O que sou eu? A meter o focinho aqui, movendo as folhas
a seguir uma leve mancha no ar até à beira do rio
Entro na água. Quem sou eu para partir
o fio cristalino da água a olhar para cima vejo o leito
do rio sobre mim de cima para baixo muito claramente
O que é que faço pairando no ar? Porquê será que acho
esta rã tão interessante enquanto inspecciono o seu mais secreto
interior e o faço meu? Será que estas ervas daninhas
me conhecem e nomeiam umas às outras ter-me-ão
visto com antecedência será que tenho lugar no seu mundo? Pareço
separado do chão e sem raízes mas deixado cair
casualmente do nada não tenho fios
que me atem a nada posso ir a qualquer parte
Parece que me foi dada a liberdade
deste lugar o que serei portanto? E colectar
cascas de árvores desta estampa podre produz-me
prazer nenhum e é inútil então porque é que o faço
meu e fazendo-o já coincidi de forma tão estranha
Mas como devo ser chamado sou o primeiro
tenho um dono que forma tenho que
forma tenho por acaso sou grande se for
até ao fim deste caminho passasse essas árvores e passasse essas árvores
até ficar cansado isso é tocar numa parede minha
de momento se eu me sento em quietude igual que tudo
para de olhar para mim suponho que sou o centro exacto
mas está tudo isto o que é que é raízes
raízes raízes raízes e aqui está a água
outra vez muito estranha mas continuarei a olhar
(Ted Hughes)
Se alguém perguntar
pela minha morada
eu respondo:
'A beira Este
da Via Láctea'.
Como uma nuvem flutuante
atada a nada
tão só me deixo ir
abandonando-me
ao capricho do vento.
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Esfarrapada e despedaçada, esfarrapada e despedaçada,
esfarrapada e despedaçada é a minha vida.
Alimento? Recolho-o da beira da estrada.
O mato e os arbustos ultrapassaram em muito o meu chapéu.
Muitas vezes eu e a lua sentamo-nos juntos durante toda a noite,
e mais de uma vez deixei-me perdido sobre as flores selvagens, esquecendo voltar a casa.
Não espanta que tenha deixado a vida em sociedade.
Como poderia um monge tão louco viver num templo?
(Ryôkan)
Quando era jovem deixei de lado os meus estudos
e aspirei a ser um santo.
Vivendo na austeridade, como monge mendicante,
vagueei por muitos lugares durante muitas primaveras.
Finalmente voltei a casa para me assentar sob um pico penhascoso.
Vivo em paz numa cabana de palha,
com os pássaros como toda música.
As nuvens são os meus melhores vizinhos.
Por baixo, uma pequena nascente em que refresco corpo e mente;
por cima, elevados pinheiros e carvalhos, que me fornecem sombra e palha.
Livre, tão livre, dia após dia -
não quero ir-me nunca!
(Ryôkan)