Eihei Kôroku 11
Eihei Kôroku 11

A linhagem dos Budas enraíza nos seus condicionantes, o ensinamento dos Budas surge de iniciar o caminho. Uma vez que encontre boas condições, não deve deixá-las, e deve cultivar a prática. Na prática encontrará aceitação e rejeição.

Estando aqui, não deve tropeçar com o passado, deve encontrar o Caminho. Na busca do Caminho há prática, há esforço; se um dia atravessar o Caminho, todas as coisas serão completas, mas enquanto não o atravessar, todas as coisas estarão erradas.

Uma vez houve certo monge na sangha de um dos mestres clássicos, que estava a servir como superintendente no mosteiro.

Um dia o mestre perguntou-lhe: "Há quanto tempo estás aqui?"

O monge respondeu "Até agora três anos". O Mestre Zen perguntou de volta "És novo. Porque é que nunca fazes perguntas sobre os Ensinamentos?". O monge respondeu: "Não me atreveria a enganar-te: já consegui entender quando estive a servir outro mestre zen".

O Mestre Zen disse então "Por meio de que palavras o conseguiste?". O monge disse "Uma vez perguntei ao mestre 'Qual é a verdadeira natureza de quem estuda?'. O mestre disse-me 'O deus do lume vem procurando lume'".

Ao ouvir esta história, o Mestre Zen notou: "Essa é uma boa frase, mas receio que você não entendeu".

O monge disse: "O deus do lume é a natureza do lume; procurar lume com lume é como procurar o vazio com o vazio".

O Mestre Zen retorquiu: "Realmente você não entendeu. Se o Buda-dharma fosse dessa maneira, nunca teria chegado ao presente".

O monge foi-se embora cheio de raiva, mas enquanto saía pensou: "Este mestre tem mais de quinhentos discípulos. Deve de ter algo de razão na sua advertência de eu estar errado".

Assim, foi de volta para o Mestre Zen e desculpou-se. O mestre recomendou-lhe: "Faz-me a pergunta", e o monge perguntou: "Qual é a verdadeira natureza de quem estuda?". O mestre disse: "O deus do lume vem procurando lume!". Perante isto, o monge obteve uma grande iluminação.

Antes tinha sido "O deus do lume procurando lume" e depois também foi "O deus do lume procurando lume". Porquê a primeira vez caiu na compreensão inteletual, em lugar de ser iluminado? Porquê foi grandemente iluminado depois, abandonando o seu ninho de clichés?

Querem entender?

[Silêncio]

O deus do lume vem procurando lume;
quanta luz invejam as colunas e os candeeiros?
Enterrado nas cinzas, ainda que procure, não vê;
acendendo-o e assoprando-lhe
volta de novo à vida.
Tradução do inglês a partir do trabalho de Thomas Cleary. Rational Zen - The Mind of Dôgen Zenji, Shambala Dragon Editions, 1992, USA.

(Dôgen Zenji)

Juventude
Juventude

Quando eu era um rapaz
borboleteava pela cidade como uma lâmina alegre,
vestia a suavidade do entardecer como uma capa
e montava um esplêndido cavalo zaino.
Durante o dia, galopava à cidade.
À noite, embebedava-me sobre as pétalas de pessegueiro ao pé do rio.
Nunca me preocupou voltar a casa, e muitas vezes
acabei com um grande sorriso no pavilhão do prazer.

Tradução do inglês a partir do trabalho de John Stevens. Dewdrops on a Lotus Leaf - Zen Poems of Ryôkan, Shambala, 1993, USA. O título é meu A ilustração de Jan Zaremba.

(Ryôkan)

Corpo

Este é o corpo real.

A nuvem louca.

A sensação eterna de queda
haja ou não haja queda.

O fluxo cego que gravita em torno à gorja.

Este é o corpo real
e do real.

O remoinho
de sensações em torno ao estômago.

Estômago o centro do mundo
digerindo
pedras nas tripas.

A segurança
do ar.

O vento.

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