.
Ele é o piloto da barca
Para a terra da morte
O seu preço é tudo.
(Ted Hughes)