Um vento do leste trouxe a chuva necessária
que chorrou toda noite pelo telhado de colmo;
entretanto, a ermida dormitava aprazivelmente
imperturbada pela flutuante agitação do mundo.
Ao amanhecer, as montanhas verdes tomam banho
e os passarinhos da primavera cantam nas suas ramas.
Com pouca determinação, atravesso a porta -
riachos improvisados correm para vilas distantes,
maravilhosas flores decoram as ladeiras.
Descubro um lavrador a dirigir um boi
e um rapaz a levar uma enxada.
Os humanos têm de trabalhar em todas as estações, da noite ao dia.
Eu sou o único que não tem nada a fazer
aferrado com força à minha terra natal.
(Ryôkan)
A minha ermida é a casa de um gato e um rato.
Os dois são animais peludos.
O gato é gordo e dorme a plena luz do dia.
O rato é magro e corre cá e lá durante toda a noite.
O gato tem a bênção do talento,
é capaz de agarrar com destreza seres vivos que comer.
O rato está maldito,
e só furta bocados pequenos de comida.
O rato pode danificar recipientes, é verdade,
mas os recipientes podem ser substituídos,
contrariamente aos seres vivos.
Se me perguntares qual das criaturas tem mais pecado
eu diria que o gato.
(Ryôkan)