O Deus abandona Marco António
O Deus abandona Marco António

À meia-noite, quando ouves de repente
uma procissão invisível a passar
com magnífica música, e vozes,
não lamentes a sorte que hoje te falta,
o trabalho que não deu certo, os teus planos
a se tornarem decepção - não te lamentes disso em vão:
como alguém corajoso, há tempo pronto para isto,
diz adeus a ela, à Alexandria que se vai.
Por cima de tudo, não te enganes a ti próprio,
não digas que foi um sonho, que os teus ouvidos te enganam:
não te degrades com esperanças vãs como essas.
Como alguém pronto há tempo, e cheio de coragem,
como corresponde a ti, a quem esta cidade foi entregue,
vai decidido à janela
e ouve com grande emoção,
mas não com as queixas, as desculpas dum covarde:
diz adeus a ela, à Alexandria que estás a perder.

(Konstantin Kavafis)

Missão
Missão

Trabalhei no trabalho,
No meu sono eu dormi,
Morri na minha morte,
Já posso partir.

Deixa atrás a cobiça,
Deixa atrás o que sobra.
Cobiça no espírito,
Cobiça na cova.

Minha amada, sou teu,
Sempre fui, permaneço,
Do tutano até aos poros,
Desta pele ao desejo.

Agora que já acaba
Esta minha missão
Pela vida que tive
Pede o meu perdão.

Fui atrás do meu corpo
Que de mim veio atrás.
O meu desejo é um espaço,
Morrer é navegar.

Original do texto e do desenho em Book of Longing, Penguin Poetry, 2007. ISBN. 978-0-141-02756-2 .

(Leonard Cohen)

Festa da cerejeira em flor
Festa da cerejeira em flor

Como poderia dormir
nesta noite de lua?
Venham amigos,
cantemos, dancemos
durante toda a noite.

Estiro o meu corpo
por baixo do céu imenso
levemente bêbado:
sonhos esplêndidos
por baixo da cerejeira em flor.

Colho rosas selvagens
em campos cheios
de rãs que coaxam.
Deixo-as a flutuar no saké
e desfruto de cada minuto.

Tradução do inglês a partir do trabalho de John Stevens. Dewdrops on a Lotus Leaf - Zen Poems of Ryôkan, Shambala, 1993, USA. O título é meu.

(Ryôkan)

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