Haikai
Haikai

Hei de ir lá ter hoje.
É amanhã que as ameixeiras
espalham as flores.

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Canta um rouxinol
que me traz de volta ao dia.
A manhã fulgura.

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Tenho um só desejo:
sob a flor da cerejeira
dormir uma noite.

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A aldeia no monte.
E totalmente a engolem
as rãs que coaxam.

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Primeira garoa
do outono. Que deliciosa
montanha sem nome!

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Passou o ladrão
e esqueceu roubar essa
lua da janela

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Agulhas de pino
atrás da porta fechada.
Sinto-me tão só...

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Estão a chamar-me,
voltando de noite a casa,
os gansos selvagens

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É o meu corpo velho
como este bambu enterrado
na neve fria.

Tradução do inglês a partir do trabalho de John Stevens. Dewdrops on a Lotus Leaf - Zen Poems of Ryôkan, Shambala, 1993, USA.

(Ryôkan)

A minha cavana
A minha cavana

O mundo que há perante os meus olhos está gasto e fraco como eu.
A terra é decrétipa, o céu de tormenta, toda a relva murcha.
Nem uma aragem primaveril sopra sequer a estas alturas,
apenas nuvens de tormenta a engolir o meu pequeno chapéu de juncos.

Tradução do inglês a partir do trabalho de John Stevens. Wild Ways, White Pine Press, 2003, USA. Ilustração original de Van Gogh, depois de uns quantos filtros no GIMP

(Ikkyu Sojun)