A desfrutar de vinho de arroz com o meu irmão mais novo Yoshiyuki

O irmão mais velho e o mais novo outra vez juntos,
mas não somos os dois que temos densas sobrancelhas brancas.
É tempo de paz e de alegria no mundo,
e dia após dia embebedamo-nos como malucos!

****

Neste mundo
se um houvesse
com tal disposição -
podíamos passar a noite
a falar na minha cabana.

Tradução do inglês a partir do trabalho de John Stevens. Dewdrops on a Lotus Leaf - Zen Poems of Ryôkan, Shambala, 1993, USA. O título é meu.

(Ryôkan)

Maria

Nasceste comigo para nascer de mim
mas não consigo
parir-te.
Sinto que estás
dentro das tripas desejando
somente ser tocada.
E quando o ar dá carícias ao peito
por dentro da laringe e borboletas
saltitam na barriga como querendo
querer-me
sei que o faço.
Eu também queria que fosse mais.
Mas passo a vida a ignorar-te e a ignorar-me
guardando as borboletas com uma pedra no peito.
Como farei para querer-te
eu, que mal consigo querer-me?
Como farei para querer-me em ti?
Tu, mulher impossível no meu corpo, como?

* * *

Hoje começa a nossa história.
Hoje vou dar-te a mão e prometo
que não te solto. Hoje
vamos andar juntinhos
sentindo os corações unidos.
Hoje adormeço contigo nos meus braços.
E hoje apresento-te aos amigos,
que há gente que quero que conheças,
e já começa a ser tarde.
Dou-te um presente de anos,
que é simplesmente um nome,
e vamos juntos dançar
a vida.

Improvisação com rima

deixar fluir o tempo com o tempo
a vida continua pelas mãos afora
e nada mais que o vento pelo vento
se deixa arrastar para o interior da porta
do peito deste peito dos seus peitos
gravados na memória da memória
e no ventre da deusa em que derreto
em carne e voz a diluir na boca
a sensação de polpa que um segredo
deixa na boca da boca dessa boca

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