Poema velho escrito em Luz Serena

Partir para partir cruzando as pernas
realizando a dor deste universo
numa náusea respirada pouco a pouco
aparecida no interior dum respirar a modo.

Tenho nojo do nojo e medo a ver-me
tão fraco como sou, tão reticente,
longe de quê,
esse eu que se estende onde eu não chego.

Tenho nojo de quê.
O nojo é um medo a respirar o mundo
a dissolvê-lo com a força dos pulmões que empurram
para cima o coração e para baixo os intestinos.

Pernas de madeira a chiar na noite do cérebro.
Saltar para o outro lado do alento.
Respirar com as árvores de Luz Serena.

Corpo

Este é o corpo real.

A nuvem louca.

A sensação eterna de queda
haja ou não haja queda.

O fluxo cego que gravita em torno à gorja.

Este é o corpo real
e do real.

O remoinho
de sensações em torno ao estômago.

Estômago o centro do mundo
digerindo
pedras nas tripas.

A segurança
do ar.

O vento.

minutos

cinco minutos

tensão nos pés que alastra
à respiração

respiração de aço
em corpo de veludo
totalmente acordado

o mar no estômago constrói as pontes


cinco minutos

depois o mundo

(loto, perna direita)

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